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Capítulo 2
Tradução: Gabrielfsn
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Sábado. 82 dias restantes até nosso confronto final.
Era de noite logo depois do jantar, Fuwa e eu concordamos em nos encontrar na frente da estação. Pra mim que fui terrivelmente embaraçada por ela na semana passada, me senti sortuda de nosso encontro ser a noite dessa vez. É ótimo ter um dia de descanso, mas também é inquietante quando eu penso que a Fuwa me deu uma folga de seus pedidos lunáticos.
Bem, que seja. Eu não consigo entender o que se passa na cabeça dela então deixa quieto, ao invés disso, vamos apreciar apuradamente minha escolha de roupas para hoje. Foi muito trabalhoso, mas modéstia à parte o resultado ficou bem fofo, eu sinto que ninguém pode me derrotar.
Eu decidi usar um vestido peça única de dois tons com um design nas pontas que comprei recentemente. É claro que a bolsa é aquela, a de 30,000 ienes. Os meus sapatos e acessórios foram escolhidos cuidadosamente para ficarem bem em mim.
Enquanto espero por ela na frente da estação, eu sinto os olhares das pessoas em mim. Acho que essa é a minha melhor criação do ano. É fofo demais! Com isso, nem mesmo a Fuwa pode fugir do meu charme. Ao imaginar a cara dela quando me ver, meu humor levanta voo.
E então, Fuwa chega bem na hora.
"Oi, Marika"
Ela está ainda mais deslumbrante do que sua aparência no colégio. Sua simples sombra de olhos enfatiza a forma de seus olhos. A roupas dela, uma blusa sem manga junto de uma saia justa que torna seu corpo mais atrativo. Ela está calçando saltos de 7cm que combinam muito bem com sua bolsa. A aparência dela nessa noite se aproxima da imagem de uma 'Dama da Noite' na minha cabeça.
Ela coordenou tudo perfeitamente para ser o maior destaque. É isso que chamam de moda casual adulta?
"Ugh...Fuwa"
Ah, me sinto desencorajada depois de vê-la. Eu pareço uma garota de colegial tentando parecer madura, mais fofinha, enquanto a Fuwa alcançou perfeitamente a imagem de uma adulta.
Fuwa me observa de cima a baixo. Ela parece feliz.
"Você está muito fofa, Marika"
"Ah, sim. Obrigada..."
Eu não consigo esconder a vergonha se você me elogiar assim na minha cara, poxa!
Depois de aceitar seu elogio, eu cruzo meus braços e aceno para mim mesma. Sim, Fuwa está certa, eu estou fofa. Comparada à ela, meu charme de adulta é quase zero, mas é porque somos diferentes. Sim, isso mesmo. Não é como se ela tivesse vencido dessa vez.
"B-bem, é claro. Você também está ótima, Fuwa"
"Uhum, obrigada"
Fuwa me agradece com seu sorriso simples de sempre. Agora que parei pra pensar, ela parece estar usando mais maquiagem que o normal por ser de noite. Pelo que percebi, ela escolheu uma base fosca, rosa-coral em suas bochechas, e uma cor sensual que se encaixa perfeitamente em seus lábios. Entendo. É uma ótima referência para o futuro.
"O que foi?"
"Não, nada..."
Eu inconscientemente observo ela demais, então eu desvio meu olhar rapidamente. Não é hora de acelerar meu coração por causa da Fuwa. É isso, quando eu chegar em casa vou pesquisar algumas cores claras de base líquida pra mim.
E então nós começamos a andar lado a lado.
Sem querer parecer estranha, mas essa situação me lembra do primeiro pornô que assisti com a Fuwa. Aquele com a universitária fofa e uma linda atriz. Caramba, o que deu em mim? Eu começo a me questionar.
"Ei, para onde estamos indo?"
"Se eu te contar, não vai ser mais surpresa"
"Sério, tudo relacionado à você me dá medo..."
"Tudo bem, eu lhe conto. Estamos indo para o meu trabalho de meio período"
"Quê? Você trabalha? Onde? Que tipo de lugar é?"
"Logo você verá, espero que esteja ansiosa"
"É só um trabalho de meio período, não é? Pra quê tanto suspense? Quer dizer, não que seja um problema"
Aguardamos o nosso trem na plataforma. O trem parou e logo entramos. Levou cerca de 20 minutos desde a Linha Keio e então chegamos em Shinjuku. Estamos indo até a agitação noturna de Shinjuku via a Saída Leste.
Por ser uma noite de Sábado, tem muita gente por aqui. Me dando até tontura.
"Pra você escolher trabalhar em Shinjuku, você deve adorar se esforçar"
"Você acha? Na verdade, o motivo de eu trabalhar nessa loja foi pela introdução de uma conhecida minha"
"Hmm, isso é ótimo. Se pelo menos eu tivesse alguém na qual eu pudesse confiar em indicações de trabalho. Meu último trabalho foi horrível. Aquele gerente nojento sempre tocava meus quadris ou meus ombros quando me cumprimentava. Ele também gostava de falar da minha pele, tipo, 'a pele de uma garota de colegial é mesmo ótima de tocar, né~' ou algo assim. Aquele maldito. Eu tentei aguentar, mas a nojeira dele superava meu limite, ou algo parecido"
Eu tentei contar a história de forma engraçada, imitando a voz do gerente nojento, mas a Fuwa me olhou com uma expressão profunda. Me pergunto o que houve?
"Isso é terrível. Seria ótimo poder esmagar esse tipo de gente"
"Bem, isso já é passado. Mais importante, essa situação...pra você me consolar assim. Eu preciso dizer, em toda a minha vida, você é a única que me tocou em todo lugar daquela maneira"
"Que forma excitante de falar"
"Pervertida"
Eu a respondi com uma atitude descontente. Fuwa continua andando como se nada a incomodasse. Essa garota, ela me trata como uma gatinha que morde sua dona na brincadeira....
"Se você está tão preocupada com seu próximo local de trabalho, que tal eu te introduzir ao meu?"
"Umm, se o clima for bom, eu posso até aceitar. Mas o seu trabalho, não é num restaurante ou algo assim, né? Um lugar que demanda seu sorriso constante, não combina nada com você"
"Sua dedução está certa, mas é uma pena, se for algo como sorrir para a clientela, é claro que eu posso"
"Mentirosa. É sorriso de negócios, sabe?"
"Eu consigo"
"Então faça agora!"
Eu só estava provocando, mas ela levou a sério. Ela franziu suas sobrancelhas por um momento e mudou seu olhar para outra direção, com as suas bochechas vermelhas. Como eu imaginei, ela não consegue. Sinto que faz muito tempo desde a minha última vitória contra ela.
"Bem, por agora, eu acho que você vai gostar do meu trabalho"
"Se você diz, estou ansiosa"
Passamos por algumas ruelas até que ela parou na frente de uma loja. Um bar com um clima retrô. Menores de idade podem entrar em bares assim desde que não sirvam álcool, né? Eu já pesquisei sobre lugares assim! Menores também podem trabalhar neles desde que seus turnos acabem antes das 10:00pm.
Mais importante, eu estou animada por ser minha primeira vez num lugar assim. Ignorando a Fuwa ao meu lado, eu mesma abro a porta. Eu dei um passo, o interior tem uma atmosfera boa e confortável, é ótimo, até que observei ao meu redor e congelei. Tem duas mulheres se beijando bem no balcão.
"Esse é o bar de lésbicas no qual eu trabalho"
"Até parece que eu gostaria de um lugar assim!!"
Eu consegui passar direto e sentar bem no canto do balcão. Quando olho ao redor, todas estão flertando com suas parceiras. Ali, bem ali, ah, até ali. Elas flertam casualmente de mãos dadas, abraçadas, e até beijando como as moças de antes...
Talvez por conta da iluminação fraca aqui dentro, as clientes apenas fazem o que querem e aproveitam seu tempo juntas. Por que eu tô aqui?... Eu me sinto tão deslocada...
"Ei mocinha, você é uma estudante de ensino médio? Por que está aqui? Procurando uma parceira? Ou só aproveitando o clima?"
Inesperadamente, uma funcionária vem em minha direção. Ela tem um cabelo curto que a faz parecer revigorada. Ela tem um corpo pequeno, mas ela também tem um rosto pequeno que faz sua proporção corporal ser bem balanceada. Eu sinto que já vi ela antes, ou talvez ela só pareça com alguma atriz?
"Um, não é nada disso. Euー"
"Ahaha, eu tô brincando. Desculpe ter surpreendido você. Você é amiga da Aya-chan, não é? Ela está se aprontando lá dentro, então pode beber isso enquanto espera por ela"
A moça solta um sorriso amigável e me oferece um coquetel.
Eu observo a bebida na minha frente. O líquido é transparente com duas linhas se cruzando. Uma vermelha e a outra amarela. Essa combinação de três cores ficou linda. Mas a loja não vai ter problemas servindo algo assim para uma menor?
"Ah por favor não se preocupe, é uma bebida sem álcool. Esse lugar recebe muitas clientes em diversas circunstâncias"
"Ah, então é isso"
"Pois é, é por isso que fui confiante em lhe dar essa, é um drinque original. Um serviço especial para uma gracinha como você ♡"
A moça casualmente solta essa frase e pisca com charme. Meu coração apertou por um segundo. O que é isso? Ela é tão fofinha, eu quero ser amiga dela, mas...
"Umm, com licença. Você também é lésbica...?"
"Sou sim. Esse bar não é tão chamativo e nem tão interessante para turistas. Por isso não é comum recebermos homens e héteros"
"...Héteros?"
"Ah, hétero se refere a pessoas atraídas pelo sexo oposto. Você é uma delas, não é?"
"Bem, com essa explicação eu diria que sim. Pra ser honesta, eu não entendo relações com o mesmo sexo..."
Eu sei bem que falar "é impossível!" para essa mulher não vai servir, mas ainda assim eu transmito meus sinceros sentimentos pra ela. Ter uma conversa com uma barwoman em um balcão de bar me faz sentir como uma adulta.
A moça parece estar relembrando algo do passado, algo nostálgico à julgar por seu sorriso adorável.
"Você é bem honesta. Antigamente, eu sentia o mesmo, eu não entendia porque algumas pessoas eram atraídas por outras do mesmo sexo. Por que você namoraria outras garotas? Mas um dia eu senti um gatilho dentro de mim que me fez mudar. Desde então eu sou assim, eu acho. E você? O que lhe atrai em garotos?
"Quê?"
Ela de repente inverte a pergunta de volta pra mim, foi tão inesperado que fui pega de surpresa.
"Ummm...o que será?"
"Seu primeiro amor foi um garoto?"
"Ah, sim, é mesmo. Acho que foi no 6º ano. Ele era o garoto mais popular na minha sala, ele provavelmente foi meu primeiro amor...Hm, é por isso que eu me considero atraída pelo sexo oposto, eu acho? Garotas gostarem de garotos é o normal, não é?"
Ah, eu falei. Eu e minha grande boca. Eu cobri minha boca com as mãos na hora. A moça solta uma risada gentil.
"Quando se é jovem, é claro que você fica preocupada com o que é normal e o que não é. Você vai procurar aprovação das pessoas ao seu redor, se importar com o que a sociedade pensa sobre você. Por isso eu decidi abrir esse bar como um lugar para garotas que não se acham normais e diferentes para os padrões da sociedade"
Assim que ela terminou de falar, o som de um sino ecoa pelo bar. Uma linda mulher com um terno entra e acena com a mão em nossa direção. A barwoman de repente solta um sorriso radiante quando seus olhos se encontram.
"Acho que a Aya-chan virá logo, por favor aproveite a estadia"
A moça me diz isso e então vai até a beldade que entrou. Essa cena me faz lembrar uma donzela apaixonada esperando por seu querido amor.
Eu continuo observando as duas até que uma faísca surge em minha memória.
"Ei, essas duas, será que..."
Eu me lembro do primeiro pornô que assisti com a Fuwa, aquele da universitária com a diretora, a beldade que acabou de entrar é a diretora e a barwoman é a universitária. Quanto tempo tem aquele video?
Droga, eu tô ficando nervosa. Isso não é algo comum de acontecer, né? Me encontrar e conversar com uma atriz pornô. Droga.
Eu tento me acalmar bebendo aquele coquetel. Ah, a sensação da água passando pela minha garganta seca é tão boa. É uma pena que no meu estado atual eu não possa apreciar o gosto do coquetel, eu só sinto a doçura. Simplesmente passou pela minha boca e foi direto para meu estômago, que desperdício.
"Desculpe a demora"
"Hyaa!"
Eu pulei do meu assento com um grito. A pessoa que apareceu atrás de mim de repente, claro que é a Fuwa. Ela surge com um sobretudo e uma camisa branca por baixo. Ela também está usando uma gravata e longas calças pretas. Seu longo cabelo está bem amarrado em um rabo de cavalo. Eu poderia me apaixonar à primeira vista se eu não soubesse que se tratava da Fuwa Aya, porque ela está simplesmente cativante.
"Fu-Fuwa..."
"O quê? Você tá com uma cara estranha"
"Não, um...combina com você...eu não sei direito"
Ela sorri levemente olhando pra mim. Esse sorriso, me lembra a moça de antes.
"Mas que honra"
"Uuu...enfim, o que tá acontecendo nessa loja? Por que tem uma atriz pornô aqui...?"
Eu perguntei num tom bem baixo.
"Em primeiro lugar, Karen-san é a dona dessa loja. Ela trabalhava como uma atriz pornô para arrecadar a quantia necessária para abrir o seu próprio bar, e também estudar a vida real enquanto fazia isso. Muitas clientes são fãs da Karen-san."
"Por que você me mostraria um pornô com a sua chefa?! Você é uma pervertida?!"
"Bem, a Karen-san sempre diz que fica excitada quando pensa que suas clientes já a viram naquele estado"
"ELA é uma pervertida?!"
Fuwa entra no modo atendente e fica do outro lado do balcão. Ela calmamente vem em minha direção e para na minha frente enquanto eu continuo processando a coisa toda.
"Minha querida cliente, o que deseja?"
"Bem...um copo d'água, eu acho"
"Meu coquetel especial então"
Fuwa agita a mistura habilmente. A julgar pelos movimentos dela, ela já deve fazer isso a um bom tempo. Ela está mais aplicada que o normal, fazendo meu coração bater mais forte. Isso é tão estranho.
"Aah, olha a Aya-chan no balcão!"
"Linda como sempre, Aya-chan"
As clientes que estavam sentadas numa mesa próxima do balcão cumprimentam Fuwa com uma voz aguda. Esse é o tipo de tom que usam para flertar com alguém?
Eu olho de volta para Fuwa e ela só responde com um sorriso maduro. Esse é o sorriso natural dela. Nossa, então ela consegue mesmo servir suas clientes.
"...Você é bem popular, hein?"
"Eu sou? Isso é normal"
Ela acabou de insinuar que a popularidade dela é normal? Fuwa sendo mimada por um bando de mulheres adultas, e eu fazendo meu melhor para ser a principal da nossa sala. Eu não consigo decidir qual é melhor, mas eu já estou sentindo a derrota de novo. Ugh...
Além disso...
"Então costumam chamar você de Aya ao invés de Fuwa por aqui, né?"
"Isso mesmo"
Olhando mais de perto, o crachá em seu peito diz "AYA". Ver a pretensiosa Fuwa ser chamada aqui e ali por essas mulheres, eu não gosto disso.
Por isso, vamos agitar um pouco as coisas, que tal?
Eu descanso minha bochecha em minha mão e começo a murmurar algo num tom de voz propositalmente alto para que ela possa ouvir.
"Então, acho que eu deveria começar a chamar você de Aya de hoje em diante"
"...."
Depois de ouvir o que eu disse, Aya se atrapalha e deixa seu agitador cair no chão. O barulho foi tão alto que as demais clientes perceberam na hora. Na mesa atrás de mim, eu posso ouvir as vozes de clientes frequentes.
"Para a Aya-chan se atrapalhar assim"
"Sim, é coisa rara"
"Algum problema, Aya-chan?"
Eu propositalmente uso uma voz provocante com uma ênfase no "Aya-chan", ela parece um pouco surpresa.
"Me chame como quiser"
"Tudo bem, Aya"
Hmm, depois de falar isso em voz alta, ao invés de Fuwa, Aya parece a forma melhor e mais natural de chamá-la. Na verdade, ela me chama de Marika desde o começo, então tá tudo bem, eu acho. Isso nos deixa quites.
"...Sim sim"
Ver ela tão animada só porque eu chamei ela pelo nome é engraçado, mesmo sendo algo tão simples. Os sentimentos sombrios dentro mim se foram. Bem, eu alcancei a vitória total de qualquer jeito. Então essa é uma situação onde uma ganha e outra perde. Voltamos ao ponto de partida.
Depois de um tempo, Aya me deu um coquetel de cor vermelho-escuro. Eu posso sentir a fragrância atraente de laranja pera. Por agora, esqueça a Aya, o coquetel que ela fez é inocente então eu vou aproveitar a bebida.
Eu posso sentir minha garganta mimando por conta da sensação refrescante. O gosto que ficou em minha língua é algo novo. Esse coquetel se parece com a Aya até certo ponto.
"De alguma forma, esse coquetel lembra você"
"...É mesmo?"
"Sim"
"Entendo"
Ela ri com inocência. Mesmo sendo a Aya, é claro que ela vai ficar alegre ao receber elogios sobre seu coquetel original. Vendo essa Aya, não consigo evitar de achar ela fofa, mas só um pouco.
...Se pelo menos ela pudesse ser honesta assim no dia a dia.
"Ei, que tal fazermos um café com temática de bar no festival escolar? Seria um sucesso. Com a sua beleza, pescaríamos vários clientes de outras escolas, tanto garotos quanto garotas"
"Não tenho interesse, além disso, eu já sou feliz assim"
"...Não tem nada a ver comigo, né?"
"Quem sabe?"
Aya encolhe os ombros quando a Karen-san finalmente retorna ao balcão, "Você parece estar se divertindo hoje, hein?" Karen-san sorri para Aya. Ela calmamente responde com um simples, "Isso não é verdade."
Hmm, então ela usou propriamente o Keigo aqui.
Depois disso, eu passei o resto do tempo observando a Aya se esforçando como atendente. Não tenho mais o que fazer, só checar o celular de vez em quando.
Aya parece contente a julgar por seu sorriso tranquilo enquanto atende aos pedidos. Normalmente ela é a chefona e me pede pra fazer isso e aquilo, como é ótimo ser a servida.
Quando penso em tirar uma foto, ela rejeita francamente. Mas eu ainda tirei uma em segredo. Afinal, é uma versão dela que não se parece nada com a do colégio ou a que passa o tempo comigo. Eu olho para a Aya na tela do meu celular, ela parece alguém de outro mundo, um mundo adulto.
Dentro dessa loja escura, ninguém me conhece exceto a Aya. Eu gosto de ir para a escola porque lá eu me torno uma personagem com várias amigas para me divertir. Nesse bar, é claro que eu preciso me vestir bem para vir aqui, mas o clima é tão relaxante que eu gostaria de usar um pijama.
"Eu acho que você vai gostar do meu trabalho"
Eu relembro as palavras dela enquanto vejo seu rosto sério de longe. Eu pego minha taça de coquetel e bebo até esvaziar. Eu coloco de volta e fico olhando para o copo vazio.
"...Isso me deixa nervosa"
Ficar cercada por garotas que gostam de outras garotas, eu sinto que estou presa numa situação incomum. Eu tento me acalmar fechando os olhos e deixando a melodia de jazz me aliviar. Eu sinto vontade de me derreter junto com a música.
"Hey"
Alguém está me chamando. Eu abro meus olhos e vejo uma loira me observando. Ela tem um tipo diferente de beleza que se destaca entre as japonesas. Ela está sentada na cadeira ao meu lado.
Qual é a dessa garota? Vamos ver, hoje eu conheci uma atriz pornô, vi a Aya em seu modo barwoman, e agora uma loira inusitada veio falar comigo. Então isso é Shinjuku. Eu sinceramente procurei por algum vocabulário para cumprimentar essa loira. Como se estivesse traindo minhas expectativas, ela começa a falar japonês.
"Meu nome é Astalotte. O seu?"
"Ehhh....Sakakibara Marika"
"Oh, que belo nome"
Ela respondeu com um sorriso radiante como o sol. Um sorriso que você veria facilmente em um campo aberto, é tão brilhante. Mas por que ela veio até mim...?
"Então...?"
"É a primeira vez que vejo você por aqui então vim cumprimentá-la. Esse lugar não tem clientes com a mesma idade que eu, então é ótimo ter você aqui"
"Bem...eu fui convidada por minha amiga hoje..."
Eu olho ao redor procurando pela Aya, se ela está ausente talvez esteja no intervalo ou no banheiro. Eu fico desencorajada ao saber que estou sozinha no momento. Espera, isso não quer dizer que eu não consigo fazer nada sem a Aya não, tá? Não importa se ela está aqui ou não, não é um problema.
Astalotte ri inocentemente. E que sorriso é esse, ela tá tentando me seduzir? Bela tentativa mas é uma pena, eu jogo em outro time. Mas eu tenho que admitir que ela é super fofa.
"Você vem aqui sempre?"
"Não, hoje é meu primeiro dia"
"Ah, então vamos ser amigas, Sakakibara Marika...Marie...É isso, vou te chamar de Marie!"
Ela pega minha mão e a cobre com as dela enquanto balança pra cima e pra baixo. Ela com certeza é amigável e um pouco enérgica. Quando senti suas mãos, percebi que são um pouco menores que as minhas. Talvez ela seja mais nova que eu.
Ah, mas isso, é o que chamam de 'flertar'? Será que ela tá dando em cima de mim? Se ela estiver, aposto que a antiga eu ficaria brava com isso. Atualmente, eu sinto que posso tolerar esse tipo de coisa, afinal tem todo tipo de gente nesse mundo.
Além disso, Astalotte é tão adorável, eu me sinto honrada de ter sua atenção. É um pouco irritante quando eu lembro que a eu de agora é resultado do trabalho da Aya.
"Eu venho aqui com frequência, então me chame se me ver por aqui na próxima vez. Foi um prazer em conhecê-la, Marie!"
"O prazer foi meu, Astalotte"
Depois disso, ela se levantou da cadeira. Com um movimento repentino, ela não me dá nem tempo pra reagir e naturalmente se aproxima do meu rosto e me dá um selinho.
Eh. Pera. Quê!? Boca com boca! Do nada!?
"Ma-ma-ma...."
Essa garota, ela saiu andando e dando tchauzinho como se fosse a coisa mais normal do mundo, "Então, até a próxima!"
Ela foi como uma tempestade. Tão chocante e súbita que eu nem consegui ficar brava.
Hiie....é por isso que dizem que estrangeiros usam beijo como um simples cumprimento...?
Os lábios da Astalotte, me deram uma sensação bem diferente comparada aos beijos da Aya. Mas uma coisa elas têm em comum, a maciez de seus lábios. Parece que os lábios de garotas são mais macios que os de garotos. É por isso que existem garotas que preferem outras garotas ao invés de garotos...? Não, não, é um motivo simples demais...
"Eu terminei. Desculpa a demora, vamos pra casa"
"Hiee"
Aya, agora usando suas roupas casuais, me olha com um ar de dúvida.
"O que houve?"
"Umm, não, nada"
Eu não posso falar. Essa garota chamada Astalotte me beijou na boca agorinha, mas eu não posso falar pra ela. Algo me diz que se eu falar qualquer coisa sobre, ela vai ficar zangada e eu serei a única vítima de sua fúria. A culpa nem é minha da Astalotte ter me beijado do nada.
Espera, não é como se estivéssemos namorando ou algo do tipo, não é? Então eu não tenho obrigação nenhuma de relatar o que aconteceu pra ela....é, é isso aí.
"...Marika, por acaso alguém flertou com você enquanto eu não estava?"
"Impossível!"
"Hmm..."
Quando estávamos no caixa, Aya continuou me encarando, ela não parou mesmo durante nossa caminhada até a estação.
Enquanto caminhamos, as ruas estão cheias de gente. 10pm de Sábado, esse deve ser o horário de pico em Shinjuku pra ter tanta gente assim. Enquanto continuamos indo até a estação, Aya segura minha mão como se eu fosse me perder nesse mar de pessoas, ela não largou mesmo depois disso.
A forma como ela segura cuidadosamente a minha mão, ao invés de me tratar como criança, é como se...ela estivesse me tratando como uma pessoa especial pra ela, ou algo parecido. Pera, não. O quê que eu tô pensando? Ela é a Aya, a grande bolinadora, até parece que ela faria algo assim.
"Até quando você vai segurar minha mão? Já estamos perto da estação"
"Você não está acostumada com Shinjuku"
"...Mas e se alguém da escola nos ver? Seria um saco inventar desculpas"
"Tem pessoas demais aqui, não é possível"
"Uugh..."
É lógico. Tem gente demais em Shinjuku durante o fim de semana. Não importa o que você faça ou que tipo de conversa você tenha, ninguém pode lhe ver e ouvir claramente. Continuamos nos aproximando da estação com nossos dedos entrelaçados como se fôssemos namoradas.
"Eu adoro Shinjuku durante a noite. Com esse monte de gente, não deve ter ninguém que me conheça ou que preste atenção em mim"
"Isso não é...solitário?"
"Isso me acalma. Não importa que tipo de pessoa eu seja, mesmo sendo diferente das outras, eu ainda posso ser eu mesma"
"Você se sente pressionada pelas demais?"
"É claro"
"Hmm..."
Ela está sendo tão honesta, que inesperada. Faz tempo que não vejo esse olhar de aborrecimento em minha direção.
"Na sua cabeça, eu sou só uma pervertida?"
"Não, uma pervertida esquisita"
Enquanto atravessamos a grande interseção, Aya respira fundo como se estivesse se preparando para alguma coisa
"Na escola, eu tento agir normalmente. Mas eu acho que fiz isso porcamente e acabei sem amigas. Por isso eu sempre te achei incrível, Marika"
Meu rosto não mostrou, mas no fundo eu me senti muito surpresa por sua confissão.
"Quê? E-eu?"
Então ela se importa com o fato de não ter amigas. Isso é surpreendente. Não faz bem pro meu coração, por favor não me mostre esse seu lado sentimental do nada.
Mesmo com tanto barulho ao meu redor, eu sinto que o único som que importa e que eu posso ouvir claramente agora, é a voz da Aya.
"Você sempre age como o centro da classe, Marika. Não importa quando algo interessante aconteça, você sempre está lá. Eu aposto que você se dá bem mesmo em lugares desconhecidos. Até no bar da Karen-san, só por estar sentada no canto do balcão você cativou meus olhos. Parece que qualquer lugar que você vá, se torna um lugar apropriado pra você. Isso até que é legal"
"..."
Aya não olha pra mim enquanto fala pois ela está evitando qualquer contato com outra pessoa. Mas assim é melhor. Porque eu tenho certeza, que nesse momento, meu rosto está brilhando em vermelho.
Que sentimento é esse?
Eu deveria odiá-la.
Apenas por um simples elogio, apenas por conseguir uma aprovação dela, eu me sinto aquecida.
"Eu sou o oposto. Eu nunca tentei encontrar e fazer daquilo o meu lugar. Eu já estou satisfeita de ter apenas um lugar onde pertenço"
"A Aya que conheço na escola"
Minha boca mexe sozinha. Eu ainda não tenho nenhuma palavra pronta pra ela, mas eu não posso parar esse sentimento. Eu apenas confio nessas palavras fluindo naturalmente dentro de mim.
"Você não é normal. Você exala uma aura forte de 'Fuwa Aya', pelo menos na minha visão. Mas isso não é ruim, isso é, sabe, maneiro. Diferente de mim que faz o melhor para se encaixar com as pessoas ao meu redor, você é apenas você. Eu não consigo ser como você..."
Eu costumava achar ela irritante.
Mas, essas palavras saindo da minha boca são meus verdadeiros sentimentos.
"Como posso dizer, um, tem muita gente como eu. Mas gente como você, são bem raras, então você é uma pessoa rara. Isso é ótimo, só continue sendo verdadeira com você mesma. Você não pode pensar que não se encaixa e que não pode tentar, isso é errado. Não tem problema ser o que você quer. Além disso você já pagou pela escola, e já tem a sua carteira"
Ouvindo minhas palavras, Aya ri suavemente.
"...Que foi?"
"Nada, só pensando como você está sendo reconfortante. Você é muito gentil, Marika, é o que eu acho"
Essa voz inesperada e doce como mel congelou meu cérebro, eu não consegui pensar em nada para respondê-la.
"I-isso não é o que eu...Ei, só pra que você saiba, eu sempre tratei você como minha rival"
"Eu? Por que?"
"Seria irritante dizer os motivos então não direi. Mas eu não vou aceitar se você de repente declarar sua derrota assim. Eu quero te vencer da forma correta."
Depois de receber minha barragem de reclamações, Aya responde com mais risadas. Por que ela tá tão feliz? Eu não entendo. Eu tava falando sério.
Finalmente nos livramos da multidão e chegamos na plataforma da Linha Keio e esperamos o trem chegar. Aya naturalmente solta minha mão. Eu ainda posso sentir o calor dela. O corpo de uma garota é ótimo de tocar, isso é fato.
"Bom então, vamos falar sobre nosso confronto"
É agora, a tigresa dentro de mim finalmente despertou ao ouvir isso.
"Dessa vez, eu fiz você visitar um lugar onde garotas atraídas por outras garotas é algo normal. O que você achou?"
Eu penso no que aconteceu hoje. Eu tento organizar palavra por palavra para minha resposta.
"Eu entendo que nesse mundo vasto, existam pessoas assim. Até a Karen-san, ela é uma pessoa adorável. Mas eu ainda penso o mesmo, impossível"
"Hmm"
Aya me observa como se eu fosse algum tipo de objeto interessante.
"Poderia me explicar?"
"No fim essas pessoas existem, isso é conhecimento básico, certo? Elas que decidem se querem se apaixonar por alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto, não é da minha conta. E também, não é como se eu tivesse direito algum de falar algo do tipo, 'ei, isso não é uma coisa normal de se fazer, pare"
"Uhum"
"...É apenas uma questão de escolha. Essas pessoas são homossexuais, enquanto eu sou uma heterossexual. Por isso que, pra mim, é impossível. É isso"
O trem chega, nós entramos enquanto a Aya continua me observando. Ela parecia estar se divertindo com nossa conversa, isso me deixou um pouco confusa.
"Entendo, então você continua dizendo coisas assim"
"Eu não estou sendo teimosa, é sério. Eu só digo o que vem à mente. Mesmo que você já tenha feito tantas coisas comigo, nada vai mudar minha maneira de pensar"
"Não, ela mudou"
Aya nega minhas palavras. Eu não consigo aceitar isso então eu mostro pra ela minha cara de irritada.
"Por que? Eu não falei o mesmo de sempre?"
"Essa é a sua forma de concluir as coisas. Mas a sua linha de pensamento mudou, a forma como você vê tudo isso"
"No fim eu cheguei na mesma conclusão, não é a mesma coisa?"
"Não é não, esperta como você é, deveria saber disso"
Hm, ela me elogiou do nada. O que ela quer? Eu fico mais agitada enquanto olho pra ela.
"Você sempre pensa profundamente nas coisas, Marika. Você não é uma pessoa de mente fechada que não aceita outras coisas a não ser o que você acredita. Você devidamente aceita o que está na sua frente e leva em consideração para alcançar sua própria conclusão."
Aya disse aquilo com tanta confiança, como se ela me conhecesse melhor do que eu mesma. Suas palavras me encorajam muito, não é algo que você espera de uma pessoa que parecia tão negativa momentos atrás.
"Lendo mangás, você entendeu aos poucos como relações de mesmo sexo funcionam. O pornô agiu como um catalisador para expandir sua imaginação. No bar, você pôde ter contato direto com essas pessoas. De passo em passo, a maneira como você nos vê está sendo afetada. Não percebe? O jeito como você fala [impossível] está enfraquecendo cada vez mais"
"Isso...".
Karen-san, Astalotte, e as outras clientes do bar me vieram à mente. Quando as conheci diretamente, é claro que eu não pude falar com tanto impacto. Se eu fizesse isso, eu estaria rejeitando a existência delas e eu não quero isso. Incluindo a Aya, claro.
Aya se aproxima lentamente do meu ouvido e sussurra, "....Mesmo agora, você deve estar pensando que não há nada de errado em garotas namorarem, não é?"
"...Não...Não! Nananinanão!"
Eu esqueci que estávamos em um trem e inconscientemente me exaltei.
"Não, que nada. Não é nada disso, tenho certeza"
A sensação de tocar outras garotas, seus lábios macios e mãos suaves, são relaxantes. Mas é por sermos garotas que sentimos esse conforto ao nos tocarmos. Não há nada de bom em garotas namorarem. Os beijos, os toques, esse tipo de coisa é impossível.
Se você quer se apaixonar, que seja do sexo oposto. Essa é a verdade, definitivamente.
Mas se alguém me perguntasse por que eu penso assim, eu não tenho uma resposta concreta. Porque, é o normal, é como deve ser...Esse tipo de resposta me faz parecer que só sigo as regras sem nenhuma base para formar minha própria opinião.
"Eu ainda acho impossível garotas se apaixonarem por outras garotas"
Eu mais uma vez apresento meu ponto.
Como se já esperasse minha reação, Aya me observa com uma cara confusa enquanto ri de mim como uma bolinadora.
"Então tá, essa fase chegou ao fim. No próximo encontro daremos início à 4ª fase do nosso treinamento"
"...Você não desiste, hein?"
"É claro"
Ela mais uma vez acaricia minha cabeça devagar. Essa garota tá mesmo me subestimando, é? Que irritante.
"Nesse ritmo, 100 dias não são nada"
"Você..."
82 dias restantes para o nosso confronto final. Novamente, meu espírito de luta queima com afinco. Mais cedo, eu achei o modo barwoman dela maneiro, e depois de nossa conversa eu senti que nós poderíamos nos dar bem, mas estava errada! Como eu imaginei, eu não suporto mesmo essa garota!
Essa mulher que me trata como seu brinquedo, uma grande bolinadora que exala confiança. Ela continua me fazendo dançar na palma da mão.
Eu fico irritada com tudo isso. Finalmente, o trem chegou na minha estação. Sem olhar para trás, eu saí sem nem pensar e deixei ela no trem.
"Eu definitivamente não vou perder para alguém como você"
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