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Capítulo 3 (Parte 2)




O repentino som do alarme do celular me desperta do sono. Depois de um tempinho tentando alcançar o telefone sem tirar o cobertor, eu finalmente o desliguei. Com um leve toque não se ouvia mais nada. Aliviada por não estar mais sendo perturbada, eu volto a ficar completamente aninhada no cobertor e continuar meu sono inacabado.
Pela janela, a luz do sol lentamente penetra as cortinas e ilumina o quarto escuro, como um sinal de que eu não poderia continuar dormindo.

Fuahh...”

Depois de tanto me debater, é um milagre minha mente ainda ser capaz de permanecer em meu corpo...
Yume e Chisaki fazem isso toda semana...? Inacreditável.
Se eu for para a universidade e realmente morar com a Aya, me pergunto se nossos dias serão assim. Bom, se for o caso, acho que perderei muitas aulas...

“Mnn...”

De repente, uma voz bem fina e suave alcança meus ouvidos, fazendo meu sistema respiratório parar instantaneamente. Eu viro minha cabeça na direção da voz a cerca de um milímetro por segundo.
Está bem próxima de mim.
Ou melhor, na mesma cama que eu. Uma garota com um rosto lindo e perfeito está deitada ao meu lado, respirando suavemente em seu tranquilo sono. Seus lábios levemente abertos me permitem ouvir claramente cada suspiro.
Não sei se ela está assim por estar cansada. Certamente está. Acordando cedo toda manhã na casa de outra pessoa, você fez tudo isso por mim, não foi? Muito obrigada, Aya...
Mas, o rosto dela... não está muito perto?
Um rosto delicado. Um belo nariz. Cílios longos e enrolados que são claramente visíveis mesmo com as pálpebras fechadas.
Seus lábios são tão sensuais, e seus dentes tão brancos e limpos. Sua pele é suave e macia como a de um bebê.
Ver um rosto tão deslumbrante de tão perto me dá uma enorme vontade de suspirar. Sinceramente, eu poderia ficar aqui e observá-la por horas e nem sentiria o tempo passar.
Se desde pequena Aya já demonstrava tanta beleza, então é óbvio porque seus pais quiseram que ela aprendesse artes marciais. Preocupados com coisas como flertadores, pervertidos e até golpes.
Não consigo evitar de me sentir aliviada. Ela teve um crescimento saudável tanto física quanto mentalmente, sem ter de passar por qualquer acidente infeliz.

Aah~ Você é tão linda, Aya.

Ela é tão adorável, não apenas no exterior, mas também no interior.
Hoje à tarde, eu irei até o bar ajudá-la com seu trabalho de meio expediente. Soube que elas vão fechar mais cedo e decorar o local para a festa de Natal.
Até lá, não há mais nada para fazer, então posso dormir o quanto eu quiser.
Poder dormir tão confortavelmente na mesma cama com a pessoa que eu amo, me deixa tão alegre e feliz que se no fim eu descobrisse que era um sonho, eu choraria...muito... Eu lentamente volto a dormir com isso em mente.


***



Então, por volta do meio-dia, nos arrastamos para fora da cama, pois estávamos com fome demais para voltar a dormir.

“Depois de comer, tomaremos banho.”
“Certo...”

Aya e eu caminhamos até a sala de estar usando apenas roupas íntimas. A razão de nos levantarmos tão tarde é óbvia... o que mais poderia ser? Um ser humano possui suas necessidades básicas, e como tudo que fizemos ontem se resume àquilo, nossos corpos estão apenas nos mostrando as consequências. “Uma rotina diária igual a ontem seria...” eu nem consigo imaginar.
Nós comemos o equivalente a um café da manhã e almoço, e então tomamos banho uma de cada vez. Porque se fossemos juntas, levaria mais uma hora...
Apliquei minha maquiagem, troquei de roupa e estava pronta para ir a qualquer momento, mas quando percebemos... já era tardezinha! Ferrou, ferrou, temos que nos apressar.
Nós fomos para a estação juntas e embarcamos no trem para Shinjuku. Está um frio congelante do lado de fora. E talvez por eu ter passado tanto tempo agarrada à Aya, o fato de agora não podermos nos abraçar, ou nem sequer dar as mãos, me deixa extremamente desconfortável. Mesmo com ela do meu lado... Mas pelo menos eu poderei ser mimada à bel prazer quando voltarmos para casa.

“Tudo bem com você?”

No trem, Aya me encarou com olhos fervorosos, e me fez essa pergunta. “A-ah, nada não.” Eu respondi balançando as mãos.

“É só que, parece que estamos mais distantes agora, não acha?”
“Ah... tem razão.”

Aya demonstra um pouco de tristeza e solidão em seu rosto.

“Ahaha, você vai voltar para sua casa em três dias, né? Me pergunto se ficaremos bem depois disso~”

Enquanto eu falava brincando que não queria me separar dela, Aya vira seu rosto subitamente.

“...Depois disso, nós... ficaremos bem, não é?”
“Eh?”

O que ela quis dizer? Como o combinado era que ela morasse comigo até o dia 26, não há o que fazer.
Embora eu não tenha entendido muito bem, tenho a sensação de que a fiz sentir insegura. Confiando em minha intuição, eu coloco minha mão no braço de Aya.

“Vai ficar tudo bem. Nós podemos nos ver quando quisermos e ainda estamos de férias. Então agora é minha vez de ir para sua casa.”
“Certo.”

Aya acenou e sorriu com relutância.
Eu acho que entendo como Aya se sente, pelo menos um pouco. Nós estamos muito felizes agora, mas não sabemos o que o futuro nos guarda. É como se... este fosse o melhor momento de nosso relacionamento e nunca nos sentiremos tão alegres como agora.
Mas Aya pensa em muitas coisas, então talvez não estejamos pensando igual.
Ainda no trem, nós entrelaçamos nossas mãos discretamente.
Sentir o calor de suas mãos fez eu me sentir igual quando estávamos abraçadas em casa. Mas além disso, esse calor também é uma forma de encorajamento de Aya para mim e vice-versa, de que tudo vai ficar bem e que não temos nada com o que nos preocupar.


***



“Ah! Você também veio ajudar, Marika-chan? Obrigada.”

O lado de fora do bar estava tranquilo como de costume. Mas dentro estava cheio de luzes decorativas, e no meio da loja havia um enorme pinheiro. Uma atmosfera maravilhosa.

“Nossa, a diferença do lado de fora pro lado de dentro é gritante.”
“Claro que é. Afinal, não somos um bar para turistas. O que importa é que as clientes recorrentes se sintam confortáveis e contentes.”

Karen-san me cumprimenta com um sorriso radiante e uma voz super alegre.
Hoje, a loja não está recebendo clientes, provavelmente porque querem preparar a festa de amanhã com todo o cuidado. Em contrapartida, incontáveis pessoas, incluindo nós, se encontram no local para ajudar na decoração.
Tem muitas mulheres lindas por todo o canto do bar, uma olhadinha e alguém já chama sua atenção. Por exemplo, aquela moça vistosa que parece uma aeromoça, ou aquela mulher que parece uma bibliotecária. Será que todas são clientes recorrentes?

“Como podemos ajudar?”
“Aya-chan, pode decorar a árvore igual ao ano passado pra mim? E Marika-chan, se incomoda de dobrar os cartões de Natal que estão naquela mesa?”
“Certo!”

Aya e eu tiramos nossos casacos e começamos a trabalhar. Mas quando estava saindo de perto da Karen-san, eu a ouvi falar com sinceridade, “Hmm, garotas de colegial hoje em dia são bem esforçadas~...” Isso mesmo, pode nos chamar para o que for. Afinal, ontem eu não fiz nada o dia inteiro e ainda acordei tarde hoje, tenho muito o que compensar!

Ara, Marie, veio ajudar? É o seu primeiro ano conosco, não é? Permita-me ensiná-la.”
“Trabalhar com a Asta...”

Então Asta, também conhecida como Astalotte, sorri instantaneamente ao me ver se aproximando da mesa. Atualmente ela é uma estudante de terceiro ano do ginasial, possui uma aparência extremamente linda composta de cabelos loiros suaves, presos em duas adoráveis trancinhas, e olhos azuis cintilantes. Além de ser literalmente a personificação da felicidade.
Seus olhos também são grandes, tem um belo nariz, é uma amante genuína de yuri e é capaz de falar japonês fluentemente. Ela não é uma garota ruim, mas isso não quer dizer que ela seja boa! Ela não teve cuidado algum em preservar a própria virgindade!
Eu acho que neste mundo existem pessoas que simplesmente não se dão bem. Assim como Sae e Aya, Asta e eu......

“Já que está aqui, quando foi que você dormiu com a Karen-san sem eu saber?”
“Como assim?”
“Ora, todas que se voluntariaram para vir ajudar hoje são parceiras da Karen-san.”
“Do que está falando!?”

Não pude evitar de olhar para a Karen-san. Parece que ela escutou...
Imediatamente, a Karen-san fica envergonhada e diz, “Ah... não. É coincidência, pura coincidêcia~” Ela nem tenta negar, o que há com essa mulher!? Espera, todas aqui dormiram com ela? Sério isso!? Tem umas dez aqui.

“Francamente...... Enfim, Asta, vamos trabalhar...”

Imitando os movimentos de Asta, eu comecei a dobrar alguns cartões pop-up de Natal. Depois de um tempo, ela exclamou de repente, “Caramba!”

“Marie, suas unhas estão muito bem feitas hoje, hein? Ufufu~”

Que visão aguçada, garota!

“Não, nada disso. É pura coincidência. Ah, não pense besteira, ouviu?”
“Relaxa, fico feliz de saber que vocês duas estão se dando tão bem. De verdade! Inclusive, se quiser, eu posso ler sua mão de novo. Estou muito melhor do que antes!”

Por alguma força misteriosa, quando vi Asta se aproximar tão alegremente de mim, minha mão automaticamente se estendeu e eu suspirei.

“Tudo bem, mas sério, você está estudando mesmo? Você vai se formar no ginasial esse ano, não é? Por falar nisso, você é uma intercambista, então logo deve voltar para o seu país, certo? Qual é? Estados Unidos? Inglaterra?”
“Não, eu não vou. Aliás, eu sou do Kongeriket Norge.”

Kongeri-ke No-rige? Nunca ouvi falar.
Asta pega seu celular, abre o mapa e aponta num certo local, “Fica aqui.” É em algum lugar no norte da Europa. Hmm, esse não é o Reino da Noruega? Nossa, sério?

“Você não tem cara de quem trabalha num milharal...”
“Mas existem milharais no Kongeriket Norge.”

Asta coloca minha mão em seus lábios.

“Só que, seria um incômodo voltar pra lá, então eu já decidi que vou cursar o ensino médio no Japão, também. Eu sei que meus pais vão entender. Se eles não concordarem... então vou morar com a Karen-san!”
“Quanta determinação...”

O sorriso energético da Asta ofusca meus olhos, assim como quando nos conhecemos. E foi por conta desse sorriso que eu me enganei completamente sobre sua personalidade.

“Você parece viajar um longo caminho para vir até Shinjuku. Onde você mora?”
“Eu sabia! Você é tão fofa, onde você mora? Qual o seu LINE? Nossa, Marie, mesmo com Aya por perto, você é bem atrevida......”

Seus olhos cintilantes focam em mim. Ah, não, você é fofa demais, para!
Quando eu converso com essa garota, me sinto envelhecida, embora eu ainda esteja no segundo ano do ensino médio. Não sei como a Karen-san consegue acompanhar essa garota... Ei, é claro que ela consegue! Baladeira do jeito que é!

“Eu só perguntei onde você mora...”
“Tokorozawa.”
“É longe mesmo...”

Deve ser difícil toda vez que ela resolve ir para a casa da Aya... É quase uma hora de viagem... Enquanto ponderava, Asta parece ter terminado a leitura, então ela me encara com aquele olhos cintilantes novamente e diz.

“Entendi! Marie foi uma neko por... 17 anos seguidos! E continuará sendo uma neko pelos próximos 70 anos!”
“O que diabos você tá lendo!?”

Maldita garota norueguesa linda, estudante de ginasial, sempre tão brincalhona, e faz tudo que lhe convêm.
Então, me dei conta de que meu trabalho aqui não está sendo ajudar na decoração, mas sim ser babá...?

“Além disso, vi sinais de que você terá problemas com mulheres de novo, Marie. Parece que dessa vez não vai ter sangue, mas você é mesmo danada, hein? Vive flertando com outras garotas, mas por que sempre recusa minhas ofertas?”
“Porque eu não flerto com ninguém!”

Aparentemente, eu terei problemas com alguma mulher irritante em breve...
No entanto, eu já estou envolvida com uma garota bem problemática chamada Aya... Então eu só quero viver em paz. Talvez viajar para a Noruega não seja má ideia...


***



Nós terminamos o trabalho por volta das nove da noite. E um passarinho me contou que Asta ficará na casa da Karen-san esta noite. Vou apenas me fingir de surda... Lei que proíbe relação com menores? Nunca nem vi.

Haa... Falar com a Asta é cansativo demais. Não sei como vocês se dão tão bem, Aya!”

A esta hora da noite em Shinjuku, as luzes de Natal estão brilhando por toda a parte, iluminando o coração de muitas pessoas que passam por elas. No entanto, ver o lampejo de tantas luzes radiantes na minha frente, me faz lembrar dos cabelos dourados da Asta, então meu humor pisou no freio.
Aya pondera por um momento e então fala suavemente.

“Agora que parei para pensar, eu honestamente não me lembro de ter devidamente conversado com ela alguma vez.”

Como assim?

“Asta sempre fala sozinha. E eu apenas aceno dependendo do meu humor, então não tenho certeza se isso conta como conversar ou não.”
“Então eu não precisava ficar o tempo todo reagindo a ela constantemente!?”
“Não. Você se esforçou muito, não foi?”

Ela acaricia minha cabeça levemente. Hmm.

“Mas você não acha ótimo ser amada e cercada por kouhais assim, Marika?”
“Nem um pouco.”

É verdade que Asta tem uma beleza de nível estratosférico, mas sabe o que eu acho? Ela não é legal, e não tem respeito algum por suas senpais! Eu não suporto aquela pirralha!
Eu me agarro no braço da Aya ainda bufando. Sua respiração saindo de sua boca semi-aberta rapidamente se torna uma fumaça branca. Usando o frio como desculpa, eu a aperto ainda mais.

“Enfim, vamos para casa, Aya.”
“Por falar nisso, o que vamos comer no jantar?”
“Ah, eu tinha esquecido. Hmm, bom, basta comprar algo no caminho pra casa. Você deve estar cansada demais para cozinhar, não?”
Ela respondeu gentilmente, “Na verdade, não.” E então fez um sorriso tímido. “Mas cozinhar vai tomar parte do tempo que podemos ficar juntas, não é?”
“E-eu não falei nesse sentido! Eu só achei que seria muito trabalho pra você, Aya!”
“Sim, sim~ Eu entendi~”
“Francamente!” Eu tento parecer zangada, mas como ainda estou agarrada ao braço dela, fica parecendo que estamos flertando.

Nós cruzamos a intercessão movimentada na frente da estação juntas, enquanto conversamos sobre diversas coisas, até que...

“———Marika?”

De repente, eu escuto uma voz.
Eu viro minha cabeça, surpresa.
Sinceramente, eu estava muito confiante de que não me depararia com alguém que conheço nesse lugar tão lotado que é Shinjuku, e até então, eu estava indo muito bem.
Mas há uma clara diferença entre "improvável" e “impossível”. Querendo ou não, eu sou uma garota com certa fama, então claro, conheço muitas pessoas.
E lá estava ela, vestindo um casaco de pele rosa-claro, a garota chamada Nishida Reina.

“E Fuwa? Ah, já sei, já entendi. Então é isso.”

Eu pulo para longe da Aya o mais rápido que pude.
Mas acho que é tarde demais.
Nishida não é tão lenta e ingênua como a Yume.

“Então foi por isso que Fuwa entrou para o grupo da Marika recentemente? Hmm, entendo, então é assim. Bom, pelo menos você falou a verdade quando disse que não tinha um namorado.”

Ela descobriu.
Eu fui descoberta! O que eu faço agora? Talvez fingir inocência e falar “Eh, como assim~?” ......Não, não vai servir. Não seria nem um pouco racional. Rios de suor começam a escorrer em meu corpo. O que eu faço? Todo mundo vai saber!
Enquanto eu estava hesitando, Aya fica na minha frente para encarar Nishida. Como se estivesse me protegendo.

“Sim, Marika e eu estamos namorando. E daí?”

Por reflexo, eu grito para Nishida, que estava franzindo para nós.

“P-por favor, não conte a ninguém!”

Aya olha para mim, chocada.
Sinto muito, Aya, mas eu não sou forte como você...
Se alguém descobrir que eu namoro uma garota, a imagem que eu trabalhei tanto para construir no colégio certamente será arruinada. Sakakibara Marika é uma figura que eu criei e valorizei com todo o cuidado. Eu me esforcei muito para me destacar, então como eu poderia deixar meu trabalho ser destruído desse jeito?
Mas... isso não é—isso não importa, pois não é a única razão.
O semáforo mudou de sinal e Nishida cruzou a rua calmamente. Eu corri atrás dela com Aya logo atrás de mim.

Heh... Ver uma Marika tão desesperada também é inusitado. Você é sempre tão cheia de energia, radiante, adorável e confiante.”
“Não, eu não sou.”
“Reina-san não entende muito bem, mas você não quer que as pessoas saibam que você namora uma garota, é isso?”
“Não é óbvio?”
“Marika.”

De trás de mim, a voz da Aya ecoa, carregando um pouco de ansiedade. Eu agarro o braço da Nishida no meio da rua e a puxo.

“Eu não quero que saibam. ———Não assim.”
“...Por quê?”

Eu estive pensando muito sobre o que eu gostaria de fazer desde o dia no qual Aya e eu conversamos sobre isso no outono.
Eu encaro Nishida diretamente em seus olhos amendoados, e ao finalmente se virar em minha direção, eu tento ser o mais clara possível para que ela não me interprete mal.

“Digo, é claro. Eu não quero ser ridicularizada ou zombada por algo assim. Não é que eu não goste... mas se alguém me provocar, eu seria forçada a mentir e dizer coisas que eu nunca gostaria de dizer, tudo para me divertir com elas...... Eu... odeio a mim mesma por ser assim.”

Apenas passear junto da Aya já é o suficiente para atrair muitos olhos curiosos de pessoas ao redor. Mas tudo fica bem desde que aja como de costume e alegremente responda a qualquer provocação de maneira tranquila. É o que venho fazendo até então.
Mas se tudo for revelado, meus métodos se tornarão inúteis.
Naquela vez, eu não consegui responder adequadamente a Nishida quando ela perguntou, “Não acha chato uma festa só com garotas?
Eu, que ainda estou tentando mudar, ainda não posso permitir que seja público. Minha habilidade ainda não evoluiu ao ponto de conseguir lidar com isso, minha força atual me torna impotente.
Eu viro meu rosto para Aya, que está ao meu lado.

“Ao contrário da Aya, eu preciso manter uma boa imagem para as pessoas ao meu redor, mas não é como se eu estivesse enganando elas, e sim porque eu adoro a escola. Eu gosto de lá, gosto da atmosfera alegre que é formada quando nos divertimos juntas. Eu só faço isso porque eu gosto da escola.”

As palavras que transmiti não eram apenas para a Nishida, mas também para Aya.

“Até mesmo aquelas colegas que riem e falam com você de vez em quando também são amigas. Mas, você saber que ser diferente das pessoas ao seu redor pode ser desagradável. Mas não se trata de bom ou ruim. Para mim, desde que todas se divirtam juntas, nada mais importa.”

Por isso a minha atmosfera animada é tão importante.
Eu criei essa persona chamada Marika, sempre me comportando alegremente e dando o meu melhor para criar essa atmosfera.
Se eu sei que não consigo dar uma resposta adequada, eu não invento uma. Pois eu não quero arruinar o clima. Embora muitas pessoas não deem muita atenção a isso, mas para mim é o mais importante.
Aya é Aya, e eu sou eu.
Não existe certo ou errado—existem pessoas como Aya, que se impõem, e pessoas como eu, que se adaptam às pessoas ao seu redor.
Nós nos amamos, tanto por nossas semelhanças, quanto pelas diferenças.

“Então, eu quero continuar compartilhando nossa história apenas com as pessoas que eu acho que precisam saber.”

Eu ainda acho que deveria ter contado a Chisaki e a Yume mais cedo. Mas também foi graças à Aya que eu pude entender os sentimentos das duas. Quem sabe nós encontramos mais pessoas assim no futuro.
Mas isso também não se aplica a qualquer pessoa. Algumas vezes ficar em silêncio é uma escolha sábia, outras vezes se expressar com alguém também é. São casos e casos.
Quando Nishida escutou minhas palavras, ela gentilmente jogou seu cabelo para trás de seu braço e sorriu. Um sorriso leve, mas um pouco assustador.

“Hmm, você não parece tão séria, Marika.”
“...Você não me conhece, eu sou mais séria do que pensa.”

Eu consigo até estudar! Apesar de ter sido completamente derrotada pela Aya!
Quando escutei a voz da Nishida, senti como se ela quisesse falar algo mais, e esse algo mais veio em seguida.

“Você é realmente muito arrogante, Marika.”

Nishida me penetra com seus olhos afiados.

“Eh...?”
“O ponto é: você pode se divertir com todas, mas sempre coloca uma parede entre você e as outras, certo? E no fim, aquela que tem o direito de escolher suas verdadeiras amigas é você. As pessoas não sabem compreender a atmosfera como você. Elas podem até achar que são suas verdadeiras amigas...”

Meu coração parou por um instante. Eu tenho ciência disso. Mas...

“Eu não coloco uma parede. Eu apenas gosto de me divertir com quem eu me relaciono.”
“Bom, mas acho que não tem problema. Acho bem esperto da sua parte. Essa forma como você sutilmente cria uma linha entre as demais. Pois você não é como as outras, você é única. Mas, fazer um furdúncio sobre isso agora seria um incômodo para ambas. Você disse que quer decidir quem deve saber, não é? Não contarei a ninguém.”
“Não entendi muito bem o que você quis dizer, mas...”

Nishida imediatamente soltou um sorriso brilhante, mas que me fez tremer involuntariamente.

“Reina-san e Marika são tão íntimas, não são? Que tal irmos à uma festa e nos divertir.” Claro que não usarei nada do tipo, então não se preocupe.”

Um sentimento inquietante me preenche quando vejo Nishida rindo “Hahaha” bem na minha frente. Ela se aproximou e me deu leves tapinhas no ombro. O que está planejando, Nishida? Você é desse tipo de gente?
Reina se aproximou ainda mais e sussurrou em meu ouvido.

“Mas, ainda não acredito que esteja falando sério, Marika. Me fala, ficar com outra garota é tão bom assim?”

Aquela voz fraca e áspera penetra meu ouvido, me fazendo tremer novamente. Não me diga que você também está interessada em mim!? Sakakibara Marika não é aperitivo!

“Para mim, não importa se é garoto ou garota, mas sim a pessoa que é minha parceira.”
“Ah, claro, é isso. Entendo. Me desculpe por perturbar seu momento privado... E pare de me olhar assim, Fuwa. Eu já falei que não contarei a ninguém. Espero que você e sua namorada se divirtam bastante.”

Com um sorriso em seu rosto, Nishida apontou para Aya e partiu enquanto acenava a mão se despedindo. Aya e eu apenas observamos suas costas até ela desaparecer na multidão. Agora já não podíamos mais segui-la de novo.

“......Que diabos foi isso?”
“Marika.”

Apesar de estarmos sozinhas agora, Aya ainda me olha com preocupação. Fique tranquila, Aya. Eu sou dura na queda. Vai ficar tudo bem.

“Sinto muito, mas como estamos no meio de uma rua de Shinjuku, imaginei que se eu arremessasse a Nishida-san no chão, seria constrangedor para você. Então não o fiz.”
“Sim, não faça isso, por favor!”

Quando eu gritei, não só Aya como também pessoas ao redor me olharam assustados. Se ela realmente tivesse feito isso, todas estaríamos na delegacia agora. Na próxima, tenta usar o cérebro, não use violência para tudo!

“Não, a Nishida... Bom, acho que ela apenas me vê como um tipo de garota fácil de tirar proveito. Nós já tivemos aquela discussão, por exemplo, então se a intenção dela for tornar o nosso relacionamento público, uma enorme guerra vai acontecer. Então, ela não faria algo tão estúpido assim.”
“É mesmo?”
“Nishida é uma modelo, então é natural que ela seja cuidadosa sobre essas coisas.”

É por isso que ela não se importa tanto com sua posição no colégio como eu, desde que ela não seja intimidada. Assim como a antiga Aya.
Mas, por que ela me tratou daquele jeito? Será que ela gosta de mim? Se Nishida for mais uma dessas S... então peço desculpas, só uma já me basta.

“Mas... eu fiquei afobada e falei muita besteira... Então, me desculpe.”

Estou falando sobre tornar pública a nossa relação. Sinceramente, após toda essa discussão, eu me sinto extremamente culpada por confrontar a Nishida como se já tivesse chegado a um consenso com a Aya, quando na realidade isso não aconteceu.

“Não se preocupe,” Aya disse, balançando a cabeça.
“Está tudo bem. Pensando melhor, se as pessoas descobrirem que Marika está namorando uma garota, várias outras vão achar que tem chance com você, não é?”

Aya riu e acariciou minha cabeça gentilmente. Acabamos de ser descobertas, mas ela nem liga. Acho que seja lá o que ela tem, é incurável.
Mas de qualquer forma, Aya respeita meus sentimentos e até brinca para me confortar. Como eu posso ter uma namorada tão perfeita?
Sério, Aya, por que você é tão maravilhosa?

“Obrigada por me contar como se sente, Marika. Eu sei que você pensou muito sobre isso.”
“Ah- é, sim...”

Eu lentamente desviei meu olhar da noite resplandecente de Shinjuku. As palavras da Nishida ainda estão na minha cabeça, mas elas não são capazes de impedir a felicidade que estava me preenchendo ao saber que minha namorada entende meus pensamentos, então eu falei a seguinte frase com toda a afeição presente dentro de mim.

“Porque eu te amo com todo meu coração.”

Então, no caminho para casa, nós compramos algo para comer, jantamos juntas, tomamos banho juntas, e dormimos juntas na mesma cama, abraçadinhas. Estou tão feliz, tão feliz que facilmente pude esquecer todas as preocupações e pressão do dia.

E finalmente, a festa de Natal que todas estavam esperando chegou.

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