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Capítulo 2 - Partida
Tradução: Gabrielfsn
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O buraco na igreja foi apressadamente consertado.
Especificamente, as áreas na parede e no teto as quais o Ádvena apagou, foram cobertas com madeira e mantas tratadas com óleo. Graças a Momo, o dano não era mais tão evidente.
O sol da manhã estava apenas começando a nascer. Após tirar Akari do castelo real em segurança, Menou aguardou a garota adormecer antes de usar o altar de comunicação para relatar tudo à Orwell.
“Entendo. Uma detentora imortal de um Puro Conceito... Isso é dificultoso.”
“Sim. No presente momento, eu não tenho meios para aniquilá-la.”
Regressão Temporal.
Uma habilidade que desafia a lógica, possibilitando a reversão de ferimentos físicos como se nunca tivessem acontecido. Como foi ativado após a sua morte, não houve maneira de impedir a conjuração.
Como o nome insinua, um Puro Conceito invoca um fenômeno conceitual. Até mesmo reduzir o corpo de Akari a cinzas provavelmente não a deteria; caso ela se afogasse no oceano, as chances dela simplesmente reviver em um lugar seguro seriam altas.
“O maior problema é que o Puro Conceito que foi indevidamente anexado à sua alma não é outro senão o Tempo.”
Todos os Puro Conceitos são uma ameaça em potencial, mas como este se trata do Tempo, há um limite sobre o que pode ser feito para se defender.
No momento, tudo que ele pode fazer é reviver Akari com Regressão, mas se o conceito evoluir dentro dela, quem sabe para qual direção ele poderia se desenvolver? É assustador só de pensar.
Ádvenas possuem inerentemente uma alta aptidão para uso de Força Etérea. Se Akari estivesse em perigo e focalizasse seus poderes para lidar com as circunstâncias, suas habilidades haveriam de evoluir. Apesar de parecer contraditório, a única maneira de seguramente eliminar Akari é protegê-la e evitar que ela realize qualquer conjuração até que um meio para livrar-se dela seja descoberto.
“Quanto a isso, Menou.”
Orwell devia ter notado que Menou estava perdida sobre como prosseguir, então lhe ofereceu uma luz no fim do túnel.
“Estaria disposta a ficar aqui durante algum tempo?”
“O quê? Mas—”
“Nós temos o que você precisa. Um salão cerimonial que pode erradicar sua Ádvena, exatamente aqui em Garm.”
Menou presumiu que ela se referia a visita à sua cidade natal, a qual elas haviam discutido na reunião anterior, no entanto, Orwell trouxe um tópico diferente.
“Garm é uma cidade tão antiga que é conhecida como a capital ancestral, portanto nós temos muitos registros e instalações que não podem ser encontrados em nenhum outro lugar. Mesmo que seja impossível para um indivíduo, meu salão cerimonial é capaz de destruir o Puro Conceito de um Ádvena.”
“Isso é verdade...?”
“Absolutamente. Entretanto, é raramente usado, uma vez que as Executoras normalmente conseguem se livrar dos Ádvenas sozinhas. Como aquela sua Mestra é tão notavelmente talentosa, nós nunca conversamos sobre ele. Deve ser por isso que ela nunca mencionou a você.”
Entendo. Faz sentido.
A antiga tutora de Menou, a Mestra com cabelo vermelho-escuro, era uma pessoa extremamente individual. Ela vivia pelo princípio de nunca confiar nos outros e lidar com tudo por conta própria.
“Pode trazer a Ádvena até aqui? Eu acredito que você encontrará uma maneira de convencê-la. Se a Ádvena for submetida a minha cerimônia, seu trabalho estará finalizado.”
“Entendido. Eu aprecio seu auxílio. Não é de se admirar que a senhora seja a protetora do nosso mundo.”
“...De forma alguma. Por mais que eu tente protegê-lo, ainda sou inexperiente e lembrada de minhas limitações a cada dia. Especialmente em casos como da sua cidade.”
“Mas aquilo...”
Ela parou, pega de surpresa.
Menou não se recorda de nada sobre sua cidade natal.
Um incidente em seu passado apagou suas memórias completamente. Atualmente, tanto tempo se passou que ela nem sequer se sente triste com isso.< Ela certamente nasceu nesta nação, mas a esta altura, esse fato não carrega significado algum para ela.
Embora ela não tenha apego emocional algum com seja lá o que ela esqueceu, ela ainda sente uma pitada de culpa em seu peito por sua incapacidade em lembrar-se de algo.
Esta é a simples realidade de ter esquecido tais coisas.
“E como eu disse anteriormente, eu gostaria de revê-la para conversarmos.”
Orwell sorri. É difícil dizer se ela sabe ou não o que se passa no coração de Menou.
“Também há um incidente ocorrendo em Garm atualmente. Jovens mulheres estão desaparecendo, algo lamentável. Se eu não sou capaz de sequer salvar as pessoas ao meu alcance, meu título como arcebispa não possui significado.”
“Ninguém é capaz de salvar todo mundo. A morte vem para todos nós, cedo ou tarde.”
“Suponho que tenha razão. Obrigada, Menou. Os preparativos para a cerimônia levará alguns dias. Discutiremos os detalhes quando se fizer presente.”
“Naturalmente. Muito obrigada.”
Em todo caso, a possibilidade de uma solução para a perplexa dificuldade de executar Akari é um grande alívio. Menou abaixa sua cabeça em gratidão e encerra a transmissão.
A Luz Etérea projetando Orwell desaparece.
Agora ela tem um objetivo para o seu próximo plano de ação.
Deixando a área da capela, Menou entra no quarto onde Akari estava dormindo tranquilamente e fica de pé ao lado da cama.
O rosto da garota adormecida está sereno, inconsciente de que estava para ser acordada. Ela estava deitada de barriga para baixo na cama, mas seus seios notavelmente grandes ainda se moviam para cima e para baixo, além de haver um pouco de saliva escorrendo de seus lábios.
Menou respira fundo, e expira lentamente.
Mudando seu foco, ela agarra o cobertor e o puxa abruptamente.
“Bom dia, flor do dia! Hora de acordar, Akari!”
“Habweeeeeh?!”
Com um grito incompreensível, Akari levanta com um pulo.
“Hã?! O que houve?! Um incêndio?! Um assalto?! Um acidente de carro?! Ah, é... Menou?”
“Acertou. Sou eu, Menou, a sacerdotisa—pura, justa e forte. Acordou agora, bela adormecida?”
“Bom dia, Menou. Caramba, você me assustou. Eu pensei que algo tinha acontecido enquanto eu dormia de novo. Digo, esse lugar é meio velho, então eu não ficaria surpresa se a igreja desmoronasse no meio da noite.”
“Peço encarecidamente que não subestime a minha fé. Desde que a igreja tenha crentes devotos, ela nunca ruirá... Bom dia, Akari. O café da manhã está pronto.”
“Já vooou.”
Menou responde a reação da garota ainda sonolenta com um sorriso falso de afeição.
“Precisamos discutir nosso próximo curso de ação.”
Após ambas terminarem suas refeições em um dos quartos da igreja, Menou traz o assunto à tona.
“Primeiro de tudo, devemos considerar que você está sendo seguida.”
“Quem, eu? ...Eu tenho uma pergunta bem mais importante. Isso estava uma delícia. Posso repetir?”
“Explicarei a situação da forma mais simples possível. E não, não tem mais. Saiba que nós não temos dinheiro para tal luxo.”
“Ahhh...”
Os ombros de Akari despencam. O orçamento o qual lhes foi atribuído para a missão foi contabilizado apenas para Menou e Momo, então com Akari no grupo, elas realmente não têm muito sobrando.
Menou encara seriamente Akari, aquela que devorou seu café da manhã, parecendo um pouco insatisfeita. Para matá-la, ela precisa levar esta garota para Orwell na capital ancestral, Garm. É muito importante que ela dê uma explicação razoável sobre porquê elas precisam ir imediatamente para lá.
“Você foi convocada aqui pela Nobreza. Nós conseguimos tirá-la do castelo real, porém ainda estamos em seu território. Mesmo dentro desta igreja, não podemos garantir nossa segurança.”
“Entendo, faz sentido. Essa igreja é, tipo, velha pra dedéu.”
“Isso não vem ao caso agora.”
O buraco feito pelo Ádvena foi coberto apenas com mantas. Menou não queria falar sobre o estranho estado de construção da igreja, então ela suavemente evitou o assunto.
“Essas pessoas lhe sequestraram para colocar suas mãos imundas na sua habilidade, afinal. Eles não vão desistir de você tão fácil. Nós devemos deixar esta igreja o mais breve possível—de preferência ainda hoje. Tudo bem por você?”
“Sim. Parece bom.”
“Excelente. Então, na nossa sede situada na terra santa, existe um lugar no qual acolhemos ovelhas perdidas como você. É um lugar onde muitos japoneses vivem.”
Akari acena, parecendo impressionada.
“Nossa. Quer dizer que mais pessoas vieram do Japão para cá assim como eu?”
“Isso mesmo. Numa escala continental, diria que a média de perdidos é por volta de cinco ao ano. Então há uma quantidade moderada, no mínimo.”
“Saquei. Então o seu trabalho é abrigá-los e coisa e tal?”
“Tecnicamente, isso é apenas parte do meu trabalho, mas sim. Você aprende depressa, hein?”
Ela não tem dificuldade em entender o cerne de uma situação e faz as perguntas certas. Acho que ela não é tão estúpida, no final das contas, pensou Menou com um sorriso, analisando a personalidade de Akari.
“Alguns são convocados e outros acabam vindo parar aqui por pura coincidência. De qualquer forma, os japoneses consistentemente vêm a este mundo, então temos um sistema preparado para protegê-los.”
É verdade, a igreja chama os Ádvenas de “ovelhas perdidas” e tomam conta dos mesmos.
A igreja monitora a veia astral e prevê sua chegada sempre que possível, porém sempre tem um ou outro que inevitavelmente escapa das mãos da igreja. O público sabe sobre esse programa de proteção, o qual serve como um sistema que reduz o número de fugitivos.
“Pessoas como você que são convocadas de outro mundo possuem poderes únicos chamados Puros Conceitos. Algumas pessoas tentarão chegar até você para que possam usar esses poderes.”
“Ah, eles mencionaram isso.”
Akari parece ter recebido uma explicação semelhante da Nobreza no castelo real, então prontamente aceitou essa informação.
É claro, o público em geral não sabe que Ádvenas podem trazer calamidades massivas.
Geralmente, apenas uma pequena parcela dos Nobres da classe mais alta, sacerdotisas de classe alta e agentes secretos da Faust sabem da verdade, com a exceção de alguns pagãos que mergulham em artimanhas proibidas e naturalmente habitam o submundo sombrio do planeta.
“Aqueles que são convocados pela Nobreza usualmente são usufruídos, razão pela qual a igreja despacha pessoas como eu. Eu detesto dizer isso, mas até mesmo partes de seu corpo podem ser usadas para conjuração, então alguns dos malfeitores mais sórdidos podem levá-la, seja viva ou morta.”
Akari treme ao se dar conta do quão facilmente ela poderia ter se tornado uma vítima.
“Waaah! Que medo. Como você me resgatou, você deve ser... um, uma agente secreta! Ou uma ninja! Obrigada, Menou!”
“Não precisa agradecer. Embora eu não seja exatamente uma ninja, só para o seu conhecimento.”
“Tem certeza? Pra mim, você parece uma... Mas se essa terra santa é o lugar onde eu supostamente tenho que morar, isso quer dizer que eu não posso voltar pra casa?”
“Bom, sobre isso, Akari...”
Apesar do local oficialmente servir para proteger Ádvenas, não há nenhum japonês de fato na terra santa. Na realidade, eles abrigam pessoas que falharam em se tornar Executoras. Indivíduos que são trazidos com conhecimento sobre o Japão e que possuem características similares o suficiente para que possam se passar como japoneses que viveram sua vida inteira ali, fingindo serem japoneses.
Mas Menou não pretende levar Akari até lá.
“Eu não sabia disso, mas acontece que na capital ancestral existe um salão cerimonial que pode enviar Ádvenas de volta para seu mundo!”
“Hã?”
O queixo de Akari despenca.
“Eu... posso voltar para o Japão...?”
“Pode! Uma integrante importante da Faust chamada arcebispa me contou sobre isso. Então pode ter certeza de que é verdade!”
Menou sorri reconfortantemente, mas por algum motivo, Akari fica em choque.
“N-não pode ser. Eu pensei que iriamos fugir juntas e vivermos uma grande aventura...!”
“Do que está falando?”
Por que ela parece tão desapontada? Menou mantém seu sorriso e inclina a cabeça parecendo confusa, mas educada, e então continua sua explicação.
“Você tem uma sorte e tanto. Parece que por limitações geográficas, essa cerimônia de regresso só pode ocorrer no salão em Garm, onde a arcebispa está localizada. Se você tivesse sido convocada em uma nação distante, provavelmente teria que ficar na terra santa por um tempo, mas... adivinha?! Garm fica há apenas 12 horas daqui viajando de trem!”
“Ooh!”
Tentando evitar que Akari perceba que esse desenvolvimento é bom demais para ser verdade, Menou fez um esforço proposital para deixá-la empolgada, o que funcionou perfeitamente.
“Eu falei com a arcebispa, e ela disse que irá preparar a cerimônia para você. Nós devemos ir para Garm imediatamente, e em questão de dias, você poderá voltar para casa, Akari. Você pode pensar no seu tempo neste mundo como nada mais do que uma pequena excursão!”
“Nossa, Menou! Você é incrível!”
“Mas é claro! Uma sacerdotisa deve ser pura, justa e forte!”
Embora Akari pareça animada com a ideia de poder retornar ao Japão, sua expressão carrega um resquício de tristeza.
“Poxa, eu já vou voltar... Sinto como se fosse lamentável.”
“Hm? Não está entusiasmada para voltar para casa?”
“Eh? Digo, não que eu não esteja empolgada, mas... quando eu te encontrei, Menou, eu senti como se estivesse aguardando esse momento a minha vida inteira, então estou um pouco triste. Como eu falei ontem, assim que bati os olhos em você, pensei que fosse o destino!”
“N-nossa, assim você me deixa embaraçada...”
Enquanto Menou coça sua bochecha timidamente para a satisfação exagerada de Akari, ela se questiona internamente sobre a reação estranha da garota.
Como ela começou a suspeitar, Akari não deve ter um apego forte com sua família e amigos, ou talvez até sua terra natal. Mas ela também não parece particularmente empolgada com a ideia de ser convocada para um mundo fantasioso.
Entretanto, ela parece estranhamente aficionada pela Menou.
Menou pensou em pressioná-la sobre o porquê, mas apenas dois dias se passaram desde o primeiro encontro das duas. Elas não criaram laços o suficiente para fazer perguntas pessoais, e uma vez que cheguem em Garm, ela não precisará mais, já que seu trabalho estará concluído.
“Bom, vamos ser amigas até você voltar para casa, Akari.”
“Sim, vamos! Estou ansiosa por isso, Menou!”
“Muito bom. Então, deixe-me explicar os detalhes sobre nossa jornada.”
Não preciso aprender mais nada sobre Akari, ela lembra a si mesma, colocando as dúvidas de lado e continuando a conversa.
“Apesar de não ser tão complicado. Como nossa viagem não nos levará a atravessar nenhuma fronteira, podemos simplesmente usar o trem.”
“Então existem trens neste mundo, é? Legal.”
Como a ferrovia conecta todas as cidades maiores de cada nação do continente, viajantes por terra sempre dependem de trens. Existe uma linha direta da capital real para Garm, então também não haveria nenhum deslocamento complicado ou algo parecido.
Menou explica os passos básicos e compartilha algumas palavras de alerta para quando elas chegassem em Garm, e então olhou nos olhos de Akari.
“Acho que é basicamente isso. Alguma pergunta?”
“Não, acho que entendi. Você é ótima em explicar as coisas, Menou.”
Akari foi rápida na absorção, então elas conseguiram terminar de discutir sua história de mentira facilmente.
O que significa que tudo que restou foi se preparar para a viagem.
“Maravilhoso! Então vou fazer algumas compras. Precisaremos de uma muda de roupas para você, passagens de trem, entre outras coisas.”
“Ooh, compras? Posso ir com você.”
“Não.”
Akari se inclinou para frente entusiasmadamente, mas Menou prontamente a calou.
“Akari, você está sendo seguida, lembra? Temos que evitar qualquer coisa que chame a atenção, especialmente nesta cidade! Essas suas roupas já te destacam demais ”
“Ahhh... Tá bom.”
“Que bom que entende. Voltarei num instante. Seja uma boa garota e aguarde aqui, tudo bem?”
“Certo. Até mais tarde.”
Menou sorri para confortar a garota amuada, e então partiu.
No entanto, ao invés de ir à cidade fazer as compras, ela dá a volta até a parte de trás da igreja em ruínas. Sendo furtiva e discreta, Menou entra novamente na igreja por uma entrada nos fundos, escondendo sua presença de Akari cuidadosamente ao descer as escadas que levam ao porão.
Ela abre a porta no final da escadaria sem um único barulho e entra silenciosamente.
“Momo. Conte-me o seu relatório.”
“É pra já, queriiida!”
Aguardando no porão estava a subordinada e assistente de Menou, Momo. Elas estão para ter uma reunião sobre o verdadeiro plano.
Momo entrega seu primeiro pedaço de informação com um tom gelado.
“Relatório número um: Eu fiquei muuuito brava quando eu vi aquela peituda comer a refeição que eu preparei apenas para você, queriiida. Devia ter colocado veneno.”
“Ninguém te perguntou sobre isso, Momo.”
Menou respondeu sem pensar, já que não era do feitio de sua confiável assistente fazer relatórios bizarros como este.
“Aliás, eu também me servi daquela comida. Então, eu preferiria que você não me envenenasse...”
“Nngh, tem razããão...”
Momo grunhiu, e o desagrado no rosto de Menou piora. Ela pode apenas estar brincando, mas para Momo soltar algo tão insensato e refutável, faz parecer que ela realmente perdeu a calma.
“Agora, qual é a situação?”
“A Santa Inquisição do monarca começou oficialmente. No presente momento, eles estão realizando uma reunião eeee estão discutindo por quanto tempo será permitido à defesa.”
“Entendi. Sem dúvida isso os deixará com pouco tempo para outros assuntos.”
Finalmente, Momo respondeu como deveria.
Enquanto Executoras como Menou não podem ser de conhecimento público, eles sabem que um inquisidor veio da terra santa até a capital real para determinar de quem é a verdadeira culpa no recente incidente.
Uma vez que o julgamento tenha início, as principais mentes por trás da convocação inegavelmente ficarão de mãos cheias. Menou e Momo decidiram aproveitar esta oportunidade e se moverem. Levar Akari junto é um percalço inesperado, mas Menou já obteve sucesso em convencê-la. Não há motivo para elas permanecerem na capital real por mais tempo.
“Entããão, querida. Antes de partirmos, vamos executar aquela garota. Meu ânimo está em seu ápice. Eu vou matar aquela peituda com minhas próprias mãããos!”
“Não. Ainda não.” Menou repreendeu Momo, que claramente já estava se aquecendo. Suponho que ela ainda seja inexperiente em alguns sentidos.
“Por que não? Eu sei que ataques diretos não farão muita coisa, mas podíamos pelo menos tentar métodos mais lentos, como veneno ou overdose de remédios, não aaacha?”
“Não, não acho. Qualquer método que enfraqueça o alvo pode enlouquecer seu Puro Conceito.”
A ideia não era ruim na teoria, mas elas não poderiam arriscar.
Entre os tabus que existem neste mundo, um dos piores é a tentativa de quebrar o espírito de um Ádvena que possui um Puro Conceito.
Os Puros Conceitos que são indevidamente atrelados às suas almas estão em um perpétuo estado de instabilidade.
Suas mentes seguram as rédeas do poder que vem de suas almas. Força Etérea é gerada na alma, controlada pela vontade, e permeia o corpo. Se sua força de vontade quebrar e seu corpo permanecer intacto, o Puro Conceito provavelmente sairia do controle e potencialmente causaria sérios danos.
“Precisamos que aquela garota mantenha uma mente e corpo sadios até o último segundo antes de sua morte. Além disso, sua habilidade é ativada no momento em que ela morre, lembra? Não podemos matá-la a esmo.”
O Puro Conceito de Akari poderia muito bem aumentar seus poderes apenas ativando Regressão repetidamente para revivê-la. Quanto mais vezes elas testassem métodos para eliminá-la, mais perigosa ela se tornaria.
“Não devemos tentar assassiná-la de qualquer forma, mas sim com o método com maior chance de sucesso.”
“Grrr. Nesse caso, eu aaacho que entendo.”
“Muito bem. Agora, Momo, você terminou os preparativos?”
“É claaaro.”
Momo ainda parece um pouco furiosa, mas entrega à Menou o que já havia comprado.
Era tudo que elas precisavam para a jornada, incluindo uma muda de roupas para Akari. Menou não poderia deixar Akari sozinha e sem supervisão na igreja, então ela pediu para Momo preparar tudo de antemão. Meno verifica os itens, impressionada com a destreza de Momo. Finalmente, ela pede para ver as passagens de trem.
“Aqui estão. São para o trem da tarde.”
“Ótimo. Obrig—”
O destino é a capital ancestral Garm, onde Orwell as aguarda. Uma vez que elas embarcassem no trem, chegariam em 12 horas ou menos. Menou começa a expressar sua gratidão e pega as passagens, mas congela em seguida.
Momo comprou três passagens.
“...Momo.”
“Em que posso servi-la, queriiida?”
Momo sorri inocentemente, como se jamais houvesse cometido algum erro.
Entretanto, Menou não cai no conto de sua assistente.
“Como já havíamos discutido... você ficará aqui e irá monitorar a Santa Inquisição.”
“Prefiro morreeer.”
O tom de Momo não deixa espaço para debate.
Ela está sorrindo como sempre, mas como elas se conhecem há muito tempo, Menou sabia o que realmente estava acontecendo. Em horas como esta, Momo nunca cede, não importa com quem esteja falando.
Originalmente, este era o momento no qual elas se separariam.
Após a missão terminar, Menou escaparia sozinha, e Momo ficaria para reunir-se com a Santa Inquisição. Antes, Momo havia concordado, apesar de relutante sobre o plano de tomarem caminhos separados além da fronteira e se reencontrarem futuramente.
Mas agora que o novo ingrediente—Akari—foi jogado na mistura, Momo se rebela.
“Escuta, Momo...”
Como ela poderia convencer sua assistente, que claramente está determinada a ir com ela? Menou hesita por um momento antes de decidir apelar para seu senso lógico.
“Este é o curso natural desta missão... bom, da Akari especificamente. Se por acaso eu cometer algum erro, você precisará lidar com Akari. Considerando essa possibilidade, temos que ter certeza de que ela não descubra sobre você, não importa como. Você precisa entender.”
“Mas, queriiida...”
Ah. Eu não deveria tentar usar a lógica com ela agindo dessa maneira.
O tom queixoso de Momo deixou claro que ela não escutou uma palavra do argumento de Menou. Ela sorri lisonjeiramente.
“Eu preferiria forçar a Santa Inquisição a um fim matando cada membro da Nobreza desta nação por conta própria, do que deixar minha amada querida viajar sozinha com aquela Ádvena peituda e imbecil. Eu vou com você mesmo que isso me mate, ouviiiu?”
Seus olhos demonstram uma seriedade fatal.
O mais perturbador, é que não se trata de uma ameaça. A forma como suas palavras são ditas sem pausa, seu olhar completamente sombrio, deixam penosamente claro que ela está mais do que disposta a cumprir o que diz.
“Aquela mulher é perigosa. Meu sentido Momo me diz isso! Me diz que eu nunca, jamais devo deixar você sozinha com ela, queriiida!”
“Eu tenho total ciência do perigo que ela representa.”
“Não, não teeem! Você realmente não entende, queriiida!!”
Momo bate seu punho na mesa furiosamente, mas Menou entende perfeitamente bem o risco.
O Puro Conceito de Tempo transcende até mesmo a morte. O perigo dessa habilidade vai muito além de simplesmente proteger seu usuário da morte. Mas é claro que Menou ficaria em alerta o tempo todo.
Por isso ela firmemente assegurou sua assistente.
“Vai ficar tudo bem, Momo. Acredite em mim!”
“Grrrrr!” Momo rosnou de uma forma que deixa mais do que claro a sua insatisfação, seus olhos ficam afiados. “Está beeem. Eu concordo em discordar...”
“Ah, ótimo. Então você entendeu.”
“Eu apenas irei segui-la pelas sombraaas.”
Ah. Ela não entendeu nada.
“Eu juro pelo meu amor por você que aquela peituda nunca irá me ver. Deixe-me ir com vocêêê!”
“Pelas sombras? Momo, isso é...”
Menou resiste à ânsia de massagear a testa.
Conhecendo as habilidades de Momo, ela poderia fazer dar certo. No monastério no qual elas foram criadas e treinadas para serem Executoras, a educação delas incluia um domínio profundo da furtividade. Uma vez que Momo deixou o monastério na prematura idade de quatorze anos, ela é mais do que qualificada. Dentre as Executoras assistentes, ela já é reconhecida como uma iniciante com um futuro brilhante.
Menou encara Momo.
Sua postura deixa claro que ela não está disposta a ceder mais do que isso.
Menou suspira. “Tudo bem. Eu permito.”
“Vivaaaa! Ah, e, queriiida...”
“O que foi?”
Em toda a verdade, ter sua assistente por perto expandiria as opções de Menou. Após ela relutantemente concordar, Momo hesita um pouco, e então alinhou mais um pedido.
“Eu tenho mais uma sugestão, ou talvez possa-se chamar de apelo, maaas... você nunca passou tanto tempo com um alvo antes, passou?”
“Hmm? Suponho que não.”
Até então, Menou tomou conta de suas missões muito rapidamente. Parte da razão é o fato dela seguir o exemplo de sua mestra, que realizou mais caçadas à heréticos que qualquer pessoa.
“Onde quer chegar?”
“Como a missão envolve ficar com o alvo por um extenso período, por favor, deixe-me cuidar disso eu mesma.”
A expressão de Momo é zelosa.
Por uma vez, ela largou o tom adocicado e o alongamento das palavras, olhando para Menou diretamente em seus olhos e falando hesitantemente, mas claramente.
“Não acho que essa missão... lhe seja adequada, querida. Se trocar de posição comigo, eu mesma posso levá-la até Garm. Tenho certeza que você poderia convencer facilmente aquela garota a aceitar isso, mesmo se fizéssemos agora.”
“Não.”
“Por que não?”
Menou a calou imediatamente, mas Momo insistiu no assunto.
Por quê?
É simples.
Porque Menou não quer que Momo mate a garota.
Esse alvo não é uma herege que deliberadamente se comprometeu em quebrar algum tabu, ou uma guerreira voluntariamente arriscando sua vida em batalha, ou uma criminosa que cometeu graves pecados. Ela é apenas uma boa pessoa que não fez nada para merecer ser submetida a isso.
É rídiculo. Menou sabe disso. Momo escolheu se tornar uma Executora por vontade própria. Cedo ou tarde, ela não teria escolha senão matar alguém assim.
Porém, apesar disso...
“Porque é meu dever.”
Enquanto Momo fosse sua subordinada, Menou não pretendia mudar de ideia quanto a isso.
Momo olha para baixo e morde seu lábio.
“Será apenas por uma semana, ou até menos. Se o que a Arcebispa Orwell disse for verdade, tudo acabará em três dias quando desembarcarmos em Garm.”
As passagens que Momo entregou a ela eram para um trem que iria partir na tarde do mesmo dia. Mesmo se a viagem fosse um pouco mais lenta, elas certamente estariam em Garm no dia seguinte.
Incluindo hoje, isso dava um total de dois dias. Orwell disse que os preparativos para a cerimônia levariam poucos dias, então é provável que elas acabem ficando na cidade por um tempinho, mas tudo terminaria em menos de uma semana.
Isso ainda se encaixa na escala de uma missão curta, muito provavelmente.
“Eu não vou me descuidar em tão pouco tempo. Vai ficar tudo bem, eu prometo.”
“Espero que esteja certa...”
Momo continua mordendo seu lábio.
“...Mas não é bem com isso que estou preocupaaada.”
Os murmúrios de partida de Momo soam amargos nos ouvidos de Menou.
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