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Capítulo 4 - Na Capital Ancestral
Tradução: Gabrielfsn
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“Nós estaremos chegando em Garm dentro de poucos instantes. Todos os passageiros, por favor, preparem-se para o desembarque.”
“...Mmn.”
Uma voz despertou Menou de seu sono.
Ela parecia estar sonhando com o passado, mas qualquer lembrança que ela estava revivendo se foi quando acordou.
Elas estavam no vagão econômico. O trem logo chegaria à última parada; os condutores estavam verificando cada vagão.
Depois de tudo que aconteceu, Akari ficou exausta, e até Menou acabou caindo no sono em seguida. Enquanto ela pisca ainda sonolenta ao seu redor, ela vê os demais passageiros começando a recolher seus pertences.
Após o incidente terrorista, os passageiros foram transferidos para um trem diferente.
Uma vez que todos se acalmaram, Menou e Akari passaram a noite nos assentos do vagão econômico do novo trem. Eles ofereceram assentos melhores como gratidão por suas ações prestativas, mas Menou firmemente recusou por excesso de cautela, só para prevenir que de alguma forma elas acabassem no mesmo vagão que Ashuna apesar de tudo.
Depois disso, as coisas procederam fluentemente, e elas chegaram em Garm. Momo provavelmente estaria em um trem mais tarde.
Akari estava encostada a Menou enquanto dormia. Seus cabelos longos e escuros fazem cócegas no pescoço de Menou, enquanto seus longos cílios flutuam durante seu sono.
Ela estava completamente indefesa.
Claramente, ela confia totalmente em Menou. Seria um absurdo duvidar disso depois delas terem sido capazes de se conectar tão harmoniosamente via Força Etérea.
Enquanto sente o peso e calor da Akari adormecida contra ela, Menou não deixa de se perguntar o porquê.
Faz apenas três dias que elas se conhecem.
Mas não era um sentimento ruim.
Menou observa o rosto meigo e adormecido de Akari por um momento antes de gentilmente balançar seu ombro.
“Acorde, Akari. Estamos chegando.”
“Hã—? ...Ah. Tá. Já é de manhã?”
“É sim. Bom dia, dorminhoca.”
“Ahhh, puxa vida. Por que a noite tem que acabar? Eu quero dormir mais um pouquinho... Então, boa noite, Menou. Zzzz...”
“Não seja boba. Acorde.”
“Phweee?!”
Quando Akari estava começando a voltar a dormir, Menou belisca levemente sua bochecha. Akari berrou, mas Menou a ignorou e começou a recolher suas coisas.
Finalmente acordando, Akari bocejou e se esticou.
“Ahhh... Então nós estamos chegando naquele lugar, é?”
“Exato. Dê uma olhada.” Menou aponta para a cidade, que estava visível pela janela.
O trem estava rapidamente se aproximando de uma cidade feita em sua maior parte de pedra. No coração da cidade estava o antigo castelo real e uma grande catedral. Ambas são estruturas com histórias célebres, mas a característica mais famosa da capital ancestral Garm é a Luz Etérea ascendente do outro lado da cidade.
“Nossa! O que é aquilo!? É tão brilhante! Parece o sol!”
“Heh. Impressionante, não?”
Akari esqueceu sua sonolência e exclamou delirantemente, e Menou sorriu com orgulho.
A luz parecia chegar até os céus. Era o fulgor da barreira para a veia astral. Uma das maiores conquistas da igreja na tecnologia usando Força Etérea, ela retira poder da veia terrena e o conecta com a veia celeste, assim os assentamentos habitados por humanos ficam protegidos da Fronteira Selvagem.
Blindada pela luz radiante, o ponto inicial da rota de peregrinação fronteiriça também era a antiga capital do Reino de Grisarika.
“Aquela é a capital ancestral Garm.”
Elas chegaram ao destino onde Akari seria morta.
A capital ancestral Garm.
Era a antiga capital real do Reino de Grisarika e ainda uma grande cidade na divisa com a Fronteira Selvagem. Garm é uma cidade muito segura, conhecida por suas lindas paisagens. Como resultado, recebe uma grande quantidade de turistas. Uma vez que descem na plataforma, Menou confiantemente lidera o caminho até a estrada principal e além de uma praça com chafariz, indo em direção à catedral no distrito central. A Arcebispa Orwell estaria lá para recebê-la.
Seguindo Menou, Akari observa a arquitetura de pedra ao seu redor, com seus olhos brilhando.
“Menou! Ei, Menou! Eu quero muito passear!”
“Justo. Se tivermos tempo. Mas agora temos coisas a fazer, então terá de esperar até mais tarde. Nós dificilmente poderemos passear sem assegurar um hotel.”
“Mais tarde, então! É uma promessa. Um encontro! Então não pode quebrá-la, ouviu!?”
“Sim, sim.”
Akari parece muito hiperativa no momento, foi o que Menou pensou enquanto distraidamente respondia a garota. Era porque a cidade era tão paisagística, ou porque ela estava à espera de voltar logo para o Japão? De qualquer modo, a Ádvena estava tão inquieta que elas acabaram andando de mãos dadas.
Caso contrário, Menou temia que Akari se perdesse caso tirasse os olhos dela por um segundo. Qualquer chance que tivesse, Akari puxava Menou pela mão para um lugar ou outro. Menou sentia que estava levando um cão particularmente grande para uma caminhada.
“Uau, Menou! Aquela construção é tão linda! É um castelo! Podemos entrar lá!?”
“Ah, aquele é o antigo castelo real.”
Akari estava agitadamente apontando para o castelo cercado por um fosso. Atualmente, parte dele é aberto ao público para passeios, enquanto outras partes eram usadas como uma estação para a Ordem dos Cavaleiros desempenharem seus deveres de segurança pública.
Aquele é o último lugar que Menou queria se aproximar nesta cidade.
“Nossos assuntos serão resolvidos aqui. Aquele lugar não está no caminho.”
“Ahhh, paraaa...”
Menou arrasta a garota relutante. Em pouco tempo, elas chegaram em uma catedral angular feita de pedras brancas.
Este lugar tem um campanário com um relógio e um topo afiado, do qual os transeptos se propagam em todas as direções. Esta é uma igreja com grande valor histórico, o ápice de um estilo arquitetônico que prosperou aqui há cerca de cem anos atrás.
“Ooh, este lugar também é lindo.”
“Estamos aqui a trabalho, não lazer. Mas o interior é ainda mais impressionante que o exterior, então talvez nós possamos dar uma boa olhada ao redor quando terminarmos.”
“Beleza!”
Quando Menou declarou seus assuntos, elas foram escoltadas para dentro da catedral, então Orwell deve ter avisado sobre a situação de antemão.
Realmente, a ornamentação interior era ainda mais detalhada que a do exterior. Por cima, há um teto arqueado, com vitrais decorativos por todo lado. Possui uma formidável presença, e é tão finamente bem feito que os detalhes são severamente acentuados.
“Nooossa... Que legal...”
“Feche a boca, Akari. Parece uma idiota.”
A boca de Akari estava entreaberta enquanto olhava ao redor, mas ela a fechou imediatamente ao ser repreendida por Menou.
“Idiota, né...? Sabe, Menou, você consegue ser bem má às vezes. Mesmo eu gostando tanto, mas taaanto de você! Eu acho que você poderia demonstrar um pouco mais de amor por mim!”
“Eu não sei o quanto é esse 'taaanto' exatamente, mas eu só sou má quando você faz idiotices.”
“Waaah. Como você pode ser tão cruel comigo quando eu estou quase voltando pra casa!?”
“Eu estou normal. Eu sempre sou perfeitamente normal.”
O par se provoca enquanto caminha pela igreja.
“Mas você não está errada. Este lugar é realmente notável. Na verdade, esta é a primeira que entro aqui—é bastante avassalador.”
Embora pareça que Menou está concordando com Akari, ela na verdade estava observando algo bem diferente.
Como Menou tem conhecimento íntimo de estudos de conjuração como a heráldica, materialidade e outros tópicos relativos, ela consegue entender de uma perspectiva prática o quão incrível é esta catedral. A construção detalhada certamente possui apelo estético e um estilo histórico de arquitetura.
Entretanto, é mais do que apenas beleza.
Esses detalhes possuem um uso muito prático.
A catedral também serve como um abrigo de evacuação de emergência. Se os brasões de conjuração que parecem decorações forem ativados, provavelmente o local se tornaria uma fortaleza impenetrável. Além de criar uma barreira exterior ao redor, também criaria divisas interiores. Inspecionando a construção dos brasões por pura curiosidade, Menou continuou andando, ambas sendo levadas até uma sala fechada para o grande público.
Aguardando-as lá dentro, estava uma mulher idosa escoltada por uma jovem sacerdotisa.
Esta mulher estava usando trajes sacerdotais feitos com um tecido grosso de cor branca, bordado com linhas douradas. Sabendo que apenas a arcebispa tinha permissão de usar tais vestes, Menou curvou sua cabeça em reverência.
“Arcebispa Orwell. É uma honra ser recebida pela senhora.”
Elas haviam se comunicado através do altar antes, mas esta é a primeira vez que Menou a encontra oficialmente em pessoa. Seguindo o exemplo de Menou, Akari rapidamente abaixou a cabeça.
“O prazer é meu. Eu estou ciente da situação, então permitam-me tratar do assunto. Em pouco tempo, tudo estará resolvido... Srta. Akari, eu entendo que tenha passado por alguns infortúnios, mas peço que fique tranquila agora.”
“O-obrigada!”
Evidentemente sentindo a seriedade da arcebispa, Akari respondeu com uma voz aguda e nervosa.
Orwell sorriu calorosamente em resposta, e então virou sua atenção para Menou.
“Srta. Menou, uma vez que a cerimônia para enviar a Srta. Akari de volta para casa seja realizada, o que planeja fazer? Se desejar embarcar em uma peregrinação além da fronteira, nós podemos arcar com suas despesas de viagem.”
“Sério? Muito obrigada...!”
“Ah, não há de quê. Agora, a cerimônia estará pronta depois de amanhã. Eu adoraria sentar e conversar com você antes disso.”
“Sim, claro.”
Como Akari estava presente, a história oficial era que elas estavam preparando uma cerimônia para enviá-la de volta para seu mundo, mas na realidade, a intenção é matá-la.
Menou já havia sido informada de que levaria um tempo para preparar a cerimônia. Ao curvar-se educadamente, Orwell sorriu.
“E mais uma coisa, Srta. Menou. Incluindo hoje, você ficará na cidade por três dias, sim? Tem algo que eu gostaria de solicitar a você, se não se importa.”
“...É-é claro.”
Quando a sacerdotisa assistente da arcebispa lhe trouxe alguns documentos, Menou soltou um enorme suspiro em sua mente.
Não é de se admirar que ela se tornou a suposta arcebispa benevolente. Claramente, ela não é o tipo de pessoa que oferece as coisas gratuitamente. No entanto, Orwell é gentil o bastante para fornecer uma estadia de hotel enquanto elas estiverem em Garm.
O hotel empresta e administra antigos monastérios e igrejas que foram remodelados para tais fins. Normalmente, hospedar-se em construções tão culturalmente importantes é consideravelmente custoso. Mas Menou e Akari ficarão neste de graça.
“Ela realmente não precisava fazer isso...”
Menou nunca havia sido condicionada a algo tão luxuoso em todas as suas missões como uma Executora.
Executoras da terra santa são vistas como parasitas por outras paróquias. Embora elas sejam classificadas como parte da Faust de qualquer forma, o trabalho é inegavelmente imundo. Como elas aparecem e agem fora da linha de comando local, e até reivindicam despesas para suas missões, as Executoras são frequentemente desprezadas abertamente pela Faust e suas respectivas paróquias.
Normalmente, apenas ser ignorada seria um tratamento preferível, porém agora Menou está sendo hospedada em um hotel de luxo, servida com um sorriso e concedida total cooperação em sua missão. Isto é inaudito. Menou expressou sua gratidão por Orwell.
Uma certa idiota estava balançando os ombros de Menou, inconsciente de seu estado mental.
“Ei, podemos passear agora? Menooou? Vem, vamos! Ainda é tardezinha. Nós somos jovens, então nossa noite só está começando, não é? Não ééé?”
“Para de me sacudir! Hoje não. Tenho que redigir uma lista de despesas para minha peregrinação.”
“Ahhh, para! Vamos nos divertiiir. Eu quero sair com você, Menou! ...Você não quer sair comigo?”
“Eu quero calcular minhas despesas. Sinceramente. Desesperadamente.”
“Mrr...”
A expressão de Akari mudou de súplica para uma careta, Menou não dá atenção a ela, em vez disso ela se concentra no mapa. Orwell providenciaria despesas para ela. Seria cortês apresentar uma projeção compreensível.
Completamente ignorada, Akari rola na cama.
“Menou, você é tão crueeel... O que aquela velhinha pediu para você fazer, afinal?”
“Nada tão importante.”
“É mesmo? Mas se você fizer, elas te darão dinheiro para, uh...aquela coisa de peregrinação na fronteira, né?”
“Sim. Cruzar a divisa significa atravessar a Fronteira Selvagem, então é bem difícil.”
Menou explica indiferentemente para Akari enquanto calcula o saldo necessário para sua peregrinação além da divisa.
“Você mencionou essa Fronteira Selvagem no trem, não foi? O que é isso, exatamente?”
“Basicamente, é um termo geral para áreas onde os humanos não podem se assentar. É um ambiente perigoso, mas há uma trilha relativamente segura através dela chamada rota de peregrinação. Por outro lado, lugares onde a humanidade foi capaz de se estabelecer e criar uma comunidade são conhecidas como 'nações'... Mas você logo voltará para o seu próprio mundo, então não precisa se preocupar com tudo isso.”
“Ceeerto...”
O assunto deve ter ficado muito complexo, pois Akari não fez mais perguntas. Provavelmente ela só queria a atenção de Menou e não se importava muito com a realidade dos fatos.
“Mas se não vamos passear, acho que vou tomar um banho.”
“Aproveite. É ótimo que cada quarto tenha sua própria banheira e chuveiro.”
“Pois é. Ah, já sei. Por que não tomamos banho juntas? Podemos lavar uma a outra!”
“Lavar uma a outra? Escuta...”
Akari estava agindo como se tivesse pensado em um plano genial. Menou suspira.
“Sabe, não é a primeira vez que eu noto, mas...você realmente deveria ser mais cuidadosa sobre ficar íntima das pessoas tão rápido. Você sabe disso, não é?”
“Hã? Nem, não é bem assim.”
Elas se conheceram há menos de três dias, e ainda assim, Akari estava convidando-a para um banho juntas. Menou virou as costas para o seu trabalho, mas o rosto de Akari subitamente estava quase encostando no dela.
“Eu te falei quando nos encontramos pela primeira vez, lembra? Que pareceu obra do destino.”
Menou olha para ela dubitavelmente, pega desprevenida pela expressão de Akari.
A garota está surpreendentemente séria.
“Se você acha que eu agiria assim com qualquer um, está completamente enganada! Eu só estou tentando ficar mais aconchegada pertinho de você porque eu gosto muito de você, Menou. Além do mais, você parece aquele tipo de pessoa que não repara nos sentimentos dos outros a não ser que esfreguem na sua cara.”
“Isso...não é verdade?”
“Ah, não?”
Akari estreitou os olhos e franziu os lábios.
“Então você sabe como eu estou me sentindo neste exato momento? Eu quero passar o pouco tempo que me resta aqui com você! Você entende, Menou?”
“Certo. Vá tomar o seu banho, por favor. Sozinha.”
“Hmph! Você não entende.”
Por que essa garota estava tão triste por ter insistido em tomar banho com uma pessoa que ela acabou de conhecer? Menou a enxotou com uma mão.
Realmente, o afeto de Akari por ela é um mistério.
Ela conseguia entender o apego de Momo, já que se conhecem há tanto tempo, mas ela e Akari mal se conhecem. Desde quando se encontraram pela primeira vez, a afeição completamente vulnerável de Akari por ela é simplesmente bizarro.
“Destino, ela diz...”
De onde ela tirou essa ideia? Menou sempre tenta ser sociável com seus alvos em uma missão, mas ela nunca encontrou alguém tão agressivamente amigável. Akari parece realmente acreditar em coisas como destino, mas Menou não consegue entender o raciocínio por trás de sua conclusão confiante, não importa o quanto ela tente.
“Certamente deve haver uma razão...”
Mas como ela não consegue descobrir, só lhe resta a curiosidade.
Todavia, talvez não haja necessidade de se preocupar mais com isso. Menou pegou os documentos de Orwell e os examinou novamente.
Em acréscimo ao pedido da arcebispa, eles contém detalhes sobre a cerimônia para destruir Ádvenas. Elas não puderam discutir esta informação pessoalmente, já que Akari estava presente.
“...Parece que tudo deve correr como planejado.”
Era algo bom, então por que ela se sente um pouco triste com isso?
Ao escutar a água correndo do chuveiro, Menou saiu para a varanda.
Porém, não foi para respirar ar fresco.
“Queriiida!”
Como Menou suspeitou, Momo apareceu do nada e grudou-se nela.
Elas estão numa varanda no terceiro andar, mas Menou não ficou surpresa quando sua assistente a abraçou com força.
“Sua Momo estava tããão preocupada por ter te deixado naquele trem que quase morri de solidããão!”
“Você fez um bom trabalho. E estou surpresa por você saber onde me encontrar.”
“Mas é claaaro! Eu irei procurá-la, seja no fogo, dilúvio ou até mesmo na Fronteira Selvagem, queriiida!”
Fazia apenas um dia desde a última vez que fizeram contato, mas Momo esfregou seu rosto no de Menou como se fosse uma reunião há muito aguardada.
“Ahhh. Eu não acredito que tinham terroristas no nosso treeem. Ah, escuta só, queriiida. Uma princesa cavaleira malditinha chamada Ashuna apareceu, e ela era ainda pior que os terroristas, saaabe. Momo se esforçou taaanto para mantê-la longe de você, queriiida. Aquela princesa metida tem instintos tão aguçados quanto os da Mestra. Ela era tão irritante que eu queria esmigalha-la até a morte, mas eu me segurei. Em vez disso, eu encerrei nossa lutinha e fugi, então fiz ela perder o meu rastro. Não está orgulhosa de euziiinha?”
“Sim, sim. Muito bem.”
“Hee-hee.”
Menou acariciou os cabelos macios de Momo, a qual ficou com as bochechas fervendo de alegria.
“Estou tão feliiiz. Eu basicamente vivo para o seus elogios, sabiiia?”
“Está bem, está bem. Então, Momo, se importa de me fazer um favor?”
Uma vez que Momo se acalmou um pouco, Menou puxou os documentos que ela recebeu na igreja, assim como também um relatório dos eventos no trem da sua perspectiva.
“...Nós finalmente nos reunimos, e você já quer falar de trabaaalho? Você é tão cruel.”
“Bom, estamos no meio de um serviço agora. Não posso evitar.”
Momo fez um beicinho, mas era uma solicitação direta da própria arcebispa. Orwell está fornecendo fundos para Menou atravessar a fronteira, e até chegando ao ponto de forjar documentos para ela. Como ela está em débito com alguém de posição superior, Menou não poderia recusar o pedido.
Momo franziu ainda mais ao aceitar os documentos e inspecioná-los.
“Uma série de desaparecimentos, ééé? Hmm... E todas as vítimas são mulheres jovens? Talvez seja um caso de tráfico humano na cidaaade?”
“Não parece ser. Elas já investigaram os bordéis, e não acharam nada fora do comum.”
O pedido de Orwell era uma investigação de um surto de desaparecimentos acontecendo na cidade, o qual ela havia mencionado previamente em uma chamada enquanto Menou estava na capital real.
“Há um número considerável de pessoas desaparecidas e nenhuma delas foram encontradas. Não me admira a arcebispa estar tão preocupada.”
“Hmm. Talvez alguns hereges estejam coletando sacrifícios para invocar demônios?”
“Parece que pode estar relacionado a um Conceito de Pecado Original, mas ainda não temos informações suficientes para afirmar com certeza.”
“Verdaaade. Sendo assim, isso não faz parte dos deveres dos cavaleiros? Por que a arcebispa está nos pedindo algo assim? E como ela espera que façamos isso em três dias, afinaaal...?”
“Não esperam que resolvamos—ela disse que apenas quer uma nova perspectiva. E se não encontrarmos nada, tudo bem, de acordo com ela.”
As queixas de Momo estavam corretas, mas Orwell parecia estar completamente ciente de tudo aquilo.
Uma Executora tem uma perspectiva diferente de cavaleiros comuns e sacerdotisas. Não há dúvida de que a arcebispa pediu isso a ela na esperança de talvez descobrir uma nova pista.
Este incidente estava acontecendo em seu próprio território, afinal. Não é à toa que ela esteja disposta a tentar todo e qualquer meio.
“Então, é só dispensaaar.”
“Não posso fazer isso. Eu devo à ela.”
“Waaah. Às vezes a sua diligência é uma falha. Como este lugar fica na divisa da Fronteira Selvagem, um crimezinho é inevitável, na miiinha opinião. Ah, então o que você vai fazer amanhã?”
“Er, amanhã...”
Menou tinha planos, mas ela desviou o olhar culposamente.
“Eu, er...vou passear...com a Akari.”
“..................”
O olhar de Momo era indescritível.
Os documentos em suas mãos amassam com a força que ela cerrou seus punhos. Mesmo sem olhá-la nos olhos, Menou começa a suar frio sob a pressão vindo do olhar gelado de Momo. Ela cuidadosamente olha em outra direção.
Menou realmente se sente mal por basicamente ficar de bobeira enquanto empurra o trabalho para sua assistente.
“Sim, claaaro. Ela precisa ser protegida, afinal. Sua Momo entende. Se jovens mulheres estão sendo sequestradas nesta cidade atualmente, não podemos deixar aquela peituda vagando por aí sozinha. E você não pode investigar esses incidentes com uma garota absolutamente inútil em suas mãos, é claaaro.”
“E-exatamente. Fico muito feliz por compreender, Momo! Não esperava menos da minha querida assistente!”
“Certameeente.”
Enquanto Menou falou de forma um pouco apressada, Momo a agraciou com um amável sorriso.
“Momo te ama taaanto, querida, então eu farei qualqueeer coisa que me disser... E eu acabarei com esta investigação num instante, espere para veeer!”
Por bem ou por mal, Momo parecia querer acelerar logo o processo. Menou se sente pior com a situação, mas ela rapidamente muda de assunto.
“E a arcebispa irá preparar um salão cerimonial para dar um fim ao problema de Akari. Ela disse que ficará pronto depois de amanhã.”
“Ohhh? A arcebispa desta nação é realmente muito cooperativa. Uma cerimônia para matar Ádvenas... Eu nunca ouvi falar de algo assim aaantes.”
“Nem eu. Mas suponho que seja porque a política geral da Mestra fosse para nós mesmas descobrirmos.”
“Ahhh...sim, a Mestra é bem particular. Ela realmente odeia conjurações cerimoniais, já que requerem um grupo graaande, também.”
“Uhum.”
Não importa a Missão, sua antiga Mestra nunca sugeriu cooperar com alguém. As outras pessoas são apenas ferramentas para serem utilizadas, e até mesmo as mais próximas de você sempre devem ser tratadas com suspeita de serem entidades proibidas, de acordo com sua desnecessariamente profunda paranóia. Sua ênfase nessa abordagem de loba-solitária era evidente em sua educação no monastério, também.
Enquanto Momo acena, concordando com a avaliação de Momo, ela se lembra de mencionar algo a mais.
“Ah, é mesmo. Momo.”
“Siiim?”
“Tenha cuidado com a Ordem dos Cavaleiros nesta cidade.”
Algo que um dos terroristas lhe disse ecoou em sua mente.
“Se não chegarmos até Garm, seremos enforcados de qualquer jeito.”
Em outras palavras, se eles conseguissem chegar até Garm, teriam um plano para sua fuga.
Isso significa que os terroristas no trem estavam quase que seguramente trabalhando com alguém nesta cidade. Menou suspeita que os co-conspiradores em questão sejam a Ordem dos Cavaleiros da capital ancestral.
Havia o fato de que os terroristas sabiam o paradeiro de Ashuna, que é da realeza, mas também uma cavaleira. O fato deles terem conseguido de algum modo armas proibidas como revólveres Etéreos e a Pedra Vermelho Primário. E o fato de que estavam confiantes de que poderiam escapar se chegassem à Garm, apesar dos seus crimes. Juntando todas as peças, a pressuposição deles estarem conectados à Ordem dos Cavaleiros faz sentido, uma vez que eles são responsáveis pela aplicação da lei em Garm, uma cidade margeada com a Fronteira Selvagem.
Isto é apenas um palpite, claro. Menou não tem provas.
No entanto, a probabilidade é muito alta. Pode não ser toda a Ordem dos Cavaleiros, mas parte deles devem ser corruptos.
“Está beeem. Entendiii.”
O conselho de Menou foi breve, mas Momo parece ter compreendido.
Vendo Momo descer da varanda na escuridão, rápida e cautelosamente para não ser vista, Menou tocou o laço preto que Momo deu à ela quando eram crianças.
Ela usa este laço desde então.
“...Talvez eu devesse comprar algo para a Momo.”
Ela murmura seu pensamento em voz alta. Momo não era apenas sua assistente. Ela é sua subordinada, mas aquela que ela sempre pode confiar mais do que qualquer outra pessoa.
Menou não sente nada além de gratidão por ela.
Eu encontrarei algo que ela possa gostar quando Akari e eu sairmos amanhã, e comprarei para demonstrar minha apreciação, ela decidiu.
No dia seguinte, o passeio das duas correu tranquilamente.
Sendo a antiga capital real do Reino de Grisarika, a capital ancestral Garm carrega uma lendária história.
A capital foi realocada por necessidade quando uma mudança na veia astral resultou na limítrofe entre Garm e a Fronteira Selvagem, uma região onde assentamento humano é impossível. Ao mesmo tempo, é praticamente intocada pela civilização moderna. Muitos aventureiros visam em fazer uma fortuna encontrando e vendendo itens raros que não podem ser feitos pelas mãos humanas, então agora que Garm faz fronteira com este lugar, existem mais pessoas desse tipo na cidade.
Embora a mudança nas demandas ocupacionais tenham resultado em uma ligeira redução na segurança pública geral, a capital ancestral é tão vívida quanto era em seu princípio. Em meio a próspera multidão, Menou e Akari fizeram um tour pelas maiores áreas de turismo.
Logo será o terceiro dia delas na cidade.
Menou está conduzindo Akari até a catedral.
“Todos os nossos passeios foram tããão divertidos!”
Tudo nesta cidade parecia notavelmente novo para os olhos de alguém vindo do Japão como Akari. Ela parecia absolutamente encantada enquanto andava ao lado de Menou.
Se ao menos você soubesse, pensou Menou.
A Executora já estava muito familiarizada com o fato de que a beleza desta cidade esconde toda a sua obscuridade abaixo da superfície.
“Este mundo é supimpa!”
“Fico feliz que pense assim.”
Mas não havia necessidade de revelar tudo isso à Akari. Em vez disso, Menou simplesmente concordou.
Até a manhã do dia seguinte, a vida de Akari neste mundo já terá terminado. Até onde ela sabia, ela retornaria para o Japão. Menou a enganou para acreditar nisso.
Na verdade, sua vida acabaria completamente.
A jornada de Menou com Akari estava acabando mais cedo do que ela esperava quando descobriu a imortalidade de Akari. Ela morreria nesta cidade, e Menou viajaria sozinha em sua peregrinação fora desta nação. Isso marcaria o fim desta missão.
Akari saltita perto de Menou, alheia de seus planos.
Ela está segurando a mão de Menou, balançando para frente e para trás alegremente, até que chegam numa certa barraca.
É uma venda principalmente para turistas. Além dos itens pré-produzidos, os clientes podem criar simples acessórios artesanais. Essencialmente, é uma atração turística que permite às pessoas fazerem suas próprias lembrancinhas.
Akari percebe o olhar persistente de Menou imediatamente.
“Está interessada naquela barraca, Menou?”
“...Suponho que sim. Se importa de dar uma olhada?”
“Nem um pouco!”
Como elas saíram cedo do hotel, elas ainda tinham um tempo antes do encontro marcado com Orwell. Menou chamou a mulher dona da barraca.
“Eu gostaria de fazer um desses, por favor.”
A maior parte dos acessórios em exposição são de metal, mas o que chamou a atenção de Menou foi um elástico de pano.
A mulher entregou os materiais, e ela começou a fazer dois daquilo. Decorações de metal que tilintam poderiam dificultar a furtividade, então ela se limitou a um pequeno realce em cada um. A comerciante sorridente murmurou em aprovação ao seu toque delicado, então Menou murmurou agradecimentos vagos enquanto trabalhava, afastando Akari quando se aproximava. Em pouco tempo, Menou terminou seus dois elásticos.
“Pronto. Terminei.”
Menou não é dessas que se elogiam, mas ela achou que ficaram simples, porém fofos.
Akari olhou para o produto final com olhos brilhantes.
“Ei, Menou. Como você fez dois, isso deve significar que...você quer combinar comigo!”
“Hm, não?”
“Não!?”
De onde ela tirou essa ideia? Menou cuidadosamente colocou os elásticos comprados em uma bolsa.
“Isso é para uma subordinada minha. Ela está sempre cuidando de mim.”
Ela estava fazendo aquilo com o mesmo pensamento que teve no dia anterior: um símbolo de gratidão para agradecer Momo por todo seu esforço.
Akari inchou as bochechas irritada.
“Por quê!? Estamos prestes a dar adeus uma à outra, e você não vai me dar nada!?”
“Er...”
Ela sabe complicar as coisas, pensou Menou, mas empurrá-la friamente apenas iria piorar as coisas. E no ponto de vista de Akari, elas realmente estavam prestes a tomar caminhos separados.
Akari encarou Menou intensamente. Sentindo a oportunidade de mais negócios, a vendedora usou o seu melhor sorriso.
Ah, está bem. Menou suspira.
“Deixe-me ver isso.”
Ela alcançou e removeu a tiara que Akari estava usando para fazer algo diferente dos elásticos.
Os dedos de Menou se movem agilmente, formando uma flor feita de pano. Ela a amarrou na tiara como uma decoração, colocou de volta na cabeça de Akari e sorriu.
“Pronto. Está linda.”
“...Hee-hee.” Akari sorriu, se olhando no espelho da barraca e corando alegremente. “Você tem bom gosto, Menou. Eu também gosto disso em você.”
“Obrigada. É o acessório perfeito para alguém que só tem corações e flores na cabeça, por assim dizer.”
“Ei, você acabou de falar algo super cruel, não foi!?”
Menou ignora o grito de Akari enquanto paga a comerciante. O real motivo para ela ter escolhido uma flor decorativa era simples.
Era uma oferenda, um tributo à morte iminente de Akari.
Assim que deixaram a barraca de acessórios, Menou e Akari se dirigem à catedral, onde uma grande quantidade de adoradores e turistas estavam deixando a capela. Elas teceram seu caminho contra a correnteza da multidão até a sala na qual elas haviam sido levadas antes, e encontram Orwell esperando por elas.
“Bem-vindas. Por aqui, Srta. Menou. Você também, Srta. Akari.”
“Sim, senhora.”
“Está beeem!”
Orwell lidera o caminho, com sua bengala em mãos. Menou e Akari a seguem pela sala da capela até o interior do santuário.
“Eu sei que estou indo pra casa, mas eu meio que gostaria de poder ficar um pouco mais, sabe? Provavelmente, eu nunca mais poderei ir a outro mundo de novo.”
“Escute, Akari. Você não deveria falar essas coisas.”
“Realmente. Há algumas pessoas que desejam voltar para casa, mas não podem. É melhor apreciar sua sorte.”
“Hrmm, verdade. Sinto muito. Isso não foi muito considerável da minha parte,” Akari se desculpa humildemente. Sua habilidade de ser compreensiva é uma de suas qualidades, pelo menos. “Eu só queria passar mais tempo com a Menou, nada mais.”
“Nossa. Vocês duas parecem ter se tornado bem íntimas.”
“Claro que sim! Não é, Menou?”
“Uhum. Sim.”
Elas conversam à toa enquanto caminham pelo corredor e descem uma escadaria. Elas parecem estar se dirigindo para o mausoléu debaixo da catedral. O som de seus passos lentos se misturam com os da bengala nos degraus de pedra, ecoando enquanto as três descem as escadas com pouca iluminação.
Na base dos degraus elas se deparam com uma enorme porta.
Era uma porta de pedra sem nenhuma fechadura ou maçaneta, mas que possui um mecanismo especial o qual identifica pessoas através de sua energia. Orwell coloca sua mão na porta.
Força Etérea: Conectar—Porta, Brasão—Autenticar [Abrir Porta]
O gesto delicado da arcebispa abre a porta.
Por trás dela haveria um salão cerimonial para destruir Ádvenas independente de seus Puros Conceitos.
A missão de Menou chegaria ao fim em breve.
Enquanto isso, Momo fazia seu caminho pela rede de esgoto debaixo da cidade.
É escuro, úmido e imundo. O som da água correndo pelos canais subterrâneos era qualquer coisa, menos aprazível, com o borbulhar grosso e enjoativo agarrado a seus ouvidos.
Garm é um local de turismo muito movimentado. A higiene de sua superfície é uma parte necessária dessa imagem. Os habitantes mais pobres ficam longe das áreas de passeio, nos subúrbios que surgiram no subterrâneo.
Embora eles apoiem a base da sociedade, eles são tratados como um lixão que nunca viram a luz do dia. Se algo obscuro fosse acontecer nesta cidade, nove em cada dez vezes, aconteceria no massivo sistema de esgoto subterrâneo.
A outra possibilidade era que os sequestros de mulheres jovens estivessem acontecendo fora da cidade—em outras palavras, na Fronteira Selvagem—mas Momo duvida disso.
“Tenha cuidado com a Ordem dos Cavaleiros nesta cidade.”
Momo entendeu completamente o significado das palavras de Menou. Se os cavaleiros estão potencialmente conectados aos canalhas conhecidos como aventureiros, que trabalham na Fronteira Selvagem, então havia apenas um lugar para ir e investigar: a parte da rede de esgoto abaixo do antigo castelo real, onde os cavaleiros agora usam como sua base.
Ela usou o primeiro dia para mapear uma rota de infiltração e nos outros dias entraria na rede de esgoto e faria o seu caminho até a área próxima ao castelo.
Com apenas três dias, se uma pista não rendesse qualquer resultado, a investigação chegaria ao fim. Ou era o que ela pensava—mas durante o trajeto, ela descobriu uma passagem secreta que levava a um local muito incomum.
“Uaaau. Muito bem, Momo.”
Murmurando elogios para si mesma, Momo caminha pela passagem.
É um lugar estranho. A passagem é feita de algo como pedra escura polida. As paredes parecem engolir a escuridão, criando um espaço liso. Foi obviamente intencionado para ser usado em algum tipo de ritual, mas nem Momo tem conhecimento do propósito desses materiais.
No entanto, a julgar pela limpeza impecável da passagem, definitivamente ainda é usada e preservada.
Enquanto Momo continua cautelosamente andando pela passagem, ela congela de repente.
Depois da curva, ela sente a presença de outra pessoa.
Era apenas uma pessoa. Quem quer que seja, é forte. E também parece ter notado a presença de Momo.
Momo puxa uma serra de seu traje sacerdotal.
A outra pessoa também parece ter ficado ciente de que havia sido notada. Não fazia mais sentido em se esconder. Decidindo capturar a pessoa viva e arrancar informação dela, Momo pula na curva—mas quando ela vê o rosto do seu alvo, ela solta um grunhido.
“Ugh.”
“Oh-ho?”
Momo franziu a testa, e a outra pessoa também para imediatamente.
“Ora, se não é a Momo! Que coincidência!”
Uma voz inadequadamente brilhante ecoa pela passagem escura.
Não era ninguém menos que a Princesa Cavaleira Ashuna, com uma aparência tão graciosa e decorosa quanto sempre mesmo neste estranho lugar escuro. Há pouco mais de um dia, elas tiveram uma briga até a morte, mas agora ela balança ambas as mãos alegremente, como se tivesse acabado de se deparar com uma velha amiga na rua.
“Este é o nosso segundo encontro fortuito em um espaço tão curto de tempo. Jamais imaginei que você estivesse aqui—estou ainda mais certa de que isso deve ser obra do destino!”
“Ah, por que não morde a língua e morre, heeein...?”
Momo suspira profundamente, mas como a princesa não parecia ter intenção de atacá-la, ela guardou sua serra. Ashuna é conhecida por perambular pelos lugares e enfiar seu nariz em todo tipo de assunto, mas ela não é uma cavaleira de Garm. Ela não poderia estar conectada a este incidente em particular.
Momo continuou em frente para prosseguir com sua investigação, e Ashuna ficou ao seu lado e começou a segui-la como se fosse perfeitamente natural. Mesmo quando Momo a encarou por um momento, Ashuna parecia totalmente despreocupada.
“Que estranho. Este não é o tipo de lugar que uma sacerdotisa comum vagaria, ou é?”
“A igreja está me fornecendo fundos para uma peregrinação em troca de um pequeno favor. Isso pode ser novidade para você, Princesinha, mas dinheiro é muito importante, saaabe.”
Momo carregou suas palavras da maneira mais fustigante possível, mas Ashuna acenou tranquilamente.
“Ah sim, faz sentido. Inclusive, seu apelido para se dirigir a mim é deveras adorável. Eu também pensei isso no trem.”
“Como ééé?”
“Bom, eu nunca fui chamada desta forma por alguém, então é bem revigorante. Por favor, me chame de Ashunazinha de agora em diante, Momo!”
“Ugh! Eu nunca conheci alguém tão irritante na minha vida!! Vá se matar!”
Não importa quanto abuso verbal Momo lançasse sobre ela, não parecia incomodar a princesa. Momo estalou a língua irritada e decidiu mudar de tática. A confiança de Ashuna é alta demais para ser afetada por ataques sobre sua pessoa, então talvez ela possa focar em sua arma.
“Essa espada parece medíocre. O que aconteceu com aquele brinquedo real que você estava usando aaantes?”
“Ah, sim, ela ficou um pouco danificada durante nossa luta. Eu levei até o meu ferreiro mais confiável para reparos. Esta é uma reserva, vê? Dificilmente digna para minha habilidade com espada, com certeza, mas servirá por agora.”
Apesar da atitude obviamente sarcástica, a arrogância e tolerância de Ashuna parecem não ter limites.
“Aquela nossa batalha no trem foi eletrizante. Fazia muito tempo desde que alguém fez o meu sangue ferver! Como pôde fugir antes de terminarmos? Eu fiquei tão insatisfeita que tive que vir aqui para afogar as mágoas... Mas como isso me levou a encontrá-la novamente, claramente os céus estão do meu lado!”
“Eu devia tê-la matado. Eu sabiiia...”
“Hrmm? Não seria um enorme problema se uma mera sacerdotisa assassinasse um membro da família real?”
“Se elas encontrassem seu precioso corpo real lá, eles assumiriam que você tinha apenas sido morta pelos terroristas. E nada maaais.”
O par incompatível continuou andando pelo corredor sombrio. Em sua maior parte é um caminho em linha reta, e não há sinais de nenhuma outra pessoa. Suas vozes ecoam enquanto elas continuam caminhando.
“Falando sobre a nossa batalha no trem, eu senti uma sensação estranha no finalzinho. Você tem ideia do que causou aquela sensação arrepiante, Momo?”
“Como eu deveria sabeeer?”
Momo fingiu ignorância dando os ombros, mas a verdade era que ela tinha um palpite da fonte daquela sensação estranha.
Akari Tokitou.
Após ler e digerir o relatório de Menou sobre a situação que se desdobrou no trem, Momo havia formado uma teoria de que Akari talvez tenha voltado no tempo durante o processo.
A julgar pelos documentos que Menou lhe deu, havia uma alta possibilidade de que o trem estava destinado a sofrer um acidente que resultaria em diversas causalidades. Na realidade, se Akari tivesse ficado no vagão econômico e esperado, nem mesmo Menou poderia ter sido capaz de impedir o acidente de acontecer.
Porém, o desastre massivo foi evitado—porque Akari reverteu o tempo e o preveniu.
Akari deve ter perdido a memória de ter feito isso no processo. Momo suspeitou que a causa da sensação desagradavel foi algo similar à cinetose, uma vez que o mundo mudou o curso que deveria ter tomado.
Foi um feito tão massivo que foi fisicamente nauseante, mas tal coisa só seria possível com o poder aterrorizante dos Puros Conceitos, o qual é o exato motivo do porquê seus usuários precisam ser destruídos com grande prejuízo.
“Entããão? O que você está fazendo aqui, afinal, Princesa Ashunazinha?”
“Ah, bem. Quando cheguei em Garm e me dirigi até o antigo castelo real para prestar minha homenagem, eu farejei um fétido cheiro de conluio, então não consegui evitar. Eu decidi seguir os rastros e secretamente acabei neste subsolo.”
“Hrmm.”
Então a intuição de Momo estava certa.
Os instintos da Princesa Cavaleira para essas coisas é impressionante. Momo despreza Ashuna, mas tinha que reconhecer suas habilidades apesar de tudo.
“E a avaliar pela existência deste local bizarro, parece que eu acertei em cheio, como de costume. Meus instintos nunca mentem.”
Enquanto Ashuna se gaba, as duas param repentinamente.
Elas chegam no fim do corredor escuro e encontram um salão cerimonial.
Era uma cúpula gravada com brasões elaborados. Haviam estátuas gigantes instaladas em todas as quatro direções e dois imensos pentagramas sobrepostos no centro da sala.
A atmosfera geral parece antiga, mas todos os materiais são recentes.
“Certo, um salão cerimonial de alto nível fora da minha especialidade. O que raios é isso? Eu mesma não faço ideia.”
“Oh. Sua obsessão por lutar é tanta que seu conhecimento sobre tudo mais é o mesmo de uma crianciiinha, Princesa Ashunazinha.”
“Realmente. Por isso fico feliz de tê-la comigo, Momo. Investigue por mim.”
“Uuugh...”
A área de expertise de Ashuna obviamente está em batalha. Momo também pende para esse lado, mas ainda é uma Executora assistente. Portanto, a construção desta cerimônia em particular caiu diretamente dentro do seu campo de estudo.
“Isto é um local de testes para teletransporte.”
Sua investigação parece ter sido um fracasso, embora não inteiramente sem resultados. Muito provavelmente, esta era uma zona experimental para convocação de Ádvenas que ocorreu na capital real.
“As estátuas em cada parede transcendem fronteiras ao se oporem ao conceito das direções cardinais. Os pentagramas sobrepostos representam a união de dois planetas em fases diferentes. Tem mais além disso, mas esclareci o básico.”
Força Etérea: Conectar—Escritura, 1:1—Invocar [Transcreva o milagre perante os meus olhos, pois este deve ser registrado.]
Enquanto Momo inspeciona a área, ela invoca uma conjuração, gravando uma imagem da sala em sua escritura como prova.
A princípio, ela assumiu que as mulheres sequestradas tinham sido trazidas aqui pela passagem subterrânea e usadas como material para convocar demônios, mas não havia sinais de que isso tivesse ocorrido. O que aconteceu aqui foi indubitavelmente uma atividade proibida, mas este salão cerimonial era uma prova de heresia cometida pela Nobreza, e não estava relacionado com os desaparecimentos recentes.
“Teletransporte, é? Então os experimentos e preparativos para a convocação de Ádvenas na capital real foram realizados aqui.”
“Provavelmente.”
Conjuração é a arte de dispor o poder de uma alma para se materializar na forma de um fenômeno específico. Há um limite para o quanto um único indivíduo consegue realizar.
Entretanto, tudo isso muda no caso de níveis extraordinários de poder como os de um Puro Conceito, o qual um indivíduo normalmente nunca deveria ter. Uma ideia construída no decorrer do tempo da história humana poderia naturalmente se tornar uma forma de conjuração; tocar na energia das veias astrais, a qual percorre a veia celeste e a veia terrena do planeta; e criar um ponto de poder único. Como resultado, o conceito em si assume uma enorme quantidade de poder na forma de Força Etérea.
A técnica proibida conhecida como Conjuração de Conceito extrai desse espaço irregular, o qual se torna um ponto para acumular poder, então é capaz de conjurações que distorcem as regras da realidade.
“Você não está aborreciiida, Princesinha Ashy? Isso significa que existe provas para o crime de seu pai, sabiiia?”
“Ah, tudo bem.”
Ashuna é uma integrante da Nobreza. Momo estava em alerta para a possibilidade dela tentar destruir a evidência e cortá-la para silenciá-la, mas a princesa não demonstra intenção alguma de atacar.
“Eu também não irei tolerar ninguém que cometa tolices desta natureza. A punição deve se adequar ao crime, mesmo que tenha sido cometido pela minha própria família.”
“Ohhh? Como você gosta de tudo que é poderoso, eu pensei que adoraaava Ádvenas, Princesinha.”
“Não me menospreze, Momo. A alma humana alcança a luz de energias através de estudo e treinamento intensivos. A verdadeira beleza da força consiste no esforço necessário para conquistá-la. Mas este não é o caso com Ádvenas. Eles não são nada além de vítimas.”
“Hm.”
De fato existe uma espécie de conjuração em espaços irregulares onde um poder além de qualquer indivíduo normal se acumula, mas o único modo de extrair e usar o poder puro do conceito é convocando um humano de outro mundo e atribuindo os poderes deste mundo em suas almas no processo.
Nenhuma outra cerimônia poderia fundir um conceito inteiro em uma alma.
Por isso, o poder assustador que habita em um Ádvena é conhecido como um “Puro Conceito,” mas isso realmente não se alinha com a apreciação estética de poder que Ashuna tanto se gaba.
Mesmo assim, Momo não se importa nem um pouco com Ashuna. Não era isso que ela tinha sido instruída a investigar, mas se ela repassasse uma imagem deste lugar para a Santa Inquisição na capital real, certamente seria um belo presente. Espero que a querida me elogie, também, ela pensou, continuando a gravar imagens da sala.
“Mas, é estranho eles terem sido capazes de reproduzir isso com tanta exatidão. Duvido que a Nobreza tenha conhecimento e habilidade para fazer isso, mesmo se conseguissem materiais da Fronteira Selvagem com aventureiros, saaabe?”
“Hrm?” Ashuna inclina a cabeça com a afirmação de Momo. “O que você...? Ah, entendi. Estou surpresa de saber que você é tão facilmente influenciável, Momo. Então você realmente veio aqui como um 'favor,' não é?”
Ashuna acenou como se tivesse feito uma conexão que explicasse tudo.
Momo franziu com o tom, de certa forma, desapontado de Ashuna. Ela nunca foi influenciada por ninguém exceto a Menou. E ela nunca se referiu à existência de Menou na frente da princesa.
“O que quer dizeeer?”
“Pense um pouco. Não é tão difícil de descobrir, é?”
Ashuna sorriu cheia de si e apontou para Momo.
“Antes de mais nada, é óbvio que a Faust e a Nobreza desta cidade estão em conluio. A Faust deve ser o cérebro.”
“Como é?” Momo parou por um momento.
Dessa vez, Ashuna sorriu travessamente, contente por tê-la pego desprevenida.
“Como há uma cerimônia de teletransporte instalada aqui, a Faust de Garm deve estar conectada com a convocação na capital real, também. Eu pensei que você estava aqui em Garm para investigar seu próprio pessoal por dentro, mas... Heh. Como você falou que é um 'favor' para a igreja, acho que você é bastante ingênua no fim das contas, Momo. Não acha isso fofo?”
“E o que a faz dizer iiisso?”
“Meu pai—na verdade, toda a nossa família real—não tinha o conhecimento ou materiais para tentar realizar essa cerimônia. Se a questão for de onde eles conseguiram essa tecnologia, a primeira suposição que vem à mente é que eles tinham apoiadores na Faust.”
Isso é verdade.
Agora que Ashuna mencionou, Momo reparou que deveria ter suspeitado tanto quanto ela no mesmo instante.
“A catedral fica logo ao lado do antigo castelo real. Estranhamente conveniente, se você parar para pensar. Isso os coloca na posição perfeita para fazer algo como isso. Eu imagino que haja uma passagem subterrânea que conecte ambos.”
Como a capital ancestral Garm fica tão distante da capital real, e foi a própria arcebispa que solicitou a investigação, nunca ocorreu a Momo suspeitar da Faust.
“Se a escala é tão grande assim, o arquiteto pode ser até mais poderoso que uma bispa. Diga-me, Momo. Suponho que você não irá me contar quem pediu para você investigar como um 'favor', certo?”
Momo ignorou Ashuna.
Ela parou de gravar imagens em sua escritura; suas prioridades foram subitamente reformuladas. Na cabeça de Momo, não havia benefício em ficar aqui por mais tempo. Ela tinha que reportar isso à Menou imediatamente, então ela abriu sua escritura e começou a conjurar.
Força Etérea: Conectar—Escritura, 1:4—Invocar [A vontade do Senhor é transmitida por todo o céu e terra, reinando—
“...Tch!”
A conjuração para comunicação que ela havia usado no trem foi bloqueada, a construção se desfez no meio do processo.
Momo rapidamente olhou ao redor do salão cerimonial, mas ela não conseguia localizar um intermédio que pudesse estar bloqueando sua conjuração. Parece ter reagido à sua tentativa de feitiço, mas seria muito difícil para Momo detectar a fonte enquanto conjura ao mesmo tempo.
Momo franziu, com sua escritura ainda aberta. Ashuna olhou curiosamente para ela.
“Isso foi uma comunicação? É exclusividade da Faust, não é?”
“Poderia ficar quieta, por favooor? Se você pudesse morrer e ficar em silêncio para sempre, eu agradeceria maaais ainda.”
“Foi bloqueado? Momo. Poderia tentar de novo para mim?”
O rosto de Momo fica ainda mais tensionado. Ela já planejava outra tentativa de qualquer forma. Se não funcionasse, ela deixaria este lugar de uma vez e entraria em contato com Menou do lado de fora.
Força Etérea: Conectar—Escritura, 1:4—
Justo quando Momo sentiu a interferência novamente, Ashuna falou. “Hrmm. Suponho que seja aqui, aqui e aqui.”
Ashuna brandiu sua espada na parede algumas vezes. Assim que ela arranhou os brasões que estavam gravados ali, Momo sentiu o poder que estava inibindo sua conjuração de comunicação se dispersar.
Invocar [A vontade do Senhor é transmitida por todo o céu e terra, reinando vastamente.]
Um pouco surpresa com seu sucesso, Momo rapidamente se conectou com a escritura de Menou e repassou um breve resumo de suas descobertas.
Ao terminar de escrever a informação com Força Etérea, ela vira na direção de Ashuna, que estava ansiosamente espiando a escritura para observar o processo.
“O que foi, Momo? Não precisa me agradecer. Poder testemunhas uma comunicação de tão perto assim é uma chance em—”
“Está bem. Até mais.”
“—Ei, espera. Que frieza.”
Momo não se dá o incômodo de agradecer Ashuna enquanto se apressa para sair. Ela precisa correr para a catedral e encontrar Menou. Assim que ela se virou para voltar à superfície—
Força Etérea: Auto-Conectar (Condições Atendidas)—Passagem do Salão Cerimonial, Brasão—Invocar [Cerimônia da Decadência]
Força Etérea: Fundir Materiais—Pedra Vermelho Primário, Conjuração do Selo Interior—Invocar [Vermelho Primário, Dragão da Fúria]
Força Etérea: Sacrificar—Pecado Original, Inveja: Corpo, Espírito, Alma—Convocar [Pecado Original, Torção]
Diante dos olhos de Momo, a passagem escura que elas tomaram para chegar até aqui começou a se deformar.
Era uma armadilha que havia sido preparada usando um brasão de ativação condicional. Haviam materiais e brasões encravados debaixo da pedra escura, e eles ativaram quando detectaram intrusos no salão cerimonial.
De dentro da passagem veio o som de algo nascido de uma conjuração sombria e abissal.
“Aha. Lá vem. Bom, faz sentido eles não permitirem que intrusos encontrem a prova de suas transgressões sem preparar algumas armadilhas.”
Por alguma razão, Ashuna parecia contente e brandiu sua espada.
Era uma arma de reserva improvisada. Mesmo não estando em sua força total, a Princesa Cavaleira parecia genuinamente empolgada com a promessa de um inimigo forte.
Ao que parece, o que quer que tenha sido criado na passagem estava se aproximando. Pode-se ouvir um som quase que aquoso de algo rastejando e uma série de passos maçantes que estremecem a sala subterrânea.
Momo e Ashuna se envolvem com a luz de Aprimoramento.
“Vamos lutar lado a lado desta vez, Momo. 'O inimigo de ontem é o amigo de hoje.' Um provérbio antigo excelente.”
“Ah, tudo beeem. Eu também quero acabar looogo com isso.”
Dois inimigos emergem: uma medonha criatura semelhante a uma corda que se contorce conforme avança, e um dragão vermelho sem asas com passos altos e barulhentos. Ambos são grandes demais para um humano comum batalhar.
“Heh-heh. Um soldado conjurado com forma de dragão e um demônio convocado, é? Excelentes oponentes. Nunca pensei que veria algo do tipo fora da Fronteira Selvagem. E há um para cada uma de nós—perfeito. Qual você prefere? Suspeito que o demônio seja mais do seu agrado.”
“Eu ficarei com o dragão. Obrigaaada. Você pode ir em frente e ser espremida até a morte por aquela coisa, Princesinha Ashy.”
Momo odeia Ashuna o bastante para desejar a sua morte, mas no momento, elas precisam trabalhar juntas.
São duas bestas pressionando elas. Elas precisam cuidar rapidamente de ambos.
Se o palpite de Ashuna sobre o arquiteto estiver correta, então a pessoa que estava correndo o maior perigo atualmente era ninguém menos do que o indivíduo que Momo mais se importa.
Até mesmo Menou nunca tinha visto o salão cerimonial para o qual Orwell as levou.
Tem o estranho formato de cúpula, perfeito para um salão cerimonial. O formato esférico é o mais próximo da perfeição neste mundo. As impecáveis paredes brancas estão gravadas com vários brasões, mas o revestimento nas paredes é especial. Mesmo com o extenso conhecimento de Menou, ela não conseguia identificar quais materiais foram usados para tornar a parede tão perfeitamente branca.
Há um altar instalado no centro do salão, onde mais de dez sacerdotisas estão preparando a cerimônia.
Geralmente, qualquer conjuração em larga escala que interaja com a veia astral ou a Dimensão do Conceito requer um grande número de pessoas. Menou e Orwell assistem aos procedimentos em uma área separada. Sentada no altar, parecendo entediada, Akari ocasionalmente sorri e acena para Menou com as mãos. Ela parece estar bem despreocupada.
Fora do salão cerimonial, Menou acena de volta.
A flor decorativa na tiara de Akari balança gentilmente.
Menou sente uma pontada em seu peito.
“Vocês parecem ser bem próximas. É difícil acreditar que se conheceram há poucos dias.”
“Sim, bom... Foi assim que ela agiu comigo o tempo todo.”
Menou se sente ainda mais confusa sobre o forte apego de Akari por ela. Porém, ela ignora isso. Não há necessidade de se aprofundar mais neste assunto.
Afinal, Akari estava prestes a morrer.
“Eu peço desculpas por todo o incômodo, Arcebispa Orwell. Não sei como te agradecer...”
“Não se preocupe. Afinal, tenho certeza de que isso não será fácil para você.”
Menou fica em silêncio com a resposta inesperada. Agora que Orwell colocou isso em palavras, ela se deu conta do verdadeiro significado da dor que estava perfurando seu coração e fechou seus olhos.
É culpa.
Ah, eu sou tão cruel.
O pensamento enterrou-se em seu peito. Menou já matou pessoas antes. Por que agora ela se sente particularmente emotiva sobre assassinar Akari?
Eu sou a vilã.
Enquanto Menou afunda em silêncio, Orwell faz um olhar leve.
“Não há necessidade de comparar-se àquela sua Mestra, está bem? Aquela garotinha estranha sempre foi qualquer coisa exceto normal, por bem ou por mal.”
Ao escutar a arcebispa referir-se a sua instrutora como uma “garotinha,” Menou se lembra do quão vasta é a diferença entre suas experiências.
“Aquela garota sempre resolveu tudo sozinha, mas isso não significa que você precisa fazer igual. Podem haver momentos como este, onde alguém conhece um método do qual você não tem ciência. Não há vergonha em aceitar ajuda dos outros; na verdade, é frequentemente necessário para resolver um problema.”
“...A senhora tem razão, é claro.”
“Heh. Eu sempre tive curiosidade sobre você, também, uma vez que ela te acolheu. Fico contente de finalmente podermos nos encontrar desta forma, não apenas por transmissões.”
“Fico lisonjeada por ter interesse em alguém como eu.”
“Não deve rebaixar-se tanto, Srta. Menou. Você é uma das poucas escolhidas que carregam o fardo de um papel oposto ao meu. Eu nunca a subestimaria.”
Sem dúvidas, Orwell provavelmente salvou mais pessoas que qualquer outra nesta cidade.
Não foi apenas a cidade natal de Menou. Havia também a questão de batalhar e defender-se contra a ameaça iminente da Fronteira Selvagem. Sem mencionar os trabalhos de caridade que ocorrem nesta nação sob sua liderança. Ela trouxe salvação a muitos outros em seu caminho para se tornar a arcebispa.
Realmente, ela é o oposto de Menou.
Então suas palavras carregam muito mais peso.
“Você é uma parte necessária deste mundo. Quero que você se dê conta disto.”
“...Sim, senhora.”
Orwell pareceu adivinhar corretamente a hesitação de Menou, mas seu sorriso gentil não oscila.
“Espero que você realmente entenda isso um dia.”
Sua experiência é incomparável. Sempre que Menou interage com Orwell, ela dolorosamente se lembra de sua própria imaturidade.
Menou resolveu assistir a cerimônia até o final. Ela não poderia desviar o olhar, nem mesmo no momento da morte de Akari. Este é o seu papel—e é tudo que ela pode fazer agora.
Enquanto foca sua visão, Menou percebe que sua escritura estava piscando com Luz Etérea.
Era uma mensagem de Momo. Ela começou a abrir sua escritura, mas parou ao lembrar-se de que estava ao lado de sua superior. Seria rude ler uma mensagem no meio de sua conversa.
Ao invés disso, ela sondou as leves alterações na forma que a energia reage em sua escritura. As mensagens transmitidas desta forma são compostas usando Força Etérea. Se o controle da destinatária sobre seu poder for preciso o bastante, ela pode saber o conteúdo da mensagem sem abrir o livro.
Enquanto Menou lê a mensagem de Momo, uma onda de choque atravessa sua mente. Todas as diferentes peças que vieram à sua cabeça se juntaram para formar uma conclusão.
“...Arcebispa Orwell.”
“Sim, Srta. Menou?”
Força Etérea: Conectar—
Assim que terminou de absorver a informação que lhe foi enviada, Menou silenciosamente carrega sua escritura com poder.
“Sobre a cerimônia que Akari irá realizar. A senhora adquiriu os materiais de antemão, correto?”
“Sim. Por quê?”
Escritura, 3:1—
Menou colocou Akari no altar, convencendo ela de que era uma cerimônia de retorno. Ela fez isso pois Orwell, por vez, disse à Menou que esta era uma cerimônia para destruir um Puro Conceito. Os preparativos estavam sendo feitos diante dos seus olhos.
Então Menou falou muito casualmente enquanto começou a conjurar no fundo de si mesma.
“Que tipo de cerimônia é esta, exatamente?”
“Nossa,” Orwell murmurou. Seus olhos notaram a escritura de Menou, e ela sorri calmamente.
“Você recebeu uma mensagem, hmm? Nunca imaginei que alguém encontraria aquele lugar e escaparia da armadilha... Parece que eu desconsiderei uma possível ameaça.”
Ela não parece agitada, mesmo assim ela também não nega nada. Instantaneamente, Menou cria certeza.
Orwell é sua inimiga.
Menou lançou a conjuração que estava criando discretamente.
Invocar [E o inimigo iminente ouviu o badalar do sino.]
Luz Etérea irrompe da escritura de Menou, formando um sino de uma igreja artificial.
É um poderoso ataque que envia uma clangorosa onda de energia com poder em todas as direções. Com seu alcance e intensidade, não é um ataque fácil de ser defendido de forma alguma.
Sobretudo, Orwell não estava segurando sua escritura. Não havia razão para não tomar vantagem desse fato.
Primeiro, o ataque preventivo iria suprimir as demais sacerdotisas assim como Orwell. Talvez houvesse um brasão de barreira para protegê-las, mas o alcance do ataque impediria qualquer pessoa de se mover. Usando isso como ponto de partida para sua estratégia, Menou já se prepara para seu próximo ataque em sequência.
Orwell move sua mão levemente.
Como sempre, sua mão estava apoiada em sua bengala, a qual suportava seu corpo envelhecido. Quando sua mão enrugada se moveu, ela revelou gemas incrustadas na ponta que brilham como as três cores primárias.
Menou arregalou os olhos.
Força Etérea: Conectar—Cajado Sagrado, Tríade Primário—Invocar [Três Cores, Dez Eras, Centenas Florações, Mil Guerras]
A conjuração de Orwell instantaneamente esmagou a de Menou.
As três cores primárias misturadas juntas, desabrocham-se em dez cores, depois se transformam em cem tons brilhantes que então formam linhas de Luz Etérea em números que poderiam facilmente chegar a mil.
Os incontáveis raios coloridos florescem, colidindo contra a pseudo-igreja que Menou criou, e destruindo-a.
A velocidade e amplificação da conjuração foram assustadoras.
Menou poderia invocar uma conjuração com sua escritura tão rapidamente quanto qualquer brasão, mas uma habilidade capaz de superá-la não é qualquer uma. Os feixes de luz destroçaram seu sino antes que pudesse badalar uma única vez, e imediatamente caíram sobre Menou. Ela conseguiu evitar um ataque direto pulando para fora de seu alcance, mas o alvo de Orwell não parecia ser Menou em si.
Os raios de luz perfuraram o chão, criando uma abertura.
“?!”
O salão cerimonial no mausoléu subterrâneo ocultava um espaço ainda mais profundo. Sem ter onde se apoiar, Menou começou a cair.
“Menou?!”
Akari gritou por seu nome no altar, alarmada pelo desenvolvimento súbito.
Mas Menou mal podia salvar a si mesma, quanto mais a outra garota. Enquanto ela estava caindo em um espaço vazio junto com os destroços do chão que estava abaixo de seus pés, um raio de luz foi em direção à sua mão. Incapaz de desviar no meio do ar, ela não podia fazer nada para impedir que sua escritura fosse atingida e pegasse fogo.
“Akari, fuja!”
Com este breve clamor, ela carregou energia em sua escritura antes que queimasse ao ponto de se tornar inútil, escolhendo a melhor conjuração possível disponível nas páginas que ainda estavam intactas.
Força Etérea: Conectar—Escritura, 13:13—Invocar [O espírito de um mártir é tão precioso que é praticamente um tolo.]
A escritura explode com um lampejo violento.
Foi uma autodestruição, não tão destinada como um ataque quanto como uma forma de manter sigilo sobre o conteúdo da escritura. A implosão fez o chão desmoronar ainda mais. Provavelmente não alcançou o salão cerimonial, mas certamente foi grande o bastante para afetar o local onde Orwell estava. A arcebispa possivelmente se protegeu com o brasão defensivo em suas vestes, mas desde que tivesse perdido seu apoio e caísse com Menou, seria bom o suficiente.
Akari não estava contida de alguma forma. Menou tinha esperança de que ela pelo menos tivesse tido o senso de fugir sob a cobertura da distração explosiva.
A gravidade puxa Menou para baixo, mais fundo do que o salão cerimonial onde Akari estava no altar. O buraco não era especialmente fundo. Em pouco tempo, Menou aterrissou, e ela prontamente sacou a adaga do cinto ao redor de sua coxa.
A sala que ela se encontra é um estranho local de testes. Em severo contraste com a pureza da sala acima, este lugar fede horrivelmente a sangue e agonia.
O porão de pedra contém camas alinhadas em intervalos regulares. E deitada sobre cada cama havia uma jovem mulher.
Cobertas frouxamente sobre as camas, todas estão com suas entranhas removidas. Suas cabeças estão abertas, seus crânios vazios, e o sangue delas estava sendo extraído, deixando-as em um estado quase que mumificado. Os olhos das jovens mulheres estavam abertos e turvos, jamais sendo capazes de demonstrar uma faísca de vida novamente.
No centro do laboratório, entre as partes humanas presas no teto, haviam dois frascos gigantes.
Um frasco estava coletando elementos vermelhos dos corpos humanos, para assim não desperdiçar os materiais de sobra dos experimentos. O outro contém resíduos de material humano que foram separados do vermelho.
Quantas vidas foram usadas para extrair esses materiais?
Os frascos, maiores até do que Menou, estavam mais da metade cheios.
“...Eu tenho muito o que aprender, me deixando ser enganada tão facilmente pela promessa de ajudar com minha missão,” disse Menou.
“Parece que sim. Mas você ainda é bem jovem, então não precisa ficar abalada com isso. Quanto mais velha, mais covarde uma pessoa se torna, e naturalmente ela aprende como manipular os jovens no processo.”
Uma linda escadaria se materializou, vindo do buraco pelo qual Menou caiu. Composta pelas três cores primárias, é substancial o bastante para suportar Orwell, permitindo com que ela desça até o chão calmamente e em segurança.
Orwell sorri gentilmente. Seu olhar compassivo parece o mesmo de sempre.
Frustrada por ter sido separada de Akari, Menou é forçada a confrontar a verdade que ela não queria reconhecer.
Orwell é a arquiteta por trás dos desaparecimentos que ela mesma pediu para Menou investigar—e não apenas isso.
A hipótese de Menou de que a Ordem dos Cavaleiros nesta cidade era corrupta foi ingênua. Havia alguém muito pior que trabalhou com os terroristas Plebeus, conduziu experimentos humanos, e finalmente forneceu à Nobreza a tecnologia para convocar Ádvenas.
Todos os incidentes que Menou encontrou nesta nação foram obra da arcebispa.
“Você é calma e paciente para a sua idade—talentosa, também—mas lhe falta a cautela e a covardice daquela garota—Flare. Sem isso, você não será uma Executora devidamente temível.”
“Me dói ouvir isso.”
Se Orwell, a líder da Faust desta nação, fazia parte dessa conspiração, então não é de se admirar que o rei da Nobreza se atreveu a realizar uma convocação tão confiantemente.
Se elas fossem lutar aqui e< agora, o maior problema seria os materiais entalhados no cajado de Orwell.
Os cristais vermelho, azul e verdade são itens proibidos e raros que nunca deveriam estar nas mãos de uma mulher santa.
“Agora, Srta. Menou. O quanto você sabe sobre os cristais de Cor Primária, pode me dizer?”
“Eu sei que eles são feitos das três cores mais puras deste mundo: vermelho, azul e verde. Fazendo parte da Dimensão do Conceito, a qual foi formada pelos poderes do planeta e pela história humana, essas pedras permitem acesso e conjuração dos Conceitos das Cores Primárias que pintam este mundo. Os materiais também podem expressar qualquer cor no mundo através da conjuração.”
O questionamento de Orwell foi educado como sempre, então Menou respondeu com a mesma expressão calma.
As pedras de Cores Primárias não são as únicas ameaças desta luta. A conjuração complexa que Orwell usou em seu último ataque foi executada com fascinante delicadeza. Sua habilidade de controlar a Força Etérea, algo muito importante no processo de conjuração, é claramente superior à de Menou.
“Com essas pedras, imagino que alguém do seu nível possa até criar mundos conjurados inteiros, Arcebispa Orwell.”
“Correto. Não esperava menos da pupila daquela garota. Seu conhecimento sobre tabus determinados é impecável.”
Embora ela estivesse mantendo seu tom, se havia uma coisa que Menou não estava sentindo era calma.
Havia apenas uma razão que ela conseguia pensar para Orwell tê-las atraído até aqui.
Ela estava atrás de Akari.
Mais precisamente, ela queria o Puro Conceito de Akari. Muito provavelmente, a cerimônia que ela estava tentando realizar no salão de cima não era para matar Akari. Deveria ser algum ritual sacrílego com a intenção de usar seu Puro Conceito de alguma forma.
“Muito bem, como você está ciente da diferença entre nossas habilidades, eu apreciaria se você se rendesse.”
“Infelizmente, minha Mestra nunca me ensinou a desistir.”
Eu posso vencer? Menou se pergunta.
Eu posso derrotar a Arcebispa Orwell?
Ela é uma figura poderosa, um gênio em meio a Faust, com um espírito inquebrável, e ela realizou muitas conquistas ao longo do tempo para chegar à posição no topo. Seu primeiro ataque queimou a escritura de Menou, sua única grande arma, em questão de segundos. Menou está em uma óbvia desvantagem. Ela pensou em recuar, o que seria o melhor para ela.
Porém, como se ela tivesse lido os pensamentos de Menou, Orwell escolhe aquele momento para carregar a catedral com energia.
Força Etérea: Fundir Materiais—Catedral, Brasão de Conjuração de Construção de Igreja—Invocar [Barreira Multicamada do Santuário]
O brasão ornamentado e complexo na catedral ativou. A Força Etérea que Orwell inundou nas paredes criou uma barreira estratificada e impenetrável que isolou o interior da catedral do resto do mundo.
“Agora você pode ter certeza de que a ajuda não virá, Srta. Menou.”
Apesar do fato dela ter infundido uma imensa barreira com poder, Orwell parece não estar nem um pouco desgastada. Dado a velocidade e precisão de sua conjuração e sua vasta quantidade de poder natural, o bastante para criar uma muralha ao redor da catedral, ela está em outro patamar.
A única vantagem possível para Menou é a fragilidade do corpo envelhecido de Orwell. Suas pernas estão tão fracas que nem mesmo o Aprimoramento poderia fortalecê-las o suficiente. A única maneira de derrotá-la seria em um combate a curta distância, mas não há dúvida na mente de Menou que a arcebispa teria alguns truques para se defender. Não seria sábio atacá-la imprudentemente.
“Posso perguntar os seus motivos? Eu presumo que a senhora custeou a convocação na capital real também, estou errada?”
Menou continua analisando os pontos fortes de sua oponente, procurando por fraquezas, mas por dentro, ela estava se castigando com arrependimento.
Como uma Executora, ela deveria ter reparado o que estava acontecendo. Porém, ela descuidadamente trouxe Akari direto para o coração da heresia.
“Ah, bem. Eu apenas ajudei a Faust a evitar que a Ordem dos Cavaleiros descobrisse sobre este lugar. Quando ofereci a eles a tecnologia para convocação, um produto derivado dos meus experimentos aqui, eles ficaram muito felizes em cooperar.”
A convocação de Ádvenas na capital real desencadeou toda esta série de eventos. Tudo estava conectado: as múltiplas cerimônias que foram planejadas para iludir uma Executora e os movimentos da Faust que tentaram atrair Menou para uma armadilha. Em retrospecto, eles sabiam até demais sobre os métodos das Executoras, as quais a existência nem é de conhecimento público.
“Eu ajudei aquele grupo terrorista Plebeu e seus esquemas, pois eu queria que eles coletassem jovens garotas para mim. Possuir mais materiais é sempre melhor, não acha?”
Isso explica as armas Etéreas que os terroristas usaram no trem, e mais importante, a Pedra Vermelho Primário, a qual requer uma ótima proficiência de conjuração para ser adquirida e utilizada. Para a arcebispa, que controla todas as igrejas na capital real, adquirir e distribuir essas armas proibidas seria uma tarefa fácil...
...E ainda mais se ela estivesse colaborando tanto com a Nobreza quanto com a Plebe.
“A Faust dificilmente poderia sequestrar pessoas e deixar isso público. Então, em troca da minha ajuda, eles trariam garotas para este lugar no subsolo para eu usá-las em meus experimentos.”
“...Entendo. Então você deve ter tido alguma razão para os terroristas atacarem o trem, também.”
“A Princesa Ashuna não estava naquele trem?”
Orwell respondeu sem hesitar, como se não tivesse mais razão para esconder.
“Sua Alteza sempre teve uma intuição afiada. Quando soube que ela estava à caminho daqui, eu quis me certificar de que ela não descobrisse sobre minhas atividades, então eu tentei distraí-la com você. Eu sabia que ela agiria se um incidente ocorresse no trem, e como uma sacerdotisa, você também teria que fazer algo a respeito.”
Isso faz sentido: Sem o incidente terrorista, Ashuna não teria se deparado com Momo. E por conta de Menou estar ciente da presença da princesa, ela foi forçada a agir de acordo.
“O momento foi perfeito, uma vez que os planos de seu pai tinham acabado de ser prejudicados por uma Executora. Conhecendo a personalidade da Princesa Ashuna, ela sem dúvida criaria interesse na existência de tal pessoa. Estou certa de que isso também dificultou muito mais o seu lado, Srta. Menou.”
De fato, a questão com Ashuna privou Menou de um recurso valioso em forma de Momo. Se Momo não tivesse arremessado Ashuna para fora do trem, os movimentos de Menou provavelmente teriam sido extremamente limitados sob o olho vigilante da princesa, também.
Orwell pretendia ajudar os terroristas e usá-los como peões descartáveis para forçar Menou e suas companheiras a entrarem em confronto com Ashuna. Sem dar nem um passo para fora de Garm, ela guiou Menou e Ashuna direto para suas mãos.
“O fator surpresa foi aquela sua assistente. Eu assumi que se ela vagasse pelo subsolo durante sua investigação, ela e a princesa se encontrariam e começariam outra luta... Mas como ela foi capaz de se comunicar com você apesar de ter encontrado aquele salão cerimonial, talvez elas tenham trabalhado juntas? Neste caso, eu também terei que me livrar daquele par mais tarde.”
“...A senhora perdeu toda sua honra, Arcebispa Orwell.”
Agora que ela obteve toda a informação, Menou encara a Arcebispa friamente.
Sendo o oposto de Menou, Orwell deveria usar sua conjuração e posição para ajudar as pessoas. Este era seu papel como mulher santa—especialmente sendo uma arcebispa.
Entretanto, esta pessoa, no topo mais alto da Faust, afundou suas mãos profundamente no impensável com todos esses planos minuciosos.
“Ao contrário de mim, a senhora deveria salvar as pessoas. Por que faria tudo isso?”
“Ah, você não entende, não é...? Suponho que não faça nada além de matar, afinal. Ah sim. Tudo faz sentido agora, Srta. Menou. Não me admira que não saiba.”
Orwell olha para ela como se estivesse testemunhando a ignorância de uma criança sobre o mundo.
“Ouça-me, quando você salva muitas pessoas, os clamores por ajuda se tornam muito irritantes.”
“Hã...?” Menou fica sem palavras.
Orwell continua, indiferente:
“Ajude-nos. Salve-nos. Por que não nos ajuda? Por que não nos dá mais? Faça mais milagres! Não se contenha! Nos dê tudo! Seu tempo, seu poder, sua vida! Salve-nos! ...Eles te seguem incessantemente.”
Ela soa como uma idosa exausta ao terminar sua declaração.
“E apesar disso, nenhum deles salvam a si mesmos...”
Força Etérea: Conectar—Cajado Sagrado, Tríade Primário—Invocar [Enganação, Fogo Infernal]
Orwell canalizou seu poder em uma das três pedras das Cores Primárias em seu cajado, a Pedra Vermelho Primário, invocando uma conjuração.
Chamas vermelhas vívidas artificiais surgem, cobrindo rapidamente o chão.
“Ngh...”
Menou retrai com o ataque criado pela cor primária.
Era vastamente diferente de qualquer conjuração limitada criada por brasões e escrituras. Com os materiais e o controle avançado de Orwell sobre seus poderes, ela poderia extrair e manifestar fenômenos do Conceito da Cor Primária, uma das dimensões criadas pela veia astral do planeta e pela história humana.
As chamas conceituais não produzem ondas de calor, mas se elas encostarem em Menou, elas irão incinerá-la até se tornar cinzas, até os ossos.
Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Fio Etéreo]
Ativando o brasão, ela arremessa a adaga para enrolá-la em um ornamento na parede. Então ela puxa o fio fixado e pula, escapando das chamas carmesim que se espalham pelo chão.
“Heh. Muito impressionante.”
“Sua...!”
Aterrisando novamente no chão após as chamas se apagarem, Menou range os dentes frustrada com sua falta de opções.
Como o primeiro ataque com raio de luz destruiu sua escritura, os únicos meios para invocação de conjuração para batalhas que lhe restam são os brasões em sua adaga, para invocar Fio Etéreo e Vendaval, e o brasão em seu traje, para invocar Barreira. Ela estava contra a parede, sem nenhuma maneira aparente de vencer.
Mesmo se ela quisesse fugir, ela estava presa pela barreira ao redor da catedral.
“Hmm, onde estávamos? Ah sim. Você me perguntou por que eu faria tudo isso, correto? Perdão, querida. Quando se chega na minha idade, você perde o rumo da conversa com muita facilidade.”
Orwell não parece nem um pouco incomodada ao ver Menou desviar de sua conjuração. Pelo contrário, ela está sorrindo como alguém observando afetuosamente uma criança energética brincando.
“Acontece que ultimamente, minhas costas doem tremendamente.”
“O que disse?”
Menou não tinha ideia do que ela estava falando.
Suas costas doem?
Qual a relação disso?
Ciente ou não da confusão interna de Menou, Orwell dá leves tapinhas em suas costas curvas enquanto continua.
“Toda manhã quando acordo, meu primeiro pensamento sempre é 'Ah, minhas costas doem.'”
Menou se prepara, assumindo que isso era um prefácio para uma grande e arrebatadora razão, mas Orwell apenas continua com as reclamações da terceira idade.
“É tão doloroso levantar-me da cama. Eu tenho que pedir a ajuda de alguém mais jovem para me erguer, e quando dou meu primeiro passo, posso ouvir meus joelhos rangendo. Oh, céus. É simplesmente terrível. Você entende? Eu acredito que seja o peso de todas as pessoas que salvei me arrastando. É extremamente pesado.”
“Do que está falando...?”
“Ah, mas é claro que você não entende. Afinal, você é jovem.”
O sentimento que Orwell estava direcionando à jovem Menou não era inveja—
“Eu suponho que também não entendia quando tinha sua idade. Mas é disso que se trata, Srta. Menou. No fim, eu falhei em me tornar uma devida mulher santa. Sou apenas uma pessoa comum que por acaso foi capaz de ajudar os outros por conta dos meus poderes. Agora que eu cheguei a esta idade avançada e frágil, eu finalmente me dei conta da verdade. É simples assim.”
—Era pena de uma jovem mulher que ainda não conhece o medo de envelhecer que eventualmente chegará a ela.
“Mas mesmo assim, como eu salvei tantas pessoas, acho no mínimo justo eu ter permissão para matar quase tantas quanto salvei agora.”
Menou silenciosamente olha ao redor da sala.
Neste laboratório, incontáveis jovens mulheres sequestradas foram submetidas a experimentos humanos, dissecadas para pesquisar a fonte de sua juventude, e converter em materiais, tudo para que Orwell pudesse fugir do envelhecimento.
Menou não consegue compreender essa motivação nem um pouco. E então ela desiste de tentar adivinhar os sentimentos da velha mulher.
“...E por isso você queria a Akari.”
Para uma mulher idosa que tem sua própria deterioração, a Regressão de Akari deve ser incrivelmente tentadora.
“Como você pretende usar o Puro Conceito dela? Não é o tipo de coisa que qualquer pessoa possa usar como quiser, nem mesmo uma conjuradora notável como a senhora.”
Após sua experiência encostando contra o Puro Conceito que habita dentro de Akari no incidente do trem, a compreensão de Menou sobre isso foi dolorosamente clara. Até mesmo usar a Força Etérea de outra pessoa já é bastante difícil.
Mas naturalmente, Orwell também deve ter ciência dos perigos de um Puro Conceito.
“Pelo Senhor, Srta. Menou. Por favor, não me subestime. Você certamente sabe que eu tenho uma boa ciência da instabilidade inerente de um que está indevidamente anexado a um Ádvena. Eu nunca tentaria encostar a mão em um diretamente. Como acha que eu vivi por tanto tempo? Eu conheço muito bem meus limites.”
A arcebispa fala calmamente do seu próprio senso comum, como se não tivesse sequestrado jovens garotas e conduzido experimentos nelas.
Então como...? Menou se perguntou, até que se deu conta.
O salão cerimonial que elas estavam antes de caírem aqui.
“O salão acima de nós parece ser a fonte de sua confiança. Como você o usaria para controlar um Puro Conceito?”
“Realmente. Bom, na verdade é bem relevante para você, então suponho eu possa explicar.”
Orwell sorri calorosamente, como se estivesse comunicando outro ensinamento para a jovem sacerdotisa.
“Aquele salão cerimonial foi originalmente criado para causar lavagem cerebral em Ádvenas convocados.”
“Lavagem cerebral...?”
“Exatamente. Ou talvez branquear suas mentes seria mais preciso.”
O experimento de teletransporte que Momo encontrou na verdade não estava sendo usado para a convocação na capital real.
Orwell o criou para um propósito muito diferente.
“É um local de teste para apagar personalidades. Foi feito com a intenção de limpar o espírito e a alma de uma pessoa, deixando nada além de branco. Eu esperava que usando-o em um Ádvena significaria adquirir seu Puro Conceito para eu usar como desejar, mas foi bem difícil ajustar para o nível adequado de limpeza. Em um caso, até mesmo o próprio Puro Conceito se tornou Marfim, o que foi bem difícil de encobrir. Mas você é bastante familiar com esse incidente, não é?”
Um pequeno sorriso alarga os lábios de Orwell.
“A Ádvena que foi parcialmente branqueada transformou uma cidade inteira em branco, como você pode se recordar.”
O choque que atingiu Menou é difícil de descrever.
Essa revelação inesperada chocou mais do que a constatação inicial da heresia de Orwell. Por um momento, seus pensamentos congelam. Sua mente quase se apaga por completo. Ela quase deixa cair sua adaga, sua pegada no cabo se afrouxa.
A lâmina balança em sua mão trêmula.
“Você... Por quanto tempo?”
“Eu te contei, não? Desde o início.”
Quando Menou conseguiu expressar uma pergunta, a velha enrugada sorriu maliciosamente.
Desde o início.
Ela querendo ou não, Menou se dá conta do quão no passado isso realmente chegava, horrorizada.
A cidade natal de Menou se tornou neve branca, como suas memórias a recordam. Sua família, amigos e a cidade em si, tudo se tornou branco e desapareceu assim. Menou foi tudo que ficou para trás, seu coração ficou tão apagado que nem tristeza restava.
Aquele incidente, o qual Menou não consegue processar como uma tragédia apesar de ser uma sobrevivente, foi inteiramente trabalho da mulher diante dos seus olhos.
E para que propósito?
“Após alguns experimentos, eu determinei que em vez de tentar causar lavagem cerebral em Ádvenas, era melhor escaldar suas almas e espíritos em puro branco, deixando eles como Puros Conceitos sem nenhuma vontade própria. Mas mesmo assim, um Ádvena tentar usar seu poder ainda é um perigo.”
Orwell explicou a verdade abertamente.
“É neste ponto que você entra, Srta. Menou. Juntas, você e a Srta. Akari significam algo. Você tem potencial para manipular o Puro Conceito daquela garota, certo?”
Ao escutar que ela mesma deveria usar Akari, Menou se lembra novamente do incidente no trem.
Menou não possui barreiras em volta do seu espírito e alma. Quando sua cidade natal se tornou branca, ela também foi apagada quase que por completo. Por isso que Menou é capaz de conectar sua energia com a de Akari—e com notável facilidade, ainda mais. Ela evitou tocar o Puro Conceito no trem, não querendo se expor a um perigo desnecessário, mas é possível que ela pudesse tê-lo usado também.
“Eu acredito que poderia. Você sobreviveu àquela cidade branca, renasceu como o mais fino dos materiais. Você pode efetuar a conexão com os outros facilmente—e sob a tutela de Flare, sua conjuração melhorou ao ponto no qual você também é chamada de Flarette. Não tenho dúvidas de que você seria capaz de manipular o Puro Conceito daquela garota.”
Orwell transformou uma cidade inteira em neve branca a fim de criar material para controlar os Puros Conceitos. Material em forma de Menou.
Seu alvo não era apenas Akari. Era Menou e Akari juntas.
“...Ah, entendi.”
A mente de Menou, que estava quase entorpecida, começou a processar novamente.
As dúvidas que ela veio construindo durante os eventos da última semana começaram a se encaixar, uma por uma.
O Puro Conceito de Nulo pertencente ao garoto que ela matou sem nem saber seu nome poderia eventualmente desenvolver uma imortalidade. A única razão para Akari ter sido escolhida para sobreviver foi porque seu Puro Conceito de Tempo era mais conveniente para os objetivos de Orwell. Isso também explica porquê uma figura importante como a arcebispa teria tanto interesse em Menou, uma mera Executora.
Orwell estava de olho em Menou esse tempo todo porque ela era um ingrediente necessário para seus planos.
“Então você realmente estava por trás de tudo desde o princípio.”
“Precisamente. Houve um pouco de sorte e coincidência envolvidos, com certeza, mas quando você passa dez anos agarrando cada pequena oportunidade que consegue encontrar, eventualmente você conquistará os resultados que almeja.”
Um calor fervente começa a borbulhar no fundo do estômago de Menou. Ela estava zangada—por ter sido enganada, por ter sido usada por tanto tempo que nunca se tratou de traição, e por sua tolice por falhar em perceber e reverenciar Orwell o tempo todo.
“Estava esperando você, meu precioso material, crescer o bastante para ser capaz de controlar um Puro Conceito. Por isso eu solicitei a Faust para executar a convocação.”
Orwell pacientemente e cuidadosamente construiu este plano por um longo tempo. Convocar as entidades proibidas conhecidas como Ádvenas, atrair a Executora conhecida como Menou—tudo isso era apenas uma pequena parte de um plano que se estendeu por mais de dez anos.
“...Heh. Do começo ao fim, apenas uma pessoa duvidou de mim. A Executora Flare.”
Menou agarra sua adaga com mais força.
Notando isso, a arcebispa de visão aguçada sorri com satisfação.
“Nossa, eu lhe enfureci? Mas por quê? Por que você ficaria indignada justo agora? Por quem? Certamente você não está furiosa por perder sua cidade natal, está? Afinal, você nem tem a si mesma. Esses pensamentos que está tendo agora são bem posteriores ao fato, não são, Srta. Menou?”
Aquele dia puro branco quando Menou foi renascida neste mundo é desenterrado.
“Você esqueceu de tudo. Tudo foi apagado”
Sua fúria chegou ao limite.
Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Dupla Invocação [Fio Etéreo, Vendaval]
Força Etérea: Conectar—Túnica de Sacerdotisa, Brasão—Multi-Invocação [Multi-Barreira]
Menou arremessa a lâmina e a acelera com Vendaval, mas ela é bloqueada antes de alcançar Orwell.
Orwell ativou o brasão em suas vestes. As múltiplas barreiras formadas são mais rígidas do que a armadura do soldado mágico que Menou enfrentou no trem. Ainda por cima, a velocidade de conjuração de Orwell foi mais rápida que a dela.
Menou puxa o fio para recuperar sua adaga. Orwell ri prazerosamente, mas não como escárnio do seu ataque.
“Se auto-denominar 'Flarette' é bem apropriado. Meus materiais antes perfeitamente brancos agora se assemelham muito aquela garota.”
“Tem razão. Afinal, eu sou uma vilã..”
Inexpressiva, Menou dá um passo adiante.
Após sua fúria explodir, sua mente estava estranhamente calma.
Qualquer que fosse a identidade de Menou, qualquer que fossem as intenções de Orwell, havia apenas uma coisa que ela precisava fazer.
“Usar um Ádvena é categoricamente proibido. Assim como usar partes de corpos humanos como materiais.”
Não importa quem estivesse fazendo ou porquê—nada disso importa.
Menou olha friamente para a herege diante de seus olhos.
Orwell caiu no uso do proibido. Ela escapou até mesmo da Mestra de Menou e percorreu seu caminho até o topo da Faust, a Primeira Classe.
Mesmo assim, a missão de Menou é imutável.
“Você cometeu uma grave ofensa, então eu devo matá-la. Esta é a razão da minha existência.”
“Realmente. Então venha, jovem. Pobre criança que não pôde partilhar do destino de sua terra natal.”
O sorriso gentil de Orwell não oscila. Ela estava tocando os dois frascos contendo materiais que ela obteve dissecando tantos humanos.
Força Etérea: Conectar—Pedra Vermelho Primário, Pseudo-Conceito da Cor Primária [Vermelho]—Invocar [Vermelho Primário, Serafim Obstinado]
Força Etérea: Sacrificar—Pecado Original, Orgulho: Espírito, Corpo, Alma—Convocar [Pecado Original, Relva Rastejante]
Todo o vermelho em um dos frascos começou a se transformar, e as partes humanas do outro se tornaram um meio para convocação.
Os materiais vermelhos formaram figura nua e andrógina com asas. E a substância sombria e lamacenta que apareceu nos pés de Orwell cria oito pernas e se torna uma espécie de cadeira.
Orwell fez um sinal para o anjo vermelho aguardar enquanto ela se abaixa para sentar-se no demônio convocado. Sua mão firmemente agarrada ao seu cajado sagrado com as três jóias das Cores Primárias.
“Quando você estiver pronta, querida. Eu pegarei leve com você. Não tenho intenção de tirar sua vida. Farei com que você e a Srta. Akari sirvam ao seu legítimo propósito.”
A líder herética da nação sorri suavemente.
Deixada para trás no salão cerimonial, Akari arregala os olhos.
Ela está cercada por sacerdotisas, a maioria delas estão com suas escrituras em mãos e parecem prontas para lutar.
Infelizmente, a curta oportunidade que Menou criou arremessando sua escritura surtiu pouco efeito. Akari não possui tanta experiência para correr instantaneamente quando a mandam; enquanto ela ainda estava congelada, surpresa com a explosão, as outras mulheres a rodeiam.
“Não se mova, Ádvena. Você esquecerá de tudo muito em breve.”
“Hmmm...quê?”
Akari não faz a mínima ideia do que está acontecendo, já que tudo está ocorrendo tão rápido, mas seus instintos começam a suspeitar de que talvez ela esteja em uma situação perigosa.
“Nós sabemos tudo sobre sua habilidade. Se a única coisa que você pode usar é Regressão, então não há como resistir.”
A sacerdotisa continua a cerimônia, permanecendo bem atenta aos movimentos de Akari.
O grupo segue, reunindo-se no altar no centro do salão.
Força Etérea: Conectar—Altar Cerimonial, Brasão de Conjuração de Construção de Cerimônia—Invocar [Pseudo-Reprodução: Palidez Parcial]
As extremidades do salão cerimonial se deformam e distorcem.
Não foram as paredes em si que começaram a se mover—foi a pintura perfeitamente branca que as cobria. O revestimento começou a se acumular no pico do teto abaulado do salão cerimonial—em outras palavras, diretamente acima de Akari e do altar.
Uma vez que o líquido convergiu naquele único ponto, começou a se condensar em uma enorme gota.
“Isto é um fragmento do Crepúsculo—a esfera nebulosa flutuante do continente ao norte. Nem mesmo um Ádvena consegue resistir ao seu efeito de empalidecer.”
“Espera, quêêê!?”
Pânico começa a preencher Akari conforme as coisas se desenvolvem ao seu redor. Algo estranho está acontecendo, disso ela tem certeza. Muito provavelmente, ela e Menou foram enganadas de algum modo. Mas Akari não tem a fortitude mental, muito menos os meios para escapar dessa situação perigosa.
O perturbador líquido branco acima de sua cabeça começou a tremer e estava prestes a cair, quando de repente...
Força Etérea: Auto-Conectar (Condições Atendidas)—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Lançar [Regressão: Memórias, Alma, Espírito]
Um eco silencioso do tique-taque de um relógio surge e o tempo apenas para Akari desloca-se do resto do mundo. Simultaneamente, a inquietação desaparece do rosto de Akari.
“Hmm? Isso é... Ah, entendi. É como aquela vez na catedral de Garm. E ah! Este é o meu presente da Menou!”
Com sua atitude completamente alterada, Akari remove sua tiara e a olha com entusiasmo. As sacerdotisas a observam, confusas com seu repentino comportamento estranho.
A cerimônia estava quase completa. As sacerdotisas verificam os procedimentos para assegurar que ela não fuja, uma pequena risada de repente escapa da garota no altar.
“Certo, hora de resistir.”
Dito isso, Akari rodopiou levemente seu dedo indicador.
Suas oponentes nem tiveram tempo de reagir.
Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Suspensão]
A conjuração acontece tão naturalmente quanto uma respiração.
As pessoas ao seu redor congelam, iluminadas pela Luz Etérea emitida pelo dedo de Akari. Até mesmo suas respirações e batimentos cardíacos cessaram, mas isso não quer dizer que elas estão mortas.
O tempo parou temporariamente para as sacerdotisas.
No entanto, a gota branca concentrada não parou totalmente. Ela foi afetada pela suspensão do tempo, mas sua própria ordem de branquear o alvo diminuiu esse efeito. Lentamente, mas certamente, sem a velocidade normal da gravidade, ela continua a descer.
“Aquela coisa não para por nada, né? Por que será?”
Sem pressa, Akari se levanta e desce do altar. A gota branca se soltou e caiu, atingindo o altar no qual Akari estava momentos antes e tornando tudo branco.
“É, me desculpem. Não tenho intenção de seguir ou ser usada por ninguém além da Menou. E acima de tudo... Eu não quero, não quero mesmo, que ninguém além da Menou me mate.”
Akari nem parece perturbada com a visão inusitada enquanto balança seu dedo como a batuta de um maestro. Desta vez, ela invoca um tipo diferente de conjuração.
Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Teletransporte]
Ela estava interferindo com o espaço, uma matéria estreitamente conectada ao tempo. Akari executa a conjuração com a facilidade que apenas um Ádvena com profundo conhecimento de um Puro Conceito poderia alcançar.
As sacerdotisas suspendidas no tempo agora desapareceram. Indiferente quanto a ausência delas, Akari inclina sua cabeça para o lado e cruza seus braços, como se estivesse vasculhando suas memórias.
“Agora, neste ponto no tempo...sim. Ao contrário daquela vez no trem, não há necessidade de reverter as coisas... Hee-hee. Acho que o caminho mais natural seria descontrolar a Momo.”
Falando o nome de alguém que ela tecnicamente ainda não conhecia, Akari sorri como se tivesse chegado a uma ideia traiçoeira.
Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Dupla Invocação [Teletransporte, Deterioração]
Duas conjurações ocorrem ao mesmo tempo. Akari as convocou para transcender o espaço, promulgando seus efeitos em outro lugar totalmente diferente.
Akari ri ao imaginar o resultado.
“Será que isso foi cruel demais da minha parte? Eu sempre tive um pouquiiinho de inveja desses seus lacinhos. Não é justo ter uma recordação do seu passado juntas.”
Ela dá língua para alguém que nem está aqui para ver. Então, após essa exibição infantil de retaliação, Akari abraça a tiara com a flor decorativa em seu peito.
“Hee-hee... Que sorte a minha. Não são muitas as vezes que eu ganho um presente tão maravilhoso feito a mão pela Menou. Estou tão, tããão feliz.”
Após murmurar para si mesma, Akari imita uma arma usando a mão direita, apontando o dedo indicador para sua própria cabeça.
“Certo. Está tudo bem. Eu terei apenas uma sensação de déjà vu, como sempre. E ainda amarei a Menou! ...Por isso, não estou com medo.”
Enquanto Akari fala tranquilamente, como se estivesse tentando convencer a si mesma, sua mão direita brilha.
Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Regressão: Memórias, Alma, Espírito]
A luz que ela produziu disparou em sua cabeça.
Quando o brilho da conjuração sumiu, uma Akari ilesa piscou algumas vezes.
“Hwuh?”
Ela franziu a sobrancelha, tentando entender porquê ela estava em pé, sendo que a meros instantes atrás ela estava sentada. E além disso, as pessoas que estavam cercando-a de repente desapareceram.
“Ummm...?”
Enquanto ela se pergunta o que acabou de acontecer, Akari, apesar de tudo, começa a andar.
Ela tem a sensação de que precisa ir a um lugar importante.
Foi a mesma sensação que ela teve no trem. Ela não sabia porquê. Ela apenas sabia que precisava ir.
Ao vagar pelo salão cerimonial, ela se depara com uma escadaria. Por alguma razão, Akari imediatamente se dá conta de que se descer, ela encontrará Menou.
“Hrmm...”
Akari cruzou os braços e pensou por um momento.
Menou gritou para ela fugir, mas Akari acha que isso não é o que ela realmente deveria fazer. Não, na verdade não era achismo—estava mais para uma forte compulsão. Algo no fundo dela estava insistindo que ela descesse.
“Certo. Se Menou está em perigo, eu tenho que ir até ela!”
Inventando uma razão para atribuir ao impulso, Akari desce as escadas. Ela certamente nunca esteve aqui antes, mas uma forte sensação de déjà vu a guia. Embora ela não saiba para onde está indo, ela não hesita.
Ela apenas segue em linha reta para onde ela precisa estar.
“Mesmo que ela fique brava comigo, eu serei sincera. Eu não fiz nada errado!”
Akari se apressa em direção a Menou.
A espada de Ashuna retalha severamente o demônio em forma de uma corda contorcida.
Mas a criatura, a qual consiste de um emaranhado de fios pretos pegajosos, não recua. A parte que lhe foi cortada se torna uma segunda criatura, que tenta atacar Ashuna em seu ponto cego e rasteja ao redor dela.
Ashuna rapidamente esmaga a criatura ramificada sem hesitar. Incapaz de manter sua forma, ela se funde novamente com o corpo principal.
“Hrmm.”
Ashuna inclina a cabeça elegantemente.
Cortando um pedaço do corpo principal, o fez se tornar um ser próprio, e quando este foi esmagado, seus restos foram absorvidos de volta em seu corpo principal. E mesmo assim, ela não consegue encontrar algum tipo de núcleo no enorme e retorcido corpo do demônio.
“Momo, como se mata esta criatura?”
“Como eu vou sabeeer?”
Com uma visão de relance da batalha de Ashuna, ainda esperançosa de que ela fosse morta pelo demônio, Momo corta outra escama de seu oponente com sua serra oscilante.
Momo está ocupada lutando contra um dragão puro-vermelho sem asas.
Ao contrário do demônio de Ashuna, ele não possui nenhuma habilidade especial—é apenas um soldado em forma de dragão gigante, e por consequência, forte. Seu enorme corpo gera um peso mortal aos seus ataques, mas Momo é ágil o suficiente para desviar de todos eles.
Percebendo que não havia o que temer, Momo ousadamente se aproxima para uma batalha corpo a corpo. Sua maior prioridade é sair deste lugar. Ela está disposta a impingir o dragão para Ashuna se isso terminar a batalha mais rápido.
O dragão vermelho, evidentemente furioso com os ataques leves em seu corpo gigante, sacode sua cabeça para afastar Momo, e abre bem a sua boca.
Força Etérea: Conectar—Pedra Vermelho Primário, Conjuração de Selo Interno—Invocar [Labareda Vermelha]
Fogo começa a surgir dentro de sua boca.
As chamas criadas pelo Pseudo-Conceito da Cor Primária vermelho, possuem um tom tão forte quanto um respingo da tinta mais pura. Embora elas não emitem calor, as labaredas possuem ainda mais poder para queimar que uma chama real enquanto se espalham.
Eu consigo.
Fazendo um rápido julgamento, Momo estima a quantidade de poder contida nas chamas e segue em frente.
Força Etérea: Conectar—Traje Sacerdotal, Brasão—Invocar [Barreira]
Ativando o brasão em suas vestes, ela fica no centro do turbilhão de chamas. Naturalmente, ela foca mais em proteger sua cabeça ao criar a barreira, revestindo as áreas mais finas com Aprimoramento, fortalecendo sua constituição física.
Bem como Momo calculou, ela atravessou as labaredas no mesmo instante em que a barreira foi queimada—ou por muito pouco.
Naquele instante, houve um lampejo de Luz Etérea que se misturou entre as chamas vermelhas.
O resultado foi uma assustadora conjuração que deteriorou a passagem do tempo em uma determinada área. O Tempo teletransportou da catedral até aqui antes de ser ativado, correndo e formando dois pequenos buracos na barreira defensiva que Momo havia criado ao redor de sua cabeça.
Exatamente nos pontos de seu cabelo nos quais seus lacinhos estavam.
“...O quê?”
Justo quando ela estava prestes a cortar o focinho de seu oponente com sua serra, Momo congela subitamente.
Seu cabelo se solta.
Suas duas trancinhas de costume, de repente ficam livres no ar. Ao sentir os cachos se soltarem, Momo dá as costas para o dragão e olha atrás dela—para os laços que queimaram e caíram no chão.
Os dois lacinhos vermelhos que ela sempre usou, aqueles que Menou deu à ela.
“Ah...”
Ela deixa a serra em sua mão cair no chão. Enquanto Momo estava completamente imóvel, o dragão aproveitou a oportunidade para atacar.
Momo nem tenta desviar.
Com um rugido, o corpo massivo do dragão atinge diretamente o pequeno corpo de Momo, esmagando-a contra a parede.
“Nossa.”
Enquanto Ashuna estava lutando com relativa facilidade, tentando descobrir uma forma de matar o demônio, ela escuta o impacto que balançou o espaço subterrâneo e estreita os olhos.
Bom, isso deve tê-la matado.
Por alguma razão, Momo parou de repente e ficou imóvel no meio da batalha. Se fosse Ashuna, seria outra história, mas ela não consegue imaginar Momo sobrevivendo naquela situação. Que fim anticlimático, ela pensou, desapontada.
As gigantes nuvens de poeira começam a se dispersar. Pensando que ela poderia ao menos enterrá-la depois se restasse um corpo, Ashuna olha atentamente para a poeira desaparecendo, mas a cena que emerge a faz duvidar de seus próprios olhos.
O enorme dragão vermelho, com sua massa elevada por uma enorme quantidade de Força Etérea, estava debatendo suas pernas e cauda.
“Hmm?”
Verificando mais atentamente, na verdade era Momo causando aquilo. Apesar do ataque que ela acabou de receber diretamente, Momo parece praticamente ilesa, e até prendendo o dragão pelo focinho com uma mão.
E essa nem era a parte mais estranha.
“...Hic!”
Momo estava chorando.
A tonalidade da Luz Etérea aprimorando seu corpo enquanto ela chora é mais profunda e escura do que jamais tinha sido.
Em meio aos soluços exagerados de uma criança chorando, houve um monótono crack.
Era o som do focinho do dragão sendo esmagado em um formato mais conveniente pelo aperto anormalmente poderoso de Momo.
“Waaah... WAAAAAAAHHH!”
No meio da intensa batalha, Momo começa a lamentar com um choro alto e deselegante.
Ela continua a chorar enquanto levanta o dragão com uma mão e o sacode, causando um enorme whoosh. O chão estremece com a massa gigantesca do dragão colidindo diversas vezes, mas Momo não dá atenção. Ela bate o dragão gigante em todas as direções possíveis, como uma criança fazendo birra com um travesseiro.
“Por quê!? Por quê!? Eu os protegi. Eu sei que protegi! Então cooomo...? Não é juuusto. Isso não... Waaaah! Não! Não! Não, está tudo errado! WAAAAHH!”
“Er, uh, Momo? Estamos no subterrâneo, lembra? Se continuar com is—”
“Cale a boooca! Desapareeeça! Morra!!”
“Whoa?!”
Com lágrimas escorrendo em suas bochechas, Momo arremessa o dragão diretamente em Ashuna. Ela consegue se esquivar, mas a fera colide com o dragão, fazendo ambos voarem até a parede com um poderoso impacto.
Sabendo muito bem o que teria acontecido se tivesse sido atingida, até a princesa sente um arrepio na espinha.
Enquanto isso, Momo nem olha os resultados de seu arremesso descontrolado. Ela apenas se abaixa e pega os laços carinhosamente.
“Wehhh... Hic... M-mas foi minha querida que me deu isso. O que eu faço...? Ela vai pensar que eu sou uma garota má q-que destrói presentes... Nãooo...não é justo. Nããããoooo!”
Apertando os restos dos laços em seu peito, Momo berra descontroladamente como uma criança.
Crianças choronas estão fora da área de especialidade da Princesa Cavaleira. Enquanto Ashuna hesita em um momento raro de insegurança, os olhos lacrimejantes de Momo encaram os dois monstros tentando sair da parede.
“Waaah... Waaaah!”
Fúria queima em seus olhos úmidos.
“É tudo culpa suaaa! Eles eram presentes da minha querida! Eles eram tão preciosos, tão, tããão importantes para mim! Morram, morram, morram! MORRAAAAAM!”
Momo puxa sua escritura bruscamente e a carrega com energia.
Força Etérea: Conectar—
Uma imensa quantidade de poder é extraída de sua alma para o livro.
Escritura, 1:4, Passagem Completa—
Momo continua a extrair cada vez mais do seu ser—mais do que quaisquer sacerdotisas conseguiriam produzir juntas.
Invocar [“O que está fazendo?” perguntou o rei. A mulher respondeu, “Estou cavando um poço.” A terra estava seca. O chão estava rachado. Havia areia por todo lado. O rei achou isso estranho. Não havia mais água neste chão. Por que aqui, no fim do mundo? O rei disse—
Para manifestar a conjuração que Momo estava tentando invocar, a escritura direcionou seu fluxo de energia fundo abaixo do solo para desestabilizar a veia terrena. Comparado a Menou, que fez algo semelhante por um instante sobre um trem em movimento, o controle de Momo é simplesmente inábil.
No entanto, a quantidade de poder que ela está usando é exponencialmente maior.
Ashuna deduziu o que Momo estava tentando fazer baseada na fonte daquele poder, fazendo seu rosto perder a cor.
“E-espera, Momo. Certamente você não—? A veia terrena—”
“Eu não me importo com bom ou mau.”
Momo não deu atenção ao tom de advertência de Ashuna.
“Eu odeio tudo, exceto a minha querida. Por mim, o resto do mundo pode simplesmente desaparecer. Deixar que tudo menos ela seja destruído. O mundo seria melhor se apenas ela restasse.”
[“—a água não surge. Esta veia está seca. O óleo, também. Não há paz. Não há ordem. O que poderia florescer neste mundo? O que poderia ser plantado? O que poderia ser encontrado? O que restou para ser desenterrado...?” A mulher respondeu, “Ela não está—
A veia terrena é debulhada.
Uma conjuração cerimonial normalmente requer múltiplas pessoas, mas Momo está reproduzindo-a sozinha em um curto tempo, ainda que numa escala muito menor.
A seção da veia que passa por baixo da capital ancestral Garm curva-se e desvia-se para a superfície, abaixo da conjuração de Momo.
“Como? Por quê? Eu amo tudo sobre a minha querida. Como pôde tirar seu presente de mim? Eu nunca, jamais vou te perdoar. Nunca!”
[—morta. Esta terra é cheia de poder. Se eu cavar mais e mais fundo, eu me depararei com a luz de grande poder. A verdade deste mundo. A raiz. A salvação irá nascer da força vital desta terra e subir até os céus, conectando-se por todo o—
Normalmente, conjuradores manipulam cuidadosamente o poder produzido pela veia terrena, mas o controle de Momo não chega nem perto de ser tão delicado.
Ela simplesmente a torceu até jorrar. Ela não faz nenhum esforço para controlá-la, na verdade, ela nem quer.
“Eu odeio tudo! Odeio todos! Odeio todo! Este Mundo! Estúpido!”
[—céu, e com a luz deste planeta, criará uma parede que certamente trará paz a todos.” O rei acreditou nela. Ele não foi abandonado. Ele reuniu o povo, cavou a terra, viu a luz e soube. Da esperança. Daquilo que conecta. Sim,—
Enquanto desencadeia uma conjuração numa escala muito maior do que um indivíduo, Momo chora e berra alto.
“Todos menos a minha querida deveriam morrer!!”
[—A vontade do Senhor é transmitida por todo o céu e terra, reinando vastamente.]
Do fundo da terra, até a superfície, a torrente de poder que jorra da veia terrena eleva-se cada vez mais, explodindo todo o salão cerimonial.
Diretamente acima de onde Momo invocou sua conjuração, no castelo real, um pânico sem precedentes eclodiu.
Parte do castelo, o qual vangloria uma história de mais de oitocentos anos, foi destruída de repente.
Uma explosão de luz vinda do subterrâneo abriu caminho abruptamente, quebrando a parte do castelo que estava reservada para turismo. Ninguém se feriu, uma vez que não estava aberto no momento, mas uma multidão de pessoas rapidamente se aglomerou para ver o que estava acontecendo.
Os cavaleiros vigilantes da área entraram em pânico, correndo para todos os lados, tentando encontrar a origem. Alguns deles sabem sobre o salão cerimonial no subterrâneo e suspeitam de que pudesse estar relacionado, mas eles não podem divulgar essa informação para o público.
Enquanto eles corriam para fora da construção para ter uma noção melhor da situação, os cavaleiros ficam incrédulos.
Sua própria Princesa Cavaleira Ashuna e uma sacerdotisa desconhecida estavam lutando contra alguma criatura estranha.
“Céus. Que exibição emocionante, Momo!”
Ashuna riu alegremente, tendo resistido à erupção de poder com um simples Aprimoramento. A explosão a fez parecer desgastada, mas nenhum dos ferimentos foi muito severo.
“Bem, depois de uma apresentação dessas, agora é a minha vez de ir com tudo! ...Afastem-se, ralé! Não posso prometer que sairão ilesos dessa!”
Foi um erro me segurar no caso de causarmos dano demais no subterrâneo, ela pensou com um sorriso. Se Ashuna ficasse séria, ela poderia demolir o que sobrou do castelo, mas...
“Enfim. Não é grande coisa.”
No fim, era apenas um castelo antigo que se tornou um local de encontro para os corruptos. As pessoas dentro parecem já ter fugido, então aniquilá-lo pode até fazê-la se sentir melhor, Ashuna raciocinou enquanto carregava sua lâmina.
Força Etérea: Conectar—Espada, Brasão—Invocar [Corte: Expansão]
A energia de Ashuna afluiu pelo brasão gravado em sua espada.
O enorme nível de força é demais para ser contido em apenas um brasão. Ela estava deliberadamente carregando-o com poder excessivo. Assim como a demonstração de poder de Momo, isso é muito mais do que um indivíduo comum deveria ser capaz de produzir sozinho, e isso resultou em uma conjuração muito mais poderosa que qualquer brasão normalmente manifesta.
A escritura de Momo conseguiu suportar o excesso de Força Etérea e invocou a conjuração com êxito, mas a espada de Ashuna era apenas uma pobre substituta.
Rachaduras começam a aparecer na espada, mas Ashuna as dispensa, continuando a alimentar a espada com poder. A lâmina estalou e quebrou—mas não caiu aos pedaços.
A luz mantém os pedaços quebrados da espada juntos, criando uma espada gigante, muito maior que uma arma normal.
“Pois bem, demônio.”
Enquanto a besta se contorce pela dor causada pela força da veia terrena, Ashuna levanta sua espada brilhante e sorri docilmente.
“Certamente, até você morrerá se for destruída sem deixar rastros, não?”
Ela brandiu a lâmina de luz.
Com seu ataque de corte expandido, a luz da espada corta impecavelmente o demônio e o reduz a pó—mas isso não foi tudo.
O corte da gigantesca lâmina corta diagonalmente o castelo meio avariado, proporcionando o golpe final.
Por um momento, a metade de cima do edifício deslizou para o lado que foi cortado. Depois desmoronou sob seu próprio peso, e no instante seguinte, o antigo castelo real começou a cair aos pedaços.
“Ha-ha-ha! Retalhar a história é certamente uma bela sensação!”
A Princesa Cavaleira riu cordialmente enquanto observava o antigo castelo real desabar.
Quando virou para ver como Momo estava, a garota ainda estava chorando.
“Precisa de ajuda?”
“Tá a fim de morrer?”
Momo não dá atenção aos barulhos estremecedores e às nuvens de poeira do castelo se esfarelando, muito menos olhou Ashuna nos olhos enquanto segura o dragão surrado com uma mão.
O castelo estava ruindo diante delas. Havia uma multidão de pessoas exclamando alarmadas enquanto uma construção significantemente histórica estava sendo destruída, mas para Momo, todas aquelas pessoas também poderiam morrer.
Ao contrário de Ashuna, que estava rindo alto, as emoções de Momo estavam um caos.
Lágrimas continuam a escorrer de suas bochechas enquanto ela condena o mundo. Ela segura o dragão abatido com sua mão direita, apertando os restos de seus laços na esquerda.
A única coisa mais importante para ela além dos lacinhos, é uma única pessoa. Momo considerou socar Ashuna depois que terminasse de cuidar desse dragão—até que ela se lembrou de que há alguém muito mais urgente para destruir.
Tudo isso foi culpa da arcebispa.
Ela se virou para a base da culpada e percebeu que havia uma barreira erguida ao redor da catedral.
Antes de tudo, por que ela se contém? Certos lugares, circunstâncias, e obrigações restringem o espírito de Momo.
Por isso seus laços queimaram.
Mesmo que ela queira espancar a fonte dos seus problemas, a barreira ao redor da catedral é muito firme.
Está bem, ela pensou, e carregou seus poderes na arma perfeita que por acaso estava agarrando em sua mão direita.
Força Etérea: Conectar—
A intrusão bruta de Momo se depara com uma violenta resistência do Dragão da Fúria.
Esse é o protocolo de defesa automática do soldado conjurado, projetado para defendê-lo de influência externa. Qualquer um que tente se conectar com ele fora dos meios aprovados, teria sua Força Etérea empurrada de volta, na tentativa de aniquilar seu espírito e corpo igualmente.
Menou se defendeu disso com sua escritura.
Mas Momo não possui esse nível de habilidade.
Então, em vez disso, ela forçou seu caminho com sua imensa quantidade de poder.
Dragão da Fúria, Conjuração de Selo Interno—
A Força Etérea de Momo subjugou o impulso do Dragão da Fúria e o expeliu.
A contracorrente foi empurrada a força de volta por ainda mais energia, permitindo Momo romper a energia energizando o núcleo do dragão e trocá-la pela sua própria.
A energia armazenada que mantém o soldado em forma de dragão funcionando foi ejetada, parando-o completamente. A Pedra Vermelho Primário deixou de servir como o núcleo do soldado conjurado, os forçando a retornar para seus estados de meros materiais.
Então Momo usou ainda mais da sua própria Força Etérea para carregar a pedra e começou a conjurar.
Pedra Vermelho Primário, Pseudo-Conceito da Cor Primária[Vermelho]—
Momo usou o material em suas mãos para descarregar seus sentimentos frustrados.
Invocar [Sol Falso]
A cor primária convocou um Pseudo-Conceito correspondente: Sol Falso.
É um sol vermelho artificial, que não produz calor nem luz. O estranho e irregular círculo que surgiu parecia com algo que uma criança poderia fazer usando tinta vermelha forte.
Todos os olhos na capital ancestral Garm se reúnem no sol artificial que apareceu de repente.
Porém, Momo os ignora, incluindo o olhar fascinado da Ashuna. Ainda soluçando, ela fixou seu olhar na catedral.
“É tudo culpa sua.”
Momo corre em direção à catedral, o pseudo-sol bidimensional ainda presente em sua mão direita. Com sua força e velocidade impulsionados pelo Aprimoramento, ela saltou sobre o fosso do antigo castelo real e deu um salto ainda maior.
Enquanto Momo se eleva no ar, seus olhos focam na torre do relógio da catedral.
Com seus oitocentos anos de história célebre, essa característica do edifício é considerada um símbolo pungente da Faust da nação. Fatorizando seu valor cultural, é muito inestimável para descrever.
Tudo isso é tão importante para Momo quanto o que ela comeu no café da manhã do dia anterior. Para ela, isso possui uma importância tão insignificante que ela poderia facilmente esquecer em torno de uma semana.
Chorando como uma criança, Momo levanta seu sol achatado sobre sua cabeça...
“Desapareça!”
... E colidiu seus sentimentos furiosos contra a barreira com o fogo do sol falso.
Menou estava lutando para ganhar tempo.
Usando dois brasões gravados em sua adaga, Fio Etéreo e Vendaval, ela desvia com movimentos erráticos. Jamais entrando no alcance de Orwell e seus servos demônio e anjo, Menou luta puramente para manter a mesma distância.
Puramente a fim de sobreviver.
Seu vigor está se esgotando lentamente, assim como sua fonte de energia. Orwell também não está tentando atacá-la com seriedade. Seu objetivo é capturar Menou viva, afinal. Ela apenas precisa esperar até que a garota fique sem forças e energia.
“... Isso é ridículo.” Menou resmungou sem pensar.
Orwell certamente é velha, mas ela também é uma conjuradora habilidosa que refinou seus talentos naturais, que já eram de alto nível, ao extremo. Sob circunstâncias normais, Menou nunca enfrentaria um oponente como este diretamente. Ela sorrateiramente se aproximaria pelas costas para atacar despercebida, ou fingiria amizade para ter a vantagem, ou o faria cair em uma armadilha para diminuir sua força.
Entretanto, sua inimiga supera qualquer uma de suas táticas de Executora habituais.
A arcebispa usou o pretexto de solicitar uma investigação para afastar Momo, atrair Menou juntamente de Akari para seu território e forçar Menou em uma batalha direta.
Desde o momento em que ela chegou nesta nação, ela estava dançando na palma da mão de Orwell.
Como a catedral estava selada com uma barreira, ela não conseguiria sequer fugir. Mas Menou teimosamente persiste, estendendo a batalha o máximo que pode.
Mesmo cercada por inimigos, ela sabia que podia contar com uma coisa.
E logo chegou a hora.
Tremores sacodem o salão cerimonial.
Poeira borrifa do teto. Não era um terremoto, mas sim um poderoso impacto na superfície que agitou a catedral inteira. Algum tipo de problema evidentemente aconteceu com os brasões de conjuração do edifício, desativando a barreira que estava prendendo Menou lá dentro.
“Mas o quê—?” Orwell começou.
“Eu tenho algo do qual me orgulho, sabia?”
Enquanto os tremores balançam o laboratório subterrâneo, Menou interrompe a arcebispa alarmada e corre em sua direção. Ela estava protegida pelo anjo flutuando ao seu lado, mas isso não importa.
Um pequeno sorriso surge em seus lábios com a mudança que ela estava esperando.
Menou escuta passos se aproximando do subsolo.
“Acontece que eu tenho a assistente mais talentosa de todo o—”
“Menou!”
“...O que você está fazendo aqui, sua imbecil!?”
Se dando conta de que não era Momo que estava chegando para ajudá-la como esperava, Menou rapidamente salta para longe de Orwell.
Era Akari, dentre todas as pessoas. Ela nunca aprende? Menou pensou, absolutamente perplexa.
“Caramba, Akari! Por que você está aqui!? O que acontece nessa sua cabeça de vento!?”
“Hã? Quê? Por que você está tão zangada com uma adorável garota que veio te resgatar!?”
“Porque você só vai me atrapalhar, não é óbvio!?”
Esta é a segunda vez que ela entra no caminho de Menou no meio de uma batalha, contando com o incidente no trem. Naturalmente, Menou fica surpresa.
“Argh! Eu falei para você fugir, não falei!? Eu sabia que você era idiota, mas isso é ridículo!”
“M-mas eu não podia apenas ir embora sabendo que você estava em perigo, Menou! Não é certo abandonar as pessoas. Eu quero ser legal com você, e quero que você seja legal comigo, também! Então eu não fiz nada errado!”
“Ótimo, então! Na próxima vez que eu lhe pedir para fazer algo, vou colocar uma coleira no seu pescoço para garantir que escute!! Está feliz?”
“Menou! Isso é um pouco pervertido demais pra mim! Mesmo se for com você, não acho que estou mentalmente preparada para isso! Vamos nos tornar mais íntimas primeiro, pode ser!?”
“Ah, cala-se!”
A conversação delas rapidamente desinflou a tensão do combate. Porém, Orwell estava tão espantada que nem tentou se aproveitar do momento. As sacerdotisas que cercaram Akari no salão cerimonial eram elites legítimas. Mesmo com a pequena oportunidade que Menou criou, elas não eram do tipo que deixariam sua presa escapar tão facilmente.
No entanto, aqui está Akari.
“Mas como—?”
Justo quando Orwell começou a expressar sua consternação, o teto tremeu novamente.
Dessa vez, foi mais do que apenas um tremor ou outro. Foi como se um gigante estivesse furioso na superfície, causando abalos massivos um atrás do outro. O teto do laboratório subterrâneo tremeu e começou a rachar. Quando Menou olhou para cima, viu as rachaduras se espalhando cada vez mais.
BUM. Uma baixa batida balança o chão e reverbera em seus ossos.
O teto do subsolo atingiu o limite. As rachaduras se abriram todas de uma vez, gerando enormes buracos, e finalmente caem completamente aos pedaços. As pedras se tornam escombros conforme desabam, enterrando o chão abaixo.
Menou e Orwell imediatamente ativaram os brasões de barreira em suas vestes sacerdotais para resistir à derrocada.
“Maldição. É um empecilho atrás do outro...!”
O rosto usualmente calmo de Orwell se distorce com desprazer com a investida de acontecimentos inesperados.
Ninguém menos que uma pequena garota com cabelos felpudos desce bruscamente pelos restos do teto.
Imediatamente, Menou agarra Akari e cobre seus olhos por trás.
“Um, Menou? O que foi? Algum tipo de fetiche com olhos vendados? Bom, acho que não é tão ruim... É, eu consigo lidar com isso. Certo. Vamos continuar evoluindo nosso amor com calma e carinho.”
“Não tenho interesse nessas coisas, então mantenha a boca fechada, por favor.”
“Uhum.”
Surpreendentemente, Akari espontaneamente selou seus lábios. Mais importante, a cavalaria que Menou antecipou antes finalmente chegou.
Porém, ela chegou de forma ainda mais violenta do que Menou esperava.
Ela fez um buraco com força bruta da catedral acima até esta área subterrânea. Ela quebrou a barreira. Menou pôde ver pelo buraco desmoronando que o teto da catedral foi explodido e a torre do sino destruída.
Menou gastou um momento calculando os danos, e então reparou algo muito mais preocupante.
Momo estava chorando.
Quando Momo está em prantos, ela perde quase todo o senso de razão. Seria perigoso demais ela causar uma destruição sem discernimento aqui. Ainda cobrindo os olhos de Akari, Menou desesperadamente tentar sinalizar Momo com seu próprio olhar.
Sua assistente abre a boca como se quisesse dizer algo, mas em seguida mantém ela fechada a força com visível esforço.
Embora ela fique essencialmente em modo frenético quando chora, Menou é a única pessoa que consegue alcançá-la. Esta é a principal razão do porquê Momo ainda usa um traje branco e é assistente de Menou, apesar de seu talento natural avassalador que facilmente a deixa em pé de igualdade com qualquer Executora completamente desenvolvida.
“... Hmph.”
Momo fungou, olhando para o modo como Menou quase parecia estar abraçando Akari por trás. Lágrimas escorrem de seus olhos enquanto ela luta contra a ânsia de exclamar perguntas, mas ela consegue se manter em silêncio para que sua voz não seja identificada.
Ela sabia o que Menou estava advertindo: Ela não pode deixar Akari ver seu rosto ou escutar sua voz.
Então, ela vira sua atenção para Orwell. E soca o anjo diretamente no rosto como se estivesse aliviando sua frustração.
“O-o que foi esse barulho...?”
“Não se preocupe.”
Os estrondos altos e maçantes, como se alguém estivesse fazendo algum trabalho de demolição com as mãos nuas, na verdade é o som de Momo puxando o anjo flutuante para baixo no ar e batendo-o no chão.
A reserva natural de Força Etérea de Momo é incrivelmente ampla—tão ampla que ela geralmente suprime a maior parte.
Normalmente, ao mexer com esta energia, a pessoa extrai o poder da alma e o controla com o espírito. Mas no caso de Momo, a quantidade de poder em sua alma é muito grande, então ela é cuidadosa em extrair apenas quantidades pequenas, para que seu espírito não entre em caos.
O que aconteceu, neste caso em particular.
Sem seu espírito para mantê-la sob controle, seu poder está praticamente jorrando de acordo com suas emoções cruas. Nesse estado, Momo não consegue parar até que utilize toda essa energia, então ela provavelmente se acalmaria no momento em que terminasse de socar o anjo até virar purê.
O problema é que a batalha ainda não acabou.
“Minha nossa... Você causou um problema e tanto.”
Com a catedral—sua sede—destruída, Orwell encara Momo com irritação.
“Vocês certamente são talentosas, não é? Mas ao passo que essa garota é assustadora... se ela apenas estiver em um frenesi, tenho certeza que ficará sem energia em breve. Então você ainda é minha principal prioridade, Srta. Menou.”
Mesmo sem seu protetor angelical, a arcebispa ainda possui a vantagem.
Ela tem o cajado sagrado com as três pedras das Cores Primárias e o demônio que ela estava sentada sobre para mobilidade. Os brasões na adaga de Menou e em seu traje sacerdotal não seriam o bastante para superá-la.
Além disso, ainda tem a questão da Akari. Menou mal conseguirá se mover enquanto a protege e cobre seus olhos.
“Hã? Ei, Menou, espera um pouquinho. Eu realmente vim num momento muito ruim?”
“Sim. Extremamente.” Menou suspirou. “Por isso eu falei para você fugir... Ugh. Por que você veio até aqui sabendo que seria perigoso?”
“É porque...”
Com seus olhos ainda cobertos, os lábios de Akari formam um biquinho.
“O lugar mais seguro que conheço neste mundo é ao seu lado, Menou.”
Por um momento, Menou não consegue responder. Ela tenta pensar em uma refutação, mas não consegue encontrar as palavras certas. Finalmente, ela resmunga em derrota.
“... Você é mesmo uma idiota.”
“Grrr. Você é tão má, Menou! Não poderia parecer um pouco mais comovida por essa frase!?”
“E de quebra é atrevida...”
Menou suspira fundo fundo com a atitude perpetuamente despreocupada de Akari.
“Mas suponho que está tudo bem, já que seu rosto me fez lembrar de algo.”
“Hã? O quê, é sério? Então estou sendo útil?”
“Eu imploro: Fique quieta por um minuto, por favor.”
“Mmph!”
Menou puxa a cabeça de Akari contra seus seios, mantendo seus olhos cobertos com um braço.
Não apenas para que ela não visse Momo—todo este cenário seria venenoso para a vida pacífica de Akari.
Ver seu rosto despreocupado fez Menou se lembrar do incidente na plataforma de trem na capital real.
Ela tem mais brasões para servir como meios de invocação do que apenas sua arma e vestes.
Menou usou sua mão livre para puxar uma única moeda de sua bolsa, em seguida abriu a boca e colocou a moeda de cinco sobre sua língua.
Força Etérea: Conectar—Moeda de Cinco, Brasão—Invocar [Bolha Etérea]
A moeda na língua de Menou começou a produzir bolhas.
São cristalinas bolhas de luz, criadas com a intenção de entreter crianças, do mesmo tipo que ela mostrou à Akari e àquela criança na estação. As bolhas Etéreas são difíceis de estourar e podem se mover suavemente com a vontade do conjurador, mas apenas isso.
Elas se multiplicam até preencher totalmente a visão de Orwell.
Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Fio Etéreo]
Menou usa o pouco de energia que lhe resta para ativar o brasão em sua adaga, inclinando seu braço para arremessá-la a uma curta distância.
“Seu apego por distrações também é idêntico àquela garota.”
Sentada sobre o demônio, Orwell facilmente desvia da adaga, e então sorriu sutilmente quando viu onde ela pousou.
A adaga perfurou uma Pedra Vermelho Primário que vazou do frasco quando este foi estilhaçado durante o desmoronamento.
“Ah, quanta engenhosidade. Você pensou nisso com muita minúcia, mas receio que tenha falhado.”
“Será?”
“Vamos, não precisa fingir...”
Ela assumiu que as bolhas eram uma distração enquanto Menou tentava usar o Vermelho via o fio Etéreo. Orwell riu, se divertindo com os esforços de Menou enquanto usava o demônio para cortar a fibra, mas sua expressão endureceu em seguida.
Menou não estava segurando a outra ponta da corda presa a adaga.
Ela ainda estava cobrindo os olhos de Akari com uma mão e segurando-a no lugar para evitar que ela se movesse com a outra. Com ambas as mãos ocupadas, Menou cospe a moeda de cinco que ainda estava em sua boca.
E então põe a língua para fora, como uma criança zombando de alguém.
A ponta de sua língua toca uma das bolhas flutuantes.
Elas se espalharam o bastante para preencher a visão de Orwell, mas algumas delas sorrateiramente se organizaram para formar uma única e contínua trilha.
“O verdadeiro truque está aqui.”
Orwell presumiu que as bolhas eram apenas uma distração, mas muitas delas se conectaram para criar uma linha, ligando-as a uma Pedra Vermelho Primário diferente daquela que a adaga perfurou.
Menou enviou poder através da bolha que sua língua estava tocando.
Força Etérea: Conectar (via Bolhas Etéreas)—
Sua energia flui através das bolhas até os materiais vermelhos no frasco.
Pedra Vermelho Primário, Pseudo-Conceito da Cor Primária [Vermelho]—
Os materiais feitos de cores primárias são um meio de invocação para conjuração de seu respectivo Conceito, da mesma forma que Orwell as utilizou previamente. Se elas não estiverem infundidas com a Força Etérea de alguém, elas não passam de recipientes vazios que qualquer um pode usar.
E embora ela não esteja no nível de Orwell, Menou é uma conjuradora com habilidades muito além da sua idade.
Invocar [Enganação, Fogo Infernal]
Uma manifestação artificial de chamas do submundo. Um ataque violento pelas costas, mas uma artimanha necessária para enfrentar uma oponente extrema como ela.
“Será preciso mais que isso... para me derrotar!”
Força Etérea: Sacrificar—Relva Rastejante, Corpo—Convocar [Pecado Original, Caveiras Aladas]
Orwell girou imediatamente, sacrificando o corpo do demônio abaixo dela para alterar sua forma para um novo demônio através da convocação. O demônio se transformou de um assento com várias patas para um enxame de pequenas criaturas escuras, que mordem as chamas que Menou convocou, se queimando porém resistindo.
“... Sim, sim. Um movimento muito astuto. Mas não o suficiente.”
Orwell vira sua atenção das chamas para Menou, carregando seu cajado com poder.
Força Etérea: Conectar—Cajado Sagrado, Tríade Primário—
Mas justo quando ela girou para lançar uma sórdida conjuração na direção de Menou e Akari—
—Orwell se vê frente-a-frente com uma sacerdotisa alta de cabelo vermelho escuro.
“... O quê?”
Orwell congela. A súbita mudança nos poucos segundos nos quais ela não estava olhando foi muito imprevisível para seus pensamentos processarem, e sua conjuração se desfez logo antes de sua execução.
É uma sacerdotisa de cabelos com cor de sangue fresco. Ela está segurando Akari. Sem dúvida, esta figura ameaçadora é a pessoa que sempre suspeitou de Orwell desde quando ela se entregou à escuridão das atividades proibidas.
“Flare?! Como...? Não, não é possível. Você se disfarçou de Srta. Menou desde o princípio para se aproximar de—?”
“Você estava certa sobre uma coisa.”
A imagem de Flare oscilou como uma miragem.
Houve uma espécie de ondulação através do espaço, e a aparência da sacerdotisa de cabelo vermelho transformou-se lentamente.
Quando a luz se desfez, ela se estabeleceu de volta como Menou.
“Eu sempre adorei uma boa distração.”
“O quê...?!”
A arcebispa arfou incrédula.
Manipular as partículas de luz individualmente para criar uma Camuflagem Etérea é uma técnica especial e avançada, desenvolvida por Flare. As pessoas imploravam para que ela as ensinasse em diversas ocasiões, mas nenhuma pessoa conseguiu dominá-la ao ponto de ser capaz de usá-la em campo.
Nem mesmo a própria Orwell.
“Mas aquela garota é a única pessoa capaz de manipular Força Etérea desse modo—”
“Receio que não. Certamente não estou no nível da Mestra, mas consigo usá-la em batalha.”
Foi graças ao conhecimento de Orwell sobre a personalidade da Mestra, e a dificuldade de sua técnica, que ela chegou à conclusão absurda de que Menou era seu disfarce desde o início. Flare é o tipo de pessoa que realmente poderia fazer algo dessa natureza para enganar a arcebispa.
Embora Menou não consiga manter seu disfarce como outra pessoa enquanto se move, ela é capaz de manter a ilusão de forma suficientemente eficaz enquanto imóvel.
Afinal, a primeira técnica que lhe foi ensinada exaustivamente foi a Camuflagem.
“Foi por eu ter aprendido esta técnica que sou conhecida como Flarette.”
Menou foi profundamente instruída sobre conjuração em uma ordem bizarra, diferente de uma educação normal. Mais importante, ela havia sido apagada, ao ponto de conseguir absorver esses ensinamentos como um material dentro de si. Foi por conta desses dois fatores que Menou foi capaz de dominar a Camuflagem, embora imperfeitamente.
Havia mais um fator—o mais perigoso de todos—que passou despercebido por Orwell.
A pessoa mais perigosa na sala não é Momo, que estava espancando um anjo; ou Orwell, a arcebispa que cometeu um tabu; nem mesmo Menou, que pode manipular a Camuflagem.
É a Ádvena convocada.
Menou não é tão gentil para contar ao seu oponente toda a verdade sobre sua estratégia planejada. Todos os outros truques serviram apenas para distrair Orwell da existência de Akari por tempo suficiente para Menou executar seu real movimento.
“Vamos, Akari.”
“Tá... Mmn!”
Menou usou sua Força Etérea para extrair poder da outra garota, fazendo os ombros de Akari contraírem e seu corpo se contorcer como se estivesse recebendo cócegas.
Esta foi a verdadeira estratégia que ela pensou quando Akari chegou.
Força Etérea: Conectar—
Claro, quando se está tentando usar o poder de outra pessoa, normalmente tanto o usuário quanto o recipiente sofrem danos em seus espírito e alma—mas não essas duas.
Desde seu renascimento, Menou é capaz de aceitar os espíritos e almas de outras pessoas.
E Akari entregou sua alma e espírito para Menou com uma confiança incondicional.
Assim como no trem, Akari usou a magia de Akari para invocar uma conjuração de alta potência. Sem sua escritura, ela teria que usar os brasões em sua adaga, mas os latentes níveis da Força Etérea de Akari superam de longe até os de Momo.
Orwell ainda estava abalada pela Camuflagem. Isso demonstra o quanto a imagem de Flare é ameaçadora para ela. Em sua atual condição, ela não seria capaz de manipular a complexa conjuração dos Conceitos das Cores Primárias. Ela provavelmente conseguiria usar brasões simples, mas isso não seria um problema. Se Menou usasse bastante do poder de Akari para invocar Vendaval e arremessar sua adaga, ela conseguiria atravessar as múltiplas barreiras de Orwell.
Menou estava segura de sua vitória até o momento seguinte.
“É realmente uma pena, Srta. Menou. Você estava tão perto.”
Força Etérea: Auto-Conectar (Condições Atendidas)—Catedral, Brasão de Conjuração de Construção da Igreja—Invocar [Barreira de Proteção VIP]
Em um piscar de olhos, a barreira da catedral foi ativada, e Luz Etérea brilhou ao redor de Orwell, protegendo-a.
Menou arregalou os olhos.
Não foi a vontade de Orwell que invocou essa conjuração. A barreira da catedral foi construída com condições que se ativariam automaticamente. Muito provavelmente, a destruição de sua barreira externa por um ataque de fora era uma condição para construir uma barreira ainda mais forte, protegendo as pessoas mais importantes no interior.
Isso é péssimo. Menou começou a ficar nervosa.
A poderosa barreira que protegia toda a catedral está concentrada em uma única pessoa. Mesmo com a Força Etérea de Akari, Menou não conseguiria quebrar sua firmeza. Ela consegue antecipar isso muito bem por conta de sua habilidade de medir precisamente a quantidade de poder em uma conjuração.
Menou cerra os dentes. Ela deveria ter previsto isso. Ela viu os brasões na catedral durante sua primeira visita. Ela não conseguiu analisar todos eles, mas reparou que não havia apenas uma barreira exterior, mas também uma que funcionava no interior.
Ela foi leviana.
Orwell sorriu triunfantemente e começou a carregar seu cajado sagrado vagarosamente.
Força Etérea: Conectar—
Menou hesitou.
Ela sabia que estava prestes a fazer algo que não devia.
Mas não lhe restam opções. Ela precisa escolher. Foi isso que sua Mestra a ensinou.
Tomando o juízo rápido de que ela precisa usar uma jogada proibida se quiser vencer, ela age imediatamente.
Akari Tokitou, Puro Conceito [Tempo]—
Menou mergulhou ainda mais fundo em sua conexão com Akari do que quando o fez no trem. Pegar emprestado a energia de Akari por si só não seria o suficiente para quebrar a barreira de Orwell. Então, ela precisa recorrer ao Puro Conceito que está indevidamente vinculado à alma de Akari.
A energia de Menou faz contato com a alma de Akari.
E então, naquele instante, seu espírito caiu em um abismo profundo.
Nem houve tempo para resistir. O espírito de Menou foi completamente surpreendido. A cronologia de sua consciência virou um caos, e o passado e presente de Menou se tornam impossíveis de distinguir. Ela não consegue mais dizer onde está ou que horas são. Não havia mais um relógio interno para recorrer.
Naturalmente, ela não é capaz de conjurar nesse estado. Este é um reino no qual nenhuma consciência humana deveria entrar.
Ela fez uma aposta e perdeu.
A consciência de Menou se afasta do mundo exterior e se aprofunda mais fundo dentro de si mesma, arrastada para os confins do tempo.
Quando ela abriu os olhos, Menou era seu eu mais jovem, de pé em um reino puro branco.
Ela era uma criança novamente, com seu cabelo comprido e bagunçado. E mesmo assim, ela carrega sua escritura na mão esquerda e sua adaga na mão direita.
O líquido gotejando de sua adaga lentamente mancha o cenário em carmesim.
Menou não sabe onde está—ou nem quando. Sua noção de tempo está toda perdida em um confuso emaranhado.
Sem rumo, Menou começa a vagar pela terra branca.
Ela não tem um destino, nenhuma noção de direção, e nenhum ponto de referência para seguir. Ela simplesmente continua colocando um pé à frente do outro. Não importa o quanto ela caminhe, não há nada além de neve ao seu redor. Seus pés afundam com cada passo, tornando o progresso cada vez mais difícil. Ela não consegue ver nada além de uma infindável branquidão. Ela estava indo na direção errada, ou nem sequer deveria estar andando? Menou não tem mais noção do que é certo ou errado, mas ela continua.
Por quanto tempo ela deve ter andado?
Eventualmente, ela vira para trás e olha para a sua trilha.
Em meio ao cenário branco, a rota que ela tomou sozinha estava tingida de vermelho do líquido derramando de sua adaga.
“......”
Olhando para a sua trilha manchada de vermelho, Menou é sobrecarregada pela terrível noção de vazio.
Talvez eu devesse morrer.
O pensamento veio naturalmente.
Não é como se ela nunca tivesse se perguntado se tinha ou não escolhido o caminho errado, como sua Mestra havia dito.
Embora ela tivesse declarado que se tornaria uma vilã, ela é incapaz de se desassociar de tudo. Ela se gabou de que sujaria suas mãos pelo bem de outras pessoas, porém ela ainda ansiava ser uma sacerdotisa pura, justa e forte.
E continuou a matar pessoas.
Recordando-se de sua vida perpetuamente contraditória, Menou lentamente levanta a ponta de sua adaga para o seu pescoço.
Ela foi engolida pelo Tempo, caminhando em seu próprio mundo interior em um estado estranho e suspenso. Ela continuou andando e andando, mas no fim, ela não consegue encontrar.
Ela não consegue encontrar a cidade onde ela nasceu.
Os pais e amigos que ela certamente deve ter tido estavam todos enterrados em um branco infinito. Até a trilha que ela percorreu sobre eles estava tingida com um vermelho escuro.
Se isso era tudo que havia, então Menou achou que talvez seu nascimento nem tenha valido algo.
Uma vez a cada lua azul, Menou tem um certo sonho.
O sonho se passa em alguma sala de aula no Japão em uma escola que ela nunca foi.
Todos usam uniformes diferentes. Tem estudantes com jaquetas, blazers, uniformes de marinheiro... Apesar das suas vestimentas estarem em discordância, por algum motivo, nada parece fora do lugar.
Quando ela entra na sala, todos param de conversar e olham em sua direção.
É um espaço quente—sem conflito algum. Ninguém está empunhando armas. Ao invés de estarem imersos em seus estudos, todos estão livres para passar o tempo da maneira que preferirem.
Quando ela os cumprimenta, eles a recebem com sorrisos amigáveis, conversando sobre nada em particular.
Ela é amiga de todos na sala, e entre eles está sua melhor amiga.
Elas são muito íntimas. Não há segredos entre elas. Ver sua amiga alegre a deixa feliz. E quando ela está de bom humor, sua amiga também fica feliz. Elas se entendem porque ela sabia do passado trágico de sua amiga e a mesma tem ciência dos arrependimentos de sua colega.
Ela conversa com sua melhor amiga sobre nada em especial enquanto esperam a aula começar.
É um sonho ridículo, claro, e ela nunca poderia contar a ninguém sobre ele.
Mas quando ela matava alguém e tinha este sonho, na manhã seguinte, ela sempre se perguntava: Talvez se eu morrer, eu também possa ir para aquela sala de aula.
Menou estava prestes a cortar sua artéria carótida com a lâmina de sua adaga quando algo aconteceu.
“Está tudo bem.”
A mão de outra pessoa deteve a dela.
Ela olhou para cima confusa, e de algum modo, trocou olhares com Akari.
Sem Menou perceber, o mundo branco ao seu redor havia desaparecido. Reparando que agora ela estava em algum lugar completamente diferente, Menou olhou ao redor.
Elas estavam dentro de um edifício. Havia um quadro negro à frente decorado com rabiscos de giz, fileiras de carteiras desgastadas pelo uso prolongado, e a suave luz do pôr do sol iluminando através das janelas.
Menou nunca tinha visto este lugar antes. Mas por alguma razão, ele é incrivelmente nostálgico.
De pé em uma sala de aula japonesa, vestindo um uniforme de marinheira, Akari olha para Menou como se soubesse tudo sobre ela e gentilmente retira seus dedos da lâmina que estava apontada para sua própria garganta.
“Está tudo bem—não se preocupe. Não importa o que aconteça, não importa o que qualquer um diga ou faça, ou no Tempo que for...”
O tom sério de Akari é muito diferente da garota despreocupada que Menou conhecia, e ela fala com absoluta certeza.
Pegando a adaga de Menou e a jogando para o lado, Akari abraça Menou fortemente e murmura uma promessa em seu ouvido.
“Eu sempre serei sua melhor amiga, Menou.”
A lâmina faz barulho ao colidir com o chão.
Menou abre os olhos.
Sua consciência foi puxada de volta para a realidade. As rédeas de seu espírito, que haviam sido engolidas pelo Puro Conceito, retornaram.
E quase nenhum tempo se passou.
“... Certo.”
Ela fecha os olhos por apenas um segundo e os abre novamente.
Claro que ela não conseguia encontrar um lugar ao qual pertencesse no mundo dos sonhos. Ela perdeu sua cidade natal assim como suas memórias dela, mas ela ainda começou a caminhar. Seu eu mais jovem, no meio daquela terra branca de sal, olhou para sua Mestra de cabelo vermelho e tomou uma decisão.
Sua razão para viver, o lugar onde ela pertence—tudo estava bem em seus braços.
Ela é uma Executora, que existe somente para destruir entidades proibidas.
Akari perdeu a consciência, provavelmente porque alguém tocou sua alma. Menou aperta a garota inconsciente com força e sussurra silenciosamente em seu ouvido, apenas porque sabe que ela não pode escutá-la.
“Obrigada, Akari.”
Se livrando de suas incertezas, Menou foca seu olhar em Orwell.
A arcebispa já havia terminado de preparar sua conjuração de ataque, apontando seu cajado para Menou e Akari.
Orwell é uma herege que manchou suas mãos com o inconcebível com o propósito de escapar da velhice. Agora que ela extraiu o Puro Conceito de Akari, Menou lançou um ataque que serviria como uma morte apropriada para a mulher idosa que almejava a juventude.
Invocar [Envelhecimento]
Invocar [Cores vivas, tonalidades do paraíso, todas as matizes e sombras]
Menou usou o Puro Conceito de Akari para invocar uma conjuração e lançá-la diretamente contra Orwell.
Ao mesmo tempo, a arcebispa lançou seu próprio ataque com seu cajado.
É ofuscante e destrutivo. Apesar da arcebispa ter atacado depois, seu disparo colorido segue suavemente, drenando a tonalidade de tudo que toca e destruindo.
Mas o Puro Conceito de Tempo rejeita o Conceito das Cores Primárias.
Nem houve um momento para resistir—não havia concorrência alguma. A Luz Etérea puro-branco que foi disparada por Menou e Akari engoliu o ataque de Orwell completamente. Sem perder sequer uma fração de sua velocidade, o Puro Conceito acelerou em linha reta, atravessando a barreira da catedral, a qual estava protegendo a arcebispa.
A Luz Etérea que as duas produziram juntas acertou Orwell diretamente.
“Ah...”
O corpo de Orwell começou a envelhecer rapidamente. Sua pele já enrugada perdeu toda a umidade e começou a rachar, seus músculos se atrofiam em segundos, e suas pernas perderam as forças, a forçando a rastejar no chão.
“Aaaah...não... Eu estava tão peeerto...!”
Arrastando-se no chão, a velha agonizante ergue seu braço na direção de Menou.
“Eu não sou...como você. Eu não...matei ninguém...salvei tantos...então...eu devo viver... Eu mereço...”
“Arcebispa Orwell.”
Enquanto a velha mulher está à beira da morte, Menou aponta sua adaga para a testa de Orwell quando seus olhos se encontram.
“Com toda essa sua ambição, com sua meta bem na frente de seus olhos... Por que você não usou sua escritura?”
“Ah...”
A escritura é a arma mais confiável de uma sacerdotisa.
Certamente, as pedras das Cores Primárias são uma arma formidável, mas se Orwell tivesse combinado isso com as conjurações versáteis possíveis através do meio de invocação, sem dúvida ela poderia ter encurralado Menou de forma que ela não conseguisse escapar.
Ela convocou demônios, criou anjos e controlou as cores primárias, mas do começo ao fim, Orwell não usou sua escritura em momento algum.
“Ah sim... Heh. De fato.”
De repente, a determinação obstinada desapareceu do rosto de Orwell.
“Eu pensei que tinha que deixá-la de lado, suponho. A princípio, eu aceitei a escritura porque queria ser o tipo de pessoa que ajuda as outras, entende? Mas em algum momento ao longo do caminho, isso se transformou em um gigantesco ego. Os clamores por salvação se agarram à mim e consumiram meu coração.”
Ela salvou muitas pessoas. Ela tentou manter sua fé como uma sacerdotisa, mas ela envelheceu e apodreceu, se tornando incapaz de suportar completamente o pesado fardo.
Em busca da verdade, a única pessoa que ela não pôde salvar foi a si mesma.
“Eu pensei que se abrisse mão de tudo que eu acreditava, tudo que fosse correto e belo, talvez eu pudesse encontrar uma maneira de viver. Eu esperava entender o significado da minha vida, algo que eu não conseguiria compreender em uma vida puramente justa... Diga-me, Srta. Menou.”
Parando de rastejar, Orwell ri uma última vez.
“Como sua vida é tão oposta à minha, talvez você saiba a resposta?”
“... Eu não sei.”
Menou não conseguiria entender.
Desde o início, ela nunca analisou seu estilo de vida.
Ela sempre e simplesmente matou pessoas pelo bem de outras.
Orwell sorriu tenuamente.
“Entendo. Bom, espero que você consiga encontrar o que eu não pude. Na verdade, tenho certeza de que irá, embora eu odeie admitir. Continue caminhando para que encontre-o algum dia...”
Enquanto ela lentamente, mas seguramente, perde sua energia vital, a arcebispa, que foi tão longe ao ponto de matar pessoas com o propósito de escapar da velhice, silenciosamente transmitiu suas últimas palavras para Menou.
“Você encontrará...o seu estilo de vida.”
Com essa benção final, Orwell dá seu último suspiro.
Tudo o que restou foi o corpo definhado de uma mulher idosa, vestida com um traje puro-branco de uma bispa.
Um pouco distante dali, Momo ficou sem forças para continuar socando o soldado em forma de anjo e desmaiou. Ela não parecia estar seriamente ferida. Após uma boa noite de descanso, ela deve ser capaz de se mover novamente sem problemas.
Acabou.
Ao confirmar que tudo havia terminado, Menou se inclina para trás e olha para o céu.
Elas estavam no subsolo, mas a luz vem até elas de cima.
A Luz Etérea da veia estral que protegeu Garm brilha pelo buraco que leva à superfície.
Misteriosamente, o feixe está centralizado diretamente no corpo da arcebispa.
“......”
Menou deu um passo para trás—se afastando da luz e mergulhando nas sombras.
Onde ela pertence.
Enquanto ela se mantém em pé na escuridão onde a luz não pode alcançar, ela oferece uma prece à falecida.
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