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Capítulo 3 - Faíscas Dispersas no Baile Noturno
Tradução: Gabrielfsn
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NT: O termo “convocar”, no contexto de conjurações, foi substituído por “evocar”.
Ofegante, Menou rapidamente tirou os cobertores.
Ela era uma Executora treinada. Mesmo se ela estiver em um estado de sono profundo, ela pode despertar completamente no momento em que sente perigo.
Ela sentiu que estava sonhando com o passado, mas os últimos vestígios de seus sonhos foram expulsos de sua mente pela realidade. Ela rolou para o lado e caiu da beirada da cama. No meio segundo que levou para cair, ela apoiou-se com a mão para reduzir o impacto e aterrissou agilmente com os dois pés.
Alguém acabou de me atacar? Ela olhou para sua cama e congelou em espanto.
Algo pesado havia acabado de aterrissar onde Menou estava dormindo instantes atrás.
Era Akari, quicando no colchão com molas.
“Aw, você desviou. Bom diiia, Menou!”
O que ela está tentando fazer? Tendo mergulhado na cama onde Menou estava dormindo, Akari senta-se e acena alegremente.
Menou, que ainda estava em postura de batalha no chão, soltou um suspiro e endireitou-se. Ela entrou em modo combate à toa. Seus ombros afundam e ela encara Akari.
“Por que fez isso, Akari? Estava planejando me esmagar com o peso extra que você ganhou?”
“Espera, o quê!? De onde você tirou isso!? Eu não ganhei peso! ... O-ou ganhei?”
“Eu não vou dizer. É importante ser auto-consciente.”
“Quêêêê—?!”
Menou mantém sua voz calma. Se tem uma coisa que ninguém sabe de onde veio, foi aquele ataque surpresa.
Ela foi atacada de repente durante seu sono. Por que ela não ficaria chateada? Virando com um “hmph,” ela começou a se arrumar, lavando seu rosto e vestindo sua túnica de sacerdotisa. Essa pousada não tinha nenhuma balança ou algo do tipo, é claro. O único ponto de comparação em uma jornada como essa era seu próprio eu do dia anterior.
Enquanto Menou trocava de roupa e prendia seu cabelo com a fita, Akari beliscou sua própria barriga nervosamente e soltou um suspiro de alívio.
“Estou perfeitamente ótima. N-não brinque assim comigo! Você não estava acordando, então pensei em te ajudar, só isso.”
“E não conseguiu pensar em uma forma melhor de fazer isso?”
“Eu apenas me deixei levar pelos meus sentimentos por vo—aí!?”
Ela estava com uma expressão mansa para alguém confessando intenção criminosa. Menou decidiu não perdoá-la, então aplicou uma retribuição em forma de um peteleco na testa.
Akari segurou sua cabeça em lágrimas e mostrou um olhar reprovador.
“Ehhh... Mas eu achei meio estranho. Você nunca dorme até tarde.”
“... Isso é verdade.” Menou tinha muito o que pensar sobre a noite anterior.
Pelo que ela soube posteriormente, os homens que ela entregou aos cavaleiros no dia anterior, de repente se transformaram em monstros e enlouqueceram. Felizmente, os cavaleiros conseguiram derrotá-los antes de causarem qualquer casualidade, mas esse não era o problema.
“Esse trabalho está tomando uma forma mais incômoda do que eu esperava.”
“Ah, é?”
“Estou investigando essa droga perigosa chamada monstrina, então... Escute, Akari. Se um estranho lhe der uma pílula vermelha, certifique-se de não ingeri-la, está bem?”
“Nem eu aceitaria algo tão suspeito... ”
Era seguro assumir que a transformação dos homens em monstros se deve à monstrina.
Uma propriedade perigosa do Pecado Original é sua habilidade de corroer e dominar outro material. Em outras palavras, se alguém fosse capaz de converter o Conceito de Pecado Original para uma forma de pílula, então seria possível transformar qualquer um que a consumisse em um monstro.
Os usuários de monstrina não estão realmente sendo fortalecidos fisicamente. Suas formas físicas estão mudando de humano para monstro, e o fortalecimento é meramente um resultado disso.
Então a Fourth não estava de fato usando a monstrina para tentar arrecadar dinheiro. Ao circulá-la por toda a cidade, eles poderiam transformar as pessoas inocentes que a estavam consumindo em monstros e cometer terrorismo em uma escala massiva. Essa droga é realmente muito perigosa.
Isso explica porque havia tantos monstros aparecendo em Libelle ultimamente. Quando Menou relatou isso à Sicilia, ela imediatamente começou a investigar o estado da distribuição de monstrina e começou a apreender qualquer um que tivesse ingerido a droga. Felizmente, ainda não havia chegado ao porto de fato, mas ainda havia muitos motivos para se preocupar.
A escala desse incidente estava se tornando muito maior do que o que elas imaginavam inicialmente.
“De qualquer forma, tenho muito mais trabalho a fazer.”
“Hmm?” Akari simplesmente inclinou sua cabeça, curiosa.
“O que significa isso, Lady Manon?”
No início da atual reunião emergencial, a qual tem sido realizada diariamente desde a chegada de Flarette, Manon foi imediatamente acusada por outros membros da Fourth.
Geralmente, eles apenas tratavam sua presença como uma formalidade, mas agora todos estavam olhando para ela. Manon piscou diante da inusitada mudança de eventos.
“Do que está falando?”
“Do ataque, obviamente! O fracasso foi lamentável, mas... por que eles viraram monstros, incluindo o Kaiser!?”
“Kaiser... ?” As sobrancelhas de Manon se aproximam em concentração por um momento enquanto ela vasculha suas memórias.
Kaiser. Quem era mesmo? O nome parecia familiar. Definitivamente não era alguém importante, mas ela também suspeita que não era um completo estranho.
Após repetir esse nome em sua cabeça algumas vezes, ela conseguiu se lembrar.
“Ah, sim, Kaiser. Sr. Kaiser, não é? Sim, eu me lembro agora.” Ela bateu suas mãos juntas suavemente ao se recordar.
Era aquele homem robusto que Manon transformou em monstro na tarde de ontem quando o mesmo fracassou com seu ataque surpresa. A cena toda era tão insignificante que ela esqueceu completamente.
Satisfeita consigo mesma por se lembrar, Manon pressionou suas palmas juntas e sorriu.
“Por acaso eu estava passando por ali, apenas isso.”
“Passando, você diz... ?”
“Ah, sim. Eu estava coincidentemente na região durante o ataque. Seria problemático para todos vocês se o Sr. Kaiser vazasse informações valiosas, não seria? Então, como uma integrante da Fourth que sou, resolvi tomar medidas preventivas. Flarette também estava lá, então achei melhor tratar de tudo prontamente.”
Manon sorriu e os demais executivos da Fourth ficaram chocados em silêncio.
Suas expressões não estavam encontrando culpa em Manon, exatamente. Eles pareciam estar tentando e falhando em descobrir a melhor forma de abordá-la.
“Lady Manon. Foi a srta. quem propôs inicialmente a distribuição de monstrina. Não foi?”
“Sim, correto.”
“A monstrina é incrivelmente viciante e seus usuários se sentem eufóricos. Foi isso que a srta. nos disse quando trouxe o receptáculo Etéreo que a produz.”
“Sim. A droga que temos distribuído foi adaptada para ter esses efeitos, então ela funciona conforme sua descrição.”
“Distribuí-la por toda a cidade nos dará acesso à capital. E se necessário, nós podemos usar os cidadãos que ingeriram a monstrina como reféns para conter a Faust. Como último recurso absoluto, nós podemos transformá-los em monstros para aumentar nosso número de peões e usá-los para confrontar a Faust e os cavaleiros diretamente. Não foi isso que a srta. nos disse?”
“Acredito que sim.”
Todos aqui não levavam a jovem Manon tão a sério. A Fourth em Libelle, afinal, eram principalmente amigos e aparentados da casa de Libelle. Como eles conheciam Manon desde sua infância, e ela não demonstrava sinais de levar as reuniões a sério, eles naturalmente faziam pouco caso dela.
Mas agora, tudo isso mudou.
“Então por que Kaiser se tornou um monstro!? Não faz sentido!”
“Ahh, entendo o que está querendo dizer.”
É claro, todos os líderes atualmente presentes sabiam dos riscos da monstrina, embora pudesse não ter ficado claro para os membros menores da Fourth. Consumí-la daria ao usuário um corpo musculoso e sensação de onipotência, mas isso era apenas um efeito colateral de sua lenta transformação física em monstros. Se uma pessoa soubesse do eventual destino dos usuários de monstrina, ela obviamente nunca usaria a droga em si mesma.
Então por que um dos líderes se transformou em um monstro?
A razão era simples. Manon apontou para a comida na mesa com seu leque.
“Eu misturei essa comida com monstrina.”
Essa era uma das razões deles terem chegado a uma conclusão tão irracional na reunião de ontem.
Todos ingeriram monstrina por meio da comida na mesa. A intoxicação resultante e a excessiva sensação de poder foi o que levou eles a optar por um ataque tão imprudente e agir imediatamente.
Gritos raivosos preenchem a sala.
Afinal, Kaiser se tornou um monstro, entrou em fúria desenfreada e foi eliminado pelos cavaleiros. Além de estar declarando inequivocamente que foi ela quem o transformou em um monstro, Manon acabou de revelar que todos eles também haviam ingerido a droga. A aterrorizante constatação de que qualquer um deles poderia virar um monstro estava percorrendo seus nervos.
“Sua maldita! O que diabos está pensando!?”
O sorriso calmo de Manon permaneceu inalterado.
“Acalmem-se, por favor.” Ela tirou uma pílula vermelha de sua manga.
Força Etérea: Sacrificar—Conluio do Caos, Puro Conceito [Maldade]—Evocar [Corda de pular enroscada]
A pílula vermelha desapareceu da palma de Manon.
“O quê?!”
Dessa vez, surgiram gritos de choque.
Um dos membros sentado na mesa redonda—uma mulher—teve seus braços extremamente torcidos. Seus ossos quebraram. Suas juntas dobraram em ângulos aparentemente impossíveis. Como uma corda com nós, seus braços se moveram anormalmente e começaram a se enrolar lentamente no próprio pescoço da mulher.
Ela tentou resistir, mas eram seus próprios braços que a estavam estrangulando. Movida por puro desespero, ela levantou seus pés e tentou encaixá-los entre seu pescoço e seus braços. Conforme ela se enrolava e batia as pernas, ela parecia muito uma formiga lutando para não se afogar.
“Ah... brghh... ”
Finalmente, a mulher sufocou e parou de se mover completamente.
“Agora, mais alguma queixa?”
A sala de reuniões ficou em um silêncio mortal.
Mas um corajoso homem idoso disparou um olhar odioso em Manon.
“Como se atreve! Você é apenas um fracasso que não foi sequer capaz de herdar o poder de sua mãe... O Conde Libelle estar acamado também foi obra sua!?”
“... Que rude. Eu ainda sou uma filha perfeitamente obediente, fique sabendo.” Manon encolheu os ombros. “É simples, na realidade. Eu fui solicitada a propagar a monstrina em troca de pegar poder emprestado para realizar minha vingança, então eu queria que o máximo de pessoas possível a consumisse.”
“Vingança, você diz?” O rosto do homem idoso distorce em surpresa. “Mas o Conde Libelle nunca... Espere. Não me diga que você vendeu a Fourth para as mãos de um forasteiro!?”
“Vender... ? Quem no mundo seria tão generoso para comprar uma organização tão imprestável?” Manon balançou sua cabeça, incrédula que os membros da Fourth ainda se consideravam tão valiosos. “Essa foi minha própria decisão.”
“Isso é conversa fiada! Como se uma pequena garota como você pudesse causar tal agitação por conta própria! Quem realmente está por trás disso!?”
O homem idoso ficou ainda mais nervoso.
Ele surpreendentemente estava próximo da verdade, mas completamente fora da marca ao mesmo tempo.
“Flarette está aqui... a aprendiz de Flare, que tirou a vida da minha mãe. Aquela terrível mulher que a matou porque ela era uma perdida... Como filha, é apenas de natureza humana que eu deva responder de acordo, não?”
Olhando niveladamente para os membros pálidos, Manon continuou indiferentemente.
“E então eu realizei certos preparativos para o baile que acontecerá amanhã à noite no Castelo Libelle. Certifiquem-se de comparecer.”
Ela não se importava com o que nenhum deles pensava.
Essa vingança era o desejo de Manon e de mais ninguém.
A luz do sol do entardecer lança um vermelho profundo sobre a paisagem.
Nesta cidade portuária, o vento muda com base no horário do dia. À noite, ele diminui para uma leve brisa em direção ao mar. Em um beco escuro entre as longas sombras de dois prédios, um borrifo de sangue jorra no ar.
“Gah!”
Esse grito amedrontado veio de um jovem rapaz no fim da adolescência.
Esses jovens eram delinquentes de Libelle, garotos arrogantes que pensam ser os lutadores mais fortes do mundo. Achando a vida pacífica muito entediante, eles se uniram em busca de emoções baratas e entusiasmo, cometendo atos iníquos sempre que conseguiam escapar dos olhos vigilantes de cavaleiros e sacerdotisas.
Verdade seja dita, eles eram a epítome da imprudência juvenil. E embora eles normalmente fossem cheios de confiança infundada e arrogância, nesse momento, todos eles estavam pingando sangue, com os rostos preenchidos de medo.
Diante deles estava uma garota, cuja adorabilidade estava completamente descabida.
Seu cabelo rosa estava preso em duas trancinhas com elásticos combinando. Estatura pequena e vestida com um traje de sacerdotisa branco, ela se dirigiu aos jovens rapazes com uma fala mansa.
“Já não é hora de confessar?”
Essa garota era fundamentalmente diferente das sacerdotisas que eles conheciam. Ela era violenta sem um sinal de hesitação. Não havia piedade ou compaixão em sua voz. E acima de tudo, a arma que ela estava empunhando era indescritivelmente sórdida.
Era uma serra.
Os jovens rapazes já estavam com lacerações por todo o corpo. Os ferimentos não eram particularmente profundos; seria difícil infligir dano apenas brandindo a fina e flexível lâmina.
Mas isso não mudava o fato de que seus ataques eram muito dolorosos.
Como a arma era destinada a serrar coisas, não cortá-las, ela causa uma dor maçante que atormenta o cérebro. Geralmente, uma luta daria a esses rapazes um pouco de entusiasmo, mas a dor de sua serra rapidamente esmagou o desejo deles por batalha.
“C-como assim, ‘confessar’? Quem diabos é você!?”
“Eu pensei que já tinha explicado essa parte... ” Revirando os olhos para os jovens nervosos, ela irritadamente explicou seu propósito. “Estou procurando pela Fourth que habita nesta cidade. A escória da sociedade deve ingerir ou pelo menos carregar aquela tal droga monstrina, ceeerto? Anda logo e desembucha toda a informação que tiverem, suas cobaias falantes.”
“E—Eu não sei do que cê tá falando!”
“Sem mentiras, por favor.” Momo estreitou os olhos e brandiu a serra. Seu ruído afiado ao cortar o ar fez vários dos garotos tremerem.
Embora seus ferimentos fossem superficiais, a sensação da lâmina da serra na pele provocava um certo pavor primitivo. Eles já foram cortados diversas vezes à essa altura. Alguns deles já estavam traumatizados pelo resto da vida. Apenas ver a serra balançando como um chicote era o suficiente para drenar o sangue de seus rostos.
Mas seus espíritos rebeldes ainda não tinham sido completamente esmagados. Um deles até julgou que ela não poderia cortá-los tão severamente. Ele levantou seu punho e avançou sobre ela em um ataque suicida.
Seu julgamento não estava totalmente errado. Na verdade, jogar seu peso em uma investida provavelmente era uma decisão até mais correta contra uma serra.
A sacerdotisa de cabelo rosa fez uma careta, irritada.
“Credo, como vocês são irritantes.”
O garoto correndo em sua direção foi recebido com um chute giratório aéreo, que o fez voar.
Uma luz fosforescente preenche o beco escuro. Um rápido e instantâneo Aprimoramento Etéreo impulsionou seu chute com uma força inacreditável para alguém de pequena estatura como a dela.
O jovem rapaz colidiu com a parede e caiu no chão, onde ficou deitado, gemendo e incapaz de se levantar. Os olhos da garota ficam completamente frios enquanto ela se aproxima dele.
“Isso está se tornando um incômodo. Talvez seja mais rápido se eu serrar fora um dos seus braços?”
Não era uma ameaça vazia. A garota enrolou a serra ao redor do ombro do garoto. Ele luta para escapar, mas ela o imobilizou completamente.
“N-não... ! Cê acha mesmo que pode se safar dessa!?”
“Não posso? Alguém realmente se importaria se o lixo de um beco escuro fosse descartado?”
Não havia hesitação em sua voz. A ameaça gélida gerou calafrios nas espinhas dos rapazes.
“Provavelmente seria um alívio para os Plebeus que vocês sempre incomodam. Nem a Ordem dos Cavaleiros não investigaria seriamente as mortes de estorvos como vocês. Eles vão apenas assumir que vocês levaram uma de suas brigas costumeiras longe demais e morreram como idiotas. Sem testemunhas, sem suspeitos. Esse seria o fim de vocês, não? Por isso é importante ser cuidadoso sobre como você se retrata no dia-a-dia.”
“M-mas você é uma sacerdotisa! Não tem como você de fato matar alguém!”
“Quem saaabe? Eu sou um sacerdotisa errante em uma peregrinação, e só ficarei nesta cidade por alguns dias. Mesmo se eu fosse descoberta, a Faust não se importaria com uma cidadezinha minúscula como Libelle. Pelo contrário, elas podem até me elogiar por me livrar do lixo.”
Não havia o menor traço de consciência em seu tom. Sua impiedade é tão discrepante quanto a de uma sacerdotisa comum que eles ficaram ainda mais aterrorizados.
“Apressem-se e me contem tudo que sabem! Eu não estou com humor para escutar seus gritinhos chorosos.”
“P-pare... ! A gente não tem nada a ver com a Fourth, sério! E também não queremos chegar perto deles! Disseram pra gente não tomar aquela droga sinistra! Não é, galera!? É verdade!”
“Entendo... ”
Seus dutos lacrimais devem ter cedido ao medo; torrentes de lágrimas e ranho começaram a inundar seu rosto. Definitivamente não parecia atuação. Ele pode até estar falando a verdade, pensou Momo, mas ser gentil com lixo não beneficiaria ela ou Menou de forma alguma, então ela decidiu serrar o braço dele fora por via das dúvidas.
“Bom, é agora ou nunca.” Momo agarrou ambas as pontas da serra e pisou no ombro do rapaz para mantê-lo no lugar, provocando um grito maior.
“Seu demôniooo!”
“S-se nossa líder estivesse aqui, você estaria morta!”
“... Líder?”
Justo quando Momo estava prestes a serrar, as palavras de um dos delinquentes chamou sua atenção. Se eles ainda pensavam que sua líder poderia ajudá-los mesmo nessa situação, eles deviam ter um volume considerável de fé em quem quer que fosse.
Isso era perfeito.
Essa tal líder provavelmente poderia dar a ela informações melhores do que as desses desordeiros de nível inferior. Momo decidiu extrair a localização dessa pessoa por meio de sua serra, mas se distraiu antes que pudesse voltar a usá-la.
“Aqui! Essa sacerdotisa esquisita nos atacou do nada!”
Um dos delinquentes que fugiram aparentemente foi chamar essa “líder” para ajudá-los.
Melhor ainda. Momo virou em direção à origem da voz. Independente de quem pudesse ser, provavelmente tinha informações mais úteis do que as desses idiotas.
Momo sorriu de uma forma sinistra, mas então o sorriso congelou em seu rosto.
Ela escutou o estalo de passos, ecoando alto mesmo ao ar livre.
E então, alguém com uma presença esmagadoramente poderosa apareceu.
Era uma mulher alta o suficiente para ficar ombro a ombro com qualquer homem, com seu cabelo loiro tingido de vermelho logo atrás dela. Seus belos traços são tanto selvagens quanto refinados. A quantidade de pele exposta por seu vestido angular e aberto nas costas era um tanto excessiva, mas ela se mostra orgulhosa, como se quisesse exibir a beleza física do seu corpo.
“Sinceramente. Quem quer que seja, não vou permiti-la causar o caos na—oh?”
Era ninguém menos do que Ashuna Grisarika, cujos olhos brilharam quando se depararam com Momo.
“Ooh! Se não é a Momo!”
Sem dizer uma palavra, Momo carregou sua serra com Força Etérea.
Força Etérea: Conectar—Serra, Brasão—
“Se estamos nos encontrando novamente em um lugar desses, realmente deve ser—”
Invocar [Oscilação]
“É aqui que você morre, Princesinha!”
Berrando com intensa emoção, fazendo parecer sua serenidade até aquele momento inimaginável, Momo lançou-se para frente e balançou sua serra vibrante como um chicote.
A batalha entre Momo e Ashuna acabou rapidamente.
Havia pouco a ser dito sobre. Momo queria uma luta séria, mas a Princesa amante de batalhas estava muito feliz para enfrentá-la. Fazê-la contente era o oposto do objetivo de Momo, então ela desistiu assim que seu ataque inicial falhou.
E claro, Ashuna não parecia nem um pouco incomodada pelo fato de Momo tê-la atacado.
“Você é sempre tão enérgica, Momo!”
“Calada... ”
Ashuna sorriu alegremente para Momo, cuja única resposta foi uma queixa aborrecida.
Elas estavam sentadas lado-a-lado em um bar decadente em uma adega perto do beco.
Os jovens delinquentes que Momo estava pressionando para obter informações se dispersaram. Quando souberam que Momo era uma conhecida de Ashuna, eles inexplicavelmente aceitaram tudo sem mais queixas. Momo achou tudo terrivelmente desgastante.
“Então o que raios você está fazendo aqui, Sua Alteza? No mínimo, eu esperava que você estivesse no Castelo Libelle.”
“‘Sua Alteza?’ Vamos, Momo, não seja tão formal. Por que não continua me chamando de Princesinha, minha amiga?”
“Por que diabos você não morreu naquelas ruííínas... !?”
Em meros minutos de conversa, a compostura de Momo já estava escorregando conforme Ashuna ralava seus nervos.
No caminho para esta cidade, Ashuna e Momo se depararam uma com a outra na Fronteira Selvagem. Ashuna arrastou Momo para explorar algumas ruínas ancestrais que elas encontraram no caminho, mas Momo usou Ashuna como isca para escapar e deixou-a sozinha no local. E mesmo assim, aqui estava ela, sã e salva—e mais irritante do que nunca, no que dizia respeito a Momo.
Mas por alguma razão, isso apenas deixou Ashuna ainda mais feliz.
“Falando nas ruínas, aquelas gárgulas foram bem difíceis. Inimigos com base no Conceito de Pecado Original sempre são desagradáveis. Especialmente demônios. Meu estilo de luta não parece ser muito bem compatível com eles.”
“Bom, isso é porque sua única estratégia é a força bruta, Princesinha. E gárgulas são mais imitações do que de fato demônios, já que eles são apenas estátuas de pedra que foram conferidas com energia demoníaca.”
Os próprios corpos dos demônios são compostos de Pecado Original. Essencialmente, um demônio é o resultado da extração de essência de um Pecado Original. Qualquer coisa que ele absorva, seja orgânico ou inorgânico, será transformado em algo de natureza maligna. O Conceito de Pecado Original naturalmente corrói a composição fundamental das coisas e as tornam todas iguais.
“As gárgulas absorveram demônios fisicamente e mudaram sua própria composição. É mais um monstro do que um demônio. Afinal, um monstro realmente não passa de uma coisa viva que absorveu um Pecado Original e mudou sua natureza.”
“Isso é verdade?”
“É.”
As Conjurações de Pecado Original são únicas em termos de origem. Antigamente, não existia tal coisa. Cerca de mil anos antes, o ser que trouxe os demônios e os monstros para este mundo apareceu subitamente.
O originador de todos os Conceitos de Pecado Original foi o Pandemônio.
Uma única menina com um Puro Conceito e uma imaginação selvagem criou os demônios, e o sangue e carne que ela derramava se tornaram monstros. As Conjurações de Pecado Original foram baseadas inicialmente em um Puro Conceito controlado por uma única Ádvena. Foram as imitações inferiores que ficaram conhecidas como Conjurações de Pecado Original.
Momo bebeu o leite que ela pediu enquanto se lembrava dessa história de origem.
O Pandemônio foi selado como um dos Quatro Principais Erros Humanos, e portanto se tornou o nome do local das ruínas. O Puro Conceito selado sobre o oceano ao sul de Libelle era a nascente dos monstros que agora assolam este mundo.
“Mas eu não entendo. Por que se dar ao trabalho de conferir demônios a outra coisa? Ao torná-los mais físicos, eles perdem sua imortalidade, certo? Não dá para simplesmente evocar um demônio intocado, como naquela vez no Reino de Grisarika?”
“É uma questão de criar mais massa. Evocar um demônio de grande massa do Conceito de Pecado Original requer um sacrifício de tamanho equivalente, sem contar as técnicas de conjuração de alto nível. É mais custo-efetivo evocar demônios menores e inferiores, e conferi-los a algo, seja inanimado ou não. Porém, mais importante, Pincesa Líderzinha... ”
Momo não estava aqui para explicar a natureza dos demônios ou do Pecado Original. Ela olhou fixamente para Ashuna.
“Mesmo se eu generosamente ignorar o porquê você está aqui em primeiro lugar, como raios você acabou bancando o ‘rei’ para aqueles bebês trastes?”
“Ei, não os chame assim. Eles são bons meninos. Uma vez que você os faz seguirem suas ordens, eles são quase adoráveis.”
Como de costume, elas estavam seguindo linhas de raciocínio completamente diferentes. Ashuna provavelmente não estava evitando a pergunta intencionalmente, mas sua resposta estranhamente desalinhada gerou uma expressão amarga no rosto de Momo.
“Conversar com você é estresse garantido... ”
“É mesmo? Eu me divirto conversando com você, Momo. Além disso, a maioria deles são apenas jovens da Nobreza se metendo em malandragem na cidade. Nunca se sabe, pode acabar sendo benéfico conhecê-los no futuro.”
“Mergulhar no lixão não me parece muito benéfico. Sem falar que, você mesma não está no auge da sua fase de adolescente rebelde, Princesinha?”
“Ora, vamos. Eles ainda são jovens. Sempre vale a pena conversar com a geração mais jovem apenas por essa razão. Afinal, nós temos aproximadamente a mesma idade.”
Não era completamente ilógico, Momo supôs. E parecia inútil pressioná-la mais que isso.
Ashuna era uma princesa de uma nação diferente. Criar conexões pessoais aqui não seria de nenhuma utilidade prática para ela. Neste continente, havia pouca interação entre as nações, já que todos estavam separados pela Fronteira Selvagem. Eles não estavam completamente desconectados, mas a maior parte das nações não tem tempo ou energia para gastar com seus vizinhos.
“As coisas não estão saindo do controle na sua própria nação neste momento?” Momo perguntou. “Digo, seu prezado pai não acabou de ter sua cabeça decepada pela Santa Inquisição recentemente? Eu sei que você é a filha mais nova, mas deveria meeesmo estar brincando por aqui?”
“Você não iria para outra nação se as coisas estivessem saindo do controle no seu lar?”
O pai de Ashuna cometeu o pecado de evocar uma Ádvena há apenas três semanas atrás. Na verdade, foi ele que evocou Akari para este mundo.
Enquanto Momo olha para Ashuna minuciosamente, tentando sondar seus objetivos, Ashuna olha de volta.
“Conflito político simplesmente não é comigo. Eu queria ir embora rápido antes que fosse arrastada para isso. Alguns parentes meus simplesmente adoram fazer coisas simples serem desnecessariamente complicadas, sabe? Não quero ter nada a ver com a seleção de nosso próximo líder, muito obrigado.”
“Quanto egocentrismo... ”
“Prefiro pensar nisso como estar preparada. Parte da razão de eu ter me tornado uma cavaleira em primeiro lugar foi para que eu tivesse a permissão para carregar uma espada não importa onde eu fosse, caso precisasse fugir de algum disparate político.” Ashuna gargalhou alegremente.
Realmente, era um comportamento adequadamente irresponsável para a Princesa Cavaleira despreocupada e justiceira. Momo não conseguiu esconder sua estupefação diante da declaração atipicamente descontraída de uma suposta integrante da Nobreza.
“Enfim, diga-me uma coisa: Por que você estava implicando com eles, Momo?”
Enquanto Ashuna muda de tópico, de volta ao assunto em questão, Momo fica em silêncio.
Sua intenção era pressionar os delinquentes locais por informação para encontrar os membros e o esconderijo da Fourth em Libelle. Como ela está em território desconhecido, essa parecia ser a maneira mais rápida de descobrir as coisas.
Porém, Ashuna já estava muito à sua frente e até conseguiu colocar os delinquentes sob o seu controle.
“...Estou tentando dar um limpa na Fourth. Eles são comuns como baratas, sério, mas os dessa cidade definitivamente estão envolvidos em algum tipo de cerimônia relacionada com Pecado Original. Você sabe alguma coisa sobre uma pílula vermelha?”
“Ah, aquilo, é? Você trabalha rápido.”
“Sabe de alguma coisa sobre?”
“É claro. Eu tenho colocado um fim à circulação dessa tal monstrina. A Fourth tentou distribuí-la para esses meus capangazinhos. Então eu tenho usado essa informação para calcular a rota deles. Já marquei o local onde eles a estão produzindo, e também já tenho uma ideia sólida de quem está por trás disso. Aqui, dê uma olhada nisso.”
Momo levantou suas sobrancelhas, mas Ashuna apenas sorriu e pegou algo de seus seios.
“Está vendo? Eu recebi um convite de Manon Libelle para um baile noturno no Castelo Libelle.”
“Manon Libelle... ? Ela é a filha do lorde desta cidade, se bem me lembro. E o que tem ela?”
“Bom, o chefe da família, Trizista Libelle, está com a saúde debilitada. E portanto, eles estão realizando uma festa para estreá-la como sua sucessora, ao que parece.”
Evidentemente, a carta selada que ela estava abanando era um convite por escrito. Muito apropriado para uma princesa, mesmo se ela fosse de outro reino.
“É apenas um palpite, mas acho que ela está envolvida nos movimentos da Fourth em Libelle. Por que não vamos até lá e investigamos juntas?”
“Por que você naturalmente presume que eu irei trabalhar com você, Princesinha?”
“Bom, por que não? Não é nada demais.”
“Eu passo. Obrigada. Parece uma perda de tempo.”
Ashuna parecia um tanto chocada. “Você não virá comigo? Pois bem, por que você não infiltra a base de produção de monstrina enquanto eu investigo Manon Libelle? Não seria tão ruim dividirmos o trabalho e compartilharmos nossos resultados depois. Na verdade, por que não fazemos disso uma competição para ver quem obtém mais informações, enquanto agimos?”
“Suponho que tudo bem, mas você serve mesmo para espreitar, Princesinha?”
“Oh-ho? Detesto lhe dizer isso, Momo, mas não há nada que eu não possa fazer. Tenho bastante orgulho da minha habilidade de farejar as fraquezas de um inimigo.”
“Farejar? Se você é dependente de um sexto sentido esquisito, já é um mau sinaaal... ”
Momo bufou desdenhosamente. Nenhuma pessoa sensata colocaria tanta fé em um instinto que ela não consegue sequer explicar corretamente. Nunca tinha ouvido falar de uma princesa que vive de puro instinto animal, ela pensou ironicamente, encolhendo os ombros exageradamente.
Claro, isso não parecia incomodar Ashuna. Afinal, ela era uma princesa da Nobreza e realizou tantos feitos que passou a ser vastamente conhecida como a Princesa Cavaleira. Ela estava mais do que feliz em aceitar um desafio de Momo.
“Acredite no que quiser, Momo. Você irá engolir essas palavras quando conhecer meu talento investigativo. Eu prometo que voltarei desse baile noturno com informações valiosas.”
“Por que eu deveria me importar? Você pode fazer o que quiser, Princesinha. Eu vou destruir essa tal base de produção. Estarei aguardando notícias de seu grande sucesso.”
Momo zombou da princesa confiante e a deixou para trás.
“Entããão, acabou que ela ainda está viva.”
No saguão da pousada, mais tarde naquela noite, Menou franziu a testa com o relatório verbal de Momo.
“Por que uma Princesa do Reino de Grisarika se tornaria a chefe de um bando de delinquentes... ?”
Após conseguir um quarto de hotel barato para a noite, Menou furtivamente deixou Akari para se encontrar com Momo.
Ashuna era uma princesa autêntica, mesmo sendo de um reino diferente. Não fazia absolutamente sentido algum ela estar comandando jovens vândalos nos becos de alguma outra nação.
“Não sei a justificativa. Se tivesse que adivinhar, diria que ela faz isso por diversããão.”
“É um senso estranho de diversão para uma princesa. Francamente... E como ela já descobriu a base de produção e a mandante? Ela certamente não chegou aqui muito antes de mim.”
Menou imaginou que elas haviam deixado a nação vizinha mais ou menos na mesma data. Como Menou estava viajando com Akari, uma total novata, ela planejou a jornada com cautela. Ashuna provavelmente tomou a rota mais curta possível pela divisa através da Fronteira Selvagem, mas mesmo assim, não poderia haver uma diferença maior do que uma semana entre suas chegadas. O fato dela ter reunido tanta informação promissora em tão pouco tempo, não era nada menos que impressionante.
“Suponho que não a chamam de Princesa Cavaleira à toa. Ela é certamente ousada para enfiar o nariz em todos esses assuntos, seja por bem ou por mal.”
“Concooordo. Então eu suponho que vou destruir essa tal base de produção amanhã a noite.”
“Sobre isso, Momo. Na verdade, estou planejando me infiltrar no baile noturno no Castelo Libelle amanhã como uma convidada.”
Como Ashuna havia mencionado, Manon Libelle estava organizando um baile. Como o Conde Libelle estava acamado, essa festa pretendia introduzir Manon ao público como sua representante.
Como a líder da Faust nesta cidade, Sicilia também foi convidada. Menou conseguiu obter um convite, então ela planejava comparecer, também. Com sorte, ela estava com esperança de infiltrar-se no castelo.
“Duvido que haverá alguém forte na base de produção, então eu posso ir soziiinha! Porém, mais importante, queriiida!”
Momo estava acostumada a trabalhar separadamente, então ela insistiu que Menou não ficasse tão preocupada. Em vez disso, ela agarrou os ombros de Menou com força.
“Momo?”
“Deixe-me fazer o seu vestido!”
“O meu vestido? Por quê?” Menou piscou, confusa.
O traje de sacerdotisa que Menou e Momo geralmente usam era perfeitamente aceitável como vestimenta formal para a Faust. O único problema em potencial era que os trajes de ambas foram ligeiramente modificados, mas elas ainda poderiam usá-los em qualquer evento com orgulho.
“Eu vestirei minha túnica de sacerdotisa no baile. Como serei parte da comitiva da Pastora Sicilia, nada mais lógico.”
“Não é lógico!” Momo berrou. “Escute, queriiida! Você não vai à essa festa para se divertir. Você estará investigando o inimigo e infiltrando-se na base deles! Por que você vestiria uma roupa que praticamente grita ‘Eu sou uma sacerdotisa’ em território inimigo!?”
“H-hmm. Suponho que tenha razão, mas... ”
“Além disso, aquela maldita Princesinha estará lá. Ela tem instintos estupidamente aguçados, então o que aconteceria se ela fixasse os olhos em vocêêê!?”
Momo estava divagando, mas havia uma certa verdade em suas palavras. A intensidade de seu tom fez Menou encolher um pouco.
“E acima de tudo!” Momo apertou seu punho dramaticamente, sem deixar brecha para protesto. “Você ficaria tão estilosa, queriiida!!”
“M-mas, Momo... ” Menou tentou acalmar sua assistente de olhos brilhantes com uma voz tranquila e racional. “O baile é amanhã. Você não teria tempo ou materiais para fazer um vestido até lá, mesmo se fosse apenas uma fantasia, teria?”
“Uma noite é o suficiente.” Momo declarou.
Ela parecia determinada. Evidentemente, Menou não tem muita experiência em alfaiataria para saber quanto tempo leva para fazer um vestido. Mas Momo parecia muito confiante, soando como se ela realmente fosse capaz.
“Bom, não há tempo há perdeeer. Com sua licença!”
Aparentemente cheia de inspiração, Momo saltou para fora da sala, deixando Menou sozinha.
Ela certamente é o tipo de assistente que pode cumprir qualquer tarefa que tiver em mente. Com toda a certeza, ela entregará o vestido amanhã. Mesmo assim, Menou não conseguia evitar de se perguntar porque Momo é tão obcecada com as coisas mais estranhas.
“Bom, deixando a Momo de lado... o problema real é a Akari.”
Havia um outro problema na cabeça de Menou.
Era Akari, é claro. Se Menou fosse para o baile no Castelo Libelle, ela garantidamente faria um escândalo e exigiria ir junto.
Com um grande suspiro, Menou voltou para o quarto no qual Akari estava esperando.
“Eu quero ir, também!”
Efetivamente, a reação de Akari ao plano de Menou para o dia seguinte foi exatamente como ela previu.
“Não é justo! Não é justo! Fui eu que falei que queria ir lá primeiro! Por que você pode ir e eu não? A vida é tão injusta!”
“Eu já disse, não é questão de justeza. É apenas para o meu trabalho... ”
“Que tipo de trabalho super divertido é esse!?”
A maioria dos convidados nesses tipos de festa, estão lá como parte de seu dever profissional.
“E além do mais! O que você vai fazer se eu for sequestrada ou algo parecido enquanto você estiver fora, Menou!?”
“Eu farei uma oração em honra ao seu sacrifício necessário.”
“O quê?!”
Akari estava começando a ficar irracional, então Menou respondeu friamente.
“Piadas à parte, seria muito mais difícil te levar comigo. Sinto muito, mas os convites são somente para uma pessoa—sem acompanhantes. Além disso, você não tem nada para vestir, tem?”
“Eu tenho meu uniforme escolar!”
“Ah... Bom, suponho que isso seja um tipo de traje formal.”
O uniforme que Akari estava usando quando foi evocada certamente poderia passar. Ele estava guardado em sua bagagem, mas seria conspícuo demais se ela o usasse em público.
“Mas não. Nós não temos nenhum costume de estudantes usarem esses tipos de uniformes neste mundo. Você apenas terá que ficar aqui e se comportar.”
“Mrrr... ” Akari parou de amuar para à tempo de lançar um olhar de cachorro para Menou. “Então, você ao menos vai me deixar te ver em um vestido, não vai?”
Menou sorriu docilmente. “Nem em sonho.”
“Então eu quero ir, tambééém!”
Nenhuma quantia adicional de persuasão era o suficiente para impedir Akari.
O baile noturno no Castelo Libelle era algo pomposo e típico da Nobreza.
Menou estava no salão de dança do Castelo Libelle. Como muitos castelos da Nobreza, o interior estava decorado extravagantemente, com comida e arranjos colocados sobre mesas por todo o salão. Os convidados conversavam entre si enquanto uma música ao vivo fluía pelo salão. Empregados patrulhavam o espaço, constantemente trocando as taças dos convidados. Um magnífico lustre estava pendurado no teto acima de tudo.
Em meio aos diversos convidados usando smokings e vestidos estilosos, Menou está rente a parede como uma flor solitária.
Ela também está usando um vestido deslumbrante.
No fim, Momo cumpriu sua promessa e portanto Menou estava vestindo o resultado de seus esforços. Tecnicamente, também servia como um disfarce.
O vestido lhe dava um ar muito diferente do que quando ela estava usando sua túnica de sacerdotisa. Seu cabelo, normalmente preso em um rabo de cavalo, estava arrumado em um coque solto. Sua marca registrada, sua fita, estava ao redor de seu pescoço.
O olhar de Menou estava fixado em Manon Libelle.
Como o chefe de sua casa e da cidade, Trizista Libelle, estava confinado em seu leito, Manon estava assumindo sua posição. O objetivo principal dessa festa era apresentá-la ao público como tal.
Como anfitriã, ela estava constantemente migrando de grupo em grupo, conversando com a Nobreza e os Plebeus mais ricos.
Inversamente, não havia um único membro da Faust à vista.
Sicilia, a pastora, apenas a cumprimentou brevemente. Era praticamente inédito para alguém da Faust participar proativamente desses tipos de atribuições. A Faust tem tão pouco envolvimento político com as outras classes do reino que é frequentemente vista como arrogante, indiferente, ou extremamente fastidiosa.
E mesmo assim, é a Faust que realiza todos os julgamentos finais entre o certo e o errado.
De certa forma, era compreensível que a Nobreza ficasse insatisfeita com isso. Na verdade, era estabelecido dessa maneira quase que deliberadamente. O desprazer da Plebe era direcionado para a Nobreza, que por sua vez direcionava seu desprazer para a Faust. Essa era a natureza do sistema de três classes.
E o desprazer da Faust? Justo quando ela estava pensando nisso, um sorriso radiante preencheu sua visão.
“Menou! Está se divertindo?”
Era Akari.
Diante dos olhos de Menou estava uma vista familiar e ao mesmo tempo completamente estranha. Assim como Menou, Akari estava usando uma roupa diferente do habitual, mas era uma que Menou via diariamente.
Akari estava usando uma túnica de sacerdotisa.
Seu traje era simples, não alterado como o de Menou ou Momo. Percebendo o olhar de Menou, Akari abriu os braços para se exibir.
“Hee-hee, o que achou? Eu sou uma sacerdotisa pura, justa e forte!”
“Idiotas não deveriam usar essas vestes... ”
“Você acabou de falar algo muito cruel?”
Menou cobriu seu rosto com uma mão e resmungou enquanto Akari olhava para ela fazendo beicinho.
No fim, ela não conseguiu impedir Akari de acompanhá-la.
Ela não poderia vestir seu uniforme escolar, mas elas não tinham um vestido para Akari. Quando Menou pediu a Momo para modificar o vestido que ela fez para Menou para corresponder às medidas de Akari, Momo teve um ataque de fúria e disse que preferia queimar o vestido do que atender a tal solicitação, então Akari acabou fingindo fazer parte da comitiva da Pastora Sicilia para vir junto.
Sicilia forneceu um traje de sacerdotisa reserva da igreja para ela, mas o resultado não caiu bem, mesmo para uma Executora como Menou.
“Francamente... isso é um insulto e tanto para verdadeiras sacerdotisas e freiras que passam por rigorosos treinamentos e exames.”
“Ah, para, está mesmo tão ruim assim?”
Obviamente, afinal, Menou tinha orgulho como integrante da Faust. Mesmo sendo para uma missão, ainda era vergonhoso permiti-la usar aquele traje.
“Apenas lembre-se de não seguir nenhum estranho, mesmo se eles falarem com você, tudo bem? E não encoste em nenhuma comida ou bebida aqui, não importa o que aconteça. Eu sei que já falamos sobre isso, mas a anfitriã dessa festa tem distribuído uma droga estranha.”
“Eu sei. Você já me disse. O que você pensa que eu sou, afinal?”
“Uma idiota com mentalidade de dez anos, assim como acredito ter dito anteriormente.”
Akari inflou suas bochechas. “Isso não é verdade. Uma pessoa mais cedo disse que eu sou uma moça adorável. Então eu obviamente sou uma verdadeira adulta!”
“São coisas como essa que realmente fazem eu me preocupar com você... ”
Akari parecia ser do tipo que cairia em uma conversa suave muito facilmente.
Mesmo assim, desde que elas estivessem aqui, Sicilia provavelmente ficaria de olho nela caso Menou precisasse se afastar.
Esse baile noturno era uma oportunidade perfeita. A equipe do castelo estava ocupada mantendo a festa em funcionamento, e a própria Manon Libelle sem dúvida ficaria presa no salão a noite toda. A segurança do Castelo Libelle estaria com falta de pessoal.
Menou tinha apenas uma preocupação sobre infiltrar-se no interior do castelo.
Ela olhou ao seu redor pelo salão, mas não viu a pessoa em questão em lugar algum.
“Menou? O que houve?”
“... Preciso me ausentar por um minuto. Lembre-se, não deixe ninguém te convencer a acompanhá-los.”
“Aww... ”
Ignorando a lamentação de Akari, Menou entrou em ação.
A festa estava começando a atingir o seu ápice. Decidindo que esse era o melhor momento para agir, ela se afastou da parede. Ela tinha uma ideia aproximada de onde os guardas estavam localizados. Menou começou a andar com passos casuais.
Desprendendo-se do seu papel como flor solitária, ela se esgueirou pela multidão de pessoas. Colocando sua taça intocada na mesa, ela tem o cuidado de considerar como os outros a vêem, conscientemente se comportando da forma mais natural possível para não se sobressair na mente ou nas memórias de alguém.
Nenhum dos convidados notou Menou.
Evitando a atenção dos outros com sucesso, Menou atravessou o salão sem ser chamada ou notada por alguém.
Ao sair para o terraço, o ar frio da noite acaricia sua pele. Olhando para o céu, ela respira fundo. O tempo parecia estar nublado, pois a lua e as estrelas estavam invisíveis no céu noturno.
“Sem proteção da Santa Marta, então... ”
Enquanto se dirigia para a área residencial, Menou despreocupadamente murmurou uma frase de um conto de fadas sobre uma santa que controlava os milagres da lua, cujo retrato estava esculpido na moeda de cinco in.
Muito provavelmente, os guardas dentro da propriedade não seriam um problema. Enquanto ela estava investigando, apenas uma questão a preocupava.
Se por acaso ela cruzasse com esse problema, como ela lidaria com ele?
Menou cogitava sobre isso conforme caminhava. A única maneira de deixar o terraço era indo em direção à mansão por um caminho rodeado com arbustos altos. Ela seguiu esse caminho para o círculo interno do castelo, separado do jardim por arbustos cuidadosamente arrumados, quando de repente escutou uma voz.
“Devo admitir, você se destaca em ocultar sua presença.”
Alguém estava se dirigindo a ela do jardim do outro lado dos arbustos.
Menou estreitou seus olhos e congelou. Ela sentiu que havia alguém além dos arbustos, mas certamente não esperava que este falasse com ela.
Em seguida, escuta-se o barulho de arbustos sendo empurrados. A pessoa do outro lado estava tentando forçar seu caminho pelo muro de arbustos.
Enquanto Menou ficou espantada com a pura força, a pessoa atravessou os arbustos atrás dela. Menou começou a se virar, depois decidiu continuar olhando para frente.
A pessoa que acabou de aparecer dificilmente a atacaria pelas costas.
“Você se mistura com seus arredores muito bem. Ao invés de evitar os olhares das pessoas, você se certifica de que elas não notem você mesmo se a verem, né? Sua invisibilidade foi tão natural que você até poderia ter passado despercebida por mim.”
Menou silenciosamente condenou a voz familiar. Ela soube através de Momo que essa pessoa havia sido convidada. Ela ficou atenta a essa pessoa no baile e até suspeitava que isso pudesse acontecer.
E efetivamente, ela também já estava infiltrada na área interna. Era coragem da parte dela tentar fazer isso sem nem conhecer a estrutura, ou apenas imprudência? Menou hesitou por um momento antes de julgar que ela era exatamente como os rumores diziam.
“Uma amiga minha disse que eu não parecia ser boa em me espreitar, então queria provar que ela estava errada. Eu investiguei um pouco, mas não esperava encontrar outra pessoa fazendo o mesmo. Parece que Manon Libelle também tem muitos inimigos.”
Essa mulher não faz nenhum esforço para esconder sua natureza, não importa a quem esteja se dirigindo. Seu tom é imperioso, e não há um sinal de hesitação em sua presença avassaladora. Mesmo sem se virar, Menou sabia claramente que ela estava exibindo um largo sorriso enquanto falava.
Provavelmente, tudo isso fazia ela parecer não servir bem para se esgueirar, mas claro que nada disso importava para Ashuna.
No que lhe dizia respeito, ela não precisava esconder nada sobre si mesma.
“Eu sou Ashuna Grisarika, uma cavaleira e Princesa do adjacente Reino de Grisarika.”
Era ninguém menos do que a Princesa Cavaleira que orgulhosamente se apresentou para Menou. Ela era tão cheia de vida que muitos a admiram.
“E quem seria você?”
Seu tom era confiante. Pressionada, Menou contorceu o rosto.
Em seu traje atual, ela deveria ser capaz de lidar com isso facilmente. Ela estava usando um vestido, então poderia apenas fingir ser uma jovem mulher da Nobreza ou algo parecido. Pelo menos, não havia nada que pudesse revelar o fato de que ela realmente era uma sacerdotisa. Ela poderia simplesmente dizer que foi até o jardim para tomar um ar.
Mas considerando as futuras possibilidades, ela não queria que Ashuna visse seu rosto.
Será que ela conseguiria se safar dessa? Menou tentou respondê-la sem se virar.
“Acontece que uma de minhas criadas saiu de fininho do trabalho para um encontro secreto. Pensei em procurá-la e repreendê-la.”
“Que desculpa esfarrapada.” Ashuna viu através de sua mentira instantaneamente. “Uma pessoa da Nobreza não seria ensinada a esconder sua presença dessa forma. Não se espera que essas pessoas lutem, afinal.”
“...Seguindo essa lógica, como você foi capaz de detectar minha presença, isso não significaria que você também não é da Nobreza?
“A Ordem dos Cavaleiros é uma exceção. Cavaleiros buscam o campo de batalha pelo bem da paz. Não se espera que sejamos meigos, mas sim fortes. Você alega ser uma cavaleira?”
O raciocínio de Ashuna era egocêntrico, porém lógico. Menou encolheu os ombros.
Então não havia maneira dela escapar disso na conversa. Não era uma situação ideal. Ou talvez... Menou subitamente pensou numa possível razão para as coisas terem se desdobrado dessa forma.
Talvez Manon Libelle houvesse convidado Ashuna e deixado ambas se esgueirarem para que batessem de frente.
“Que exasperante... ”
“Disse alguma coisa?”
“... Não.”
Se ela caminhou direto para uma armadilha, foi um erro inteiramente dela.
Suponho que não tenho escolha, então, Menou pensou enquanto se virava.
Quando a outra pessoa finalmente se virou, Ashuna ergueu suas sobrancelhas.
Mesmo agora elas estando frente a frente, Ashuna não conseguia ver seu rosto.
A princípio, parecia ser um truque da luz, ou talvez ela estivesse usando um véu fino, mas não. Seu rosto estava obstruído por algo como uma neblina negra. Obviamente era um fenômeno proposital.
Esconder seu rosto é a maneira mais efetiva de evitar que os outros obtenham qualquer informação pessoal sobre você. E o mais intrigante de tudo, Ashuna não conseguia compreender como ela estava produzindo a névoa para fazer isso.
Deveria ser algum recipiente Etéreo incomum, ou um brasão contínuo que ela ativou de antemão, ou talvez uma técnica totalmente nova que Ashuna nunca havia ouvido falar.
Em todo caso, estava claro que essa pessoa realmente não queria que seu rosto fosse visto. Parece que sua voz foi alterada, também. Ela estava usando um vestido adorável, mas era óbvio que ela não era apenas uma jovem mulher nobre comum.
“Acabaram-se as mentiras, é? Aprecio que tenha largado as desculpas fracas, mas você é realmente tão tímida ao ponto de não conseguir me mostrar seu rosto?”
“Eu levo uma vida humilde, então sei o meu lugar, só isso. Se honestidade lhe agrada, então se importaria de me deixar prosseguir?”
“Sinto muito, mas eu sempre sinto a ânsia de lutar contra figuras suspeitas.”
“... Perdoe-me por dizer isso, mas estou impressionada que tenha conseguido se tornar uma cavaleira com essa atitude.”
A Ordem dos Cavaleiros tem a permissão para carregar uma espada na cidade. Como a função vinha com uma autorização de porte de arma, o treinamento requerido para aderir era intenso o bastante para se equiparar ao das sacerdotisas. Ashuna entendeu porque a mulher misteriosa podia estar perplexa, mas a Princesa simplesmente riu.
“Pah, um pouquinho de imprudência é permitido se for pelo bem de proteger a paz, só isso. Agora, no que me diz respeito, ficarei feliz em manter minha espada embainhada se você me mostrar seu rosto e se explicar. Na verdade, eu até estaria disposta a considerar ajudá-la, dependendo do seu objetivo.”
“Acho que você sabe tão bem quanto eu que não farei isso. Em outras palavras, Sua Alteza, a senhorita deseja lutar comigo?”
“Fico contente que seja tão rápida na absorção.” Ashuna sorriu e sacou sua espada. “Sabe, eu posso dizer o quão forte alguém é só de olhar. Sabia que pessoas fortes são bonitas? Por isso estou disposta a apostar a vida na minha jornada em busca de força.”
“É mesmo... ?”
Enquanto a jovem mulher respondia, ela virou a bainha do vestido para cima e colocou a mão em sua coxa. Com uma agitação de sua saia, ela sacou uma adaga e ficou em postura de batalha.
“Oh-ho... ” Ashuna olhou para a lâmina silenciosamente sacada e assobiou, impressionada.
O corpo de sua inimiga parecia relaxado, e ela segurava a adaga com espontânea familiaridade. Sua postura parecia natural, quando na realidade, não havia brechas em suas defesas. Ashuna num instante sabia que sua proficiência era louvável.
O prolongado eco de sua conversa deixou o ar entre elas ligeiramente relaxado. E então, ambos os seus corpos se iluminaram com o brilho de Luz Etérea.
Aprimoramento Etéreo é uma técnica que extrai poder da alma e a utiliza para aumentar a força física geral do usuário. Uma vez que ambas estavam fortalecidas, Ashuna foi a primeira a atacar.
Não era uma investida tão imprudente como se ela estivesse tentando vencer no primeiro golpe, mas assertividade estava na própria natureza de Ashuna Grisarika.
“Hyah!” Ashuna fez um corte para baixo com uma respiração aguda, mas sua oponente não tentou bloquear o ataque com sua adaga.
Ao invés disso, ela manteve sua adaga levantada enquanto deslizava para o lado, esquivando-se do golpe de Ashuna. Um meio passo a moveu para fora do trajeto da espada longa, e ela balançou seu braço enquanto a lâmina passava por ela.
Antes que Ashuna pudesse mudar a direção de seu golpe, a adaga de sua oponente atingiu a espada.
Ela não conseguiu mover sua lâmina imediatamente. No instante seguinte, a outra combatente lançou-se para perto dela, colocando-a no alcance da adaga. A espada de Ashuna não seria útil a uma distância tão curta. A lâmina de sua oponente brilhou.
Ashuna rangeu seus dentes. Com um sorriso feroz, ela usou a junta de proteção do cabo de sua espada e afastou a adaga vindo em sua direção. Socando para frente com o cabo, ela se moveu para atingir sua oponente com seu pomo, ou assim parecia.
Era uma finta.
Ainda inclinada para frente, Ashuna disparou sua perna em direção à cabeça de sua oponente. Seu chute era tão forte que se colidisse com o nariz dela, provavelmente esmagaria seu rosto. Se ela insistisse em permanecer no alcance da adaga, seria difícil desviar.
Mas em vez disso, sua oponente abriu mão de sua curta distância e saltou para trás. Ambas assumiram posturas ofensivas novamente, como se tivessem voltado à estaca zero.
“... Hmph.” Ashuna soltou um suspiro descontente.
Após trocarem alguns golpes rápidos, diversas coisas ficaram claras para ela. Essa oponente era forte. Ela tinha um talento notável. Mas também era óbvio que seu coração não estava nesta luta. Suas reações moderadas mostravam que ela não queria uma batalha total.
“Então seu coração não está nisso, né? Bom, suponho que fui eu quem veio atrás de você primeiro.”
“De fato.”
Também não havia entusiasmo em sua resposta. Evidentemente, ela não iria atender ao desafio de Ashuna. Neste aspecto, Momo era fácil de entender e charmosa à sua maneira, mas... Ashuna apertou seus lábios.
Então irei simplesmente extrair seu desespero. Ashuna impulsionou o nível de seu Aprimoramento Etéreo.
A luz ao redor de seu corpo ficou mais brilhante, expelindo a escuridão da área ao seu entorno.
Essencialmente, ela queria que sua oponente sentisse que não tinha escolha a não ser lutar devidamente, ou ela nem seria capaz de fugir. Respirando fundo, Ashuna preparou sua espada longa.
A postura de sua oponente não mudou nem um pouco.
Uma confiança impressionante. Os cantos dos lábios de Ashuna curvaram-se para cima.
A partir de uma posição de prontidão para um ataque instantâneo—ela saltou para frente rápido o bastante para atear fogo no ar. Em seu passo seguinte, ela estava no alcance de sua oponente e lançou uma estocada rápida como um relâmpago.
Aparentemente surpreendida com o súbito impulso de velocidade, sua oponente defendeu diretamente com sua adaga. Tola. Seus ataques não eram tão leves para poderem ser bloqueados com apenas uma adaga; ela atravessaria com seu corte. Tomando uma decisão rápida, Ashuna dobrou a força de sua estocada.
O brasão na adaga de sua oponente brilhou.
Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Vendaval]
Uma rajada de vento saiu da adaga.
A conjuração foi construída e invocada num piscar de olhos, pressionando Ashuna para trás. Isso deu à portadora da adaga a força extra que ela precisava para bloquear a espada da princesa.
Com seu ataque impedido, Ashuna murmurou em admiração apesar disso. “Magnífico.”
Foi uma manobra digna de um elogio sincero.
Seu controle sobre a Força Etérea era perfeito. Seu julgamento da força que ela precisava para repelir a estocada de Ashuna, impecável. Sua coragem em impedir um ataque que poderia facilmente tê-la matado se ela cometesse um único erro, notável. E acima de tudo, sua construção da conjuração de brasão foi exponencialmente mais veloz do que Ashuna seria capaz. Ela não se considerava ruim em invocação de brasões de forma alguma, mas claramente a pessoa diante de seus olhos estava em outro nível.
Ela só poderia ter realizado isso com treinamento diligente e uma vontade inflexível.
Quando duas pessoas usando Aprimoramento Etéreo cruzam espadas, o tamanho de suas lâminas escolhidas dita o quanto de Força Etérea elas podem utilizar para carregar suas armas. Os materiais podem afetar o quão bem seu poder flui, mas geralmente, quanto maior a arma, mais ela pode conter.
Isso significa uma diferença de peso e força.
Mas a pessoa que Ashuna estava enfrentando agora estava compensando a diferença em suas Forças Etéreas com pura habilidade.
Força Etérea: Conectar—Espada Real, Brasão—
Experimentalmente, enquanto mantinha sua oponente travada no lugar com suas lâminas colidindo, Ashuna carregou sua espada com Força Etérea à queima roupa.
O brasão da espada real começou a invocar um fenômeno, enviando ondas de calor. Seria uma questão de segundos antes de desencadear a conjuração.
Então, a adaga na mão de sua oponente brilhou novamente.
Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Vendaval]
Antes que as chamas criadas por Ashuna pudessem se contrair e explodir, uma rajada de vento saiu da adaga.
Invocar [Rajada de Chamas]
A explosão foi invocada um instante depois, mas a maior parte das chamas já haviam sido sopradas para longe. Teve tanta força quanto um fogo de artifício humedecido. Normalmente, ela iria em direção ao alvo, mas o vendaval que havia interrompido a invocação dispersou a maior parte de seu combustível e reduziu bastante a força por trás.
As chamas enfraquecidas queimaram ligeiramente a bochecha de Ashuna conforme se dispersaram.
“... Oof!”
O brasão que ela começou a invocar primeiro foi completamente superado. Sua oponente viu Ashuna invocar seu brasão, deduziu qual conjuração ela estava tentando usar e construiu uma própria com incrível velocidade e controle.
Quem quer que ela fosse, suas habilidades eram absolutamente lindas.
Era raro ver esse nível de talento em todos, exceto os cavaleiros da maior elite, através do continente, ou até dentre a Faust. Ela tinha a habilidade de reagir a todos os tipos de situações, em vez de simplesmente tentar matar. Ela não era uma pessoa que havia sido treinada para ser usada e descartada. Ela estava destinada a cumprir suas missões, sobreviver às batalhas e viver mais um dia.
Um arrepio de prazer percorre a espinha de Ashuna.
“Muito bem.”
Suas bochechas estavam tão coradas que o calor das faíscas se dispersando tinha pouco efeito. Seu coração estava acelerado e havia um anseio em seu peito que propagou um tremor de excitação por todo seu corpo. Era como se uma estranha corrente elétrica estivesse correndo por ela. A Luz Etérea ao redor do corpo de Ashuna ficou mais forte com seu espírito elevado.
Ela sorriu ferozmente.
“Parece que não sou párea para você em termos de controlar Luz Etérea—mas tenho a vantagem em combate a curta distância!”
Sua espada soltou um estrondo.
Houve um clarão poderoso que pareceu ter envolvido o ar em torno delas. Sua oponente desviou para o lado com uma suave manobra evasiva. Esse era o movimento correto: um único golpe de Ashuna era forte demais para defender mesmo com Aprimoramento Etéreo. Ela partiu para um voleio de ataques rápidos demais para bloquear sem ser esmagada.
Mas não tinha como sua oponente continuar desviando sem defender ou contra atacar por muito tempo.
Seu volume de Luz Etérea era mediano, no máximo—não chegava nem perto da quantidade de Ashuna. Por isso ela decidiu superá-la com puro poder. Ao invés de uma batalha de habilidade, Ashuna estava forçando ela a uma competição de força com seus ataques agressivos.
Finalmente, sua oponente foi empurrada para a defensiva. Ela conseguiu defender um ataque. Mas o recuo deve ter adormecido sua mão, forçando ela a derrubar sua adaga.
Ashuna havia vencido.
Ou assim ela pensou.
Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Dupla Invocação [Fio Etéreo, Vendaval]
Antes que Ashuna pudesse brandir sua espada novamente, sua oponente usou uma conjuração de brasão.
A adaga em queda foi empurrada de volta para o ar e partiu em direção à garganta de Ashuna.
Seus olhos arregalaram. Ela se curvou para trás, conseguindo desviar por muito pouco. Mas a adaga não parou. A direção do vendaval mudou, e dessa vez, acelerou diretamente para baixo em sua direção.
Uma conjuração remota, sem contato direto. Ashuna estreitou os olhos, tentando enxergar como ela estava controlando a adaga, e notou um fio reluzente de Luz Etérea se estendendo do cabo. A outra ponta estava na mão de sua oponente.
Ela estava usando uma conjuração de brasão por meio do fio Luz Etérea para controlar a direção do Vendaval, manipulando a adaga em pleno ar.
O vento cuidadosamente controlado lançou a adaga voando em direção à lâmina de Ashuna com movimentos de uma serpente. Mas isso era tolice. Sem o fator surpresa, seria uma simples questão de defletí-la. Um ataque conduzido apenas pelo vento seria fácil de abater.
Ashuna exibiu seus dentes com um sorriso determinado e se preparou para bloquear o ataque.
Luz Etérea: Conectar—
E então, ela sentiu sua oponente construir uma conjuração.
Impossível! Seus olhos arregalaram. Essa pessoa era realmente capaz de invocar outra conjuração enquanto ainda controla remotamente a adaga?
Se fosse o caso, então ela deveria estar planejando esse como sendo o golpe final.
Ashuna inclinou para o lado rapidamente. A adaga passou de raspão em seu flanco, deixando uma ferida. Ela ignorou. O que ela realmente precisava se defender era da próxima conjuração de sua oponente, a qual deveria ser poderosa se fosse sua intenção principal. Preparando-se para cortar o ataque em dois, Ashuna reuniu toda sua força, agarrou firme no cabo de sua espada—e encarou em choque.
Sua oponente estava mostrando a língua como se estivesse caçoando.
Na ponta de sua língua estava uma moeda, com poder correndo fluindo.
Moeda de Cinco in, Brasão—Invocar [Bolha Etérea]
Uma única bolha flutuou no ar.
Era perfeitamente inofensiva, um truque para entreter uma criança. Assim como as bolhas de Luz Etérea na lenda de Santa Marta, ela balançou levemente pelo vento e atingiu a bochecha de Ashuna.
Pop! A bolha de luz explodiu com um impacto menor do que uma briza.
As duas mãos de sua oponente estavam vazias. A única razão para ela ter colocado a moeda em sua língua foi para zombar de Ashuna. Ela cuspiu a moeda no chão. “Ptooey.” Ao mesmo tempo, a adaga finalmente caiu, perfurando o chão com sua lâmina.
Um instante depois, sangue escorreu da lateral de Ashuna. Seus ombros tremeram.
“Pff... heh-heh.”
Ela usou o fio de Força Etérea para manter o brasão de vento ativado e controlar os movimentos da adaga, mantendo Ashuna em alerta. Paralelamente, ela usou a perfeitamente inofensiva moeda de cinco in para distrair Ashuna e criar uma oportunidade para atacar.
Foi uma jogada incrível.
Talvez até sobre-humana. Fazia tempo desde que alguém se segurou contra Ashuna, que a fez cair que nem um patinho e até a fez pensar que ela estava em desvantagem. Ela teve a irresistível vontade de rir. Algo dentro dela havia estalado.
“Ha-ha-ha-ha-ha!” Seus olhos flamejavam enquanto ela segurava sua espada. “Você tem coragem! Estou impressionada!!”
Ela ergueu sua lâmina sobre a cabeça, apontando a ponta para o céu. Isso a deixava exposta para um ataque frontal, mas tornava perigoso se aproximar demais.
A outra combatente usou seu fio para puxar sua adaga de volta para sua mão. Ela apontou a lâmina afiada e brilhante para Ashuna.
“Irei te retribuir por isso. Em dobro, mesmo se eu tiver que forçá-la a aceitar!”
Força Etérea: Conectar—Espada Real, Brasão—Dupla Invocação [Corte: Expansão, Rajada de Chamas]
Uma onda de calor afastou o ar noturno.
O jardim ficou iluminado por uma flamejante lâmina de fogo. O ataque cortante, alargado e incendiado pela Força Etérea de Ashuna, estendeu-se. Não estava tão enormemente carregada como aquela que havia cortado um certo castelo há não muito tempo atrás, mas seu poder ainda estava longe do comum. Ela se certificou de que sua oponente não conseguiria bloqueá-la, pelo menos não com as técnicas que havia demonstrado até então.
Essa oponente a supera em habilidade, e até em estratégia e reflexos.
O único método restante para dar cabo de um inimigo tal como esse era extremamente simples: bater de frente, com pura força.
Nada mais do que força bruta. Ela reconhece que não consegue competir em termos de técnica. Tudo bem assim. O único ponto no qual ela claramente supera sua oponente é na quantidade de energia de Força Etérea que ela naturalmente possui ao seu dispor. A maneira mais garantida de vencer uma batalha é aproveitando suas vantagens.
Superar o inimigo com poder bruto. Essa era a abordagem real de Ashuna.
Neste caso, sua oponente parece calma.
Ashuna também não hesita. Ela simplesmente brandiu sua espada como seu coração enfurecido lhe disse. Porém—
Força Etérea: Conectar (via Fio Etéreo)—
Ela foi pega desprevenida.
Uma conjuração quase instantânea. A única coisa que Ashuna conseguiu mover a tempo foi seus olhos.
Como ela estava construindo essa conjuração? Suas mãos, as quais estavam segurando a adaga há instantes atrás, agora estavam vazias. Não—observando melhor, ela estava segurando uma linha fina feita de Força Etérea que se estendia até o chão.
Adaga, Brasão—
A adaga ainda estava fincada no chão, coberta com o sangue de Ashuna.
Como?
Avistando a adaga inesperadamente de volta no seu lugar, Ashuna hesitou por apenas um instante, confusa enquanto começava a puxar a lâmina de fogo para baixo em um ataque.
Invocação Remota [Vendaval]
O chão explodiu.
A conjuração de brasão produziu uma rajada de ar pela lâmina que ainda estava enfiada no chão. A pressão de ar repentina na rasa camada de terra lançou sujeira e poeira para todo lado, bloqueando a visão de Ashuna.
Ela perdeu completamente a chance de atacar com sua espada. Pega de surpresa, Ashuna ficou parada por um momento. Como ela não conseguia ver sua oponente em uma nuvem de poeira, ela não podia baixar sua arma e sua guarda.
Quando sua visão clareou, não havia ninguém lá. Sua oponente com o rosto oculto fugiu em um instante.
A ameaça que ela estava enfrentando se foi, mas Ashuna ainda permaneceu parada, confusa.
Ela sabe o que produziu a nuvem de poeira. A conjuração do brasão da adaga havia produzido vento. Lançado no subsolo, a pressão do vento quebrou a superfície da terra e arremessou poeira. Essa parte ela entendeu.
Mas como ela... ?
Ashuna definitivamente viu sua oponente segurando a adaga em sua mão.
Ela não a tinha puxado de volta às suas mãos com o fio? Então como ela ainda acabou fincada no chão? Como Ashuna não percebeu? Seus olhos a enganaram sobre o paradeiro da adaga? Não, Ashuna nunca cometeria um erro tão básico em batalha. Então ela estava escondendo uma segunda adaga? Mas isso não explicaria o momento em que ela a puxou de volta para suas mãos.
A lista de dúvidas de Ashuna apenas cresce.
Ela não conseguia descobrir como ela não percebeu aquele último truque.
Ashuna liberou a conjuração de brasão que ainda estava em processo e colocou sua espada de volta na bainha.
A noite retornou ao jardim.
Ela se abaixou e pegou a moeda de cinco in caída. Porém, não importava o quanto ela a inspecionasse cuidadosamente, era apenas uma moeda comum. Não carregava nenhuma pista sobre a identidade de sua oponente misteriosa.
Ashuna colocou mais força em seus dedos.
O rosto de Santa Marta esculpido na moeda de cinco in foi perfeitamente dobrada ao meio.
Um sorriso selvagem formou-se nos lábios de Ashuna.
“...Ha-ha. Já faz um bom tempo desde quando alguém se meteu comigo dessa forma.”
Não poderia haver tantas pessoas no mundo com tamanha habilidade. E por isso Ashuna tinha um pequeno palpite sobre quem aquela pessoa poderia ser.
Era comum as sacerdotisas darem preferência a armas de uma mão.
Como elas geralmente carregam uma escritura em sua mão esquerda, elas tendem a preferir armas que podem usar apenas com a direita. E com esse nível de habilidade, tudo faria mais sentido se ela estivesse em uma posição que expressasse muita experiência de batalha.
Então ela era uma elite da Faust em Libelle? O instinto de Ashuna lhe dizia o contrário. Se houvesse alguém aqui em uma posição pública com tanto poder, seria impossível Ashuna não conhecê-la.
Então ela deve ser alguém que trabalha por baixo dos panos.
Imediatamente, algo que Momo gritou durante o incidente em Garm duas semanas antes lhe veio à mente.
“Todos, menos a minha querida, deveriam morrer!!”
Ela não tinha prova alguma. Era apenas um palpite. Mas considerando que Momo veste um traje de sacerdotisa branco, fazia sentido.
Em muitos casos, sacerdotisas com vestes brancas são assistentes de sacerdotisas completamente treinadas.
“Então aquela era a ‘querida’ da Momo.”
Quando elas se encontrassem no dia seguinte, ela teria o assunto perfeito para trazer à tona e provocá-la.
Enquanto Ashuna descartava a moeda amassada, um sorriso satisfeito formou-se em seu rosto.
Uma espécie de pilar de fogo surgiu no jardim.
“Nossa, o que é aquilo?”
Vagando inquietamente pelo salão de festa, o queixo de Akari cai ao ver aquilo. As chamas eram tão brilhantes que pareciam transformar a noite em plena luz do dia. O pilar de fogo cessou em pouco tempo, mas a comoção resultante continuou.
Akari estava se dando conta de que poderia ter algo a fazer com o lugar para onde Menou foi, quando houve um leve lampejo de Luz Etérea.
Força Etérea: Auto-Conectar (Condições Atendidas)—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Lançar [Regressão: Memórias, Alma, Espírito]
Num piscar de olhos, a consciência de Akari mudou.
Sua expressão despreocupada de repente se tornou sombria.
“... Isso não está certo.”
Tirando sua tiara, Akari vasculhou suas próprias memórias e murmurou para si mesma.
A tiara em sua mão com a decoração semelhante a uma flor era um presente que ela já havia recebido antes. Não é como se acontecesse frequentemente, mas essa não foi a primeira vez que Menou comprou isso para ela em Garm.
Mas a situação se desenrolando nesta cidade era mais do que apenas incomum.
“Isso não pode estar certo. Eu nunca... ”
“Boa noite.”
Akari procurou de onde veio o cumprimento inesperado.
Ela ficou espantada ao descobrir que a garota falando com ela estava usando um kimono. Nem mesmo essa versão de Akari tinha visto essa garota em particular antes.
“Está preocupada com aquele pequeno espetáculo? Não há necessidade. Foi apenas uma pequena aposta—seria adorável se funcionasse, mas não fará mal algum se for o contrário. Ambas são pessoas racionais, então não haverá nenhum ferimento sério.”
Do que raios ela estava falando?
Uma onda de agitação estava percorrendo o salão com a ocorrência claramente anormal. Mas a garota não parecia nem um pouco preocupada enquanto se apresentava inquisitivamente para Akari.
“Meu nome é Manon Libelle. Acredito que nunca fomos formalmente apresentadas, não é?”
Foi uma saudação bastante normal. Se essa fosse a Akari de poucos momentos atrás, ela certamente teria sorrido de volta sem suspeitar.
Mas essa Akari sabia que havia um significado oculto nas palavras da garota. Escrito nas entrelinhas estava a implicação de que elas talvez tivessem se encontrado antes de alguma outra forma.
Isso deve ter alguma relação com a estranheza da situação atual.
“Você é... ”
“Ah, não se preocupe comigo. Afinal, não passo de uma mera representante.”
Akari tinha ouvido falar um pouco sobre ela antes. Ela era a representante do real chefe da família, Conde Libelle... Foi isso que ela quis dizer? De algum modo, parecia que ela estava insinuando outra coisa.
“Confesso que estava na esperança de poder te conhecer, mesmo que brevemente.”
“Perdão?” Akari não entendeu.
Esta era inequivocamente a primeira vez que ela e Manon estavam frente a frente.
Manon estendeu a mão e tocou suavemente o cabelo de Akari. “Minha mãe tinha cabelos pretos iguais aos seus.”
Ela sorriu de forma suave e nostálgica. Seu próprio cabelo era um tom de anil intenso que se aproximava do preto. Neste mundo, o poder na alma de alguém pode afetar a cor de seus cabelos. A genética não era o único fator determinante.
“Suponho que você não irá me contar. Sobre o lugar onde você estava antes de vir para cá.”
“... Me desculpe. Não me lembro.”
Isso não era uma mentira inocente.
Logo antes delas entrarem nesta cidade, Akari falou em tom de brincadeira para Menou:
“Eu não tenho mais nenhuma lembrança dos meus últimos dezesseis anos.”
Embora fosse brincadeira, também estava enraizado na verdade.
A Akari que normalmente estava com Menou não tinha completa ciência disso, mas ela realmente já havia perdido todas as lembranças da sua vida no Japão.
Akari usou o Puro Conceito de Tempo o suficiente para apagar dezesseis anos de memórias.
“É mesmo... ? Entendo. Então você também já usou demais o seu poder.” Manon entendeu exatamente o que as palavras de Akari significavam. “Eu te invejo. Sabe, você tem exatamente o que eu sempre quis. Você tem o poder para mudar o mundo precisamente como bem quiser, quantas vezes forem necessárias.”
Manon retirou sua mão e curvou sua cabeça educadamente.
“Perdoe-me pela intrusão. Se você conseguir deixar esta cidade... bem, espero que viva sua vida livremente.”
Com essas palavras misteriosas, Manon foi embora. Akari se sentiu ainda mais confusa enquanto a olhava se afastar. Esta situação continuava cada vez mais estranha.
Como Akari sabia o futuro, ela normalmente selava esse conhecimento e deixava as coisas nas mãos do seu eu mais alheio.
Haviam diversas condições diferentes que poderiam invocar a conjuração que ativa esse lado da sua consciência.
Quando ela estava longe dos olhos de Menou. Quando Menou estava em perigo. E quando algo que Akari nunca havia visto acontecia. Também havia algumas outras, mas essas três condições eram as mais importantes.
“Eu sabia. Está tudo errado.”
O primeiro dia em Libelle parece ter corrido perfeitamente.
Mas desde que ela entrou no Pandemônio no segundo dia e reviveu com a Regressão, algo estava fora do lugar.
Todos os incidentes ocorrendo nesta cidade atualmente eram completamente desconhecidos até para esta Akari.
“... ... ”
Ela precisava saber o que estava acontecendo. Se as coisas mudassem muito drasticamente dessa vez, ela perderia a vantagem de saber o futuro.
Akari tinha que viajar com Menou sem suspeitar de nada e finalmente ser morta por ela.
Deixar Menou matá-la era o único método que Akari conseguia pensar para salvar Menou das mãos daquela sacerdotisa de cabelo vermelho.
Com uma expressão determinada, Akari deu meia volta e foi até uma área onde ninguém pudesse vê-la.
E então, ao confirmar que ninguém estava olhando, seu dedo indicador brilhou com Luz Etérea.
Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Teletransporte]
Sem esperar Menou retornar, Akari desapareceu em um clarão de Luz Etérea, deixando apenas um fraco brilho para trás.
“Aquela mulher certamente sabe como ser um incômodo... ”
Após fugir para um quarto da mansão, Menou resmungou para si mesma.
O vestido que Momo havia feito tão generosamente para ela agora estava coberto de terra. Eu devia ter sido mais cuidadosa, ela pensou se auto-repreendendo. Essa era a extensão de suas preocupações sobre a luta.
Aquele último movimento foi um ardil usando Camuflagem Etérea.
Ela a usou por meio do Fio Etéreo que estava conectado à adaga ainda fincada no chão. Enquanto movia sua mão como se estivesse puxando a adaga de volta, ela em vez disso usou o fio para criar uma ilusão com Camuflagem Etérea da adaga retornado à sua mão.
Consequentemente, Ashuna ficou convencida de que a adaga que ainda estava no chão, estava realmente na mão de Menou.
Quando Ashuna não estava mais focada na adaga, Menou utilizou o Fio Etéreo que ainda estava ligado a ela para ativar o brasão de Vendaval. Isso produziu uma nuvem de terra, permitindo com que Menou escapasse para o edifício enquanto Ashuna estava cega e confusa.
“Não tenho tempo para pactuar com seu desejo absurdo de lutar.”
Limpando a sujeira de si mesma, ela continuou reclamando. Ao contrário de Momo, Menou não era abençoada com uma grande quantidade de Força Etérea. Ela não pensava necessariamente que teria perdido se continuasse lutando com Ashuna diretamente, mas Menou também não ganharia nada vencendo aquela luta. Então ela a interrompeu o mais rápido que pôde e fugiu.
Ela suspirou com alívio por ter conseguido escapar.
Menou não usou sua escritura e estava usando um vestido: seu penteado estava diferente, e ela escondeu seu rosto e mudou sua voz. Uma vez que trocasse para seu traje de sacerdotisa, ela deveria estar livre de ser detectada desde que Ashuna não visse sua adaga ou algo do tipo. Mesmo se elas se cruzassem em algum lugar no futuro, Ashuna não teria razão para suspeitar que Menou havia sido sua oponente.
Porém, conhecendo Ashuna como ela conhece, todo cuidado era pouco para Menou. No pior dos casos, ela pode ter conseguido descobrir que ela é uma sacerdotisa baseada apenas no seu estilo de luta.
“Pode ser muito arriscado fazer uma busca no interior agora... ”
Ashuna poderia muito bem ainda estar perambulando pela região.
Na verdade, não havia nenhum mal mesmo se Ashuna a identificasse. Isso só significaria que ela saberia que havia uma sacerdotisa errante por perto que era habilidosa em batalha. Independente do que ela possa suspeitar, ela não teria provas de que Menou era uma Executora.
O único problema era que se envolver com Ashuna parecia atrair todos os tipos de problemas.
Isso ficou especialmente claro após sua breve batalha. Ela era uma Princesa ainda mais incontrolável do que os rumores diziam. Do fundo do seu coração, Menou realmente não queria ter nenhum envolvimento com Ashuna a não ser que fosse absolutamente necessário.
Acima de tudo, foi exaustante ela ter se metido em uma luta tão chamativa sem nada em particular para revelar pela noite.
Ela limpou o vestido o bastante para não se destacar e cogitou sobre o que fazer em seguida. Graças à Ashuna e sua espada flamejante ridiculamente chamativa, as pessoas estavam começando a se reunir fora da mansão. Sua melhor opção era usar isso como uma chance para se reagrupar com Akari e deixar a festa.
“Suponho que isso seja tudo para a operação de hoje.”
Ela não conseguiu obter nenhuma informação, mas não há nada que ela possa fazer sobre isso agora. Seria muito imprudente tentar continuar a investigação.
“Bom, estou certa de que Momo está indo melhor na parte dela, pelo menos.”
Momo deve ser capaz de destruir uma base boba pertencente à Fourth sem problemas.
Colocando sua fé em sua talentosa assistente, Menou saiu do quarto.
Foi uma suposição otimista demais.
O vento soprava da terra para o mar na cidade portuária à noite.
Momo corre contra o vento pela escuridão.
Sua respiração estava irregular enquanto ela saltava de telhado em telhado, evitando ser vista. Ela estava fazendo careta e segurando sua lateral.
Sangue fresco escorre por seus dedos. Mas o problema não era o ferimento pungente.
“... ... Ngh!”
O rosto de Momo estava torcido por causa do veneno que entrou em sua corrente sanguínea por meio da ferida recente.
“Isso é péssimo... ”
Foi a pior asneira que ela poderia ter feito. Sua cabeça gira com vergonha e frustração.
Mas Momo ainda tinha que passar aquelas informações.
Entrando em um beco escuro, Momo verificou seus arredores e parou. Não parecia haver ninguém por perto.
Ela abriu sua escritura, encheu-a com poder e construiu uma conjuração.
Força Etérea: Conectar—Escritura, 1:4—Invocar [A vontade do Senhor é transmitida por todo o céu e terra, reinando vastamente.]
Abaixo da superfície do berrante baile noturno, algo sombrio estava em curso na noite.
Momo usou a conjuração de comunicação da escritura para relatar o que havia acontecido com ela.
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