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Prólogo




Tradução: Gabrielfsn
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O sol branco escaldante cruzava o céu, traçando o horizonte.
Quase anormalmente brilhante, ele nunca nascia ou se punha, trinchando um perfeito caminho paralelo à linha do horizonte. Circundando todos os trezentos e sessenta graus, ele o fazia sem um claro início ou fim, nunca cessando seu ciclo perpétuo.
Este era um mundo parado no tempo, sem dia ou noite.
Como se o céu não fosse misterioso o bastante, a própria terra também estava em um estado inexplicável.
À primeira vista, o cenário parecia bastante comum.
Havia cidades e aldeias, edifícios com pessoas vivendo nelas. Muitas delas eram estruturas um tanto desgastadas pelo tempo e quase Vitorianas, mas essas casas não eram tão estranhas para que alguém pensasse muito nelas. Nos campos e florestas estavam monstros que ameaçavam o dia a dia das pessoas, e também havia aventureiros que ganhavam a vida destruindo tais bestas.
Mas este mundo, que parecia natural, foi todo feito artificialmente.
As pessoas que viviam nas cidades e aldeias eram todas marionetes conjuradas, cuidadosamente produzidas para parecerem humanos. Os monstros realistas também eram todos soldados sem sangue ou carne, não criaturas naturais com seu próprio ecossistema. E não eram apenas os organismos em movimento que eram ficções criadas com conjuração. Tudo, da terra às plantas, foi criado e colorido por um poder das Cores Primárias.
O funcionamento deste mundo foi todo feito a partir de Conceitos de Cores Primárias.
Dizia-se que eles eram capazes de criar um mundo—porque haviam realizado tal feito.
O resultado foi a Fronteira Selvagem do leste: a Sociedade Mecânica.
Ela foi feita com um nível de precisão praticamente patológico, com cada centímetro repleto de detalhes. Criada com as três Cores Primárias, este diorama perturbadoramente grande parecia repintar o próprio mundo.
Ao perceber isso, uma pessoa estremeceria com o vazio de tudo.
As marionetes irracionais seguiam suas vidas sem dizer uma palavra. Famílias morando juntas em casas. Crianças brincando no parque. Nada disso tinha um pingo de sentido. Eles nunca esboçavam uma única emoção, nunca davam o menor pio, apenas e sempre fazendo ecos maçantes de seus movimentos.
Era uma caixa robótica e vazia, criada em uma terra limitada pela presença incessante do sol que não se punha traçando paralelamente o horizonte.
Não havia criaturas vivas aqui. Mesmo se um ser vivo pisasse neste mundo saturado pelas Cores Primárias, ele seria instantaneamente coberto pela tonalidade e seria transformado em um dos soldados conjurados que povoavam este mundo.
Todo ele era artificial.
No coração deste mundo—onde todas as coisas são manipuladas por um titereiro—uma voz inocente e cantante interrompeu o silêncio, estranhamente deslocada.

Mm, mm, mmm, mm, mm, mmm!

Era uma garotinha de cabelos e olhos pretos, usando um vestido branco. Ela parecia ter menos de dez anos. Havia algo inocente e angelical nela, embora suas feições fossem bastante refinadas. Sem se importar com a natureza bizarra deste mundo, ela cantarolava alegremente uma melodia.

Mm, mm-mm, mmm, mmm, mm, mmm!

A menina estava montada em um monstro desmembrado que se assemelhava a uma minhoca gigante. Embora não tivesse braços ou pernas, seu corpo era coberto com bocas de aparência muito humana, e estava se arrastando pelo chão com seus dentes. Como uma centopéia, mas com bocas no lugar das pernas.
A menina de aparência inocente montada sobre o monstro medonho era ainda mais horripilante.
Algo era visceralmente perturbador sobre o quão alegremente ela estava cantarolando, apesar de estar em um mundo mecânico limpo de qualquer coisa viva e montada em uma criatura assustadora. O calor do seu fluxo de sangue, a maciez das solas dos seus pés descalços, a entonação de sua melodia muda… tudo isso era quente demais para este mundo de uma forma que gelava a pessoa até o âmago.
Ao que tudo indicava, a menina era um anjo inocente—inofensiva, indefesa e adorável. Seria difícil para um estranho entender porque uma criança tão adorável parecia tão deslocada neste mundo.
Somente o vestido com três buracos no peito dava algum indício sobre a natureza sombria da menina.
Ela era a pior de todos os Ádvenas que detinham poderes sobrenaturais. A progenitora de todos os monstros e demônios neste mundo: Pandæmônio.

Nome de Personagem: Pandæmônio. Os dados foram registrados.
“Mm?”

A garotinha de repente olhou para o céu. Uma voz parecia soar dentro de sua cabeça.

Boas-vindas ao Mundo Contêiner. Sua habilidade para subir de nível é…

A voz continuou a falar em sua cabeça, a garotinha tocou no monstro que ela estava montada com um dedo. Era um sinal para o monstro comer o corpo da menina, usando suas inúmeras bocas para rasgar sua carne e esmagar seus ossos, devorando a garotinha em instantes.
Enquanto algumas das bocas estalavam seus lábios com satisfação, um braço esguio saiu de outro conjunto de dentes.

“Que desagradável. Você está me deixando irritada.”

De dentro da boca emergiu a mesma garotinha que havia acabado de ser mastigada e consumida. Coberta com fluído de monstro, ela se arrastou para fora começando pela cabeça, depois seu torso e finalmente o resto do seu corpo.

“Tenho assuntos na região, então pensei em vir checar um certo alguém pela primeira vez em mil anos, mas acho que ainda não nos damos muito bem.”

Ela sacrificou seu próprio corpo para evocar um novo eu. A garota—que era imortal e cuja morte catalisava a ressurreição—deu um pulo giratório de volta para cima do monstro, retornando para onde ela estava antes.

“Que pena. Ainda lhe faltam mil anos para tentar mexer comigo e me controlar! Não vou participar dos seus jogos bobos. No que me diz respeito, filmes são a melhor forma de entretenimento que existe!”

Com a menina ilesa montada sobre ele, o monstro de centenas de bocas continuou rastejando como se nada tivesse acontecido.

“Qualquer um que assiste a filmes aprende que o mundo não deveria ser sem emoção. Tragédias e comédias provocam uma reação em nós porque temos corações humanos. Lutar desesperadamente pela liberdade ou desafiar o destino dá valor às nossas vidas… Mas o problema com os gamers é que vocês só tentam criar coisas elaboradas.”

Balançando a cabeça em uma demonstração de completa exasperação, ela olhou para o sol distante.
Neste mundo pintado totalmente com Cores Primárias, o único objeto puro-branco presente era o sol no céu.
Quem em algum momento suspeitaria que o sol branco era artificial?
Aquele era o único elemento que não fazia parte da criação deste mundo—um sol artificial, feito pelo herói Marfim para selar o infinitamente multiplicante Receptáculo mil anos atrás.

“É realmente tão grandioso, maravilhoso e branco.”

O supremo, imbatível e mais poderoso Puro Conceito: Marfim. Um simples olhar para aquela relíquia que o mesmo havia deixado para trás era um lembrete de sua força imponente.
Se Marfim não estivesse lá mil anos atrás, o que teria acontecido com o mundo?
Para melhor ou pior, as coisas certamente teriam sido muito diferentes.
Haviam apenas dois seres que nem mesmo Marfim conseguiu matar completamente: a mais fraca, porém mais desprezível Maldade e o menor, porém numeroso Receptáculo. A primeira trouxe os demônios e monstros com Pecado Original, mas o segundo usou as Cores Primárias para revestir o mundo.
O Puro Conceito de Receptáculo podia criar qualquer forma e se esconder dentro de qualquer forma. Com a expansão ilimitada das Cores Primárias, ele tentou apoderar-se do mundo inteiro. Razão pela qual Marfim criou um eterno sol branco da meia-noite, para selar a ameaça em um mundo fictício. Foi uma tentativa de destruir a fronteira entre o dia e a noite, de cortar todo o sentido de geografia, tempo, espaço, e qualquer outra conexão conceitual do mundo exterior.
Tal como o selo que mantinha Pandæmônio no nevoeiro, este selo também prendeu por mil anos sem falhar.
Mas em algum momento…
A noite branca que deveria ser interminável começou a ser visitada pelo pôr do sol.
Por apenas uma hora por dia, o sol branco se punha e uma verdadeira noite caía.
Na escuridão, Pandæmônio fez seu caminho no coração do mundo.
Foi quando as marionetes conjuradas que imitavam humanos, a Sociedade Mecânica que imitava a vida em outro mundo, pararam subitamente.
Dezenas de milhões de olhares caíram sobre ela. A criatura de centenas de bocas que Pandæmônio estava montada apertou todos os seus lábios, como se fosse incapaz de suportar a pressão.

“Mm.” A garotinha adorável inchou as bochechas formando um beicinho. “Então você ainda está viva, afinal. Estou triste por você ter me ignorado por tanto tempo.”
“Insetos malditos.” uma voz ecoou.

Uma das marionetes conjuradas havia aberto a boca, levando as outras a acompanhar em uma cascata de vozes.

“Insetos irritantes.” “Verme maldito. Você sempre volta mesmo quando te esmago.” “Eu tento me livrar de você, mas você nunca vai embora.” “Por que está aqui?” “No nosso reino pacífico?” “Por que mais alguém ousa tentar existir aqui?” “Por que você tenta abrir o nosso mundo?”
“Vejo que você não mudou nem um pouco. Você é a definição de reclusa, não é? Não consigo imaginar mais ninguém que reclamaria sobre o selo começar a enfraquecer.”

Passou tanto tempo que Pandæmônio até se esqueceu de como falar por um tempo. E ainda assim, essa pessoa estava reclamando sobre a tampa de mil anos finalmente afrouxar.

“Por que eu deveria me importar?” “Que diferença isso faz?” “Os insetos ainda não foram esmagados.” “Não há tempo suficiente.” “Pela eternidade.” “Nunca há tempo suficiente.” “Especialmente se for possível sair.” “Então preciso de ainda mais tempo.” “Para tornar todo o exterior parte do meu mundo também.”

Pandæmônio encolheu seus ombros pequenos para as vozes ecoantes e desoladas.

“Nós ainda não nos damos bem, não é? Mm, seu Puro Conceito e o meu são como óleo e água, de qualquer forma. Estamos destinadas a não nos misturarmos, mas… estar em conflito também é maravilhosamente caótico, eu acho.” Pandæmônio olhou ao redor.

Este mundo inteiro havia sido feito por apenas uma pessoa. No meio de todos os edifícios de estilo Vitoriano, havia uma estrutura que parecia deslocada: um edifício quadrado, de três andares feito de concreto reforçado. O edifício tinha atrelado a ele um ginásio e jardins cercados. Sua estrutura era estranha neste mundo, mas qualquer pessoa japonesa o reconheceria de cara.
Era um edifício escolar.

“Você está aí, não está? Você nunca muda, mesmo que finja. Acho que isso é realmente bem típico de você.”

Olhando para o coração da Sociedade Mecânica, a qual continuava produzindo seu mundo estranho, Pandæmônio balançou a cabeça.

“Mas se estiver aí, então não vou entrar. Tenho certeza de que será muito mais divertido sair daqui, encontrar-me com Manon e brincar com ela.”

Só havia uma razão para ela não ir ver sua antiga conhecida pela primeira vez em mil anos.

“Eu sempre odiei a escola. Pelo menos, eu acho.”

Deixando os resquícios de suas memórias e personalidade serem levados pelo vento, Pandæmônio girou para ir embora. E então ela piscou, surpresa. De repente, alguém estava bem na frente dela.
Um homem sem rosto estava diante de Pandæmônio. Buracos perfuravam seu corpo, especialmente sua cabeça, onde parecia que seus elementos faciais haviam sido arrancados.
E mesmo assim, ele estava vivo. A Força Etérea que transbordava de seus ferimentos estava servindo como seu corpo.

“Mm!”

Pandæmônio, ao que parecia, nunca tinha visto alguém como ele antes. Ela exclamou em surpresa e abriu bem os braços.

“Prazer em conhecê-lo. Entããão, quem seria você?”

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