Responsive Ads







Capítulo 1 - O Receptáculo Traiçoeiro




Tradução: Gabrielfsn
Acompanhe a Tradução Original Clicando aqui




O mundo estava congelado.
O ar frio e seco soprava sobre a lua pálida, a qual era a única fonte de luz no deserto silencioso. Os feixes frios de luz estavam apagados em alguns lugares, brilhando sobre as ruínas que afundaram na areia como se para selá-las ali pela eternidade.
Este era o meio da Fronteira Selvagem na parte central do continente. Era especialmente remoto mesmo para o enorme deserto, onde provavelmente ninguém jamais pisaria.
O calmo luar iluminava as ruínas do que no passado era uma residência. Humanos abandonaram essa estrutura em face do clima severo, mas agora sombras passavam por elas em silêncio como espíritos dos mortos.
Haviam três delas. Uma estava carregando no ombro um saco grande o suficiente para comportar outra pessoa. Um gemido abafado escapou do topo fechado do saco. A julgar pela forma como estava se contorcendo em protesto, devia haver uma pessoa dentro.
Os três homens não deram atenção à resistência, que parecia mais irritante que tudo, enquanto corriam ao longo da sua rota oculta pelo deserto. Mesmo na escuridão da noite, com apenas a luz da lua para guiá-los, eles se moviam com treinada precisão, nunca hesitando ou afundado na areia.
Como prova adicional de que eles eram altamente experientes, todos eles estavam cobertos por uma luz fraca que afugentava a noite escura como o breu—um poder chamado Força Etérea que podia ser extraído da alma, a raíz da vida, para aumentar sua força física.
O Aprimoramento Etéreo tornava seus passos rápidos e fortes. Eventualmente, um portão de metal apareceu em seu caminho.
O guarda do portão se aproximou e teve uma breve conversa com os homens. Na mão do guarda estava uma arma que a Faust proibiu de ser produzida, distribuída ou possuída: uma arma Etérea.
Uma vez que ele olhou para cada um de seus rostos, o guarda acenou e sinalizou para a entrada. As portas se abriram com um som irritante de metal pesado, e os homens entraram no local.
O guarda retornou ao seu posto. Era um trabalho exaustivo, mas seu rosto estava alerta enquanto olhava em volta.
Ele, no entanto, não percebeu que um intruso havia passado quando o portão se abriu momentos antes.
Os homens estavam sendo seguidos.
Não era surpresa que nenhum deles havia notado. O indivíduo misterioso era mais como um fio de ar envolto em escuridão do que um ser humano comum. Na já baixa visibilidade, alguém que estava camuflado na cor da noite passaria despercebido muito facilmente.
Uma vez no interior, o intruso desfez a técnica que estava usando.

“…Ufa.”

A escuridão pareceu derreter, revelando uma jovem e encantadora mulher que parecia estar em sua adolescência.
Ela usava uma túnica anil de sacerdotisa, um manto amarelo e uma saia, e segurava uma escritura em uma das mãos—todas as indicações claras de que ela era uma integrante da Faust. O lado direito de sua saia tinha uma abertura que revelava sua perna, mas não era de modo algum uma escolha de moda: era uma modificação para que ela pudesse acessar sua adaga amarrada em sua coxa direita.

“Vejamos…”

Tendo seguido os homens e se infiltrado na instalação, Menou lambeu os lábios. Ao olhar em volta, seu cabelo castanho-claro balançou atrás dela, preso em um rabo de cavalo com um laço preto.
Camuflagem Etérea—uma técnica que envolvia alterar a cor da luz fosforescente produzida pelo Aprimoramento Etéreo para enganar os olhos—exigia um controle muito preciso de Força Etérea. Era uma técnica incrivelmente difícil que somente algumas pessoas podiam usar, mas recentemente, Menou dominou a Camuflagem ativa, a arte de combinar sua cor com o ambiente.
Usar isso para se transformar em outra pessoa era uma façanha ainda mais difícil. Com suas habilidades atuais, Menou podia cobrir seu rosto com uma máscara, mas mudar suas características naturais era mais difícil. Mesmo manter a Camuflagem Etérea enquanto seguia os homens na escuridão da noite não era nada fácil.

“Eles são habilidosos, certo. Terei de ser cuidadosa.”

Ao recordar-se dos movimentos dos homens que ela seguiu, Menou verificou seus arredores novamente, com sua expressão ainda séria.
Este lugar deve ter sido construído em ruínas preexistentes; havia edifícios simples de barro por toda a parte. Ela avistou algumas tendas e cabanas sendo usadas como acampamento e um prédio de cinco andares no meio. A julgar pela segurança rígida, aquele provavelmente era o centro da operação.
Era tudo surpreendentemente completo para algo no meio da Fronteira Selvagem.
Menou fez uma careta, irritada por ter que infiltrar tal lugar sem qualquer investigação prévia. E era tudo por causa do conteúdo do saco que aqueles homens estavam carregando.
Sim, a pessoa dentro do saco era a companheira de viagem de Menou: Akari.
Ela era uma garota ingênua, descontraída e alegre. Mas ela também era uma perdida, uma pessoa evocada de outro mundo com um poder estranho e formidável atrelado a sua alma chamado de Puro Conceito. O que não falta são pessoas que gostariam de pôr suas mãos no poder dela, o qual podia até mesmo desfazer a vontade do mundo.
Os homens atacaram enquanto elas cruzavam o deserto para escapar da Fronteira Selvagem. Havia um total de cinco no grupo que avançaram sobre elas no meio da noite. A princípio, ela assumiu que eram apenas alguns delinquentes que pensavam ter se deparado com duas mulheres indefesas, mas eles acabaram por ser muito mais habilidosos do que o esperado. Enquanto Menou cortava dois deles, os outros três capturaram Akari e fugiram debaixo do seu nariz.
Foi culpa de Menou, mesmo que tenha sido um ataque surpresa. Ela foi motivada pelo impulso de destruir a base deles; foi a razão dela ter continuado a seguir os homens após localizá-los.
Mas agora que ela viu a escala daquela base, ela estava se arrependendo de sua escolha.

“Eu deveria ter entrado em contato com Momo imediatamente…”

Momo era sua subordinada e assistente. Imaginando a garota com duas trancinhas rosas, Menou suspirou.
Ela assumiu que alguns bandidos do deserto não poderiam ser mais que algumas dúzias de pessoas, mas sua sede era praticamente uma base militar. A julgar pela quantidade de materiais e número de pessoal à vista, devia ter mais de cem pessoas aqui, e deviam fazer parte de uma organização maior.
Havia poucas cidades com bases nessa escala, mesmo em territórios populosos. Desativá-la era uma tarefa grande demais para uma pessoa, incluindo uma Executora como Menou.

“…Acho que vou me concentrar em conseguir Akari de volta.”

Quem fez uma base no meio da Fronteira Selvagem, e por quê? Era o dever de Menou julgar aqueles envolvidos em atividades proibidas, então ela queria saber o que estava acontecendo aqui, mas não poderia investigar até cumprir seu objetivo principal de recuperar Akari.
Estabilizando-se, Menou voltou sua atenção para um dos edifícios: o mesmo no qual os homens haviam acabado de entrar com o saco que continha Akari.
Era um edifício bruto de um andar, evidentemente feito com pedras das ruínas. Menou se aproximou da janela e riscou o vidro. Com quase nenhum som, ela quebrou a vidraça perto da fechadura e abriu a janela antes de entrar na sala.
Não havia sinal de ninguém no interior. Um candeeiro Etéreo, um receptáculo para Força Etérea, iluminava o espaço.
Menou se esgueirou pelo corredor, com passos silenciosos. Convenientemente, ela logo alcançou os homens que estavam carregando o saco.
Os homens que estavam correndo em silêncio lá fora, agora estavam conversando enquanto caminhavam vagarosamente pelo corredor, com sua guarda baixa agora que estavam dentro de sua base. Nenhum deles pareceu notar Menou. Enquanto ela continuava a segui-los cuidadosamente, eles chegaram em uma sala repleta de barras de ferro.
Parecia ser algum tipo de prisão. Este edifício devia servir para manter cativos, então. Menou fez uma careta, imaginando o que o lugar poderia parecer se estivesse cheio.
Os homens abriram uma das celas vazias e estavam prestes a jogar o saco contendo Akari dentro.
Era a vez de Menou atacar. Seus alvos eram os três homens que haviam capturado Akari. E tendo-os seguido até a sala, Menou estava entre eles e a saída.

Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Fio Etéreo]

Ela furtivamente invocou um brasão que criava um fio em torno do cabo da sua adaga.
Ainda atrás deles, Menou igualou sua respiração com a dos homens, calculando o tempo perfeito. Quantos deles ela poderia derrubar com um ataque surpresa? Seu foco apertou como uma corda de arco sendo puxada.
Seu alvo principal era o homem segurando Akari. A última coisa que ela precisava era que ele a usasse como escudo. Concentrando seu foco nas pontas dos seus dedos, ela imaginou um golpe perfeito no seu alvo.
E então arremessou a adaga.

Ngah—”

A adaga acertou a nuca do homem e perfurou seu tronco encefálico, matando-o instantaneamente. Ele caiu no chão com a lâmina ainda presa, soltando o saco de Akari.
Os outros dois reagiram imediatamente.

Tch!
“Merda! Fomos seguidos!”

Apesar do fato de que seu companheiro havia acabado de morrer na frente deles, os homens avaliaram a situação calmamente e mudaram para o modo de batalha. Seus movimentos foram suaves ao puxar suas facas e pequenas armas Etéreas e apontá-las para Menou.
Eles eram habilidosos, Menou tinha que admitir. Enquanto ela estalava a língua internamente, os dois atiraram de uma vez. Quando ambos puxaram os gatilhos, os canos incomuns extraíram sua Força Etérea, a qual foi condensada em balas que dispararam na direção dela com um bang.
A mira deles foi esperta. Em vez de tentarem acertá-la, eles dispararam tiros de alerta para tentar afastar Menou da saída. Muito provavelmente, eles esperavam pegar seu flanco quando ela saísse da sua linha de fogo e tomar o controle da luta.
No entanto, como ela sabia que esse era o plano deles, Menou não tinha nenhuma obrigação de seguir com ele.

Força Etérea: Conectar—Túnica de Sacerdotisa, Brasão—Invocar [Barreira]

O brasão de barreira gravado em suas vestes de sacerdotisa ativou. Uma parede de luz fraca se formou na frente de Menou, refletindo os projéteis de volta.

Mmph?!

Akari se contorceu no chão como uma lagarta, ou pela dor de bater no chão ou pelo alarme do som de tiros. De relance, não parecia que ela tinha sido atingida por uma bala perdida. Se Akari tentasse fazer qualquer coisa, ela poderia causar todo tipo de problema.

Menou gritou para ela. “Akari. Fique parada!”
Mmph. Mmmph!

Embora suas palavras fossem incompreensíveis, Akari pelo menos parou de se mexer. Chegando a decisão de que ela ficaria bem sozinha por enquanto, Menou se concentrou nos dois homens.
Numa pausa entre os disparos, a barreira desapareceu e Menou avançou correndo. Ela puxou o Fio Etéreo preso a sua adaga para trazê-la de volta às suas mãos. Enquanto ela preparava a lâmina, ela se aproximou sem hesitar, mantendo a distância curta o bastante para eles não terem tempo de mirar.
Menou atacou a garganta de um dos homens, e ele mal conseguiu bloquear com sua faca.
Seus olhos se cruzaram. Enquanto a expressão de Menou era perfeitamente fria, o homem estava claramente em pânico. O braço esguio da garota estava empurrando o seu braço forte e musculoso. Ela estava usando Aprimoramento Etéreo para compensar a diferença natural entre suas forças e até superando-o em poder.

“Mal…dita…!”

O outro homem rosnou e se apressou para mirar sua arma em Menou, que imediatamente se deslocou para colocar o companheiro dele entre os dois como escudo. Ela estava se posicionando para permanecer em uma batalha um contra um em vez de dois contra um.
Eles tinham uma visível diferença em habilidade. Seria apenas uma questão de tempo até que a luta terminasse.
Os homens rapidamente tomaram uma decisão.

“Escute! Ela é forte demais para nós. Use aquilo.”
“Entendi!”

Menou não sabia a que eles se referiam, mas dado o momento, provavelmente era algum tipo de reforço. Eles iriam sacrificar um homem para que o outro pudesse buscar ajuda? Ela se preparou para impedi-los, mas sua suposição estava errada.
Ao invés disso, houve um brilho de luz vermelha de dentro do homem atrás. Menou arregalou os olhos para o sinal muito familiar.
Ele tinha uma Pedra Vermelho Primário embutida em seu corpo.

“Você é louco!?” Menou exclamou.

O homem riu ferozmente em resposta.
No instante seguinte, ele se contraiu para dentro com um ruído suprimido. A pedra vermelha dentro dele absorveu seu corpo por dentro. Ao contrário dos terroristas que Menou outrora encontrou em um trem, esse homem não parecia nem um pouco assustado.
Não era autodestruição. Ele estava abrindo mão de sua vida para transfigurar-se em um inimigo ainda mais problemático. Ele optou por uma estratégia sacrificial apenas para deter Menou.

“Seu—!”
“Nem pensar!”

Menou tentou destruir o núcleo antes que este pudesse ativar, mas o homem restante a impediu. Isso também era um ato aterrorizante de compromisso com a causa. O homem severamente usou sua faca e arma para ganhar tempo o suficiente.

Força Etérea: Fundir Materiais—Pedra Vermelho Primário, Conjuração de Selo Interno—Ativar [Vermelho Primário, Soldado de Seis Braços]

Um soldado vermelho se manifestou das matizes primárias que coloriam o mundo.
Na forma de uma deidade com seis braços, o guerreiro conjurado empalou o homem que estava lutando contra Menou com um golpe de suas espadas. Depois levou uma lâmina vermelha na direção dela por um ponto cego.

“O quê?!”

Menou repeliu a arma e imediatamente saltou alto no ar. O homem que havia sido apunhalado por trás pelo soldado conjurado sorriu.

Heh-heh…! Tarde demais. Você não vai sair daqui com vida.”

Mesmo em seu último suspiro, o homem não condenou seu destino uma vez sequer.
Seu corpo murchou. A espada empalada nele estava absorvendo seu sangue como alimento. E não era apenas aquele homem. Cada uma das seis espadas do soldado conjurado foram em direção ao homem que Menou abateu primeiro—e à Akari, que ainda estava no saco.

“Não vou deixar!” Menou gritou furiosamente.

Se ela hesitasse o mínimo que fosse, ela nunca conseguiria. Sem se importar com o perigo, ela saltou diretamente até a garota o mais rápido que podia.
A espada vermelha cortou o ar, errando-a por pouco.
Todas as seis espadas foram na direção de Menou em velocidades diferentes, tentando cercá-la. Enquanto ela mergulhava em uma linha reta, o soldado conjurado previu seus movimentos com muita facilidade. Se mais alguém estivesse lá para testemunhar essa cena, certamente esperaria ver as entranhas de Menou espalhadas por toda parte no momento seguinte.
Mas os ataques, vindo em sua direção com o triplo de membros de um humano comum, nem sequer a arranharam.

Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Vendaval]

Assim que as espadas se moveram, houve uma rajada de vento da adaga de Menou.
Foi um uso de conjuração de brasão rápido e sábio. A súbita rajada impulsionou a sacerdotisa ainda mais rápido, permitindo-a passar pelos braços.

Mmph?!

Passando pelo soldado conjurado, Menou agarrou o saco sem desacelerar. O movimento súbito deve ter surpreendido Akari, que exclamou de dentro, mas Menou a ignorou. Ao colocar o saco e seu conteúdo agradavelmente macio no ombro, ela saltou para trás para manter distância entre ela e o soldado conjurado.
O inimigo não tentou persegui-la. Ao invés disso, ele empalou o homem que Menou abateu primeiro para absorver o sangue do corpo.
Menou estalou a língua.

“Um Soldado de Seis Braços…”

Essa era uma forma das armas conjuradas autônomas: uma construção semelhante a um cavaleiro modelada a partir de um humano.
Soldados conjurados eram incrivelmente resistentes. Seus corpos inteiros eram duros e eles poderiam continuar se movendo desde que seu núcleo estivesse intacto. Isso era uma péssima combinação para Menou, que se especializou em movimentos mais precisos e direcionados. Para piorar as coisas, a pessoa usada de base havia sido muito forte. Se ela tivesse que cruzar lâminas com aquelas seis espadas, ela poderia ser suprimida.
Era pouco provável que Menou perdesse em uma batalha um contra um, mas isso era uma base inimiga. Se ela fosse cercada por reforços enquanto lutasse com este soldado conjurado, elas estariam em maus lençóis. E se ela fizesse qualquer movimento grande, provavelmente traria mais inimigos correndo.
Não era que ela não podia lidar com o soldado conjurado diante dela; era a situação geral que a preocupava.
O que ela deveria fazer?
Menou estava rangendo os dentes para suas poucas opções quando ela ouviu um alto clang.
Uma das portas das celas no fundo da sala estava chacoalhando.
Menou não percebeu que havia mais cativos além de Akari. Ela virou a cabeça rapidamente para olhar para a cela e viu uma garota usando um traje de freira.

“Prazer em revê-la, Menou.”

Prazer em revê-la. Menou arregalou os olhos para esse cumprimento—extremamente inesperado—e a pessoa que falou.
A garota tinha mais ou menos a idade de Menou, com vistosos cabelos prateados soltos e ondulados. Seus olhos caídos verde-esmeralda a faziam parecer sonolenta, mas esse não era necessariamente o caso. Era apenas o formato natural de seus olhos.
Menou sabia o nome dessa garota.

“Não pode ser… É você, Sahara?”
“Sou eu.” Sahara acenou e estendeu sua mão esquerda através das barras. “Vejo que ainda está usando aquele laço.”

Ela foi capturada e trancafiada, ou acabou aqui de alguma outra maneira? Menou não tinha ideia, mas não havia tempo para pensar.

“Poderia me tirar daqui? Tenho certeza que posso ser de alguma ajuda.”
“Tudo bem.” Menou precisava de qualquer ajuda que conseguisse. Ela quebrou a fechadura com sua adaga e abriu a porta. “Sahara. Sei que já faz um tempo, mas a conversa terá que esperar até—”
“Escute, Menou.”

GRRRGL. Um estômago roncou.

A dona do dito estômago, Sahara, falou com uma pronúncia apática. “Perdão. Estou tão faminta que não tenho mais forças.”
“Então quer dizer que vai me atrapalhar!?”

O inimigo, claro, não iria parar e esperar elas terminarem essa conversa boba.
Menou rapidamente puxou Sahara para o chão para salvar ambas do ataque do soldado.

“Eles têm me dado o mínimo de comida para que eu não pudesse escapar… Imaginei que se eu não dissesse que poderia ajudar, você me abandonaria. Sinto muito por isso.”
“É claro que eu te salvaria! Você é uma velha amiga!”

De fato, mesmo se ela não fosse um rosto familiar, Menou ainda teria resgatado qualquer pessoa inocente mantida em cativeiro por esse grupo criminoso. O quão insensível Sahara achava que ela era?
Ela tentou aumentar seus aliados e acabou com mais bagagem no lugar. A essa altura… Menou tirou Akari do saco.

“Oh, olá, gracinha.” Arrulhou Sahara em uma voz que era muito relaxada para a situação atual. A pessoa que emergiu do saco era uma garota muito fofa.
Ela tinha cabelos pretos e olhos escuros redondos e vívidos. Embora seu rosto parecesse jovem para os dezesseis, ela era muito mais curvilínea do que as garotas comuns.

“Ahhh! Mmm! O ar é tão fresco aqui fora. Obrigada, Menou! Hmm? Quem é essa moça adorável de cabelos prateados—eita, qual é a daquele cara vermelho!?”

Assim que Menou desamarrou a mordaça, Akari respirou fundo, imediatamente celebrando sua liberdade, inclinou a cabeça para a recém-chegada e finalmente exclamou em choque para o soldado conjurado apontando suas espadas para elas—nessa ordem. Como sempre, ela era muito expressiva.

“Ei, eu já vi uma coisa desse tipo antes! Sabe, de quando nos conhecemos. Não foi? A coisa no trem, lembra!?”
“Isso mesmo. Essa é uma situação semelhante. Então eu te imploro, Akari: Só fique quieta!”
Enquanto Menou tentava silenciar a raptada barulhenta, Sahara casualmente interrompeu. “Prazer em conhecê-la, Akari. Você tem cabelos e olhos pretos muito bonitos. Eu sou Sahara. Sou uma freira, mas também pode me chamar de antiga paixão de Menou.”
“Hã? ……Quem é você?”
“Guardem isso para depois.” Menou não tinha tempo para lidar com isso no momento. Após repreendê-las brevemente, ela colocou seus braços em volta de Akari, cujos olhos ficaram sombrios por algum motivo, por trás.
“Espera um pouco, Menou! Eu quero ouvir tudo sobre você e a… hm, Sahara? Agora mes—”
“Akari. Isso é uma emergência. Vou pegar sua Força Etérea emprestada.”
Força Etérea: Conectar—Akari Tokitou—
“…Aahn!

Enquanto Menou sussurrava no ouvido de Akari, sua Força Etérea entrou na garota Japonesa. Os ombros de Akari tremeram com a sensação repentina.
Normalmente, tentar conectar a Força Etérea de uma pessoa com outra e manipular seu poder causaria uma resistência dolorosa, mas Menou e Akari eram uma exceção. A dor era dependente do nível de confiança que a doadora tinha em relação à pessoa tentando conectar-se a ela. Quando essas duas sincronizavam, a oposição era reduzida a pouco mais que uma sensação de cócegas; dessa forma, Menou era capaz de realizar a façanha de usar a Força Etérea de Akari.

Extrair [Poder]—via Menou—
Hnng…hmph. S-se você pensa que pode… me distrair com is…mmm!

Enquanto tentava resistir a sensação de cócegas, Akari se contorcia, seus olhos lacrimejaram e sua respiração ficou pesada e sugestiva. Ela nunca formou totalmente as palavras para o que estava protestando.
Menou enviou o poder que extraiu de Akari para sua escritura e concentrou-se em construir uma conjuração. Sahara assobiou, presumivelmente em admiração de seu domínio sobre essa habilidade.

“Conexão de Força Etérea…? Conto com você, Menou. Quando se trata de seduzir mulheres até que elas não consigam mais distinguir o chão do teto, você é incomparável.”

Essa não era a direção do elogio que Menou esperava.
Uma veia pulsou na testa de Menou. Ela esperava que Sahara ficasse quieta para que pudesse se concentrar. Era tentador gritar para ela, mas Menou não tinha tempo a perder. Ao invés disso, ela fez uma careta e manteve seu foco na conjuração. Era hora de lançá-la.

Escritura, 3:1—Invocar [E o inimigo iminente ouviu o badalar do sino.]

Um sino enorme feito de poder formou-se a partir da escritura na mão de Menou.
Era um símbolo da igreja que tradicionalmente dizia as horas. Graças a enorme quantidade de Força Etérea de Akari, a conjuração na forma de uma torre do sino era grande o suficiente para cobrir todo o edifício.
E o que ela tinha de tamanho, tinha de poder.
O magnífico sino feito de poder balançou para frente e para trás.
As badaladas de sacudir o ar reduziram o soldado conjurado a pedaços. E não pararam aí; elas enviaram ondas de choque de poder que danificaram a área ao redor das garotas. O prédio improvisado só foi capaz de aguentar a pressão repentina de dentro por questão de segundos.
Um, dois—no terceiro toque, o edifício inteiro explodiu para fora.

Wah!

Olhando ao redor nervosa, Akari exclamou para a nova vista.
Elas estavam do lado de dentro há poucos momentos atrás, mas agora elas podiam ver o céu noturno. Destroços de todos os tamanhos estavam espalhados ao redor delas. Com Akari e Menou no centro, um prédio inteiro explodiu. Até Sahara arregalou os olhos para o poder inconcebível desse ataque.

“Isso foi… insano.”
“Menou, isso foi incrível! Você é a sacerdotisa mais pura, mais justa e mais forte de todas! Mas, uh… tudo bem com isso?”
“É claro. Isso claramente era uma instalação maligna construída por pessoas que não fazem nada de bom. O mundo está melhor sem ela.”

As Executoras acreditavam que as pessoas que se envolviam com qualquer tipo de tabu, perdiam seus direitos humanos.
Estava silencioso ao redor delas. Pessoas saíram correndo dos edifícios próximos, mas não parecia que eles estavam em uma missão para deter uma intrusa. Ao que parecia, eles estavam em pânico, tentando descobrir porque um prédio explodiu repentinamente por dentro.

Temos que sair daqui imediatamente, Menou pensou. Então, subitamente, Sahara estava atrás dela, envolvendo seus braços em volta de Menou.
“Você tem que fazer algo sobre o Receptáculo…”

Menou começou a questioná-la, mas a garota aproximou seus lábios da orelha de Menou.

“Você tem que me matar.”

Era um pedido inesperado.
No momento que Menou se virou para perguntar o que ela quis dizer, Sahara já tinha se afastado.
Confusa como estava, Menou decidiu que teria que perguntar sobre isso mais tarde. Por ora, ela apanhou Akari como uma noiva, ativou o Aprimoramento Etéreo e adicionou Camuflagem para desaparecer na noite.

“Muito bem, vamos fugir em disparada. Segure firme.”
“Entendido, capitã!” Akari respondeu alegremente, já agarrando-se no pescoço de Menou.
“Espere, Menou. E quanto a mim? Não vai me carregar?”

Menou disparou um olhar frio em Sahara.

“Não me importa o quão faminta esteja—corra como se sua vida dependesse disso.”
“Isso é discriminação… Vamos, você deveria nos tratar com igualdade…”

Menou e companhia fugiram apressadamente no caos causado pelo prédio que elas explodiram.




***



“Como eu posso ser que nem você?”

Foi logo antes dela entrar no monastério. Vestindo um traje de freira pela primeira vez, a jovem Menou fez essa pergunta somente uma vez.
Talvez fosse apenas uma pergunta impulsiva de uma criança que não sabia de nada.
A mulher a quem Menou estava perguntando era uma sobrevivente, uma Executora que caçou mais entidades tabus do que qualquer outra. Quanta experiência ela tinha em seu currículo, em quantos cenários infernais ela lutou, o que ela fez para se tornar assim? A resposta provavelmente não era algo para uma criança com pouquíssimo talento natural ouvir, para não mencionar as memórias do seu passado.
Apesar disso, Menou perguntou.
Quando elas estavam na expansão de areia pura branca, ela decidiu se tornar uma Executora. Testemunhando essa destruição—muito parecida com o que aconteceu com sua cidade natal, porém numa escala muito maior—ela decidiu ficar do lado que lutava contra essas entidades tabus. E seu coração jovem olhava para a mulher que sempre andava na frente dela em busca de orientação.

“Eu me tornarei uma vilã pura, justa e forte.”
E quando Menou disse isso, a mulher respondeu: “Então vou embutir tudo que sou em sua cabeça.”

Então, quando os preparativos iniciais estavam completos e ela vestiu seu uniforme pela primeira vez, ela perguntou: “Como eu posso ser que nem você?”
“Que idiota.”

A sacerdotisa com cabelos vermelho-escuros jogou a cabeça para trás e riu com a boca bem aberta para a pergunta inocente.
Ela colocou sua mão pesadamente na cabeça da jovem Menou. Ela carregava uma escritura com seu braço esquerdo, e sua mão direita sempre estava vazia para que ela pudesse puxar uma arma a qualquer momento. Então quando ela colocava sua mão na cabeça de Menou, era sempre com a mão que ela empunhava uma lâmina.

“Menou, se você vai aprender tudo que sou, precisa saber de uma coisa primeiro. Se quer ser como eu, então você tem um longo caminho pela frente.”

A Mestra de Menou, Flare, torceu os lábios sarcasticamente.

“Você não sabe de quase nada. Primeiro, você deve estudar os corações e as mentes das pessoas, para que possa esmagá-las sob seus pés. Depois, você deve aprender como o mundo funciona, para que possa burlar a sociedade. E finalmente, você deve descobrir a verdade do universo, para que possa resignar-se.”

A caçadora mais talentosa da história. O que ela viu enquanto lutava e sobrevivia contra os seres inconcebíveis que continuavam a nascer neste mundo?

“Saiba disso: O que é certo é errado, a justiça é o verdadeiro mal, a vitória e a derrota são iguais, e o início também é o fim. Você imagina que o mundo seja corrigível, mas é muito mais irremediável do que pensa.”

A Mestra retirou sua mão da cabeça de Menou. Ela não acariciou a cabeça de Menou e nem arrumou seu cabelo castanho.

“E quando você crescer um pouco e tiver uma chance de ser feliz, provavelmente vai perceber que não quer ser como eu, nem um pouco. É nesse momento que você finalmente dará o primeiro passo para ser eu.”

Com isso, ela partiu.

“E é por isso que vou preencher sua cabeça com tudo que eu sou.”

Menou observou enquanto ela se afastava.
O que exatamente sua Mestra estava tentando dizer? Com sua cabeça ainda inclinada para o lado, a jovem Menou pensou sobre isso, mas não conseguiu chegar a uma resposta no fim das contas.
Em vez disso, ela trotou atrás de sua Mestra, avançando com aqueles cabelos vermelho-escuros para guiá-la… tal como sempre fez.
E enquanto ela olhava para as costas de sua Mestra e ia atrás dela, ela sabia que provavelmente sempre seria o caso.
Ela não sabia o que queria proteger.
Ela só tinha o sentimento infantil de que queria proteger as pessoas.
Dessa forma, Menou começou a trilhar o caminho que estava manchado de vermelho.


***



“…O que diabos aconteceu aqui?”

Dois homens estavam diante do edifício que havia sido destruído, além de qualquer esperança de reparo.
Um estava quase no seus quarenta anos com um físico bem tonificado. Sua expressão padrão era mais de ferocidade que de calma.
O nome desse homem era Wolff, e ele era o líder no comando do grupo armado Corrente de Ferro que tinha sua base aqui no deserto.

“As malditas celas que guardam nossos bens estão todas destroçadas. Como caralhos a base da Corrente de Ferro, o bando mais notório do deserto, acabou em um estado tão deplorável? Eu soube que o time que saiu para o ataque voltou, então vim verificar os produtos, e que merda que eu encontro? Me diga, Miller. O que está havendo aqui?”
“Acho que não é tão difícil de descobrir.”

O homem chamado Miller parecia ser um rapaz jovem nos seus vinte e poucos anos. Ele era esguio comparado a Wolff, mas ainda parecia formidável. Seus olhos frios lembravam os de um réptil.
Ele se agachou, inspecionando os destroços do prédio destruído. Embora tudo estivesse uma bagunça por conta da explosão, ele avistou algumas pegadas claramente incomuns: três pares diferentes que eram inequivocamente pequenos.
Todos os seus subordinados nesta base eram homens e nenhum deles tinha o corpo particularmente pequeno. Isso significava que as pessoas que deixaram as pegadas só podiam ser forasteiras. Ele estreitou os olhos e pegou algo do chão.
Era um longo fio de cabelo castanho.
Wolff conseguiu adivinhar toda a história com apenas uma olhada naquilo que Miller tinha na mão.

“Ah, entendo. Cabelo castanho, é? Significa que não foi a freira de cabelos prateados que deixou esse prédio em pedaços, e a Ádvena também não saiu daqui por conta própria. Ádvenas sempre têm cabelos pretos, certo?”
“Exatamente. Só pode ser uma sacerdotisa.”
“Então eles deixaram uma sacerdotisa aspirante a guarda-costas invadir nossa base, explodir um prédio e fugir… Bom, eu sou um cara generoso. Perdoarei os mortos pela bondade do meu coração. De qualquer forma, esse prédio não estava em nossos planos.”
“E agora?”
“Vejamos.” Wolff cruzou os braços. “Vamos suspender o sequestro por agora. Você entende, né? Não precisamos de pessoas, mas de materiais. A única razão pela qual escolhemos este lugar sem uma veia astral foi para que a Faust não notasse o que estamos tramando.”
“Eu sei. Mas as pessoas são materiais. E nós terminamos de remodelar esta base. A Força Etérea daquela Ádvena pode ser tudo que precisamos. Nosso objetivo é libertar ele. Se este lugar puder se conectar a Fronteira Selvagem do leste—a Sociedade Mecânica, mesmo em uma pequena escala—nós cumpriremos nosso objetivo em pouco tempo.”

Os homens acenaram um para o outro.

“Então acho que podemos poupar mais algumas vidas para isso. Poderíamos muito bem arriscar.”

Wolff olhou para longe em uma direção específica. Esse deserto era grande, mas havia um lugar que qualquer viajante estava fadado a passar.

“Pegue alguns homens e chegue antes delas no abastecimento no oasis. Procure por uma sacerdotisa de cabelos castanhos com uma garota de cabelos pretos e uma freira com uma mão protética. Três jovens mulheres viajando sozinhas estão fadadas a se destacarem lá. A melhor opção seria pegar todas com vida, mas—bom, se não puder, mortas também servem. Eu odiaria perder a Força Etérea, mas pelo menos elas darão bons materiais.”
“Entendido. Estou sempre pronto para uma luta.” Miller acenou para a ordem do líder e assoprou o fio de cabelo em seus dedos. “Eu quero subir de nível também, sabia?”
Ha-ha-ha! Boto fé. Se matarmos Flarette e libertarmos um dos Quatro Principais Erros Humanos, estamos destinados a ascender no mundo!”

Com seus olhos brilhando em perigo, Wolff soltou uma risada.

Responsive Ads
Achou um erro? Reporte agora
Comentários

Comentários

Mostrar Comentários