Interlúdio
Tradução: Gabrielfsn
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Uma vez, Menou recebeu um presente de sua Mestra.
Foi quando ela se tornou a aluna mais jovem de todas a ser promovida do traje preto de uma freira para o branco de uma sacerdotisa assistente.
Quando Menou vestiu a túnica branca de sacerdotisa, sua Mestra deu-lhe um manto amarelo.
Ela poderia usá-lo sobre suas vestes e não atrapalharia movimentos intensos. Ela disse que era para comemorar o primeiro passo de Menou para se tornar uma Executora oficial.
“Só peguei a primeira coisa que vi. Pode largar na mão de outra pessoa se quiser.”
“Do que está falando? Jamais.”
Jamais faria algo tão insensível quanto abrir mão de um presente, Menou pensou. O quão rude ela pensa que eu sou? Enquanto a jovem garota ficava aborrecida, sua Mestra olhou para ela e sorriu. Então, ela tocou levemente sua cabeça em dois lugares—indicando as posições dos lacinhos que a colega mais nova de Menou, Momo, sempre usava.
“E quanto aos lacinhos de Momo, hmm? Se lembra quem deu primeiro a quem?”
“Ahhh…” Menou rapidamente desviou os olhos.
Os lacinhos vermelhos que Menou deu a Momo quando elas eram mais novas foram, na verdade, dados primeiro a ela por sua Mestra.
“É importante ser estilosa.”
“Estilosa. Entendo.”
Depois daquela conversa nostálgica, Menou aprendeu a como cuidar de sua aparência e recebeu lacinhos como adereço. Mais tarde, ela usou esses dois lacinhos vermelhos de sua Mestra para prender o cabelo de Momo em trancinhas. Claro, isso foi para impedir que Momo chorasse, mas aqueles eram os únicos pertences de Menou na época.
Era difícil se defender com sua Mestra apontando isso agora, no entanto.
“Não se preocupe. Eu mesma arranjo presentes agora, então não vou dar algo que me foi dado.”
“Isso é verdade. Você poderia até me apoiar financeiramente agora.”
“Por favor, não brinque com isso. Ah! Por favor, pare de puxar!”
Sua Mestra puxou grosseiramente o laço preto, um presente de Momo, o qual prendia os cabelos castanhos de Menou. Ela gargalhou com o protesto de Menou.
Então, ela deu a Menou um último aviso enquanto se preparava para deixar o monastério.
“De agora em diante, você estará viajando pelo mundo para eliminar tabus. Uma Executora não pertence a nenhuma paróquia. Elas raramente retornam à terra santa e quase sempre agem por conta própria. Não confie em ninguém, nem mesmo em quem está na mesma posição que você. Como não dependemos de nenhum sistema, as pessoas vão te trair ainda mais.”
“A senhora já foi traída por alguém, Mestra?”
“Já fui? Vejamos…” Sua Mestra fechou os olhos como se estivesse recordando o passado.
Sua expressão quando tentava se lembrar de algo era atipicamente vulnerável.
“Acho que ninguém nunca… falhou em me trair.”
Quando sua professora deu essa resposta após uma longa pausa, Menou não pôde deixar de encará-la fixamente.
“…Por que esse olhar?”
“Me desculpe, é só que…” Menou estava honestamente surpresa.
Se sua Mestra tinha sido traída, isso significava que ela teve que confiar em alguém. Se alguém que ela não se importasse tivesse se rebelado contra ela, ela provavelmente apenas diria: Eu lidei com eles permanentemente.
Portanto, era ainda mais inesperado que uma pessoa tão independente dissesse que já foi traída.
“Só não esperava ouvir que às vezes a senhora confia nas pessoas, Mestra.”
“O que exatamente você pensa que eu sou?”
“…Uma Executora na forma de uma pessoa, eu acho.”
“O que isso supostamente quer dizer?”
Menou pensou que sua escolha de palavras era perfeitamente adequada, mas sua Mestra parecia confusa com a avaliação de Menou.
“Eu sou humana, não outra coisa na forma de uma pessoa. Não sou perfeita, nem invencível—apenas um ser humano. Perdi em batalha mais de uma vez e também falhei em missões antes.”
“A senhora perdeu?”
Isso também era completamente inesperado. Menou ficou boquiaberta, fazendo cara de idiota.
Sua Mestra bufou, entretida com a reação. “Pois é, isso mesmo. Para monstros como a arcebispa; Experion, o cavaleiro mais forte do mundo, do Reino de Grisarika; a fera da Plebe, Genom Cthulla, que atravessou a Fronteira Selvagem do leste… e muitos outros também. É um mundo pequeno, mas grande ao mesmo tempo.”
Essa era certamente uma escalação impressionante. Por que ela tentou lutar contra todos esses oponentes, afinal? Menou se viu trêmula com a ideia de encarar tais batalhas, as quais seriam muito mais difíceis do que Ádvenas de várias maneiras.
“Você também pode se ver lutando contra inimigos assim algum dia.”
“Não, não vou.”
“O que, teme demais por sua vida?” Sua Mestra riu.
“…Não é isso que quero dizer.” Menou inchou as bochechas, mal-humorada.
Foi uma pergunta maldosa. Ela não estava tentando dizer que tinha medo de desafiar tais inimigos—apenas que duvidava que teria motivo para lançar-se em batalhas tão lendárias como sua Mestra claramente fez no passado.
“Você nunca realmente sabe o que o seu futuro pode trazer, garota. Também não tenho ideia do que te aguarda, mas é por isso que estou avisando agora.”
Subitamente, sua Mestra colocou a mão direita na cabeça de Menou. Ela não estava acariciando seu cabelo ou medindo sua altura—apenas descansando a mão ali, quase como se para segurar o crescimento de Menou.
Naquele ano, Menou estava fazendo doze anos.
Mesmo agora que havia crescido, mantinha o cabelo bem arrumado e usava uma túnica branca de sacerdotisa, Menou ainda era mais do que pequena suficiente para sua Mestra descansar a palma da mão em sua cabeça.
“Não importa o quanto acredite em uma pessoa, ela está fadada a traí-la.”
Seu tom era muito casual para ser uma predição, muito leve para ser uma maldição.
“Isso é o que é preciso para terminar como eu.”
Ela estava simplesmente descrevendo o futuro que Menou algum dia vivenciaria.
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