Epílogo
Tradução: Gabrielfsn
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Longe, no oeste do continente, havia uma cidade tranquila e pacífica.
Ela era famosa por seu lindo jardim, no centro da chamada Torre de Água, a relíquia ancestral que produzia uma corrente pura constante. A Nobreza governava, a Faust supervisionava e a Plebe realizava as tarefas necessárias.
Mas esta ordem e tranquilidade naturais rapidamente caíram em ruína.
Os vivos e os mortos. Nesta cidade, essas duas categorias, que normalmente eram claramente distinguidas, estavam começando a se embaçar.
Pessoas com pele escurecida e olhos turvos andavam pelas ruas. O que pareciam cadáveres que não era possível estarem vivos, estavam vagando com passos instáveis.
Eles também não estavam apenas vagando a esmo. Os cadáveres andantes estavam procurando os vivos. Aqueles que não conseguiam fugir rápido o bastante eram cercados pelos mortos e mordidos.
A tragédia começou com um único cachorro.
Infectado com uma Conjuração de Pecado Original, o cão pôde causar uma conjuração de contaminação ao morder os outros. Enquanto a epidemia se espalhava em apenas poucos dias e gritos ecoavam por toda a cidade, ainda havia um sinal de esperança.
Havia um grupo que se responsabilizou em resgatar a Plebe, uma força conjunta da Faust e da Nobreza. As sacerdotisas protegiam aqueles que fugiam para a igreja com uma barreira, e os cavaleiros armados com espadas afastavam os cadáveres andantes. A região da igreja era a última luz de esperança.
Então, uma jovem e graciosa mulher apareceu.
Seu cabelo azul-escuro ficava sobre seu ombro em uma trança e ela usava um kimono perfeitamente arrumado, sem uma bainha fora do lugar. Ela tinha olhos suaves e gentis, talvez refletindo sua personalidade.
Os cavaleiros hesitaram. Ela parecia uma garota inofensiva, mas a situação era estranha. Ela estava se aproximando entre os cadáveres, sem fazer esforço para fugir.
“Ei, você! Pare aí mesmo!”
Assim que um cavaleiro gritou para detê-la, a sombra dela se ondulou e moveu sob seus pés.
“Perdoe-me.”
Um som agudo cortou o ar.
O cavaleiro diante da garota foi cortado diagonalmente em dois. Após um momento, sua metade superior deslizou e caiu no chão cum um barulho abafado.
O cavaleiro foi cortado por nada mais do que a sombra contorcida da garota.
“Malditaaa!”
Era óbvio quem estava por trás disso. Julgando corretamente que a garota deveria ser algum tipo de demônio em forma humana, o outro cavaleiro atacou.
A garota usando o kimono bloqueou a espada do cavaleiro com seu leque. Era um leque de ferro, usado para autodefesa. Ela repeliu a lâmina e abriu o leque completamente, revelando um brasão.
Força Etérea: Conectar—Leque de Ferro, Brasão—Invocar [Lâmina de Vento]
Com um movimento de seu leque, ela criou uma rajada de vento violenta. Os cavaleiros em seu caminho foram reduzidos a tiras.
A última linha de defesa foi rompida. Um bando de cadáveres andantes dispararam em direção a abertura recém formada.
“Isso irá servir, eu suponho.”
A garota usando o kimono saltou alto no céu. Blasfemando, ela pousou diretamente no teto da igreja. Usando o símbolo da fé como apoio para os pés, ela olhou de cima para a última resistência do povo.
Sem dúvida, poucas pessoas acreditariam que essa garota foi responsável por criar a calamidade que tomou essa cidade.
“Um apocalipse zumbi, não é assim que ela chama? Sim, certamente vale a pena assistir. Agora entendo por que aquela menina me recomendou.”
Essa tragédia toda começou com um único cachorro.
Os mortos atacavam os vivos. Cadáveres andantes detectavam seres humanos vivos, os rastreavam, mordiam e transformavam em mais mortos. A epidemia se espalhou rapidamente por toda a cidade.
Atualmente, havia usurpado cerca de 30 por cento da cidade. Nenhum dos mortos atacava essa garota em especial enquanto ela observava do centro da tempestade.
A razão era simples: porque a garota com o leque também era um dos mortos.
Manon Libelle.
Ela tinha uma beleza de encher os olhos, mas não era mais humana. Sua alma foi oferecida em uma cerimônia de Pecado Original, permitindo-a renascer como um demônio. Como evidência desse fato, ela estava se deliciando com o espetáculo infernal criado por sua Conjuração de Pecado Original.
De repente, um impacto atingiu o corpo de Manon.
“Hmm?”
Manon piscou, surpresa. Após um momento, ela percebeu que havia uma lâmina perfurando seu peito.
Ela olhou em volta, mas não havia ninguém à vista.
Apesar de ter sido apunhalado na caixa toráxica, o corpo de Manon não derramou uma gota sequer de sangue vermelho. Em vez disso, um líquido preto manchou o peito de seu kimono.
“Arrá! Então você finalmente veio? Quanta gentileza.”
Manon juntou as palmas alegremente apesar da lâmina ter atravessado o lugar onde seu coração deveria estar.
Ela tinha um palpite sobre a identidade do assassino invisível. Puxando a adaga de seu peito, ela a estendeu educadamente para alguém que ela não podia ver.
Houve uma ondulação no ar vazio.
Camuflagem Etérea.
Era uma técnica de camuflagem adaptativa usando a luz fosforescente do Aprimoramento Etéreo. Quando o disfarce se desfez para revelar uma sacerdotisa de cabelo vermelho-escuro, Manon curvou a cabeça com reverência.
“É um prazer revê-la, Mestra Flare. A mais sombria de toda a escuridão da Faust. A caçadora de tabus mais bem-sucedida da história. Você conseguiu passar até pelas Anciãs que tentam controlar este mundo e tentaram levar sua lâmina para o abismo. Sou apenas um humilde demônio que acompanha Pandæmônio por alguma estranha coincidência; meu nome é Manon Libelle.”
“Há quanto tempo, garota.”
Há quanto tempo.
Essas palavras transmitiram uma emoção incomum de alegria pelo peito de Manon. Manon e Flare de fato se encontraram uma vez, a muito tempo atrás. A mãe de Manon era uma perdida, considerada um tabu. Não foi nenhuma outra senão Mestra Flare que matou a mãe de Manon bem diante de seus olhos.
Para Manon, foi um evento que mudou toda a sua perspectiva da vida, mas ela presumiu que Flare não se lembraria de nada.
“Você certamente montou um espetáculo e tanto aqui.”
“Ah, sim. Teria sido simplesmente impossível para mim localizá-la. Usei a Fourth para investigar, mas mesmo assim, o máximo de informação que obtive foi que você poderia estar nesta área geral. Desta forma, criei um palco no qual você não teria escolha senão subir.”
Manon conseguiu descobrir através de sua investigação que Flare provavelmente estava nesta região, mas ela não conseguiu uma localização mais detalhada.
E portanto, ela causou essa enorme tragédia.
Se um tabu destruísse uma cidade inteira, certamente uma Executora na área seria incapaz de ignorá-lo. Com isso em mente, ela decidiu provocar um apocalipse zumbi. Com a orientação de Pandæmônio, ela criou uma conjuração corrupta que se propagou dos mortos para os vivos.
“Onde está Pandæmônio?”
Foi uma pergunta abrupta, mas Manon simplesmente colocou um dedo em seus lábios, com sua atitude intacta. Ela sorriu maliciosamente, como qualquer garota na idade dela, tentando provocar um adulto.
“Isso é segredo.”
“Entendo. Tudo bem, então. Se eu abrir esse seu estômago, você abre o bico, certo?”
“Na verdade, eu também tenho uma pergunta para você. É sobre o método pelo qual um perdido pode retornar para o outro mundo—em outras palavras, a cerimônia que pode enviar alguém neste mundo de volta ao Japão.”
“Não há tal coisa.”
“Perdão? Mas é claro que há.”
Manon não deu atenção à negação da sacerdotisa. Ela simplesmente continuou com o pressuposto de que isso existia.
Afinal, ela já sabia disso.
“Sua existência é a razão pela qual aquela civilização antiga caiu há mil anos atrás.”
Os Quatro Principais Erros Humanos e o herói Marfim.
Essas cinco pessoas destruíram uma civilização no auge da humanidade por uma rebelião contra este mundo porque queriam voltar para o seu próprio.
Houve um breve silêncio.
“…Escute, Manon Libelle.”
A Mestra suspirou.
Foi um suspiro longo e pesado. As palavras que se seguiram não foram uma tentativa de fingir ignorância, mas baseadas em conhecimento seguro.
“Não há tal coisa porque nunca deixaríamos isso acontecer.”
“Arrá!” Manon riu.
Então realmente existia. Um caminho para o outro mundo. Para Manon, era um meio de ir para a terra natal de sua mãe.
“Hee-hee-hee…ah-ha-ha-ha-ha! Ah, Mestra Flare. Eu decidi. Agora mesmo, tomei uma decisão!”
Manon sorriu tão encantadoramente que qualquer um poderia se apaixonar por ela. Ela sabia exatamente que tipo de caos ela tinha que causar e declarou isso em voz alta e clara.
“Eu vou para o outro mundo—para o Japão. E irei mergulhar este mundo em caos como meu sacrifício se é isso que é preciso para chegar lá.”
Flare não respondeu. Ela carregou sua adaga com Força Etérea e ativou uma conjuração de brasão.
Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Ramo Etéreo]
Ramos de Força Etérea se espalharam da adaga de Flare. Eles estenderam não apenas para o corpo falso que Manon usava de fachada, mas também seu verdadeiro eu, sua sombra.
“Minha nossa…”
A Força Etérea que se formou a partir da adaga de Flare, por meio da conjuração de brasão, se espalhou como ramos reais e perfurou Manon por dentro.
Qualquer pessoa normal teria, sem dúvida, morrido imediatamente.
No entanto, o ataque não matou Manon. Ela moveu sua sombra e partiu os ramos. Assim que a conexão foi quebrada, os ramos feitos de Força Etérea dentro de Manon também desapareceram.
Os ramos não eram particularmente fortes, mas era uma conjuração de brasão com uma série de aplicações práticas.
“Tem certeza disso?” Manon arriscou, mudando de assunto. “Só haverá mais casualidades se você perder seu tempo comigo.”
Essa calamidade iria continuar independente se Manon estivesse lá ou não. Mesmo agora, cadáveres continuavam a perseguir os vivos.
“Parece que você entendeu errado.”
Sua resposta não foi nem fria, apenas indiferente. Flare, indubitavelmente, tinha a força para salvar as pessoas sendo atacadas por essa tragédia, mas ela não fez nenhum esforço para impedir as casualidades se desenrolando ao seu redor.
“A principal prioridade de uma Executora é executar tabus; proteger os cidadãos não faz parte da nossa missão. Não importa quantas pessoas morram, meu trabalho está feito contanto que eu mate o tabu que as matou. Neste caso, isso significa que tudo que tenho que fazer é te matar.”
A sacerdotisa, claramente, não se importava nem um pouco com quantas pessoas morriam na cidade abaixo.
Ela não parece disposta a me dar uma abertura, então, pensou Manon. Mesmo que ela enviasse os cadáveres próximos atrás da sacerdotisa, os ramos feitos de Força Etérea da adaga de Flare provavelmente iria repeli-los com facilidade. Não fazia sentido tentar atacar com números quando sua oponente tinha uma conjuração de brasão que poderia cobri-la em todas as direções.
Bom, neste caso… Manon ativou a evocação que ela havia preparado com antecedência.
Força Etérea: Sacrificar—Pecado Original, Orgulho dos Demônios: Corpo, Alma, Espírito—Evocar [Fantasma Infernal Faminto]
Imediatamente, os cadáveres na rua começaram a derreter. Ela ofereceu os corpos vagando pela cidade como sacrifício para invocar uma conjuração de evocação. Enquanto os corpos apodreciam e gotejavam no chão, o líquido resultante se acumulou entre Manon e Flare, tomando uma forma nova e horrenda.
“Eles não são exatamente sacrifícios de alta qualidade, mas certamente há força nos números.”
Comparado a uma pessoa viva, o corpo, a alma e o espírito de um cadáver era muito inferior. Mas com números altos o suficiente, ainda era possível evocar um demônio poderoso.
Esse apocalipse zumbi nada mais era do que um ritual para criar mais sacrifícios. Foi outro método que Manon aprendeu com Pandæmônio.
Uma massa gigante de carne se formou. Ela tomou a forma gigantesca de um bebê flácido e inchado, maior que qualquer edifício na área. Um único e simples movimento de seu braço foi o suficiente para destruir parte da cidade. Se seu humor escalasse e ele começasse a gritar e chorar, o som poderia corromper o espírito de uma pessoa comum. Como alguém poderia lutar contra tal demônio? Qualquer humano normal certamente desistiria e ficaria desesperado.
Como uma lenda viva entre as Executoras iria enfrentar este inimigo gigante?
Enquanto Manon a observava ansiosamente, Flare parecia mais fria do que nunca.
“Que bondade sua reunir todas as moscas irritantes em um só lugar para mim.”
Com isso, ela atirou sua adaga.
Manon franziu a testa.
O demônio que ela acabou de evocar não era o tipo de inimigo que podia ser derrotado com uma punhalada. Enquanto ela se perguntava o que Flare estava pensando, sua pergunta foi respondida pela conjuração que foi ativada enquanto a adaga viajava pelo ar.
Força Etérea: Auto-Conectar (Condições Atendidas)—Ramos Etéreos, Brasão—
Uma invocação automática. A esfera de ramos que cresceu do cabo da adaga formou um brasão tridimensional.
Invocar [Espada de Visco]
Os Ramos Etéreos se expandiram rapidamente.
Eles absorveram a Força Etérea de seu alvo e continuaram crescendo, brilhando intensamente enquanto se estendiam para fora. O bebê gigante que Manon havia evocado começou a murchar, com os galhos emaranhados em volta do seu corpo enquanto absorviam toda a sua força.
O corpo do demônio foi reduzido a pó. Mas a massa de ramos em forma de visco feita de Força Etérea não parou de crescer aí—elas perfuraram a evocadora, Manon.
“Vou te dar trinta segundos. Traga Pandæmônio aqui.”
Era uma exigência simples.
Entendo. Manon estava se perguntando por que a sacerdotisa não a finalizou, mas agora estava claro. Manon tinha um contrato de convocação com Pandæmônio. Flare queria feri-la e fazê-la convocar o Erro Humano.
Manon desviou o olhar com cuidado e levantou o questionamento que estava guardando para Flare.
“Já que estamos aqui, se importaria se eu fizesse uma pergunta?”
“Estou começando a contagem regressiva. Você tem trinta segundos.”
A força de Flare não oscilou por um momento. Ela começou a contar.
“Sabe, eu descobri alguns materiais fascinantes no Reino de Grisarika.”
“Vinte e cinco segundos.”
“Era o diário de experiências de uma pessoa que se tornou arcebispa. Aparentemente, um dos tabus que ela cometeu transformou uma aldeia inteira em branco puro. Isso não é simplesmente horrível?”
“Treze segundos.”
“Agora, acontece que tenho uma amiga que veio dessa mesma aldeia… Eu senti que deveria imortalizar seu sacrifício, então investiguei o registro de família. E você acredita? Não havia um único registro de uma garota chamada Menou vindo daquela aldeia!”
“Cinco segundos.”
“O que me faz questionar…”
“Três segundos.”
“…De onde exatamente nossa querida Menou veio?”
Os Ramos Etéreos se espalharam.
Eles irromperam do corpo de Manon, anulando até mesmo sua sombra. Foi um ataque de força impiedosa e sem escapatória.
“Honestamente. Isso quase deu muito errado!”
“Obrigada por me salvar. Isso foi tão emocionante. Pensei que ia explodir em pedacinhos.”
Uma voz inocente ressoou além do alcance dos ramos.
Pandæmônio estava posicionada fora do alcance de ataque dos Ramos Etéreos, e de algum modo, estava segurando uma Manon completamente ilesa em seus braços.
“Aí está você.”
Enquanto a Mestra mudava de postura, como se estivesse se preparando para a verdadeira batalha, Manon acariciou a cabeça de Pandæmônio suavemente.
“Pois bem, vamos fugir, pode ser? Aquela mulher ali é o ‘pega.’”
“Mm, um jogo de pega-pega! Que empolgante.”
Enquanto Manon escolhia prontamente fugir, apesar da adição da ajuda de Pandæmônio, Flare fechou um pouco mais a cara pela primeira vez e tocou nos Ramos Etéreos.
Força Etérea: Conectar (via Ramos Etéreos)—Adaga, Brasão—Invocar [Trovão]
A Força Etérea nos ramos que se expandiram para o tamanho do demônio gigante que haviam destruído, de repente se converteu em eletricidade. Uma quantidade avassaladora de calor se espalhou até Manon e um enorme relâmpago disparou do chão em direção ao céu.
“…Parece que elas escaparam.”
A Mestra olhou em volta. Manon havia sumido. Ela escapou.
Tudo bem assim. Se ela não conseguia destruir o mindinho de Pandæmônio, era melhor deixar Manon viver também. Seria mais fácil localizar Pandæmônio se ela estivesse trabalhando com Manon para um objetivo, do que se estivesse gerando caos indiscriminadamente sozinha.
Flare não tinha mais negócios aqui. Quando ela começou a andar, uma voz falou com ela.
“Saber o futuro nem sempre é uma benção. Às vezes, esse conhecimento vem com ainda mais tarefas a serem realizadas.”
Ela vinha da escritura que a sacerdotisa estava segurando.
“Mais importante, Mestra: não creio que possamos evitar o contato da Anciã—Maga—por muito mais tempo.”
“Escute. Você é um pedaço de lixo, entendeu? Faz todo o sentido você falhar em receber um sinal de comunicação repetidas vezes.”
“Ah, muito bem. Excelente como sou, suponho que posso continuar cumprindo suas demandas absurdas.”
“Bom. Aquela idiota está prestes a traí-la mesmo. Não me importa o quanto o Tempo mude, mas…”
Ela jogou a cabeça para trás e riu, com a boca bem aberta.
“…Temos que impedir a segunda vinda de Marfim, não importa o que aconteça.”
Após cerca de meio dia de viagem pelo deserto, Menou voltou para a pousada onde Akari deveria estar esperando.
Tudo que ela queria fazer agora era descansar. Seu corpo estava coberto de pequenos cortes e hematomas. Acima de tudo, ela estava completamente exausta, uma fadiga profundamente enraizada que seria difícil de se recuperar.
No entanto, ela não estava exatamente sozinha.
Tecnicamente falando, sim, Menou estava sozinha. Ela voltou sozinha.
“…Eu quero morrer.”
Sua escritura falou.
Era uma voz incrivelmente melancólica. Menou cautelosamente abriu sua escritura e Luz Etérea se ergueu das páginas.
A luz formou uma imagem tridimensional: uma projeção de Sahara que cabia na palma da mão. Ela estava sentada com os joelhos abraçados ao peito e olhando em reprovação para Menou.
Claro, Menou não estava simplesmente mexendo com a tecnologia de projeção da escritura por conta própria.
Menou cobriu o rosto com a mão.
“Como isso aconteceu…?”
“É o que eu gostaria de saber.”
Chocantemente, a alma e o espírito de Sahara habitavam a escritura de Menou. Quando e como isso aconteceu em meio aquela batalha? Foi quando Menou foi quase possuída e despejou tudo que havia entrado em seu corpo na escritura? Ou a alma e o espírito de Sahara haviam se tornado algo incrivelmente único quando ela foi possuída pelo Receptáculo?
“Não quero viver em desgraça. Me queime agora mesmo.”
“Você realmente pode se descrever como ‘viva’ nesse estado?”
“A definição de ‘vida’ é a combinação de um corpo, um espírito e uma alma. Odeio admitir, mas estou achando que me tornei uma forma de vida de Força Etérea com esta escritura sendo meu corpo.”
Era ocasionalmente possível um humano se tornar uma forma de vida de Força Etérea.
Isso acontecia quando o corpo humano era descartado e o espírito e a alma eram transferidos para outro lugar por meio da tecnologia da Força Etérea.
A propósito, fazer isso artificialmente era considerado tabu. Mesmo que tenha acontecido por acaso, Menou poderia se meter em sérios problemas por permitir que Sahara existisse em sua escritura.
Menou ficou em silêncio. Ela sabia que tinha que queimar a escritura. Porém, seria uma desvantagem tática perder sua escritura aqui.
“…Vou esperar até que eu possa trocar minha escritura na próxima cidade.”
Com toda certeza, Menou nunca teria tomado essa decisão antes de ter conhecido Akari.
“Você é a pior. Isso é um saco. Eu quero morrer. Por que tenho que andar por aí presa justamente à você?”
“Não me sinto bem em matar você uma segunda vez.”
“…Por que a escritura tem uma construção de conjuração tão elaborada que pode armazenar a alma de uma pessoa?”
Menou mordeu o lábio.
Sahara tinha razão. Se a escritura podia transferir o espírito de um humano, isso significava que ela já continha construções de conjuração que podiam produzir uma forma de vida de Força Etérea humanóide.
“Podemos ter acabado de tropeçar em um segredo estranho. Isso não significa que você está à beira de meter seu nariz onde não deveria? Por que não me queima antes que mais alguém descubra?”
“Sim, bom, vou pensar no caso. Por ora, apenas certifique-se de não dizer uma palavra na frente de Akari. Isso seria uma grande dor de cabeça, nem quero pensar nisso.”
“Sou Time Akari, não Time Momo, então quero apoiá-la como puder.”
“A propósito, não consigo entrar em contato com Momo. Na verdade, estou tendo dificuldades para construir conjurações da escritura em geral no momento.”
“Estou mais do que feliz em impedi-la de entrar em contato com aquela merdinha violenta…!”
“Vejo que ainda tem sentimentos fortes sobre isso…”
Isso tinha que ser algum tipo de erro.
Se este estava arbitrariamente impedindo ela de usar conjurações, era basicamente um vírus. Xingando Sahara, que ainda era sem consideração mesmo agora que havia se tornado uma forma de vida de Força Etérea, Menou entrou no quarto delas na pousada.
Não havia ninguém dentro.
“Akari…?”
Menou olhou em volta em busca de sinais de vida. E então seus olhos pousaram sobre a escritura de Momo, abandonada na mesa. A tiara de Akari estava sobre ela, segurando um único pedaço de papel no meio.
Estou levando Akari Tokitou embora.
Isso era tudo que estava escrito nele, com a própria caligrafia de Momo.
“Ih, rapaz.” Se a voz vinda da escritura ainda tivesse um corpo, ela definitivamente estaria balançado a cabeça e dando de ombros. “É por isso que lhe disse para tomar cuidado com a Momo.”
“Mas… por quê…?”
Momo era a assistente e querida amiga de Menou.
Inesperadamente traída pela garota que ela mais confiava no mundo, Menou só pôde ficar em silêncio estupefata.
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