Capítulo 3: A Repreensão do Chefe
Yuki sabia que aquele dia seria difícil, mas nada poderia prepará-la para o que estava por vir. A pressão no laboratório havia se tornado insuportável, e as falhas inexplicáveis em seus experimentos tornaram-se cada vez mais frequentes. Cada vez que olhava para os rostos de seus colegas, sentia o peso da desaprovação, como se estivesse constantemente sendo julgada.
Naquela manhã, o ambiente estava especialmente tenso. Ela mal havia chegado ao laboratório quando foi chamada para a sala do Dr. Takeda. Seu coração acelerou, e uma sensação de pavor tomou conta de seu corpo. Ela sabia que o dia da verdade havia chegado.
| Takeda | [Yuki, preciso falar com você agora]
A voz dele estava fria, sem nenhum traço de paciência. Yuki sentiu as pernas fraquejarem enquanto entrava na sala de seu chefe até a sala dele. O silêncio no laboratório era esmagador; todos os olhares estavam sobre ela, mas ninguém ousava dizer uma palavra.
Ao entrar na sala, Takeda fechou a porta com força, deixando claro que aquela seria uma conversa séria. Ele se sentou à mesa e jogou uma pilha de relatórios na frente dela.
| Takeda | [Explique isso, Yuki]
Ela olhou para os relatórios e reconheceu seu trabalho. Cada página estava marcada com anotações críticas, erros destacados em vermelho, e no final de cada um, uma nota baixa e um comentário negativo.
| Yuki | [Eu… eu não sei o que aconteceu, senhor. Eu revisei tudo antes de entregar. Verifiquei os cálculos, conferi os resultados… não consigo entender onde errei]
| Takeda | [Já perdi as contas de quantas vezes você já usou esta desculpa]
Sua voz estava severa, e a Yuki sentiu as lágrimas começarem a se formar. Ela sabia que estava à beira de um colapso, mas não podia se dar ao luxo de parecer fraca naquele momento.
| Takeda | [Yuki, esse tipo de comportamento é inaceitável. Você está neste projeto há tempo suficiente para saber o que é esperado de você. Eu não posso continuar tolerando esses erros. Sua performance está prejudicando todo o progresso da equipe]
Ele se levantou e começou a caminhar pela sala, as mãos cruzadas atrás das costas. A cada palavra, Yuki sentia seu coração afundar mais.
| Takeda | [Você era uma das melhores, Yuki. O que aconteceu com você? Onde está aquela cientista promissora que eu conheci na primeira semana?]
Ela queria responder, queria dizer a ele sobre as sabotagens, sobre o ambiente hostil que a cercava, mas as palavras não saíam. Como ela poderia provar algo sem evidências? E mesmo que tivesse, quem acreditaria nela?
| Yuki | [Senhor… eu… estou tentando o meu melhor. Eu juro que estou. Mas… mas eu não sei o que mais posso fazer]
| Takeda | [Talvez você precise de um tempo para se reorganizar, Yuki. Porque, do jeito que as coisas estão, não posso garantir sua permanência aqui. Vou te dar uma última chance, mas entenda que o próximo erro será o seu último]
Aquelas palavras foram como um golpe final. Yuki se sentiu humilhada, impotente, e a sensação de injustiça era sufocante. Ela sabia que, se não conseguisse provar seu valor, perderia tudo pelo que havia trabalhado.
| Yuki | [Eu… entendo, senhor. Não vou decepcioná-lo novamente]
Com dificuldade, ela se levantou e saiu da sala, sentindo os olhos do Dr. Takeda queimarem em suas costas. Ao passar pela porta, Yuki quase tropeçou, suas pernas pareciam incapazes de sustentá-la. Ela estava destruída.
Os corredores do laboratório, que antes eram um lugar de inspiração e inovação para a Yuki, agora parecem intermináveis e sufocantes. Cada passo que dava ecoava em sua mente, aumentando a sensação de desamparo. Ela mal notou quando passou por um grupo de colegas, mas as palavras sussurradas não passaram despercebidas.
| Colega 1 | [Ela está piorando, não é? Ouvi dizer que o Takeda está pensando em demiti-la]
| Colega 2 | [Era só questão de tempo. Ela nunca foi tudo isso. Talvez tenha sido sorte que ela conseguiu chegar tão longe]
Yuki parou, congelada. As palavras penetraram profundamente em seu coração, cada uma delas reforçando o que ela mais temia. É assim que todos a veem agora? Como uma fracassada, alguém que nunca deveria ter chegado onde estava?
| Colega 3 | [Bem, se ela sair, pelo menos teremos uma chance de mostrar nosso verdadeiro potencial. Estava cansada de ouvir o quanto ela é brilhante. Será que ela realmente é tudo isso?]
| Colega 2 | [Ela deve ter feito alguns trabalhos extras para conseguir boas notas]
As vozes riam suavemente, acreditando que estavam fora do alcance da Yuki. Mas cada risada era um prego a mais no caixão de sua confiança. Ela sentiu um nó na garganta, e as lágrimas ameaçaram cair.
| Yuki | [Eu… eu não posso continuar assim]
Yuki se apressou, fugindo dos corredores como se estivesse fugindo de um pesadelo. Ela mal conseguia respirar, o peso das expectativas, das decepções e das palavras cruéis de seus colegas era esmagador.
Finalmente, ela alcançou uma das saídas do laboratório e empurrou a porta para fora. O ar fresco da noite a envolveu, mas não trouxe o alívio que ela esperava. Ao invés disso, a fria realidade a atingiu como uma rajada de vento cortante.
| Yuki | [Talvez… talvez eles estejam certos. Talvez eu realmente não seja boa o suficiente]
Yuki olhou para o céu, as estrelas brilhando indiferentes aos seus problemas. Ela sentiu-se pequena, insignificante, como se todo o seu esforço tivesse sido em vão. A jovem cientista, que um dia sonhou em mudar o mundo com suas descobertas, agora se vê à beira de desistir de tudo.
| Yuki | [Se eu não posso nem proteger meu próprio trabalho… o que posso fazer?]
Aquelas palavras, sussurradas ao vento, foram a conclusão amarga de uma jornada que, para a Yuki, estava longe de ter um final feliz.
Sozinha, no escuro, ela começou a duvidar não só de suas habilidades, mas de seu valor como pessoa. E assim, com um coração pesado e uma mente atormentada, Yuki começou a caminhar de volta para casa, sem saber se conseguiria encontrar o caminho de volta para si mesma.
| Yuki | [Obrigada... mais uma vez]
Yuki murmurou para si mesma, seu corpo se inclinando para a frente enquanto a porta de seu pequeno apartamento se fechava atrás dela com um leve clique. A única luz vinha da lâmpada fraca no teto, lançando sombras que pareciam mais longas e mais escuras do que o habitual. Ela deixou cair a mochila no chão, o som abafado ecoando no espaço vazio. A sensação de exaustão não era apenas física, era uma carga emocional que a pressionava, tornando cada movimento pesado e arrastado.
Os últimos meses no laboratório haviam sido infernais. Depois do incidente com a análise errada, as coisas só pioraram. A cada reunião, a cada projeto, a cada pequena interação, ela sentia como se todos estivessem contra ela. Os sussurros mal disfarçados, os olhares julgadores, as risadas abafadas... tudo isso estava corroendo lentamente sua determinação.
Ela caminhou até o sofá e desabou sobre ele, os olhos fixos no teto. O som da geladeira zumbindo era o único barulho que preenchia o silêncio do apartamento. Sua mente, no entanto, estava longe dali, revivendo os momentos que a levaram até aqui.
Algumas semanas antes...
O laboratório estava em plena atividade naquela manhã. Os monitores piscavam com dados, enquanto os cientistas se movimentavam apressados, focados em suas tarefas. Yuki estava sentada em sua estação de trabalho, revisando as anotações para um novo experimento. Ela estava determinada a fazer tudo certo dessa vez, para provar que as falhas anteriores foram apenas acidentes.
| Colega 1 | [Olha só quem está super concentrada... será que vai acertar dessa vez?]
A voz sarcástica veio do corredor, seguida por risos abafados. Yuki sentiu o rosto queimar, mas manteve os olhos fixos no monitor. Ela sabia que não podia se dar ao luxo de reagir, qualquer demonstração de fraqueza seria um sinal para que eles continuassem.
| Colega 2 | [Talvez devêssemos ajudá-la, não é? Afinal, não queremos que outro projeto desmorone]
O segundo comentário trouxe à tona as lembranças dolorosas da última vez que algo deu errado. Mesmo que ela soubesse que não era culpa sua, a culpa ainda a corroía. Como se as risadas fossem espinhos, ela se encolheu, as mãos trêmulas sobre o teclado.
| Takeda | [Yuki! Precisamos falar]
A voz do Dr. Takeda ecoou pelo laboratório, cortando o ar como uma faca. Yuki se levantou, o coração batendo rápido, e seguiu até o escritório dele. A atmosfera ali era sempre fria, impessoal, mas hoje parecia ainda mais opressiva. Ela mal cruzou a porta antes que ele começasse a falar.
| Takeda | [Eu realmente espero que você entenda a gravidade da situação. Não podemos continuar com erros desse tipo. O projeto é importante demais]
Yuki tentou se defender, explicar que havia algo estranho acontecendo, mas ele não quis ouvir. A expressão dele era de exasperação, como se estivesse cansado de dar as mesmas instruções repetidas vezes. Ele continuou a repreendê-la, cada palavra afundando como uma âncora no estômago dela.
| Takeda | [Você precisa melhorar, Yuki. Não há espaço para dúvidas aqui. Não posso mais te deixar participar de nenhum grande projeto, você vai receber apenas tarefas menores]
Essas palavras ecoaram em sua mente, repetindo-se como um mantra maligno enquanto ela voltava para sua estação de trabalho. A conversa com o Dr. Takeda foi a última gota. Cada vez que ela fechava os olhos, ouvia o tom de desaprovação na voz dele. E, pior ainda, ela começou a acreditar nele. E se ele estivesse certo? E se eu não for boa o suficiente?
De volta ao presente, Yuki deixou escapar um suspiro profundo. O sofá já estava moldado ao seu corpo, de tanto tempo que ela passava ali, evitando o mundo. O apartamento era um reflexo de seu estado emocional: as persianas estavam fechadas, as janelas cobertas por uma camada fina de poeira, e a pilha de pratos na pia só crescia. Os livros de fantasia, que antes lhe traziam conforto, agora estão espalhados pelo chão, sem que ela tivesse ânimo para lê-los.
Ela pegou um dos livros que estava próximo, folheando distraidamente. As palavras, que antes a transportavam para mundos de magia e aventura, agora parecem sem vida, desprovidas da energia que ela tanto amava. Ela havia construído um muro ao redor de si mesma, uma barreira invisível que a separava do mundo exterior, tentando desesperadamente se proteger de mais dor.
| Yuki | [Talvez... seja melhor assim]
Ela sussurrou para si mesma, a voz soando tão frágil quanto se sentia por dentro. Isolar-se do mundo parece ser a única maneira de evitar mais sofrimento. Mas ao mesmo tempo, ela sabe que está se afundando cada vez mais na escuridão. O vazio que sentia crescia a cada dia, e a ideia de voltar a ser quem era antes parecia um sonho distante.
Enquanto se encolhia no sofá, abraçando o livro como se fosse um escudo contra o mundo, Yuki sentiu as lágrimas brotarem nos olhos. Ela as deixou rolar livremente, sem tentar contê-las. A pressão dentro de seu peito finalmente transbordou, e pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu sentir a dor completamente.
| Yuki | [Eu só queria... ser feliz de novo]
Essa frase, um simples desejo, ficou suspensa no ar, sem resposta. Yuki fechou os olhos, abraçando a escuridão que parecia cada vez mais acolhedora. Ela não sabia quanto tempo mais poderia suportar, mas naquele momento, tudo o que queria era escapar, mesmo que fosse apenas em seus sonhos.
Enquanto ela adormecia no sofá, os ecos de risadas zombeteiras e a voz fria do chefe continuavam a persegui-la. No corredor do laboratório, colegas murmuravam pelas costas dela, sussurrando sobre como a Garota Genial estava desmoronando sob pressão. Cada palavra parecia uma faca cravando-se mais fundo, e mesmo sabendo que não deveria se importar, Yuki não conseguia evitar. A sombra da dúvida, plantada há tanto tempo, havia crescido e tomado conta de sua mente.
E assim, o coração da Yuki, que já foi cheio de sonhos e esperanças, agora está fechado para o mundo, aprisionado pelo medo e pela insegurança.
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