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Capítulo 4: A Decisão de Desistir






Parte 1: A Vida de uma Reclusa



O sol brilhava intensamente no céu, mas para a Yuki, o mundo lá fora parecia cinza e opaco. Os raios de sol penetravam pela fresta entre as cortinas fechadas, traçando linhas douradas no chão do pequeno apartamento. Mas o brilho não conseguia alcançar a jovem, que estava encolhida no sofá, envolta em uma coberta fina, perdida em seus próprios pensamentos.
Já fazia dias desde que ela havia se aventurado fora de casa. As paredes do apartamento, que antes pareciam aconchegantes, agora parecem se fechar ao seu redor, sufocando-a com o peso da solidão. No entanto, a ideia de sair, de enfrentar o mundo lá fora, era simplesmente aterrorizante. Cada vez que ela pensava em retornar ao laboratório, seu estômago se revirava, e a sensação de desespero crescia em seu peito.
Yuki olhou para a mesa de centro à sua frente, onde seu laptop estava aberto. A tela estava em branco, o cursor piscando impacientemente como se esperasse por algo, qualquer coisa. No entanto, suas mãos permaneciam imóveis, incapazes de digitar. Ela sabe o que precisa fazer, o e-mail que precisa enviar, mas ainda assim, hesitava.

| Yuki | [Como foi que cheguei a esse ponto?]

Sua voz soou estranha em meio ao silêncio do apartamento. Os olhos dela se fixaram em um ponto distante na parede, mas sua mente estava a milhares de quilômetros de distância, revivendo os últimos anos de sua vida. Desde a emoção de ser aceita no laboratório, até a frustração e o desespero que lentamente corroeram seu espírito.


***



Alguns meses antes...

| Takeda | [Yuki, precisamos ter uma conversa séria]

A voz do Doutor Takeda ecoava em sua mente, como se ele ainda estivesse ali, ao seu lado. Lembranças daquele dia voltavam em flashes, misturadas com a sensação de fracasso que a acompanhava desde então. Ele havia sido direto, sem rodeios, deixando claro que sua performance estava abaixo do esperado. E, pior ainda, ele havia sugerido que talvez ela não fosse adequada para o trabalho.

| Takeda | [Você precisa reavaliar suas prioridades, Yuki. Talvez esse não seja o ambiente certo para você]

Essas palavras foram como um punhal. Ela havia dedicado tanto de si, sacrificando horas de sono, suas paixões, sua vida social, tudo em prol daquele trabalho. E, ainda assim, não era suficiente. A frustração se transformou em desespero, e o desespero em resignação.

| Colega 1 | [Ela realmente não consegue lidar com a pressão, né?]
| Colega 2 | [Uma pena... tanta expectativa em vão]

Essas palavras sussurradas pelos corredores nunca foram destinadas aos seus ouvidos, mas ela as ouviu de qualquer maneira. E elas ficaram cravadas em sua mente, como lembranças indesejadas que recusavam-se a desaparecer.


***



De volta ao presente, Yuki olhou novamente para o laptop. O e-mail estava praticamente escrito em sua mente, cada palavra cuidadosamente escolhida, mas sua hesitação a impedia de colocá-las na tela. Desistir era algo que ela nunca havia considerado antes, e agora, o mero pensamento disso a deixava nauseada. Mas, ao mesmo tempo, continuar parecia insuportável.
Ela fechou os olhos, respirando fundo. Sentiu o peso da decisão pairando sobre ela, uma decisão que parecia mais monumental do que qualquer outra que já havia feito. E, no entanto, parecia a única escolha possível.

| Yuki | [Eu... eu não posso continuar assim]

As palavras saíram como um sussurro, quase inaudíveis, mas para a Yuki, elas carregavam o peso do mundo. Ela se sentou lentamente, puxando o laptop para mais perto. Seus dedos tremiam levemente quando tocaram o teclado. Ela começou a digitar, cada letra, cada palavra, sentindo como se estivesse selando seu próprio destino.


Prezados,

Venho por meio deste informar que, devido a circunstâncias pessoais, não poderei continuar minhas atividades no laboratório. Agradeço pela oportunidade e por todo o aprendizado ao longo desse tempo. Peço desculpas por qualquer inconveniente causado e desejo sucesso a todos em seus futuros projetos.

Atenciosamente,
Yuki Aihara


Ela releu o e-mail, sentindo uma pontada de dor a cada linha. As palavras eram frias, distantes, mas expressavam o que ela sentia. É um adeus, uma ruptura de um sonho que se transformou em um pesadelo. E ainda assim, ao mesmo tempo, foi um alívio.
Ela hesitou por um momento antes de clicar no botão {Enviar}. Assim que o fez, uma onda de emoções a atingiu. Medo, tristeza, alívio... tudo misturado em um turbilhão que a deixou atordoada. Ela deixou o laptop de lado e se deitou no sofá, encarando o teto enquanto tentava processar o que acabou de fazer.


***



As horas se passaram, e a Yuki permaneceu ali, imóvel, enquanto o sol se punha, mergulhando o apartamento na escuridão. A decisão havia sido tomada, mas as consequências ainda são desconhecidas. Ela não sabe o que fará a seguir, nem como enfrentará o futuro. Mas, naquele momento, tudo o que queria era se desconectar do mundo, se perder em seu próprio isolamento.
O silêncio do apartamento foi interrompido pelo som de uma notificação no laptop. Yuki olhou para a tela e viu que havia recebido uma resposta. Sua respiração ficou presa na garganta quando clicou na mensagem. Era uma resposta formal, agradecendo pelo trabalho e desejando-lhe boa sorte no futuro. Mas, por trás da formalidade, Yuki sentiu um tom de desapontamento, como se seu fracasso fosse inevitável.
Ela fechou a tampa do laptop, o som ecoando pela sala silenciosa. Sentada ali no escuro, Yuki se sentiu pequena, insignificante. O mundo parecia um lugar grande demais, cheio de expectativas que ela simplesmente não podia cumprir.

| Yuki | [Eu... eu falhei]

As palavras ecoaram no silêncio, mas não trouxeram consolo. Com um suspiro profundo, ela se levantou e caminhou lentamente até a janela. Ao puxar as cortinas, a luz fraca da lua iluminou a sala, criando sombras suaves que dançavam nas paredes.
Ela abriu a janela, sentindo a brisa fria da noite tocar seu rosto. Lá fora, o mundo continuava, indiferente ao seu sofrimento. As luzes da cidade brilhavam ao longe, cada uma representando uma vida, uma história diferente. Yuki se perguntou como todos eles conseguiam seguir em frente, enquanto ela se sentia tão perdida.

| Yuki | [Talvez... eu deva simplesmente desaparecer]

A ideia não era nova. Ela já havia pensado nisso antes, em momentos de desespero. Mas, agora, parece uma solução mais real, mais tangível. Se ela desaparecesse, ninguém se importaria. O mundo continuaria girando, e ela seria apenas uma memória distante, esquecida com o tempo.
Mas, ao mesmo tempo, uma pequena voz dentro dela resistia. Algo dentro da Yuki ainda desejava encontrar uma razão para continuar, um fio de esperança que se recusava a ser cortado. Ela sabia que desaparecer não era a solução, mas o peso de tudo o que havia acontecido a fazia duvidar de sua própria capacidade de seguir em frente.
Yuki fechou a janela e se afastou, sentindo o frio da noite ainda em sua pele. Ela precisava de algo, qualquer coisa, para dar sentido à sua existência, mas, naquele momento, tudo parecia distante, fora de seu alcance.
Ela se sentou novamente no sofá, abraçando a si mesma como se quisesse se proteger do mundo. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, silenciosas, sem que ela sequer percebesse. Era como se todo o peso acumulado ao longo dos meses finalmente estivesse se soltando, sem que ela pudesse controlar.

| Yuki | [O que eu faço agora?]

A pergunta ecoou na sala vazia, sem resposta. Pela primeira vez em sua vida, Yuki se sentia completamente perdida, sem um caminho claro a seguir. Mas, no fundo de seu coração, algo lhe dizia que aquele não era o fim. Que, de alguma forma, ela ainda encontrará um propósito, uma razão para continuar lutando.
Enquanto as lágrimas secavam em seu rosto, Yuki tomou uma decisão. Não sabia o que o futuro lhe reservava, mas não poderia continuar vivendo daquele jeito. Precisava se afastar, tirar um tempo para si mesma, para tentar redescobrir quem ela realmente é e o que deseja da vida.

Com essa resolução em mente, Yuki se levantou do sofá. Não foi uma decisão fácil, e ela sabe que o caminho à frente será árduo, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentiu uma faísca de determinação dentro de si.
Ela caminhou até o quarto, onde uma mala velha estava guardada no fundo do armário. Tirou-a de lá, sacudiu a poeira, e começou a enchê-la com algumas roupas e pertences pessoais. Não sabia exatamente para onde iria, mas sabe que precisa sair dali, deixar tudo para trás e começar de novo, em algum lugar onde pudesse encontrar a paz que tanto almejava.
Antes de sair, Yuki olhou uma última vez para o apartamento. Aquele lugar, que havia sido seu refúgio por tanto tempo, agora parece uma prisão. Com um suspiro profundo, ela apagou as luzes, fechou a porta atrás de si e deu o primeiro passo em direção ao desconhecido.

Enquanto caminhava pelas ruas desertas, Yuki sentiu o peso das expectativas e frustrações começando a se dissipar. O futuro ainda é incerto, mas, pela primeira vez, ela está disposta a enfrentá-lo, seja lá o que vier.


***



Yuki não sabia onde sua jornada a levaria, mas estava determinada a encontrar um novo começo, uma nova razão para viver. E, embora as cicatrizes do passado ainda a acompanhem, ela sabe que, de alguma forma, isso a tornaria mais forte. A decisão de desistir do que a destruía foi, na verdade, o primeiro passo em direção à sua verdadeira libertação.

Com uma última olhada para trás, Yuki deixou a cidade, pronta para enfrentar o que quer que o destino tivesse reservado para ela.

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